Há cerca de dois anos eu e Chris, à época neófitos no quesito "comida japonesa", visitamos o Edo Zushi , em São José dos Campos. Passamos a gostar da coisa, e nesse meio tempo fomos algumas vezes à restaurantes de shopping, daqueles a quilo, de comida japonesa. Mas já estava na hora de voltarmos a visitar uma casa especializada no assunto para uma refeição mais séria, e não apenas para uma boquinha antes de ver um filme no cinema. Seguindo indicações de alguns amigos, escolhemos para isso o Kasato Sushi (que também tem unidade em São Caetano do Sul), localizado numa bela avenida joseense, a Anchieta, que já teve, se bem me lembro, dois outros restaurantes presentes aqui no blog.
Tem dia que parece noite, mas tem noite que parece dia |
A fachada do lugar, como se pode ver acima, é bonitinha, tem aquelas paredes bonitas com água escorrendo, e uma pichaçãozinha no muro (deixa o Dória ver). Para entrar é preciso passar pelo torii, aquele tradicional portão japonês, vermelho, com duas traves horizontais e duas traves verticais. Esses portões, no Japão, assinalam a entrada ou a proximidade de um santuário (tá tudo no Wikipédia, gente, cadê que eu sei tudo isso?). Do lado de dentro, mesas e cadeiras de madeira e dois salões, um onde fica a cozinha aberta, e outro com um bonito aquário. Escolhemos ficar perto dos peixes, para que eles nos testemunhassem enquanto devorávamos seus irmãos ainda crus (juro que tô escrevendo essa coisa horrível agora, mas não pensamos nisso na hora). Do lado de fora há uma bela área, que infelizmente não conta com mesas, o que é um desperdício, já que o restaurante fica em uma região muito bonita.
Onde estaríamos sentados, se cadeiras houvessem |
Tem gente ainda mais cruel que a gente, comendo ao lado deles, óia só |
Para começar a conversa, um mimo da parte do restaurante: um ceviche bem temperado de tilápia. Além de bem temperado estava cheio de cebola, então é claro que a gente gostou muito. Para acompanhar o ceviche pedimos uma cerveja Paulistânia (R$ 16,90), que veio bem geladinha e em copo próprio da cervejaria.
Os primeiros peixes ingeridos da noite |
Depois de animarmos nossos paladares com o ceviche, partimos para escolher nossa entrada. Entre shimejis puxados na manteiga, lulas a dorê e rolinhos primavera, acabamos ficando com a porção de guioza (oito unidades, R$ 16,50). Guioza (pronuncia-se "guiô-zá") são os pastéizinhos, normalmente de carne e legumes, que vieram da China, chegaram ao Japão e se espalharam pelo mundo. Pedimos quatro fritos e quatro feitos no vapor, para sentir a diferença. Claro que os fritos são muito melhores. Aliás, os feitos no vapor tinham gosto de massa crua. Quanto ao sabor do recheio, apenas razoável. Apresentação bem bonita, com o prato cheio de fatias de laranja e, mais sensacional de tudo, a molheira em que veio o molho shoyu também feito com casca de laranja. Não me pergunte como, veja a foto e tente reproduzir em casa.
É fácil, basta pegar a laranja e mandar um abracadabra |
Confessamo-nos culpados: ainda temos muitas dificuldades para entender os cardápios japoneses. Aquele monte de nomezinho diferente ainda não entrou, definitivamente, em nossas cabeças. E o cardápio do Kasato é pródigo em opções. Sushis, sashimis, makisushis, temakis, teppanyakis, enfim, é coisa que não acaba mais. Tem a opção de rodízio também, mas queríamos pedir algo do cardápio, até para ver como seria a apresentação. Acabamos optando pelo Combinado Kasato Especial 2 (36 unidades de sashimis e sushis de peixes e frutos do mar, R$ 64,90). Vamos explicar melhor o que está nos parênteses (se você é expert em comida japonesa, basta ver a foto abaixo, e pode pular para o próximo parágrafo). São dezoito sashimis (fatias de peixe cru), sendo seis de salmão, seis de atum e seis de peixe-prego. Entre os suhis, são doze niguiris (arroz prensado com uma fatia de peixe cru ou outro ingrediente por cima), sendo uma par de cada peixe citado anteriormente, mais um par de polvo, um de camarão e um de kani (imitação de carne de caranguejo prensada), além de sete hosomakis (arroz enrolado com alga, geralmente com apenas um recheio, que no nosso caso era salmão) e quatro uramakis (o sushi invertido, em que a alga, ao invés de ficar do lado de fora, faz parte do recheio). Se contei bem, são 41 itens, e não 36 conforme estava no cardápio. Mas acho que não é caso de voltar lá para reclamar, né? Mas só porque somos muito bonzinhos.
Gostamos da apresentação, embora devamos ressaltar que não temos tanta base para comparação. O combinado veio servido naqueles típicos barcos japoneses, com direito a legumes (chuchu, nabo e cenoura) em tiras, e laranja e pepino cortados cheios de estilo para enfeitar. Grudado à laranja veio um naquinho de wasabi, o famoso tempero verde japonês. É bem pouco para o tanto de comida, mas por sorte nós não gostamos muito dele (nada pessoal). Não há opções de molho, apenas o tradicional shoyu. Achamos que faltou algo mais artesanal, talvez um molho agridoce, feito pelo próprio restaurante, e não comprado pronto. Mas o fato é que comemos tudinho, foram 41 itens degustados, provavelmente com 21 para mim e 20 para a Chris - porque ficou um sashimi de peixe-prego ao final que ela me fez engolir.
Eu comi a imensa maioria disso tudo aí |
Esta é a foto para os experts verem e já saberem tudo que tem aí no barquinho |
Não esperávamos muito das sobremesas japonesas, já que no badalado (e já citado) Edo Zushi tínhamos comido banana com sorvete (pfff), que era a única opção. No Kasato havia aquelas batidas escolhas que ainda tô pra ver faltarem em restaurantes populares brasileiros: creme de papaya, petit gateau e frutas da estação. Mas também havia duas promissoras alternativas: tempurá de banana e tempurá de sorvete. Escolhemos o segundo (R$ 17,90), ou melhor dizendo, a Chris escolheu enquanto eu estava no banheiro, já que ela ficou curiosíssima quando a garçonete disse que o sorvete era frito em uma massa feita com sucrilhos, mas não derretia! Aí atiçou a criança que mora dentro dela. Apresentação muito bonita, com o tempurá já partido em dois, coberto com desenhinhos de caramelo, e fatias de laranja (de novo, tal qual na entrada, parece ser uma obsessão do cozinheiro) com fatias bem finas de morango por cima das laranjas. À primeira colherada achamos que a massa tinha um sabor muito forte de laranja. Depois essa impressão diminuiu um pouco, e acabamos achando bem interessante, embora eu tenha gostado mais do que a Chris.
É bonitinha mesmo, né? |
Claro que, além das cervejas, não poderíamos ir embora sem tomar alguma bebida feita com saquê, o destilado típico japonês. Tomamos a sakerinha de morango (R$ 19), feita com sakê brasileiro. O metido aqui até queria o importado, mas estava em falta. Veio bem bonitona, e estava com álcool bem pronunciado, não era daquelas que parecem um suquinho, como normalmente acontece com os drinks feitos com sakê.
É ou não é bem bonitona? Eu acho LINDA! |
Lembra que eu escrevi que o cardápio, para nós, é um pouco confuso? Pois então, o fato é que os garçons, todos muito jovens, não ajudaram muito a desfazer nossas dúvidas. Nas vezes em que fizemos perguntas sentimos que eles estavam um pouco inseguros para respondê-las. Em dado momento um perguntou pro outro, "é isso mesmo, né?", como se não soubesse muito bem o que estava falando. Mas foram todos atenciosos, sempre se preocupando se nos faltava alguma coisa. A cozinha entregou os pratos sempre com agilidade, mesmo com o restaurante enchendo um pouco no decorrer da noite. Aliás, ficamos impressionados com a quantidade de joseenses jantando fora em plena terça-feira. Sinal do cartaz que a culinária do Japão tem na cidade, que possui inúmeros restaurantes dessa especialidade.
Embora nada tenha nos desagradado de todo, concluímos que não haveria motivos para um retorno ao Kasato Sushi. Uma das razões é que ainda há dezenas, literalmente, de restaurantes japoneses para visitarmos em São José, e o Kasato não nos apresentou nada tão memorável que nos fizesse voltar a ele ao invés de conhecer um lugar novo. O conceito de sagrado é relativo, e depende de cada um. Talvez, para nós, não tenhamos de fato adentrado um lugar sagrado quando passamos por aquele torii, o famoso portão japonês. Mas certamente adentramos um lugar ótimo para se fazer uma boa refeição por preços honestos. E, às vezes, isso está mais perto do sagrado do que se pode imaginar.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 7 e 6,5
Serviço(2): 6,5 e 6,5
Entrada(2): 6 e 5
Prato principal(3): 7 e 7
Sobremesa(2): 6,5 e 7,5
Custo-benefício(1): 8 e 7,5
Média: 6,75 e 6,62
Voltaria?: Não e não
Serviço:
Avenida Anchieta, 117 - Jardim Esplanada - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3204-7323
Site: http://www.kasatosushi.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Kasato-Sushi/111179555700217
Sou neófita em comida japonesa. Não conheço e parece que não gosto.
ResponderExcluirGostei do "torii", entrada pro santuário da refeição.
O elenco de ingredientes me atordoou!
Por enquanto, continuo neófita.