É preciso dizer, não visitamos o Flor de Ipê com o pensamento de incluí-lo aqui no blog. Estávamos na cidade de Goiás, terra da poetisa Cora Coralina, e era o restaurante mais próximo à nossa pousada. Estávamos cansados das andanças pela cidade, que é Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, e fomos para um jantar informal, sem muitas pretensões. E de fato o lugar é despretensioso. Mas ao final achamos que a experiência valeu para uma inclusão aqui no blog. Por conta dessa "informalidade" da visita, pedimos desculpas pelas fotos, que não foram tiradas com o cuidado de sempre.
A fachada é discreta, parecendo a entrada de uma casa. Na parte de dentro o ambiente também é bem informal, com paredes recheadas de quadros e um pouco de artesanato, um jardim anexo e a vista para o Rio Vermelho. Embora a tal vista tenha sido atrapalhada pelo negrume da noite, era possível ouvir o barulho do mítico rio eternizado por Cora Coralina em suas poesias. De dia deve ser bem bonito visitar o lugar.
Dá pra ouvir o barulho do rio? |
E tem jardim pra dar uma pitada |
O cardápio de beliscos tinha opções muito pesadas, como por exemplo o medalhão de filé acompanhado de feijão tropeiro, mandioca e vinagrete (R$ 35). Não era o que pretendíamos como entrada, então pedimos o Espetinho Flor do Ipê (R$ 22), que o originalmente também viria com arroz e cama de abobrinhas, os quais solicitamos gentilmente que não viessem. Então comemos apenas o espetinho, que estava muito bom, com carne macia e suculenta, um gostoso queimadinho por fora, e bem temparada. Aí você vai dizer "mas é só um espetinho". Sim, mas quem nunca comeu um espetinho ruim? Esse era bom.
O simples resolve tudo |
A maioria dos pratos principais serve duas pessoas, e fica na casa dos quarenta reais. O cardápio é um pouco caótico, com a descrição dos pratos em português e inglês, e sem muito critério de divisões, além de não ser muito bonito. Acabamos escolhendo os dois únicos pratos individuais listados.
Chris escolheu o arroz à piamontese com filé mignon alto ao molho madeira (R$ 30). Normalmente a gente pede os pratos principais e esquece dos detalhes do que pedimos (isso é mais frequente do que seria salutar admitir). Em geral ficamos papeando, comemos a entrada, e quando vem o prato a gente se pergunta "o que era mesmo?". Tudo isso para explicar que o prato da Chris chegou sem o molho madeira, e ela comeu quase tudo, até que a garçonete o trouxe, pedindo desculpas. Chris não tinha se tocado, embora uma pulga lhe mordesse a orelha dizendo "isso aqui tá meio seco". Mas o bife estava muito bem temperado, embora o ponto tenha vindo o oposto do solicitado: Chris pediu mal-passado, ele veio bem-passado. Nem um sanguinho sequer, tudo cinza. Mas o arroz estava correto, em sabor e textura.
Não xingue, eu disse que as fotos não estavam caprichadas |
Minha escolha foi o Lombo Flor de Ipê (lombo temperado com manjericão, crisps de couve, bits de bacon e arroz com castanhas, R$ 30). Extremamente saboroso. E muito suculento, embora não houvesse molho algum. O arroz com castanhas estava molhadinho, e a couve crocante e úmida ao mesmo tempo. O lombo também estava muito bem temperado e macio. Dá para ver que o prato está brilhante por causa do excesso de gordura, mas, veias entupidas à parte, a decisão é perfeita para o prato, que de outra maneira ficaria seco. Pensando agora, acho que foi o tanto que eu gostei do meu prato que fez a gente decidir por incluir o Flor de Ipê aqui no blog.
Ei-lo: o entupidor de aortas! |
Devido à pobreza de opções para sobremesa, pensamos em não pedir nada. Mas acabamos optando pelo doce de goiaba (R$ 8). A apresentação pode ser chamada de não-apresentação. Parecia um prato com catchup para molhar batatinhas fritas. Também poderia haver um queijinho para acompanhar. Mas o doce não era ruim, e sua consistência pastosa, mas lisa, não foi um problema.
"Moça, pode trazer as batatinhas" |
Assim que chegamos fomos atendidos por uma moça, com touca na cabeça, que parecia funcionária da cozinha. Ela não sabia responder nada do que perguntávamos. Só depois é que chegou a garçonete "oficial", que passou a nos atender. Essa era espontânea a esforçada, mas de vez em quando dava umas sumidas, talvez porque também tivesse funções dentro da cozinha, vai saber. Mas gostamos do jeito dela, que reparou que a Chris tinha ido fumar no jardim, e disse "pode fumar aqui mesmo, o restaurante tá tããão cheio", tirando um sarro da escassez de clientes. Mas, apesar de seus esforços, não podemos esquecer que ela desaparecia às vezes, e que a Chris foi servida sem seu molho madeira.
"...embelezando a paisagem deserta com seu fulgor/de ouro vivo, o Ipê Florido, nos dias de sonho...". Esse é um trecho do poema "Ipê Florido", de Cora Coralina. O Flor de Ipê talvez não seja merecedor dos versos tilintantes da poetisa-mor de Goiás. Mas ambos concordamos que ele mereceria uma segunda visita nossa, caso voltássemos à cidade. Um dos fatores é seu custo-benefício, já que comemos bem por pouco mais de cem reais. Mas há outro pequeno detalhe, igual ao gol no futebol, que faz toda a diferença em favor do restaurante: o tempero. E, convenhamos, essa é a parte mais importante quando falamos em comida. O resto, sim, é que é detalhe.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 7,5 e 7
Serviço(2): 5 e 5,5
Entrada(2): 5,5 e 6,5
Prato principal(3): 6 e 8
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 6 e 8
Média: 5,66 e 6,66
Voltaria?: Sim e sim
Serviço:
Praça da Boa Vista, 32 (fundos) - Centro - Goiás - Goiás
Telefone: (62) 3372-1133
Site: http://www.restauranteflordeipe.com/
Facebook: https://www.facebook.com/restauranteflordeipe/?fref=ts
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