Chegando às oito em ponto |
Do lado de fora o lugar se assemelha a uma residência, com paredes pintadas de amarelo, algumas árvores e um portão. Por dentro, não é que o lugar seja desagradável. Longe disso. Mas o ambiente não tem nenhum charme especial. Há uma lareira, ao lado da qual fomos instalados em uma mesinha redonda, e grandes espelhos nas paredes. Meia luz, mesas de diversos tamanhos, e uma boa distância entre elas, proporcionando privacidade. Tivemos um problema que atrapalhou um pouco nossa apreciação do ambiente: uma confraternização de alguma empresa, com direito a discurso em pé e tudo. Sorte que não tinha microfone. Mas as palmas rolaram, especialmente quando o chefe falou. Em seu discurso, me lembro bem, constavam as expressões "vai vim" e "nova novidade". Atrapalhou um pouco, mas não podemos dizer que é culpa do restaurante.
Chris lê o cardápio antes da galerinha da "nova novidade" chegar |
Para a entrada escolhemos o souflet de alcachofra (R$ 34,10). Pedimos um para dividir, e gostei do fato de eles terem trazido em duas porções separadas. Até fiquei com medo de cobrarem duas no final, mas isto não aconteceu. Pena que o cuidado ao servir não se refletiu na qualidade do prato. Em primeiro lugar, elas não estavam padronizadas. A da Chris estava mais "cheinha" e tostadinha por cima, e a minha veio mais murcha e branquela. Ambas grudaram um pouco na forminha. A alcachofra, como bem disse a Chris, ficou passeando por Campos do Jordão, porque seu sabor não foi muito sentido. O souflet até estava saboroso, mas o gosto do queijo prevalecia. Quanto ao molho shoyu, que acompanhava o prato, não era diferente daqueles que compramos em qualquer mercado.
Muchiba |
Há cerca de quinze opções de pratos principais, e ficamos com vontade de pedir quase todos eles. Isso é um excelente sinal. A descrição dos pratos era apetitosa e criativa, como por exemplo a costeleta suína com risoto de damasco e gorgonzola e molho de mel (R$ 74,60) ou o filé mignon grelhado com lâmina de foie gras, vinho Marsala, risoto de cogumelo Paris e cebolinha grelhada (R$ 97,10). Este último quase foi pedido pela Chris, que acabou fazendo sorteio para decidir qual prato pediria.
Prontinhos pro cime |
Sorteio efetuado, Chris pediu a truta em vinho chardonnay, nhoque de mandioquinha na manteiga com folha de mostarda e molho de gengibre (R$ 72,80). Apresentação bem simples, com o nhoque meio amontoado ao lado do peixe. Ela deu a primeira garfada na truta e achou boa. Depois experimentou o nhoque. Acho que antes mesmo de fazer qualquer comentário ela me ofereceu um pouco deste último. Dizer que não tinha gosto seria mentira, porque tinha sim: era gosto de mandioquinha com farinha. Faltou uma boa dose de sal, e mais capricho no tempero de um modo geral. Comentamos depois que quem precisava brilhar ali era mesmo o nhoque, porque é difícil errar numa truta. Infelizmente o nhoque não brilhou e o peixe ficou sozinho pra carregar o prato. Um mano da quebrada diria "firmeza, truta!".
Faltou. Ah, faltou. Faltou mesmo. |
Depois de muito pensar no que pedir, acabei escolhendo o ossobuco de cordeiro no seu molho, com risoto de açafrão, cebola caramelada e anchova (R$ 75,50). Você não leu errado, e eu não escrevi errado: anchova junto com cordeiro. Foi justamente esta ousadia que acabou me fazendo escolher este prato. Nunca tinha visto a combinação em cardápio nenhum. Por anchova entenda-se aliche, aquele peixe que normalmente é feito na salmoura, muito utilizado para pizzas. A apresentação veio bacana, com o ossobuco por sobre o risoto e o molho por baixo. Demorei para encontrar o pedacinho de anchova em cima do cordeiro. O garçom sugeriu que eu comesse os dois juntos para harmonizar. Experimentei, mas achei que não fez muito sentido. Chris achou o mesmo. Comentei com ela que se eles confiassem mesmo na combinação teriam colocado pelo menos dois filezinhos. O pedacinho que veio só deu pra duas garfadas, uma pra mim outra pra Chris. Mas o sabor geral estava bom, e a carne do cordeiro estava soltando do osso, e bastante macia.
Bem mais bonito e gostoso que o da Chris |
Na hora de adoçar a boca, o problema de sempre. Quase nunca os restaurantes investem em opções criativas para esta parte do cardápio. Basta notar que aqui no blog é este momento que normalmente derruba a média dos restaurantes. Como aqui a média já não estava muito alta, este risco foi minimizado. No meio dos indefectíveis petit gateau, sorvete e frutas da estação, resolvemos pedir a tarte Tartin de maçã com sorvete de gengibre (R$ 18,80). Tarte Tartin é uma torta famosa na França, criada pelas irmãs Tartin. Dizem que nasceu de um erro, quando uma das irmãs colocou as maçãs no forno sem a massa, e acabou acrescentado-a depois que as maçãs já estavam caramelizadas, invertendo o ritual normal de um torta. Ou seja, é uma torta ao contrário, mas que tem as frutas e a massa em união umbilical. Não era o caso da nossa, que era uma cestinha de massa folhada com as maças caramelizadas dentro. Mas a massa estava leve e crocante, e as maçãs saborosas.
Cestinha de massa folhada com maça caramelizada e sorvete. Este é o nome. |
Não há muito o que dizer sobre o serviço. Esteve correto o tempo todo, mas não encantou em momento algum. Um homem, que parecia ser o dono ou gerente, vinha a toda hora perguntar se estava tudo bem (tá, "toda hora" quer dizer umas três vezes), e eu não vejo muito sentido nisso. É o mesmo que cumprimentar alguém na rua, perguntar se está tudo bem e querer que a pessoa seja sincera: "Olha, pra falar a verdade não tá tudo bem não, minha vó tá com a unha encravada, meu gato tá soltando pelo e minha esposa tá de chico". O tempo de espera entre os pratos foi perfeito, e a prontidão para perceber que queríamos algo também foi de se elogiar.
Infelizmente tivemos problemas com a entrada, e o prato principal não agradou totalmente a nenhum dos dois. Foi uma pena, porque ficamos apaixonados pelas sugestões apresentadas no cardápio, conforme já explanei. Por conta dos defeitos encontrados, nós dois concordamos que não voltaríamos ao Confraria do Sabor. A relação custo-benefício também acabou destruída pelas inconsistências nos pratos, já que os preços não são dos mais baratos. Lembrando da reunião da empresa que tivemos que presenciar, eu diria: menos confraria e mais sabor, por favor!
AAVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 6 e 6
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 5 e 5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,41 e 6,33
Voltaria?: Não e não
Serviço:
Avenida Doutor Vitor Godinho, 191 - Vila Capivari - Campos do Jordão - SP
Telefone: (12) 3663-6550
Site: http://www.confrariadosabor.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/AmicciDalVino/info
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue pena! Minha experiência na Confraria foi bem legal. Comemos o Prato da Boa Lembrança - Truta Mediterrânea - que estava delicioso!
ResponderExcluirAcho que é uma confraria de vinhos e a gastronomia vem em seguida. Portanto, melhor beber.
Concordo que o atendimento não é dos melhores. Pareceu mais uma confraria de vinhos do que de sabor.