O fim do Guia Quatro Rodas foi uma grande tristeza para mim, mas ainda guardo a edição de 2015 (a última que saiu) e a utilizo para muitas coisas. Uma delas é ajudar a escolher um restaurante quando viajamos. Em Santo Antônio do Pinhal me interessei pelo Santa Truta. Tristeza: descobri que ele fechou. Alegria: descobri que ele se juntou ao restaurante Donna Pinha, e eles agora são um só! Minha modesta opinião é que o nome a prevalecer deveria ter sido Santa Truta, mas quem sou eu pra opinar, né? Fato é que na sexta-feira, Dia de Finados, eu e Chris fomos ver o que essa Donna Pinha tinha para nos dar.
"Bora donnapinhar?" |
A primeira coisa que ela nos deu foi um ambiente bem iluminado, com luminárias bonitas e uma luz agradável e aconchegante, sem ser aquela coisa cegante nem aquela coisa de não saber nem quem está na sua frente. Ponto positivo também para as cadeiras confortáveis e para o salão espaçoso, contando até com uma árvore na parte de baixo. Na noite de nossa visita havia um músico com violão, que fez um bom trabalho, não incomodou. Não gostamos do fato de o banheiro ficar do lado de fora, "quase em outra cidade", como eu brinquei com a Chris. Também achamos um pouco cafona encher a parede com matérias de jornal falando do próprio restaurante. E pra variar não há do lado de fora nenhum banquinho ou cinzeiro para os fumantes, coisa que a Chris sempre observa.
Ali atrás a árvore, ao lado o bom músico, e aqui a Chris |
O Fê observando o nada, e ao fundo os cabotinos recortes de jornal |
O menu das entradas inclui várias receitas com truta (casquinha, linguiça, isca) além de algumas outras opções. Durante nossa visita tava rolando também um festival de alcachofra, que trazia algumas receitas com esse ingrediente. Nossa curiosidade nos levou às casquinhas de alcachofra (R$ 16,80 a unidade). Três opções de recheio disponíveis: truta, queijo de cabra e cogumelos.
Chris escolheu o recheio de queijo de cabra. Quando o garçom foi anotar o pedido, perguntou "de cogumelos, né?". Então a gente corrigiu dizendo que era de queijo de cabra. Mas não adiantou muito, porque acabou vindo o de cogumelos mesmo. Eles queriam que a Chris comesse esse, e pronto. Daí ela comeu, né? Não que tenha desgostado, mas achou que faltou mais tempero nos cogumelos. E apesar de inicialmente querer o queijo de cabra, ela acabou foi não gostando da crosta de queijo parmesão que veio em cima dos cogumelos e atrapalhou o sabor delicado dos fungos.
Eu escolhi o recheio de truta. Veio de truta mesmo, legal, menos mal. Gostei, consistência cremosa, bastante sabor do peixe, sem tanta ênfase em temperos - mas considerei isso um ponto positivo. Tive o mesmo problema com a crosta, virou uma massa única, não partia de jeito nenhum. A presença do queijo em cima do recheio deixou nossas casquinhas idênticas, por isso vou colocar apenas uma foto aí abaixo. Apresentação bem bonitinha por sinal, com uma physalis, um limãozinho cravo e uma erva que parecia tomilho. Muito bacana a ideia de servir dentro da alcachofra, pudemos comer a "carninha" das pétalas e o coração da flor ao final.
"E ao final te arrancarei o coração" |
No cardápio de pratos principais, uma página inteira é dedicada às trutas (ah, se eu soubesse então o que sei agora, certamente teria escolhido uma delas). Há também massas, risotos, carnes bovina, suína e ovina, além de opções com frango e avestruz. Muita coisa, o que não costuma ser bom sinal. Quase todos os pratos são individuais, e custam em torno de R$ 60.
Eu sou muito folgado e pedi pra Chris escolher alguma coisa com truta, especialidade do lugar. Chris é muito independente e mandou meu pedido às favas. Mas escolheu um prato com outro ingrediente típico da região: o pinhão. Foi de Medalhão Donna Pinha (mignon grelhado, molho de pinhão, com arroz negro e batata sautée, R$ 68,80). Ela pediu a carne mal passada, e o ponto veio perfeito. Além disso estava muito bem temperada. Pena que o molho veio por cima dela, então toda aquela crosta do grelhado desapareceu. O molho, aliás, estava bom, mas bastante neutro, sem muita personalidade. Chris ficou fula mesmo foi com o arroz negro, que ela adora. Além de ter passado demais do ponto, estava com pouco sabor e veio com a mesma infame crosta de queijo, que nesse caso virou um "massaroco" duro que não deu pra comer.
O arroz negro ainda não se juntou pra atrapalhar |
Agora ele chegou, trazendo seu amigo queijo pra zuar o bagulho |
Eu resolvi inovar e escolher uma proteína que não é muito comum encontrar em restaurantes: carne de avestruz. Escolhi o avestruz ao parfum de framboesa (grelhado e flambado, com molho de amora, R$ 69,80). A tristeza começou na chegada: o molho encharcava tudo, inclusive a carne, como aconteceu no prato da Chris. Por cima da carne um pedaço de queijo, nem gratinado nem derretido, como uma massa amorfa. A descrição do prato dizia molho de amora, mas vieram outras frutas vermelhas (framboesa e morango) além de, pasmem, o que parecia ser cereja artificial, aquela mesma feita de chuchu (é sério). Os legumes estavam ligeiramente duros, e não tinham muito tempero. A carne estava seca. E o sabor do molho, que poderia salvar tudo, era terrível. Acidez extrema e até um pouco de amargor deixaram o prato difícil de digerir. Chris experimentou e disse "algo deu muito errado aqui". Para não dizer que nada se salvou, o arroz branco que acompanhava estava bom. Triste este parágrafo. Não colho nenhum prazer em falar mal dos lugares que visitamos. Mas devo dizer que nos 55 restaurantes que estão nesse blog até hoje, e nos tantos que visitamos antes de começarmos a escrever, esse foi o pior prato principal que já comi. Indubitavelmente.
É...bem...então...como tá o tempo? |
Essa cara é de quem não comeu e não gostou |
Escolhemos uma das sobremesas do festival de alcachofra (embora não contivesse alcachofra). Foi o bolo de lavanda e limão siciliano com calda de papoula e sorvete de creme, R$ 22,80). A calda me pareceu ser de hibisco, que também é chamado de papoula em alguns lugares. Apresentação bem bacana, com uma colherzinha charmosa contendo a calda. Bolo macio, bem aromático, com um pouco de acidez do limão. Um pouco seco sozinho, mas combinado com o sorvete e com o molho ganhava novas texturas. O molho trazia um certo dulçor frutado interessante. O bolo poderia estar um pouco mais quentinho, pra trazer aquele contraste de temperatura de um petit gateau, inspiração óbvia para a sobremesa.
Essa foto meio oblíqua, cês gostaram? |
Uma das coisas mais positivas sobre o serviço certamente foi a grande quantidade de garçons sempre à vista com suas roupas vermelhas. Apesar disso, em alguns momentos era um pouco complicado conseguir a atenção de um deles. Houve o erro já citado em relação à entrada da Chris, que certamente pesou contra. Também estranhamos o fato de terminarmos nossa cerveja e não nos terem oferecido outra (não queríamos mesmo, tá?). Mas de maneira geral os jovens funcionários demonstraram atenção e cuidado.
É possível alegar que não fizemos as melhores escolhas diante da quantidade de opções do cardápio. Mas ao mesmo tempo é difícil ser condescendente com isso, já que tudo que está disponível tem que ser bem feito. Por isso sempre preferimos menus mais enxutos - embora isso não seja uma garantia de qualidade, é um bom indicativo de que há critério para se colocar algo à disposição dos clientes. E o fato é que meu prato principal foi o principal responsável por ambos termos decidido que não retornaríamos ao Donna Pinha. Apesar de alguns acertos tanto nas entradas quanto no prato da Chris e na sobremesa, não é razoável que um restaurante sirva aquilo que me foi servido. Com o perdão pelo excesso de morbidez, no Dia de Finados esse prato representou a morte das expectativas que nós nutríamos com o restaurante indicado pelo falecido Guia Quatro Rodas.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 6 e 8
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada(2): 6 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 2
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 6,5 e 5
Média: 6,75 e 5,83
Voltaria?: Não e não
Serviço:
Avenida Antônio Joaquim de Oliveira, 647 – Centro - Santo Antônio do Pinhal - São Paulo
Telefone: (12) 3666-2669
Site: http://donnapinha.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/DonnaPinha/
Teria devolvido a entrada da Chris (erro no pedido) e o prato principal do Felipe (erro no sabor). Talvez o resultado fosse melhor.
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