Tô achando que vamos ter que mudar o nome desse blog. É o segundo post seguido em que Chris e Fê tem companhia para papar. Mas convenhamos que "Chris e Fê e Carlos e Regina e Edna vão papar" não seria um nome muito prático. Melhor deixar como está. Mas sim, fomos comemorar o aniversário de minha mãe em companhia das pessoas supracitadas, lá na Quinta do Olivardo, um restaurante que minha mãe sempre teve vontade de conhecer. O motivo dessa vontade é que Olivardo, o dono do restaurante, é figurinha carimbada em programas de culinária verpertinos que minha mãe assiste, sempre ensinando com simpatia os pratos que serve em seu restaurante de São Roque. Então pegamos o carro em um sábado e dirigimos por cerca de duas horas e meia até o local, onde fomos acomodados em uma mesa na varanda, que já estava reservada (é bom reservar, porque o lugar lota!). Mas você vai poder saber como foi sem sair do lugar e sem pagar (mas também não vai poder comer). Vem com a gente.
A Quinta do Olivardo, assim como vários estabelecimentos na Rota do Vinho de São Roque, é muito mais do que um simples restaurante: tem pousada, vinícola, lago, arvorismo, tirolesa, loja e até uma foto grande da Vila do Chaves, com um barril na frente pros turistas entrarem e pagarem mico (em nossa turma, só o mais bobo pagou esse orangotango). É bem grande mesmo, e dá pra perceber o cuidado em cada cantinho. Como a reserva foi feita com boa antecedência, conseguimos uma mesa com bela vista para toda a propriedade.
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Suspeito que o mais bobo foi quem tirou essa |
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Suspeito que o mais bobo segura um copo de cerveja |
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Suspeitas confirmadas |
A ideia era passar bastante tempo por ali. Começamos, portanto, pedindo cerveja Original (600ml, R$ 21,00) e cerveja de trigo do Olivardo (600ml, R$ 38), que ficaram em um balde com gelo, para acompanhar as várias entradas que escolhemos: azeitonas portuguesas (R$ 15), bolo de caco (R$ 12 a unidade), alheira defumada (com batata assada, ovo frito e pão português, R$ 119) e bolinhos de bacalhau (R$ 15 a unidade).
As azeitonas portuguesas tinham aparência de azeitona e gosto de azeitona. Concluímos que eram azeitonas mesmo. Estavam boas, claro. O bolo de caco é um tipo de pão com especiarias, manteiga e alho, estava bem gostoso. A alheira é uma linguiça tipicamente portuguesa, com carnes diversas no recheio, além de miolo de pão e muito alho, como resta claro pela alcunha. Estava absolutamente deliciosa, foi geme geme pra todo lado. As batatas que acompanhavam talvez pudessem ter um pouco a mais de sal. O pão português estava macio e saboroso, e como ninguém se habilitou a comer o ovo, fui eu o responsável por colocá-lo sobre o pão e fazer um clássico pão-com-ovo. O bolinho de bacalhau, que está ligado à origem do restaurante, é crocante por fora, macio por dentro, e muito bem temperado, com salzinho na medida. Dá para entender perfeitamente a fama que o bolinho ganhou lá atrás, quando a Quinta do Olivardo vendia seus vinhos e só tinha o bolinho de bacalhau para oferecer.
Obs: para as nossas notas, consideramos uma médias de todas as entradas.
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E aqui todos juntos e já parcialmente ingeridos |
O cardápio principal tem várias opções de um peixe cujo nome não tô me lembrando. Rima com "au". Como era mesmo? Varapau? Jarapau? Carapau? Não, senhoras e senhores, é ele mesmo, o bacalhau, que vem em nada menos do que oito opções diferentes, todas girando em torno de R$ 450 no prato para duas pessoas (achamos que serve até três). Entre os peixes, há também pratos com sardinha e salmão. Evidente que há também algumas opções de carne bovina, como a Espetada Madeirense (contra-filé espetado no galho de louro, servido com arroz, salada, bolo do caco e milho frito, R$ 269 para duas pessoas) e o parmegiana (R$ 269 para duas pessoas). Também existe o cuidado de oferecer pratos para crianças (com nomes divertidos como "Infantil à moda do Enzo") e pratos para veganos e vegetarianos (com destaque para a lasanha de alcachofra).
Resolvemos escolher dois pratos principais, que servem cada qual duas pessoas, para dividirmos entre nós cinco. Um deles foi o Bacalhau à Moda do Valdir (posta de bacalhau, alho laminado, tomate, cebola, pimentão vermelho, ovos cozidos, batatas coradas, azeitona portuguesa e cheiro verde, servido com arroz branco, R$ 456)). Veio também com brócolis, que não estava na descrição. Vamos começar falando do alho, que veio por cima: estaca crocante, sequinho, muito bom. Os legumes bem cozidos (o brócolis talvez pudesse estar mais macio). Molho delicioso, ótimo pra chunchar o pão no final do prato. Bacalhau lindo, umas postas enormes, difícil encontrar coisa parecida nos mercados. Mas a opinião da mesa foi unânime: dessalgaram demais os bichinhos. Experimentado à parte, sem o molho, o bacalhau não tinha sal praticamente nenhum. Depois do bolinho de bacalhau tão bem temperado, foi um pouco decepcionante, especialmente para a aniversariante Dona Regina, que gosta mais de cloreto de sódio do que dos filhos (vou desmentir porque ela vai ler isso e vai dizer que eu exagerei). Mas, no todo, com o molho, estava bom.
Resolvemos escolher dois pratos principais, que servem cada qual duas pessoas, para dividirmos entre nós cinco. Um deles foi o Bacalhau à Moda do Valdir (posta de bacalhau, alho laminado, tomate, cebola, pimentão vermelho, ovos cozidos, batatas coradas, azeitona portuguesa e cheiro verde, servido com arroz branco, R$ 456)). Veio também com brócolis, que não estava na descrição. Vamos começar falando do alho, que veio por cima: estaca crocante, sequinho, muito bom. Os legumes bem cozidos (o brócolis talvez pudesse estar mais macio). Molho delicioso, ótimo pra chunchar o pão no final do prato. Bacalhau lindo, umas postas enormes, difícil encontrar coisa parecida nos mercados. Mas a opinião da mesa foi unânime: dessalgaram demais os bichinhos. Experimentado à parte, sem o molho, o bacalhau não tinha sal praticamente nenhum. Depois do bolinho de bacalhau tão bem temperado, foi um pouco decepcionante, especialmente para a aniversariante Dona Regina, que gosta mais de cloreto de sódio do que dos filhos (vou desmentir porque ela vai ler isso e vai dizer que eu exagerei). Mas, no todo, com o molho, estava bom.
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Pô, seu Valdir, faltou sal no bacalhau |
O outro prato que escolhemos foi o Leitão à Bairrada (assado no forno à lenha, servido com batata chips, salada verde e arroz com brócolis, R$ 289 - servido somente aos finais de semana). Este que vos escreve foi quem bateu o pé para escolhermos esse prato, seduzido que fui pela contação de história no cardápio, que dedica uma página inteira a ele, falando que se trata de uma das sete maravilhas da cozinha portuguesa, que foi cozido por três horas, que não-sei-quê-não-sei-que-lá. Vou nem falar dele ainda, começar falando das chips, bem crocantes, da salada verde, bem verde, e do arroz com brócolis, que tinha arroz e tinha brócolis, de fato. Mas o porco mais incrível das galáxias tinha uma pele incomível de dura (a contação de história dizia que era crocante) e vários pedaços com cartilagem. Agora foi minha vez de ficar deveras decepcionado. Claro que deu para comer alguns pedaços, claro que estava saboroso, mas me parece mais mérito do porco. Laranja combina demais com carne suína, mas custava tirar as sementes? Já tinha rolado o trabalho de descascar e fatiar, acho que o mais fácil era "dessementar". Enfim, um prato sofrível, nada recomendado.
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E só de birra nem teve uma foto só pro leitão, mas ele tá ali, à direita |
Obs: para as nossa notas, consideramos uma média dos dois pratos principais.
Acompanhamos a refeição com um vinho Henri (R$ 167, 750ml), feito com a uva tannat. A Quinta do Olivardo também é uma vinícola, e o rótulo traz a marca da casa. Vinho bem agradável. No entanto, estranhei o fato de o vinho ser feito com tannat, que eu já aprendi em outras viagens que é uma uva que não se dá muito bem aqui no sudeste. Então fui dar uma olhada no rótulo e vi que o vinho foi produzido por um outro CNPJ. Consultei na internet e vi que se trata do CNPJ da vinícola Lídio Carraro, uma das mais respeitadas lá de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Mistério resolvido. É uma prática muito comum, mas no meu entender deveria ficar mais claro pro consumidor que não se trata de um produto próprio.
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Sendo produto próprio ou não, o rapaz bebe |
Minha mãe queria ver o Olivardo, mas ele ainda não tinha aparecido - embora já tivéssemos ouvido rumores de que ele estava na casa. Quando já tínhamos pedido a conta ele começou a circular pelas mesas, algo que, pelo que ouvimos, ele faz sempre. De longe minha mãe já fez saber que queria dar um abraço nele. E não demorou para que ele viesse até nossa mesa cumprimentar a aniversariante e, ainda por cima, mandar vir, na faixa, uma rabanada portuguesa com sorvete (rabanada Portuguesa com calda de mel, canela e Vinho do Porto, acompanhada de sorvete de creme, R$ 28,90 - pra quem paga, porque nós não pagamos). Foi a melhor coisa que ele fez, para apagar a lembrança do leitão: uma sobremesa deliciosa, com a rabanada quentinha, crocante, saborosa, fazendo contraste de temperatura com o sorvete de creme, este vindo com uma pequena concavidade em cima, suficiente para caber um porção da deliciosa calda de mel, canela e vinho do Porto. Que mané petit gateau que nada. Até Dona Regina, que não curte muito sobremesas (ela é fã de cloreto de sódio, lembra?) adorou o mimo.
Em um restaurante tão grande e que tem lotação garantida em praticamente todo final de semana, claro que o serviço tem que ser extremamente eficiente. Do contrário é tragédia garantida, porque um erro leva a outro e, num universo de dezenas de mesas, o efeito dominó é certo. Em nossa experiência, todo o serviço foi exemplar. O foco é na eficiência, o que significa que a simpatia e a espontaneidade, embora presentes, não são o principal. E, nesse caso, tem que ser assim mesmo. Tudo funciona como uma máquina bem azeitada, para usar uma metáfora gastronômica bem portuguesa. Sempre tem alguém atento a qualquer gesto dos clientes, e chega a ser impressionante a velocidade de entrega dos pratos.
Tudo o que vai acima deixa claro que, aniversário de mãe à parte, a experiência na Quinta do Olivardo teve lá seus altos e baixos, gastronomicamente falando. Depois dos intensos prazeres reservados pelas entradas, tivemos igualmente intensas decepções com os pratos principais, para, ao final, em uma virada digna de Agatha Christie, encontrarmos a redenção em uma sobremesa que chegou inesperadamente. Neste parágrafo final a gente sempre decide se voltaria ou não a um restaurante. É uma maneira de indicar a quem lê se a experiência realmente foi acima da média, seja por qual motivo for. Eu acho que as ótimas entradas e o ambiente agradável me permitiriam voltar, mas não para uma refeição completa. Talvez só para uns comes e bebes na tasca que fica ao lado do restaurante. Já a Chris acha que não valeria a pena uma nova visita - embora eu imagine que possa convencê-la com a lembrança da rabanada com sorvete, para a qual ela deu uma nota dez.
Tudo o que vai acima deixa claro que, aniversário de mãe à parte, a experiência na Quinta do Olivardo teve lá seus altos e baixos, gastronomicamente falando. Depois dos intensos prazeres reservados pelas entradas, tivemos igualmente intensas decepções com os pratos principais, para, ao final, em uma virada digna de Agatha Christie, encontrarmos a redenção em uma sobremesa que chegou inesperadamente. Neste parágrafo final a gente sempre decide se voltaria ou não a um restaurante. É uma maneira de indicar a quem lê se a experiência realmente foi acima da média, seja por qual motivo for. Eu acho que as ótimas entradas e o ambiente agradável me permitiriam voltar, mas não para uma refeição completa. Talvez só para uns comes e bebes na tasca que fica ao lado do restaurante. Já a Chris acha que não valeria a pena uma nova visita - embora eu imagine que possa convencê-la com a lembrança da rabanada com sorvete, para a qual ela deu uma nota dez.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 7,5 e 8
Serviço(2): 8 e 9
Entrada (2): 8 e 8,5
Prato principal(3): 6 e 6
Sobremesa(2): 10 e 8
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,58 e 7,66
Voltaria?: Não e sim
Serviço:
Estr. do Vinho (Spv-077), S/N - Sorocamirim, São Roque - SP
Telefone: (11) 98856-3222
Site: https://quintadoolivardo.com.br/
Instagram: @quintadoolivardo