Minha avó sempre dizia, "se não tem nada de bom para dizer sobre alguém, melhor ficar calado". Falseio a verdade, nenhuma de minhas avós jamais disse isso. Mas é algo bem digno de sabedoria de vó. Nesse texto eu provavelmente estarei indo contra essa avó imaginária, porque não temos muita coisa de positiva para dizer sobre o Café Borgô, onde nos sentamos para tomar um café da tarde em uma sexta-feira fria em Jundiaí.
Sexta-feira fria e o jovem senhor em mangas de camisa |
Vamos dizer que ele é até bonitinho, vai, tem uma estante com alguns vasos de flores, garrafas de vinho e alguns livros, logo na entrada, ao lado de um sofazinho. Mesas e cadeiras de madeira, ajeitadinhas, umas luminárias feitas de bule, e não muito mais do que isso fazem a decoração do lugar. Tem lá seu charme, um charme discreto, do tipo que mal se mostra, mas tá ali. Viu, "vó que não existe", até que não falei mal, né?
A Chris começou pedindo um panini com queijo e tomate (R$ 16) e um cappuccino italiano (R$13). O panini tava cru, branquelo que só ele (e eu). O cappuccino, que deveria ter canela, tava aguado, sem muito gosto de café nem de canela - no máximo um tornozelo bem de longe, e olhe lá. Eu pedi a torta do dia (R$16), e me foi informado que a torta do dia daquele dia era a de frango com palmito. Eu curto um franguinho com palmitinho, mas o que veio foi torta de batata com milho. Eu achei que tava louco, pedi pra Chris provar, e ela atestou: não é frango e não é palmito. Talvez estejamos os dois loucos, vai saber. De beber eu pedi uma soda italiana de limão siciliano (R$16). A soda italiana é uma bebida que eu gosto de pedir quando não estou tomando álcool (quase nunca acontece), porque é bonita como um drinque e tem aquele gás gostoso que pinica a língua. Dá até um baratinho de leve. Mas não era nem bonita como um drinque, nem pinicava a língua. Xoxa que só ela (e eu).
Vês, alvo, quase imaculadamente alvo |
Do dia que não era do dia e soda sem pinicação |
Eu confesso que esse começo de refeição apagou minha luminária (porque não fumo cachimbo), e aí meio que larguei mão de anotar os preços, e tinha desistido de fazer da visita um texto aqui do blog, por não encontrar prazer em falar mal de um estabelecimento. No entanto, cá estou falando mal de um estabelecimento, e a partir de agora sem os preços que pagamos nos trecos. Mas já digo que tudo junto somado, noves fora trepa dois pede emprestado, deu 104 reais.
Prosseguimos para os doces. Chris pediu um pedaço de bolo de fubá com goiabada, e até nesse quesito simplérrimo, erraram, porque o bolo tava insosso que só ele (e eu). Ela acompanhou o bolinho com um café espresso, que tava okayzinho. Eu pedi uma tortinha de maçã, que tava exposta na vitrine e me conquistou. Fez lembrar vagamente um apfelstrudel, tava passável. Para beber pedi um café catuaí 62 de Cristina (MG), feito na V60 (esse é o método de extração). Sempre quando pedimos café com algum método de extração diferente, a parte efetiva da extração é feita na mesa. É uma praxe, não seguida pelo Café Borgô. O café já chegou coado, e pode ter sido até na meia, não tenho como saber. Se foi na meia era uma meia saborosa, porque o café tava muito bom, suave, com um leve toque de chocolate (tá vendo, vovó de mentira, acabei de elogiar com veemência um dos itens consumidos).
Prosseguimos para os doces. Chris pediu um pedaço de bolo de fubá com goiabada, e até nesse quesito simplérrimo, erraram, porque o bolo tava insosso que só ele (e eu). Ela acompanhou o bolinho com um café espresso, que tava okayzinho. Eu pedi uma tortinha de maçã, que tava exposta na vitrine e me conquistou. Fez lembrar vagamente um apfelstrudel, tava passável. Para beber pedi um café catuaí 62 de Cristina (MG), feito na V60 (esse é o método de extração). Sempre quando pedimos café com algum método de extração diferente, a parte efetiva da extração é feita na mesa. É uma praxe, não seguida pelo Café Borgô. O café já chegou coado, e pode ter sido até na meia, não tenho como saber. Se foi na meia era uma meia saborosa, porque o café tava muito bom, suave, com um leve toque de chocolate (tá vendo, vovó de mentira, acabei de elogiar com veemência um dos itens consumidos).
Chris foi no básico, e no básico se deu mal |
Fê apostou em certa ousadia, e se deu medianamente bem |
O pessoal era simpático, inegável isso, era simpático. Sim, me falaram errado o sabor da torta do dia, acontece, mas era um pessoal simpático. Mas você pode ser o funcionário mais simpático do mundo, apresentar o produto com o melhor sorriso, o mais cativante discurso, se o que vem depois não faz jus à sua fala, tudo esmorece e definha (ando lendo muito Machado de Assis). É que nem você preparar o público para um grande espetáculo e em seguida dizer "e agora com vocês Jorge Vercillo!" (puta sacanagem, não sei porque o Vercillo ficou com essa fama de chato, eu não acho tão chato assim, só tinha que ser escroto com alguém pra fazer funcionar minha analogia e escolhi um alvo fácil).
O mais pior de ruim do serviço foi que chegamos perto do fechamento, aí os funcionários começaram a preparar o ambiente para um evento que haveria no dia seguinte, foram andando pelo salão, começando a arrumar as coisas, conversando sobre onde ficaria isso, onde ficaria aquilo, e nós ali, com nossas dignas presenças sendo vetustamente ignoradas (achei lindo usar esse "vetustamente", mas acabo de descobrir que vetusto significa algo antigo, nada a ver com o que eu queria. Machado me puxaria os lóbulos. Mas vai ficar assim mesmo).
Fico pensando no peso que os grandes jornalistas culinários sentem quando esculacham um lugar. Por sorte nossos oito leitores não serão responsáveis pela falência do Café Borgô, até porque não devem ir a Jundiaí com muita frequência. Então acho que conseguiremos dormir em paz. Vetustamente em paz.
É isso. Em breve a gente volta a cafezar.
Endereço: R. do Retiro, 480 - Vila Virginia, Jundiaí - São Paulo
Instagram: @cafeborgo