Bendito Bistrô. Nome legal. Mas carrega consigo um estereótipo que no Brasil é difícil de apagar: o de restaurante caro. Culpa do "bistrô" que vem junto ao nome. Antes, no mesmo local, funcionava o "Il Tartufo", restaurante em que fomos certa vez para um evento, e que era bastante sofisticado. Pela bonita fachada que foi mantida, esperávamos o mesmo do Bendito Bistrô.
A dona com seu cachorro acrescentou casualidade ao registro |
Do lado de fora, à esquerda, já é possível entrever pelas janelas a grande e bela cozinha aberta. Perto dela há um espaço que pode ser reservado para eventos. À direita fica o salão principal, com cerca de dez mesas, onde os comensais são recebidos. De cara o que mais nos chamou a atenção foram as bolas. Sim, aproveitando o clima de Copa do Mundo as mesas são decoradas com bolas de futebol. Chris foi um pouco mais condescendente, mas eu não achei nada bonito. Combinaria mais com um ambiente de cantina, ou mais informal. Aliás, de maneira geral a decoração do ambiente carece de personalidade. A impressão que me deu foi uma coisa meio "olha, esse quadro é bonitinho, vamos colocar lá no restaurante?". Falta um foco, talvez uma ajuda profissional mesmo, não um conselho de alguém que escreve um bloguezinho mequetrefe sobre suas experiências gastronômicas com a namorada (auto-depreciação é uma das minhas maiores virtudes).
Contrariando a lógica dominante, o garçom só tirou uma, e ficou tremida |
Apresento-lhes a bola |
Eu sou um pouco chato, confesso. Gosto de padrões. De coerência. Mas vê se eu tô muito errado. Chega o cardápio, com diversas divisões por tipo de comida. Escrito do jeito mais trivial possível: "Entradas e saladas", "Veganos", "Risotos", "Massas", "Peixes", "Frutos do mar" e "Carnes". Aí, na sessão das sobremesas, vem escrito "Ah!! A sobremesa...". Ou faz graça em tudo ou faz tudo certinho, não é? Tá, talvez eu seja muito chato mesmo. Enfim. Afora isso, visualmente o cardápio deixa a desejar. Um pouco mais de requinte, acompanhando o "requinte" dos preços na casa dos 70 reais para pratos individuais, seria bem-vindo.
O couvert parecia bem interessante, cheio de pães, com terrine de salmão, diversos queijos, entre outras coisas (R$ 58 para duas pessoas). Pela quantidade de coisas, teríamos que optar entre ele ou uma entrada, e esta última acabou vencendo (eu venci a Chris, no caso). Pedimos os frutos do mar cozidos no vapor com folhas de peixinho a milanês, servido com molho de maracujá e sorbet de limão (R$ 65). Apresentação meio amontoada, mas não tava feia. Entre os frutos do mar vieram lulas, camarões, mexilhões e polvo. Peixinho é uma PANC (plantas alimentícias não convencionais), e foi ela que me fez bater o pé pra pedirmos a entrada ao invés do couvert, já que nunca tínhamos comido e eu tinha curiosidade de experimentar. Provavelmente foi a melhor coisa do prato, que de resto estava bem sem tempero. O tal molho de maracujá veio em pouco quantidade, e os frutos do mar, embora bem cozidos, estavam sem gosto. O sorbet de limão foi bem interessante, trazendo uma acidez e frescor que o molho de maracujá escasso não proporcionou.
Os frutos do mar, o peixinho que é folha e as folhas que são folhas mesmo |
Entre os pratos principais o menu soma 23 opções - o que considero um exagero para um restaurante pequeno. Chris optou pela truta recheada com salmão assado, servido com molho de uvas verdes e arroz de amêndoas (R$ 69). Apresentação bem normalzinha, mas correta, embora ela preferisse que a pele viesse virada para baixo. Ela achou bem saborosa a junção dos dois peixes, com um recheando o outro. Estava bem temperado e com bom ponto. O arroz estava saboros e soltinho. Mas o molho de uvas verdes se resumia a uvas verdes cortadas pela metade e colocadas sobre o peixe. Detalhe: a ideia é ótima, já que as uvas trazem uma acidez diferente daquela que estamos acostumados com molhos de limão ou laranja. Mas como não era um molho, o peixe acabou ficando seco, e consequentemente difícil de comer. Uma pena, já que a ideia poderia ter rendido um ótimo prato se bem executada.
"Cadê meu molho?" |
O peixe foi "uvacionado" ao final do espetáculo (ai, essa doeu) |
Eu ainda não estava contente com os polvos ingeridos na entrada, e resolvi pedir polvos grelhados com alcaparras, azeitonas pretas, tomates cereja e salsão, puxados no azeite e aromatizados com páprica picante, com tortilhas de batata e camarão (R$ 70). Antes de mais nada é bom dizer que isso que escrevi é a descrição do prato no cardápio, por isso escrevi a palavra "camarão", embora os camarões não tenham vindo à mesa. Mais uma vez apresentação apenas correta, sem grandes invenções. O polvo estava bem macio, agradável, mas o refogadinho tinha um problema de amargor detectado logo na primeira mordida. Depois de experimentar os ingredientes em separado, descobri que a culpada era a azeitona. Provavelmente foi comprada fresca, e não foi tirado o amargor, que ficou excessivo. A tortilha de batata estava boa, e até acho que poderia vir um pouquinho a mais, já que tinha bastante polvo.
"Pô, vô comê um polvo meu povo!" |
Octopus´s Garden |
Ah!! A sobremesa...a única sessão do cardápio com um diferencial no título trazia algumas opções interessantes, como o bolo torta de milho ao creme de queijo e mousse de capim limão (R$ 25). Quase pedimos esse, mas fomos convencidos pelo garçom a pedir a taça "UAU!!! Premium", especial de Dia dos Namorados, que não está no cardápio, mas se manteve como opção após a passagem da data comemorativa dos apaixonados. Para duas pessoas, é uma taça envolta em brigadeiro, com bolinhas de chocolate, frutas vermelhas, raspas de chocolate branco e mais brigadeiro por dentro (R$ 49). Pode-se acusar a apresentação de ser cafona, mas é bem bonita, e né, o amor é cafona mesmo. Claro que misturar brigadeiro com frutas vermelhas é covardia, então é óbvio que estava gostoso, com o brigadeiro da parte interna bem quentinho e cremoso, e o da parte de fora mais firme e em temperatura ambiente. Vieram morangos, mirtilos e framboesas, além de duas belíssimas phisalys por cima, uma pra cada.
Cafona como o amor |
A demora para servir alguns pratos foi abissal, com o perdão do adjetivo exagerado. A entrada, por exemplo, deve ter levado uns 40 minutos para chegar. Isso com o restaurante bem vazio em uma terça à noite. Depois, observando a enorme cozinha aberta, notamos haver lá dentro um solitário ser. Provavelmente o motivo da demora era a solidão do homem (filosófico isso). Nosso atendimento foi feito pelo jovem e prestativo Eric. Bastante esforçado, ele conseguiu ser educado sem perder a espontaneidade, o que para nós é sempre o melhor dos mundos. É novo, mas interessado em aprender. Por exemplo, quando nos explicava quais frutos do mar faziam parte da entrada, se esqueceu do nome de um deles e nos perguntou "como é mesmo aquele bichinho que vem na concha?". Esse atendimento que não é engessado é o que mais gostamos de encontrar em nossas saídas. Além disso ele sabia se manter à distância, sem ser invaviso, mas estando sempre atento. Portanto nossas notas de serviço foram diminuídas por conta da demora na entrega dos pratos, e não do atendimento pessoal.
De maneira geral, me ficou a impressão de que o Bendito Bistrô precisa se decidir. Ou ele quer ser um restaurante que cobra quase cem reais em cada prato, e aí ele tem que melhorar muito em diversos aspectos tangenciais à comida, ou ele vai ser um lugar de comida bem feita, mas mais informal, e nesse caso ele tem que baixar os preços. Em ambos os casos, é preciso também, e isso é essencial, atentar para o sabor e tempero dos alimentos e para inconsistências entre o que está descrito no menu e o que aparece à mesa. Por tudo isso, eu e Chris decidimos que não faríamos uma segunda visita ao Bendito Bistrô - embora também não tenhamos chegado ao extremo de lhe mudar o nome para Maldito Bistrô.
De maneira geral, me ficou a impressão de que o Bendito Bistrô precisa se decidir. Ou ele quer ser um restaurante que cobra quase cem reais em cada prato, e aí ele tem que melhorar muito em diversos aspectos tangenciais à comida, ou ele vai ser um lugar de comida bem feita, mas mais informal, e nesse caso ele tem que baixar os preços. Em ambos os casos, é preciso também, e isso é essencial, atentar para o sabor e tempero dos alimentos e para inconsistências entre o que está descrito no menu e o que aparece à mesa. Por tudo isso, eu e Chris decidimos que não faríamos uma segunda visita ao Bendito Bistrô - embora também não tenhamos chegado ao extremo de lhe mudar o nome para Maldito Bistrô.
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 7 e 6,5
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6,5 e 6,5
Sobremesa(2): 7,5 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 6,62 e 6,62
Voltaria?: Não e não
Serviço:
Rua Serimbura, 264 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3911-1460
Site: https://www.benditobistro.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/benditobistrovilaema/
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ResponderExcluirO texto está bem divertido e deveria ser lido pelos proprietários para que o restaurante encontrasse seu foco. Conheci o PANC e vou pesquisar o que são as belíssimas phisalys.
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