Por motivos diversos, ficamos muito tempo sem ir a nenhum restaurante, por isso este blog está parado desde setembro de 2017. Para este retorno, escolhemos um restaurante com uma pegada argentina, que fica dentro do Shopping Colinas em São José dos Campos. O motivo simbólico é que em breve estaremos embarcando para a terra dos hermanos. Explicando o nome do lugar: calle é "rua" em espanhol, e 54 é o DDI da Argentina. O restaurante tem três unidades na cidade de São Paulo e apenas essa fora da capital.
Chegando pra abalar na Rua 54 |
Dentro de um shopping, não dá pra exigir grandes coisas do ambiente. Mas é certo que o Calle 54 se diferencia dos restaurantes comumente encontrados nesses lugares. Espaçoso, com alguns sofás estofados, uma boa brigada de garçons, fica evidente que não estamos em um fast food - muito embora a confusão típica de um shopping esteja logo ali ao lado.
A confusão de um shopping de um lado... |
...e uma cara de besta do outro lado. |
Não resistimos ao couvert, que se chama La Recoleta (um dos bairros mais famosos da capital argentina) e vem com pães ao molho chimichurri na parrilla (a grelha deles) e matambrito (uma carne enrolada e assada) com limão siciliano (R$ 9). Matambrito é um apelido carinhoso para matambre, que é a junção das palavras "matar" e "fome" em castelhano. Uma comida originalmente criada para matar a fome de trabalhadores, com um corte de carne normalmente descartado pela "nobreza". A versão do Calle 54 estava absolutamente deliciosa, bem temperada e derretendo na boca. Para completar, pedimos também o choripán (R$ 9,00), uma espécie de pão com linguiça. Este estava apenas correto, não trouxe exclamações a nenhum de nós. O molho chimichurri que o acompanhava deu uma animada no sabor.
Muy rico matambrito! |
Muy pobre choripán! |
Para os pratos principais o cardápio, recheado de fotos, lista em destaque todos os cortes de carne oferecidos, com as nomenclaturas utilizadas na Argentina e a "tradução" em português, quando necessário. É o caso, por exemplo, da tapa de cuadril, que nós conhecemos como picanha, ou do lomo, que é o nosso filé mignon. Ao escolher essas carnes o cliente tem direito aos acompanhamentos do dia, escolhidos pelo chef, além de um molho à parte. Alguns cortes tem duas opções de tamanho (260g e 320g). Para quem não gosta de churrasco, há também algumas poucas opções com peixe, frango e hamburguer.
Chris queria uma carne com bastante sangue, e pediu o baby beef (260g, R$ 56,90), acompanhado de molho chimichurri. Ela pediu ao ponto para menos, mas foi bem clara com o garçom sobre o fato de que queria a seiva escorrendo (sim, ela tem um quê transilvânico). De fato a carne veio no ponto pedido, mas sem o sangue que ela gostaria. Problemas com o corte escolhido, talvez, ou com a forma de cocção. Mas estava saborosa e macia, embora não muito bonita. O molho, o mesmo que já tínhamos comido com o choripán, estava gostoso.
"Se eles querem meu sangue, terão o meu sangue nem no fim" |
Eu escolhi o ojo de bife (miolo da parte dianteira do contra filé, 260g, R$ 63,90) ao ponto. Não sou fresco com carne, e embora prefira ao ponto, não ligo de comer mal passada ou ao ponto pra menos. Sorte a minha, porque minha carne veio mais mal passada que a da Chris. Erro feio. Também não estava nada bonita, meio branquela, muito fina e com bastante nervo. Dito tudo isso, estava saborosa e macia - exceto, claro, nos nervos duros. Escolhi o molho de mostarda em grãos, bem agradável.
Ponto errado, fina, branquela, com nervos, mas gostosa |
Nossos acompanhamentos foram iguais e já estão incluídos no preço do corte citado acima. O sistema é de rodízio, ou seja, o garçom passa na mesa servindo, o que é bom por evitar o desperdício. Os únicos que ficam na mesa são o vinagrete (bonzinho) e a farofa (muito boa). No dia de nossa visita tivemos arroz italiano (com tomate seco e azeitonas, bem temperado e no ponto certo), camponata de legumes (pimentão, abobrinha, berinjela e cebola, achamos que não combinou muito com a carne), polenta frita (okeizinha) e por último mas não menos importante, um creme de batata doce (textura agradabilíssima, sabor delicado, uma nota dez se comêssemos só ele).
Eu aceitaria suborno e daria dez em tudo em troca da receita do creme de batata doce |
Na hora do refestelo adocicado, aquelas coisas de sempre (petit gateau, creme de mamão, pudim) e a diferentinha torta banoffe (R$ 14,90), que pedimos. Banana passada na parrilla, envolta em biscoito, com doce de leite argentino e o desnecessário chantili por cima. Apesar da presença do desnecessário (eu tenho birra com chantili, perdoem-me os que gostam), o doce estava gostoso, com a banana e o biscoito dando um equilíbrio ao dulçor bem pronunciado do doce de leite. Também achamos que a apresentação poderia ser mais caprichada, o copinho deu uma escondida em tudo. Ah, faltou dizer que o preço do doce incluía também um simpático cafezinho, que a Chris adorou.
Sobrou copo (e chantili!) |
O simpático e a simpática |
Antes de falar do serviço, falarei de uma estupidez de minha parte que acabou custando um bom dinheiro. Vi a máquina de chopp da Heineken, e pedi um pra cada, mas recebi de volta o famoso "tem, mas acabou". O próprio garçom me ofereceu a Cauim, a gostosa pilsen da cervejaria Colorado, que já conhecíamos. Pedimos uma garrafa de 600ml, e quando ela acabou eu pedi outra só pra mim, já que a Chris não queria mais. Tudo isso sem perguntar o preço. Sei que a Cauim custa, no mercado, no máximo R$ 15. Pois o Calle 54 vende a glamorosos R$ 32,90. Um acinte. Pedir sem ver o preço é uma estupidez, mas vendê-la por esse valor é quase uma extorsão, que é, convenhamos, pecado maior do que a estupidez.
O serviço no Calle 54, em nossa visita, ganhou nota dez em simpatia, mas pecou bastante na agilidade e atenção. Ficamos muito tempo esperando, por exemplo, a nossa Cauim superfaturada, que vimos parada no balcão por um bom tempo até que alguém resolvesse nos trazer. Também ficamos muito tempo com os pratos sujos da entrada e do couvert parados na nossa frente, sem que ninguém se dignasse a retirar. Como ponto positivo podemos citar o fato de que o rodízio dos acompanhamentos funcionou direitinho, com a reposição sendo feita com agilidade. Também vale ressaltar, como já citado, a simpatia dos atendentes, criando um clima informal condizente com a casa.
Ao final da refeição estávamos parcialmente satisfeitos, e o que mais pesou na hora de decidir se voltaríamos ou não ao Calle 54 talvez tenha sido o custo-benefício. Inflacionada também pela cerveja, a conta ficou muito alta para o que recebemos de volta. E ambos decidimos que não voltaríamos ao lugar. Uma pena. Chris adorou, por exemplo, o mimo que veio junto com seu suco de abacaxi: um mini-pregador com um bilhetinho que dizia "Nunca deixa que o seu medo seja maior que a sua fé". Um conselho que vale também para o restaurante, com dois adendos: fé, atenção no ponto da carne e um preço justo pela Colorado, hermanos!
O bilhetinho e o suquinho que não ganhou nota, mas tava bom |
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 6 e 6,5
Serviço(2): 6 e 6,5
Couvert(2): 8 e 8
Entrada(2): 5 e 6
Prato principal(3): 6,5 e 6
Sobremesa(2): 6,5 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 6,25 e 6,57
Voltaria?: Não e não
Serviço:
Av. São João, 2200, Loja 126, Colinas Shopping – Jardim das Colinas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3941-5222
Site: http://www.calle54.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/calle54sjc/
O texto tá tão saboroso que acreditei que voltariam...Eu voltaria,sem pedir a estupidez...
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