A Vila de São Jorge, pertencente à cidade de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, tem basicamente duas ruas principais de comércio. Ficar fora dessas duas ruas pode significar uma sentença de morte para um restaurante ou uma loja de artesanato. Mas nada que um pouco de criatividade e muito zelo não possam resolver. Depois de já estarmos na vila por algumas noites, e termos comido em alguns restaurantes medíocres (no sentido de serem comuns), resolvemos seguir as lanternas. É assim que o Santo Cerrado mostra aos turistas sua localização: com um caminho de lanternas em uma pequena rua perpendicular a uma das ruas principais. E com pequenos cartazes espalhados em algumas lojas do centro, dizendo "Siga as lanternas". Pois bem, seguimos.
Uma mulher misteriosa caminha entre as lanternas |
Ah não, a mulher misteriosa era a Chris mesmo... |
As ruas escuras de São Jorge não permitem apreciar a fachada do restaurante à noite. Dá para ver que há plantas ornamentando a entrada, e lá dentro algumas luzes difusas, que fazem parte da iluminação minimalista da casa, quase toda à base de velas. Por falar em velas, o caminho feito delas prossegue nos levando para dentro do restaurante. São três ambientes disponíveis: um salão mais perto da cozinha (onde ficamos), uma varanda, muito concorrida no pôr-do-sol, e no quintal mesas e almofadas espalhadas ao lado de uma fogueira. Esse terceiro ambiente não fica ativo em dias mais vazios, como no domingo em que visitamos o lugar para fazer esse texto. Mas na noite anterior já tínhamos visitado a casa de maneira mais informal, e foi lá que nos instalamos, por isso a foto que pode ser vista aí abaixo. Comum a todos os ambientes é a decoração criativa, cheia de peças de artesanato, alguns artigos vintage e cristais. Para completar, todos os pratos do restaurante tem pinturas diferentes, e são lindos.
Ambiente número um: o salão! |
Ambiente número dois: a varanda! |
Ambiente número três: o quintal! |
Óia os pratinhos, que bonitinhos |
As opções de entrada estão divididas em "Para começar" e "Para beliscar". A primeira tem pães e similares, a segunda porções estilo boteco. Escolhemos a cesta de pães acompanhada de Camponata do Cerrado (berinjela, três tipos de pimentão, uva passa, cebola e castanha de baru, R$ 19,90). Antes de mais nada, deu dó ver tantos ingredientes espremidos em uma tigelinha tão pequena. No final faltou camponata e sobrou pão (que aliás era uma delícia). Falando da camponata, tinha um sabor muito bom, tempero equilibrado, mas a berinjela e pimentão estavam cortados de maneira grosseira, com pedaços muito grandes. Ademais, o serviço pecou ao não nos entregar pratos e nem uma faca para cortar o pão.
Corta o pão com a mão, oras |
O Santo Cerrado se apresenta como uma risoteria, e no cardápio os risotos estão divididos em "Clássicos" e "Especiais da casa". Entre os clássicos alguns clássicos (dããããã) como o de açafrão e de camarão. Entre as criações da casa há risotos elaborados por chefs convidados e alguns nomes diferentes, como "Goiano do pé-rachado" (que tem pequi na composição) e "Garimpeiro" (de carne seca com abóbora que, convenhamos, é um clássico). Afora os risotos o cardápio tem algumas saladas e na seção "Se quiser acompanhar", três acompanhamentos possíveis para os risotos, com carne bovina, suína e "peixina" (deveria existir essa palavra, né?).
Escolhemos um risoto entre os "Especiais da casa", o de pera com gorgonzola (que também poderia estar na seção de "clássicos", R$ 63,90). Apresentação muito charmosa, em uma panelinha de ferro. A descrição do prato dizia "pedacinhos de pera que estouram na boca", e de fato a textura da fruta tinha algo de especial, não sei qual é o truque. Mas a descrição também dizia que o gorgonzola era "para deixar a festa ainda mais animada", e o fato é que ambos sentimos falta de uma pegada mais forte do queijo. Mas de maneira geral estava bem agradável. A porção dá e sobra para duas pessoas. Também pedimos, para acompanhar, os medalhões de filé mignon com pesto de manjericão (3 medalhões, R$ 31,90). Medalhões pequenos, mas que vieram no ponto certo, e pesto muito saboroso.
Só o queijinho que tá meio zuado |
Ficamos preocupados com a escolha da sobremesa. A lista parecia muito básica, com brigadeiro de colher, Romeu & Julieta, sorvete do dia e creme de papaya com cassis. Acabamos optando pelo Romeu & Julieta (doce caseiro da casca da goiaba em calda com queijo coalho grelhado, creme de capim santo e farofa de doce de baru, R$ 22,90), justamente pela descrição do cardápio que você acabou de ler, que parecia fugir de um básico "goiabada com queijo". Não nos arrependemos. Além da apresentação bonita, provamos uma recriação sutil de um clássico, com o doce de baru trazendo crocância sem interferir tanto no sabor, e o toque ácido do creme (na verdade um molho) de capim santo. Uma delícia, que dividimos tentando não nos atracar pelo último pedaço.
"Tudo que é seu, meu bem, é meu, é meu, é meu!" |
Ah, o serviço. Num domingo à noite, restaurante vazio, e os garçons quase o tempo todo de costas pra gente, convesando com os colegas na cozinha. Aí a gente pedia algo e um deles não sabia como servir, em dado momento teve que perguntar na cozinha, "é com garfo ou colher?". Demoravam para perceber que já tínhamos terminado alguma etapa da refeição, e consequentemente não levavam os pratos sujos embora. Em resumo, estavam dispersos. Mas, devemos dizer, quando finalmente percebiam nossa presença, eram atenciosos e simpáticos. Curioso notar que no dia anterior, com o restaurante cheio, o serviço estava muito mais esperto. Acho que os meninos deram uma relaxada por conta da escassez de gente, o que está longe de ser uma desculpa. Também tivemos o problema da falta de pratos e talheres adequados quando nos serviram a entrada. De modo que o serviço acabou sendo o ponto baixo da noite, embora os pratos não tenham demorado para chegar em nenhuma das etapas.
O custo-benefício da casa acaba sendo muito bom, já que os risotos servem duas pessoas. Tivemos entrada, prato principal e sobremesa, mais algumas long neck da Heineken (R$ 7,50), comemos muito bem, num ambiente charmoso, e gastamos menos de duzentos reais. Claro que existem opções mais baratas e fartas na Vila de São Jorge, mas nenhuma parece ter tanto cuidado com os detalhes e com a cozinha como o Santo Cerrado. Foi isso que nos fez ir lá por duas noites seguidas. E o que certamente nos faria voltar novamente caso voltássemos à cidade. "Siga as lanternas!", nos diria nossa saudosa memória.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 10 e 10
Serviço(2): 5 e 6
Entrada(2): 5 e 7
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 8 e 8
Custo-benefício(1): 8 e 8
Média: 7,08 e 7,70
Voltaria?: Sim e sim
Serviço:
Viela C, Quadra 08, Lote 2, s/n - Vila de São Jorge - Alto Paraíso de Goiás - Goiás
Telefone: (61) 99974-1150
Site: http://santocerradorisoteria.blogspot.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantesantocerrado/?fref=ts
Fiquei com muita vontade de seguir as lanternas! Mesmo sendo risoteria, são muitas opções com jeito de boas.
ResponderExcluirO ambiente é lindo e promete aconchego, com detalhes diferenciados como os pratos decorados. Pena que é tão longe!
O texto tem requintes de crítico gourmet.Muito bom!