quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Libertango (Campos do Jordão - SP) - 21/08/2015

A escolha não foi por acaso. O Libertango é um dos três únicos restaurantes de Campos do Jordão agraciados com uma estrela no Guia 4 Rodas 2015. Embora não sejamos escravos da publicação, sempre a levamos em conta na hora de escolher um restaurante na cidade que estamos visitando. A especialidade do Libertango é comida argentina, e isto já toca um sininho na mente: carne, carne, carne! Numa sexta-feira agradável (para mim e não para a Chris) na serra paulista, com termômetros em torno de 11 graus, chegamos ao local às 20h20, vinte minutos atrasados em relação à nossa reserva, mas ainda a tempo de fazermos uso dela.

Ói nóis aí antes de entrar no restô

Do lado de fora o Libertango acompanha o charme de onde está instalado, a Vila Capivari, epicentro da badalação em Campos do Jordão. Sua fachada tem flores nas janelas, e é toda pintada de azul e vermelho. No logotipo do restaurante temos, claro, um casal dançando tango. Lá dentro, ambiente acanhado e fervilhante. Quase todas as mesas estavam ocupadas. Ainda assim há uma distância razoável entre elas, dentro do que é possível. Nas paredes, muitos quadros remetendo à Argentina, e alguns orgulhosos certificados de cozinha acima da média do Guia 4 Rodas. Cortinas e teto vermelhos dão "quentura" à decoração, contrastando com o frio jordanense. Para nossa sorte, fomos instalados em uma mesa bem ao lado da parrilla, a grelha em que os argentinos fazem o seu churrasco. Assim pudemos acompanhar toda a habilidade dos parrilleros em administrar tantas carnes ao mesmo tempo, tendo que saber exatamente quando tirá-las para que o ponto esteja do jeito que o cliente pediu. Nem sempre é possível, como restou provado ao longo da noite.

Um pouquinho do fervilhante e quente interior

Entre as opções de entrada, muitas delas envolvem a linguiça argentina. Pedimos o chorizo Piazzola (linguiça argentina com calda de vinho e maçã verde, R$ 19,90), que faz homenagem ao compositor argentino Astor Piazzola. A apresentação não é das mais lindas do mundo, trazendo dois pedaços de linguiça semi mergulhados na calda de vinho, com alguns pedaços de maçã, e ao lado uma cesta com pães e grissinis. As linguiças eram um pouco resistentes ao corte, mas deliciosas. As maçãs fizeram um bom contraste. Já a calda de vinho foi o ponto alto do prato. Chris não conseguia parar de passar o pão no pratinho, mesmo depois que a linguiça já tinha terminado. Pediu até a receita para o garçom que, gentilmente, negou. Gostou tanto que exigiu que a calda permanecesse na mesa mesmo depois que o prato principal já tinha chegado. Por vezes já reclamamos de restaurantes cujos garçons não retiram da mesa os utensílios depois de utilizados, mas neste caso o pedido, ou ultimato, para que isto acontecesse, foi nosso.

Olhando assim ninguém diz, mas tava uma delícia

Ao abrir-se o colorido cardápio, tem-se ao centro, em destaque, o carro-chefe da casa: as carnes de novillo, assim em castelhano mesmo (aliás, todo o cardápio é trilíngue, escrito primeiramente em castelhano e depois traduzido para português e inglês). São seis os tipos de carne listados: bife de chorizo (corte alto de contrafilé), ojo de bife (entrecôte), vacio (fraldinha), tapa de cuadril (picanha), corazon de cuadril (alcatra) e asado de tira (costela). Dentre estas seis opções há duas subopções, hombre e mujer, que são diferentes em tamanho (400g e 300g respectivamente) e, obviamente, em preço. Estes variam entre R$ 69,90 e R$ 85,90. Há também explicações sobre os pontos de carne possíveis, facilitando a vida de quem é leigo no assunto. Uma vez escolhida a carne há várias opções de acompanhamentos que o cliente pode optar, entre alguns tipos de arroz, batatas, purês, legumes, farofa, etc. Estes custam em média 25 reais. A casa sugere que se escolha ao menos dois para servir bem duas pessoas.

Para a escolha da carne tivemos a ajuda do garçom e também de Jorge, que estava comandando as parrillas, e depois descobrimos ser o dono do restaurante. Chris queria uma carne sem gordura e malpassada. Lhe foi sugerido o corazon de cuadril (R$ 69,90, na versão mujer). Eu ouvi de Jorge a frase "por favor, peça o ojo de bife", e não resisti ao seu apelo (R$ 85,90, na versão hombre). Curiosamente, percebo agora que Chris escolheu a carne mais barata da casa, e eu a mais cara. Sou mesmo um perdulário. Para acompanhamento, pedimos o pure de zapallo con gorgonzola (purê de abóbora com gorgonzola, R$ 30,90) e a farofa (R$ 15,90).

Pouco antes das carnes chegarem à mesa, uma surpresa: seis antepastos para acompanhar a refeição. São eles: pimentão sem pele, salsa creole (uma espécie de vinagrete picante), molho barbecue defumado, patê de gorgonzola, chutney de morango e mirtilo e chutney de manga com gengibre. À exceção do pimentão, um pouco sem tempero, todos os outros estavam muito bons, e acompanharam muito bem a refeição. A idéia de não citar este "mimo" no cardápio é genial, porque ficamos agradavelmente surpreendidos. O purê de abóbora com gorgonzola estava delicioso. Bem cremoso, e com sabor equilibrado, o que é complicado em se tratando de um queijo tão forte. A farofa também estava boa, mais pra úmida do que pra crocante, mas com um bom sabor.

Nossa mesa e os parrilleros trabalhando ao fundo


O garçom trouxe a carne da Chris, e imediatamente ela ouviu de Jorge, que comandava a parrilla: "Se sua carne passou um pouquinho, por favor me diga, que eu refaço com o maior carinho". De fato a carne havia passado um pouco do ponto desejado, que era o malpassado. É sempre complicada essa opção de refazer o pedido, até porque meu prato já estava ali, e isto acarretaria em comermos em momentos separados. Por conta disso Chris optou por comer a carne daquele jeito mesmo. Mas faltou um pouco do sangue que ela tanto gosta. Jorge confessou, em conversa que tivemos depois da refeição, que é difícil imaginar que uma mulher queira a carne sangrando. Ele disse, talvez exagerando um pouco, que em cada mil mulheres apenas uma gosta de carne malpassada. Ainda assim, Chris achou o tempero muito bom (é usado apenas sal), e adorou os acompanhamentos, ficando especialmente impressionada com o purê.

"Má...má...má, quidê o sangue?"

Já a minha carne estava excepcional. O corte ojo de bife é bastante comum na Argentina, mas quase desconhecido no Brasil. É muito macio, e tem uma gordurinha deliciosa no meio da peça. Pedi ao ponto, e ele veio correto. Também gostei muito de todos os acompanhamentos, e foi uma delícia ficar brincando de comer um pedaço de carne com cada um dos antepastos, e também com o purê e a farofa. Também experimentei com o molho da entrada, que a Chris insistiu que ficasse na mesa, e deu muito certo. Tanto no meu caso quanto no da Chris, a altura do bife, sua maciez e tamanho são os grandes diferenciais em relação às carnes que comemos no dia a dia. Tanto que a primeira coisa que disse para minha mãe quando lhe contava sobre a experiência foi algo como "mãe, o que a gente come não é carne, aquilo sim é carne!". Nem preciso dizer mais nada: é a primeira nota dez em prato principal desde que começamos o blog. Simplesmente não encontrei do que falar mal.

Se olhar bem a foto capaz de dar pra sentir o gosto...

Para as sobremesas, há os clássicos alfajores argentinos, e mais uma meia dúzia de opções. Um dos garçons, empolgadíssimo, praticamente nos obrigou a pedir a panqueque de dulce de leche (R$ 24,90), que ele achava a melhor da casa. Aceitamos a sugestão. Embora o nome em castelhano seja panqueque, na verdade é uma massa de crepe recheada com doce de leite argentino, com uma bola de sorvete de creme ao lado. Um prato pouco elaborado, na verdade. A massa, quando comida em separado, carecia de um pouco mais de sabor. Mas a mistura era gostosa, embora não fosse de gemer.

Los borrachos e la panqueque

Harmonizamos nossa refeição com três cervejas da marca Campos do Jordão que, descobrimos depois, tem esse nome mas não é fabricada na cidade. Começamos com uma lager (R$ 23,90), depois tomamos uma weizenbock (R$ 24,90) e por fim uma ale feita com pinhão (R$ 24,90), embora o gosto deste não tenha ficado muito evidente na receita. O restaurante também conta com uma carta de cervejas importadas e uma de vinhos.

O serviço foi um caso à parte. É normal em restaurantes você ter alguns funcionários dedicados, prestativos e simpáticos e outros meio preguiçosos e desinteressados. Mas aqui todos que nos atenderam se mostraram atenciosos e, principalmente, conhecedores daquilo com que trabalham. Mesmo com o restaurante cheio, Viniciús, um dos garçons, dedicou um bom tempo a nos explicar o funcionamento do cardápio, e também em dar algumas sugestões, demonstrando saber do que estava falando. Espantados descobrimos depois que ele tinha apenas uma semana de casa. Também descobrimos posteriormente que o simpático rapaz que nos sugeriu a sobremesa tinha apenas dezessete anos. Pois trabalha melhor que muita gente grande por aí. Como também tivemos contato com o proprietário Jorge, pudemos notar que a dedicação e a preocupação com o cliente partem dele, e se irradiam por toda sua equipe. Não há bom time sem um bom capitão. Só no finalzinho da noite, quando precisávamos que as garrafas vazias que levaríamos (eu coleciono rótulos!) fossem embaladas é que o serviço demorou um pouquinho, e acabamos nos levantando com as garrafas na mão. Mas mesmo este vacilo foi compensado quando saíamos, já que o jovem garçom de dezessete anos nos viu saindo e prontamente providenciou uma embalagem.

Normalmente quando chega a hora de responder à pergunta sobre se eu voltaria ou não a um restaurante eu sempre penso se ficou alguma coisa no cardápio que eu gostaria de experimentar. Mas desta vez falei para a Chris que eu voltaria até mesmo para comer exatamente a mesma coisa que comi. Ela também disse que voltaria, mesmo que não tenham acertado o ponto de sua carne. Quem sabe numa próxima vez o sangue venha em quantidades mais generosas, do jeito que ela gosta. Como deu para perceber, não se trata de uma refeição barata, mas em nenhum momento a gente se sentiu enganado, por conta da qualidade da comida apresentada, do serviço e do ambiente.

Em nome da transparência, devo dizer que conversamos por cerca de uma hora com o proprietário Jorge, depois de já terminada nossa refeição, quando ele saboreava um charuto do lado de fora do restaurante. Acrescento que isto não mudou em nada nossa apreciação do lugar, em relação aos pontos positivos e negativos e às notas aí abaixo. No meio da conversa, Jorge disse, sem medo de soar hipócrita, que amava seus clientes. Ele explicou que tinha seis netos, e os clientes representavam o seu ganha pão. Nem precisava explicar tanto. O amor pode ser percebido na primeira garfada.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 9 e 9,5
Entrada(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 8 e 10
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 7 e 8,5
Média: 7,91 e 8,54
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Av.  José  Manoel  Gonçalves,  160 - Vila Capivari -  Campos do Jordão - SP
Telefone: (12) 3663-6218
Site: http://www.libertango.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/libertango.restaurante?fref=ts




3 comentários:

  1. O viado machista aí kkkk não tem que explicar nada, faz a carne no ponto pedido e pronto kkkkkkk

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  2. Não sou a fã número 1 de carnes, mas juro que vou neste restaurante.

    Adorei!

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