É bastante raro eu e Chris almoçarmos quando estamos viajando. A gente come uma coisinha aqui, outra ali, mas aquela coisa de parar e bater um prato a gente não costuma fazer, pelo motivo único de que a preguicite aguda que nos acomete após a comilança atrapalha o passeio. Mas abrimos uma exceção para o Flor de Mandacaru. Por quê? Porque ele era o restaurante que mais aparecia em todas as pesquisas prévias de "onde comer em Petrolina", recomendadíssimo em tudo que é lugar. Mas ele ainda não tinha a nossa recomendação, que, convenhamos, é a mais importante de todas.
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Chegando pra bater um prato
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O restaurante fica afastado do circuito turístico da cidade. Chegamos por lá perto do meio dia, no intenso calor do semi-árido pernambucano. Existe um ambiente climatizado, mas preferimos ficar na primeira mesa do lado de fora, pra facilitar a saída da Chris pra dar suas pitadas, e também porque é bem melhor ficar ao ar livre. O ventinho que batia foi suficiente para o refresco.
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Na primeira mesa pra fugir sem pagar a conta
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Mentira, gente, queisso, somos honestos, era só pra Chris fumar
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O restaurante tem uma decoração muito caprichada, com altas doses de charmosidade e nordestinidade, repleto de pequenos detalhes que a gente vai captando aos poucos enquanto esperamos entre um prato e outro. Ficamos no corredor, que tem paredes cheias de artesanato de um lado e imitando uma casa de taipa do outro, e na parte do fundo há mais mesas, algumas delas embaixo de uma árvore. A parte interna, climatizada, é menos charmosa, mas também conta com alguns móveis antigos, e até o corredor para o banheiro abriga alguns quadros e mais doses de charmosidade. Melhor do que eu ficar escrevendo é você ver algumas das trocentas fotos que tiramos do lugar:
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Difícil dizer quem é mais charmoso
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Aqui não é tão difícil dizer quem é mais charmoso
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Tudo trabalhado na delicadeza
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Mas o Pinóquio achou que era demais pra ele
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A taipa e a gata
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Um mesão pra família inteira embadárvore
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E até pra ir ao banheiro você não se livra das charmosidades
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O cardápio também é todo trabalhado nas gravuras com temas do sertão. Todo esse cuidado parece supérfluo, mas acrescenta muito à experiência. Ninguém gosta de coisa feia, né? Bom, talvez a Chris goste. Entre as opções de entradas, são vários petiscos para compartilhar (dadinhos de tapioca, moela, sarapatel, torresmo), que partem de R$ 25,90 (batata frita) podendo chegar até R$ 64,90 (petisco de bode). Para os pratos principais o menu é dividido entre "Novidades", "Regionais" e "Peixes", com pratos sempre para duas ou três pessoas, partindo de R$ 65,90 (salada Velho Chico) até R$ 174,90 (moqueca de camarão). Também existe uma opção de menu-degustação, com doze etapas, mas que precisa ser reservado com antecedência (R$ 159,00 para uma pessoa).
Pois bem, finalmente chegou a hora de comer. Para petiscar ficamos em dúvida entre algumas opções, mas acabamos optando pelo bolinho de cari (R$ 43,90). Para quem não sabe - como nós não sabíamos - o cari é um peixe muito comum no Rio São Francisco (às margens do qual se situa Petrolina), uma espécie de peixe cascudo, parecido com um bagre. Foi servido com limão, molho de pimenta e uma maionesinha. O bolinho estava crocante por fora, cremoso por dentro, e com um sabor bem intenso do peixe, que é saborosíssimo. Vieram oito bolinhos, de modo que não tivemos que nos estapear, cada um comeu seus quatro de direito.
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Caro cari, comemos com contentamento
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A escolha do prato principal foi um pouco mais complexa. Em geral os restaurantes em que vamos e que entram no blog tem opções de pratos individuais. No Flor de Mandacaru nós tivemos que fazer uma terapia de casal, e nos livrar daquilo que nos aparta para encontrar aquilo que nos une. Mas não foi tão difícil, porque muitas coisas nos unem. Por exemplo, uma Tilápia Ao Molho De Limão (filé de tilápia grelhada com molho de limão, picles de mostarda e tomate confitado, com arroz de coco e salada, R$ 129,90).
Vou começar pelo que foi negativo: achei a salada sem inspiração e desnecessária; poderia vir mais tomate confit; Chris achou o arroz de coco muito adocicado (eu achei que era essa a intenção mesmo); poderia vir mais picles de mostarda. Sobre essa última consideração, cabe um adendo: comentei com uma garçonete (que acho que era uma espécie de gerente) que não tinha visto o picles, e ela disse que estava no meio do molho. Um pouco depois ela apareceu com uma molheira só com o picles, pra gente colocar do jeito que a gente quisesse. Achei uma boa atitude, e até acho que o prato deveria ser servido assim, com o picles à parte. Falando sobre a tilápia, estava muito saborosa (mas não muito crocante, talvez o molho de limão também pudesse ser à parte), com o molho trazendo a acidez do limão no ponto certo, bem equilibrado. Casou muito bem com o arroz de coco.
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Encontrando o que nos une
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No prato pra vocês verem mais de perto
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Para a sobremesa não foi precisa fazer terapia de casal, porque a gente escolheu duas: o Doce de Coroa de Frade (R$ 18) e a Manga Com Sorvete de Rapadura (R$ 22). Ambos comemos dos dois degustes, de modo que nossas notas de sobremesa se referem a uma média entre as duas. Vamos começar pelo Doce de Coroa de Frade. Repito o que disse sobre o cari: se você não sabe o que é - como nós não sabíamos - o Coroa de Frade é um cacto, muito comum na caatinga, usado para fins medicinais, mas também para fazer doces. O restaurante tem um vaso dele, que estava ao lado da nossa mesa.
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O nome é porque parece a carequinha de um frade ali em cima
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Apesar de inusitado, o doce acaba se parecendo bastante com uma cocada, pelo uso do açúcar queimado. Não conseguimos sentir especificamente o gosto do cacto. O sabor era bom, embora o caramelo estivesse bem intenso, quase no limite do amargor.
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Desgostoso não era, mas não encantou
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A outra sobremesa, a manga com sorvete de rapadura, foi bem mais recompensadora para nossos paladares. O sorvete estava muito agradável - apesar de ser de rapadura, não tinha dulçor excessivo - e os pedaços de manga que vinham juntos na colherada acrescentavam frescor e o sabor maravilhoso da fruta. Quando a sobremesa chegou em nossa mesa havia alguns clientes indo embora, e eles ficaram encantados com o visual. Eu diria que ficaram invejosos, inclusive. Mas era tudo nosso!
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Tira o zóio!
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O atendimento do restaurante acompanha a excelência da decoração. É quase personalizado, mesmo com tantas mesas. Inclusive, quando fizemos um pedido a uma pessoa diferente daquela que estava nos atendendo, a nossa garçonete original ficou "enciumada", e nos disse que quando precisássemos de alguma coisa era só chamá-la. Muito conhecedora do cardápio, Cida nos deu boas dicas, explicou sobre os ingredientes e esteve sempre atenta. Além de Cida havia outra funcionária, já citada, que parecia a gerente, extremamente atenta, e que foi quem nos trouxe o picles de mostarda à parte. Em relação ao tempo de espera entre os pratos, foi bastante satisfatório, não chegando a demorar mas também não parecendo um McDonald´s.
"Quando for a Petrolina/ A negócios ou a passeio/ Não deixe de visitar/ O restaurante do meio/ Ambiente, construído/ Por quem entende de asseio". Essa é uma das estrofes de um poema de Chico Pedrosa Galvão, que está no cardápio do Flor de Mandacaru. A dica de Chico é também a nossa dica: se for a Petrolina, visite o Flor de Mandacaru. Nós, se voltarmos à cidade, certamente repetiremos a dose. Sempre focando naquilo que nos une, nunca no que nos aparta. É uma boa dica de vida, que o Flor de Mandacaru ensina na prática.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 8 e 9
Entrada (2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 8 e 7
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 8 e 8
Média: 8 e 7,83
Voltaria?: Sim e sim
Serviço:
R. das Ameixas, 155 - COHAB São Francisco - Petrolina - Pernambuco
Telefone: (87) 3863-7607
Site: https://restauranteflordemandacaru.com.br
Instagram: @restauranteflordemandacaru