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quinta-feira, 2 de março de 2023

Le Quintal (São José dos Campos - SP) - 24/02/2023

 


Na sexta-feira passada fomos jantar no quintal da casa de um casal que nunca tínhamos visto na vida. Sim, é possível descrever dessa maneira a sensação de visitar pela primeira vez o Le Quintal. Trata-se de um restaurante muito distante do convencional. Só funciona nas noites de sexta e sábado, sob reserva. O menu de cinco etapas é divulgado na segunda-feira, nas redes sociais. E o mais curioso: o serviço é feito nos fundos de uma residência, sem nenhuma placa ou indicativo de que se trata de um restaurante.

"Boa noite, podemos rangar aí no quintal?"

Claro que não é um quintal qualquer. A decoração é toda trabalhada, com muitos detalhes por todos os lados: objetos de palha, móveis de madeira, cortinas com estampas floridas, garrafas de vinho, lustres, flores e mais uma infinidade de coisas. Segunda a proprietária, tudo aquilo foi sendo construído com o tempo, com outras pessoas trazendo uma coisinha aqui, outra ali, para formar um mosaico bem interessante. Existem mesas de diversos tamanhos, para acomodar casais ou grupos maiores. Embora exista uma pequena parte aberta, a maioria do quintal é coberta, o que deve permitir o serviço mesmo em dias de chuva. A cozinha é aberta, sendo possível observar todo o trabalho dos cozinheiros, além de sentir os aromas das comidas antes que elas cheguem à mesa - o que é bem instigante para o paladar.

Chris embelezando ainda mais o ambiente

Fê embesteando um pouco o ambiente

Um lustre florido, no detalhe pra você

Um arranjo de vinho e rolhas

Garrafa de vinho: muito melhor que passarinho!

(vou fazer um aparte sobre o nome do estabelecimento. No Instagram, a rede social mais usada por eles, a arroba é "lequintalbistro". Acho o nome perfeito: tem uma gracinha ali com o idioma francês, que condiz com o clima descontraído da casa, além de usar o título de bistrô, que originalmente na França se referia a restaurantes menores, mais intimistas. O problema é que eles também usam, em alguns materiais de divulgação, o nome Le Quintal VIP Gourmet Club - e este também é o nome que aparece na pesquisa do Google. E aí, confesso, é um nome que quase me afastou do restaurante, porque sugere alguma sofisticação, elitização e frescurização que, definitivamente, não é o que encontramos na casa. Convenhamos que as palavras "VIP", "gourmet" e "club" não significam absolutamente nada - e, pior, dão uma ideia errada do lugar)

Antes de falar sobre a comidança, um detalhe importante: o Le Quintal não cobra rolha. Isso significa que as pessoas podem levar seus próprios vinhos de casa. Isso melhora bastante o custo-benefício. Se for em dois beberrões, nossa sugestão é levar duas garrafas de vinho, já que o serviço todo demora mais de três horas (slow food, baby!). Nós levamos só uma, e nos arrependemos. Mas, caso necessário, existe uma adega com vinhos no local, além de outras bebidas, cobradas à parte. O valor do menu de cinco etapas é de R$ 149,99 por pessoa.

A festa começou com o couvert. Pequenos pães de fabricação própria, quentinhos, acompanhados de caponata de berinjela (legalzinha), pasta de ervas (bem saborosa, feita com maionese, mas bem leve) e manteiga com mel e flor de sal (uma delícia). Essa última, inclusive, pode ser levada para casa (pagando, claro, e não é lá muito barato: R$ 15 por 50g). 

Pela ordi: caponata, manteiga e pasta. Ao fundo, os pães, por óbvio

A festa continuou com a entrada, um palmito imperial grelhado com mix de folhas e ervas, acompanhado de molho pesto. Apresentação muito xuxu, com o palmito e as folhas parecendo uma árvore. Claro que o ogro aqui não percebeu na hora, foi a Chris que chamou minha atenção para a arte no prato. Mas não me passou despercebida a textura maravilhosa do palmito, derretendo na boca, e o molho pesto bem saboroso, com pedacinhos de queijo parmesão.

Não é dado aos ogros perceber a sutileza

A terceira etapa do banquete foi o risoto de limão siciliano coroado por queijo grana padano. Eu faço esse prato de maneira bem regular, e a Chris disse que o meu é melhor - mas existe a possibilidade de ela estar sendo enganada pelo poder do amor. Eu, que sou menos suspeito, achei o risoto muito aromático, e com sabor bem intenso do limão. Talvez um toque a mais de sal e pimenta, aquele famoso punch, caísse bem. 

Sem o poder do amor não é a mesma coisa

Calma que a festa ainda não acabou. Na quarta etapa tivemos o filé alto ao molho de mostarda, escoltado por legumes grelhados. Aqui houve um pequeno problema, porque os legumes chegaram um pouco frios. Mas estavam gostosos e com textura boa (acho que o tomate poderia estar mais chamuscadinho). O filé estava muito bem temperado, e o ponto veio correto (o meu ao ponto e o da Chris mal passado). Molho de mostarda muito bom, nada agressivo, combinando tanto com o filé quanto com os legumes.
 
Aliando boniteza com sabor
 
Para finalizar o refestelo, tivemos o cheesecake com calda quente de goiabada cascão. Aqui mais um pequeno problema de temperatura, já que a calda não estava quente, e não fez contraste com o cheesecake, que estava bem gelado. No entanto, em relação aos sabores, ambos gostamos bastante do equilibrio entre o salgado e o doce.

Eles são muito bons de desenhinhos, não é mesmo?
 
Em relação ao serviço, importante começar falando sobre o processo de reserva. Em nossa experiência, foi bastante tranquilo: uma mensagem de Whatsapp, rapidamente respondida, e pronto, nossa reserva estava feita. A orientação é chegar a partir das 20:30. Nós chegamos alguns minutinhos antes disso, mas já fomos atendidos, e já havia um casal lá dentro. A entrada na casa é feita por um corredor lateral, que leva até o quintal, ao fundo. O atendimento é feito por dois jovens garçons, ambos eficientes e simpáticos. . Além disso, os proprietários passam em todas as mesas, conversando, fazendo algumas brincadeiras e falando sobre os pratos. É algo bastante pessoal, e diferente do usual. A água é cortesia, e a garrafa é reposta sempre que chega ao fim. Se podemos fazer duas pequenas críticas, são estas: não nos foram apresentadas as outras opções de bebida além da água - e do vinho que levamos; não perguntaram o ponto desejado da carne. Chris é que, antes de prepararem, chamou o garçom e disse que queria a dela mal passada. Pelo que entendemos, o padrão é fazer a carne ao ponto. Portanto, caso queira sangue, peça!

Em relação ao tempo de entrega dos pratos, é preciso ter em mente que a proposta é de slow food levada ao paroxismo. Talvez a comunicação do restaurante devesse ser mais clara em relação a isso no momento da reserva. Chegamos às 20:30 e saímos perto da meia-noite. Para nós não houve problema, foram três horas e meia bastante agradáveis, mas entendemos que há pessoas que podem se incomodar. Em nossa visita, a maior demora se deu entre o primeiro e o segundo prato - creio que demorou perto de uma hora entre um e outro. Existe um pouco de flexibilidade em relação aos couverts, que são servidos à medida que as pessoas vão chegando, mas a partir da entrada, todos os pratos saem da cozinha ao mesmo tempo. É compreensível, já que não se trata de uma cozinha industrial cheia de funcionários, então os pratos são todos montados e servidos juntos (talvez por isso haja alguns problemas de temperatura eventuais).

 
Linha de produção das boas

A família Le Quintal, fazendo o que sabe

Em algum momento de nossa refeição, Chris chegou a dizer que iria dar nota dez em todos os quesitos (acho que ela estava empolgada com o carnaval). Depois ela acabou por fazer algumas modulações. Mas o fato é que a experiência de jantar no Le Quintal é das melhores que tivemos aqui em São José. É comida muito bem apresentada, com ótimos ingredientes e muito bem temperada - além do atendimento intimista e eficiente. Em relação às receitas, o Le Quintal não tem foco na criatividade, não tenta recriar a roda, nem usa técnicas mirabolantes, mas faz muito bem feito aquilo que se propõe. Além disso, pelo fato de não cobrar rolha nem os 10% de serviço, acaba tendo um custo-benefício, se não maravilhoso, ao menos satisfatório. Por tudo isso, eu e Chris concordamos que faríamos uma segunda visita ao Le Quintal. E desta vez não estaríamos mais comendo no quintal da casa de dois completos desconhecidos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
 
Ambiente (2): 7 e 8
Serviço (2): 9 e 9
Couvert (1): 7 e 7
Entrada (2): 9,5 e 8
Prato principal 1 (3): 7,5 e 7
Prato principal 2 (3): 9 e 8
Sobremesa (2): 7 e 7
Custo-benefício (1): 8 e 8
Média: 8,09 e 7,75
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
 
R. Francisco Bráulio Filho, 90 - Jardim das Industrias - São José dos Campos - SP
Telefone:(12) 98119-6311 (Whatsapp para reservas)
Instagram: @lequintalbistro

terça-feira, 20 de junho de 2017

Villa Velha (São José dos Campos - SP) - 14/06/2017


O que dizer de um restaurante que existe desde 1968? Antes de mais nada, parabéns!!! Exclamações são deselegantes em um texto, reza alguma cartilha, mas são inevitáveis ao falar de um estabelecimento que atinge essa marca. O Villa Velha pode ser considerado uma instituição joseense. É, certamente, o restaurante mais tradicional da cidade. Fica no centro antigo, em uma região que não tem tantos restaurantes afora aqueles destinados aos trabalhadores, que só abrem em horário de almoço. Portanto é ainda mais digna de aplausos sua longevidade, por estar longe do "circuito gourmet" de São José dos Campos.
 
Em 1968 nenhum de nós dois ainda frequentava restaurantes. Mas de minha parte posso dizer que entrar no Villa Velha é como entrar nos lugares em que ia com meus pais e meu irmão na década de 1980. Não me entendam mal, está tudo recém pintado, limpo, bem iluminado, com pé direito alto e salão amplo. Mas é um lugar que entrega sua idade à primeira vista - a começar pela cabecinha branca de sua brigada de garçons. Mas a idade passa também pela própria arquitetura do prédio, pelos armários onde são guardadas as louças, pelos quadros (todos à venda) que enfeitam as paredes e pela grande cozinha aberta. Nada disso é defeito, e acho que até casa muito bem com a comida servida por ali. O ponto negativo fica por conta dos banheiros, antigos, com cara de mal cuidados e com louças quebradas. 

Antiquado? Vintage? Clássico?

Para iniciarmos a noite enquanto tomávamos nossa Serramalte geladinha (600 ml, R$ 13), pedimos o couvert (R$ 18), composto de torradinhas, pão francês, pão de queijo, azeitonas, patê de aliche e patê de ricota. Até entendemos o pão francês não ser fresquinho, mas é imperdoável o pão de queijo vir frio, quase gelado. O patê de aliche estava bom, mas tinha textura de maionese. O patê de ricota estava sem graça como todo bom patê de ricota deve ser. E as azeitonas já nasceram boas, né? Na conta o couvert só veio cobrado uma vez, o que não sei se é praxe ou se foi alguma falha.

Põe no microondas o pão de queijo, catzo!

Aumente essa foto pra ver como tava essa cerveja

Resolvemos pedir também uma entradinha antes de partirmos para o prato principal. Escolhemos o creme de aspargos (R$ 35), que veio servido numa terrina prateada. Boa quantidade, dava para nós dois nos satisfazermos sem precisar pedir outro prato. Mas seguramos nossa vontade de comer todo o creme, que estava uma delícia, com o sabor dos aspargos presente, mas suave, muito bem temperado e com textura agradável. Ficou a dúvida se, caso não tivesse nos sobrado alguns pães e torradas do couvert, eles nos seriam servido com o creme. Esperamos que sim, porque creme com pão é uma pura (pura, viu?) combinação. 

A terrina e a pura combinação

O Villa Velha se apresenta, na placa que ostenta em sua fachada, como um restaurante de "cozinha internacional e churrascaria". Isso se reflete no cardápio, com a seção dedicada à cozinha internacional abarcando uma extensa gama de pratos clássicos de diversas culinárias, desde o strogonoff até o steak poivre, passando pelo espaguete à bolonhesa e pelo filé à cubana. Entre os churrascos há opções com camarão, frango, pintado, lombo e alguns espetos. Todos os pratos servem duas pessoas - ou quase todos.

Apesar de tantas opções, não tem jeito: na primeira vez que se vai ao Villa Velha, é imperativo que se peça o famoso pintado na brasa. Não era nossa primeira vez, mas como agora estávamos fazendo uma "visita oficial", com vistas a publicar a experiência aqui no blog, não poderíamos deixar de comer novamente o mais célebre prato da casa. Prova da deferência que lhe é destinada é o fato de que é o único prato que conta com opção individual no cardápio. Pintado ali é coisa séria, e observar as outras mesas é ver um desfile de pedaços do peixe passando pra cá e pra lá em espetos. Se o Villa Velha é uma instituição joseense, seu pintado na brasa é uma instituição do Villa Velha. Os peixes chegam semanalmente do Mato Grosso do Sul, segundo me informou o garçom. 

A pintadaiada na cozinha, direto do MS

Como já tínhamos comido couvert e entrada, acabamos optando por pedir a porção individual do prato (R$ 80, com molho tártaro e arroz à grega). São três pedaços de peixe, e quantidade de arroz e molho que foram suficientes para a nossa fome. O arroz veio soltinho, com uma coloração levemente amarelada, e saboroso. O tártaro da casa é bem pedaçudo e de sabor forte, equilibrando a doçura das uvas passas presentes no arroz. O peixe chegou à mesa com uma leve crosta, mas macio por dentro. Sua cor amarelada se deve provavelmente a alguma manteiga usada para assá-lo, o que o deixa um pouco gorduroso. Chris apertou o peixe com o garfo e a gordura escorreu pelo prato. O trio, quando experimentado junto, é bastante saboroso e equilibrado, mas o peixe sozinho carecia de um pouco mais de tempero. Ufa, difícil julgar um clássico, mas, como sempre, tentamos ser o mais justo possível. 

Notem que o pão de queijo frio foi ficando na mesa

"Crose" do "crássico"

Entre as sobremesas há algumas opções de doces caseiros e sorvetes, mas nada muito criativo, por isso acabamos optando pelo pudim de leite (R$ 9). Não é algo que possa ficar ruim nem com muito esforço, mas é certo que poderia ter bem mais calda. Eu também particularmente prefiro uma textura mais aerada. Mas podemos dizer que foi um trivial bem feito.

Trivial, mas bem feitinho, esse rapaz

Em uma quarta-feira de véspera de feriado, o restaurante estava bem vazio, com apenas alguns pares de mesas ocupados. Fomos atendidos o tempo todo por um dos cabecinhas brancas citados no começo do texto. Atendimento atencioso, demonstrando um óbvio conhecimento de todo o cardápio e sem evidenciar nenhum enfado com a função, mesmo já exercendo-a há tanto tempo - o que é de se louvar. À parte alguma demora para retirada dos pratos, não há o que reclamar do serviço. Graças à orientação do garçom em relação ao momento certo de fazer os pedidos, os tempos de espera entre as etapas foram sempre perfeitos.

Curioso que, mesmo não dando notas tão altas para os pratos, ambos concordamos que voltaríamos ao Vila Velha em uma outra oportunidade. Chris disse que o faria porque ficou com vontade de experimentar outros pratos do cardápio além do pintado na brasa. De minha parte, acho que é coisa do signo de virgem, respeitoso demais das tradições. Eu jamais poderia dizer não a uma instituição joseense. Ao menos não ao tipo de instituição que faz boa comida há quase cinquenta anos.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 5 e 7
Serviço(2): 8 e 8
Couvert(2): 5 e 5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,14 e 6,78
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Praça Cândido Dias Castejon, 27 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3923-2200
Site: http://www.restaurantevillavelha.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantevillavelha/

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quintal das Letras (Paraty - RJ) - 18/11/2016


Os mesmo donos do restaurante Quintal das Letras, em Paraty, possuem também a Pousada Literária e a Livraria das Marés, na mesma cidade e na mesma rua. Em um pedaço de Brasil tão poético como Paraty, associar o seu empreendimento à literatura parece ser uma escolha das mais acertadas. Em mais uma visita que fizemos à cidade, decidimos conhecer esse restaurante, que além do belo nome tinha também boas referências em guias e na internet.

Chris adicionando um verso à poesia de Paraty

Como não poderia deixar de ser - em se tratando de Paraty - o restaurante fica instalado em um casarão histórico. Deixar as três portas bem abertas é uma decisão inteligente dos proprietários, já que seria um desperdício um restaurante todo fechado em uma cidade tão charmosa. Nos instalamos bem pertinho da saída, para não perdermos a privilegiada visão das ruas de pedra. O restaurante aproveita bem o seu espaço, que não é tão grande, fazendo uso de um mezanino e de um pequeno corredor lateral - que só agora descobri que é ao ar livre. Desse modo as mesas não precisam ficar tão próximas umas das outras. Os tons de marrom predominam, já que a decoração é quase toda em madeira. O ambiente, se não chega a ser informal, também não tem nada de sisudo.

Para mim, a visão da Chris e de Paraty...

...para a Chris, a visão de mim e do restaurante. Me dei melhor!

Como um chamego é sempre bem vindo, ficamos felizes com o pequeno copo de gaspacho que cada um de nós recebeu de brinde enquanto ainda escolhíamos nossa entrada. Para quem não sabe, é uma sopa fria, normalmente feita de tomate. Pouco depois de nossa chegada entreouvi um cliente reclamando ao garçom da falta de sal no prato que ele havia comido. Não consegui descobrir qual era esse prato, mas a julgar pelo gaspacho a reclamação parecia improcedente. Estava bem temperado, até com alguma picância. Chris não gostou tanto, mas foi mais por causa da consistência da sopa fria.

Chameguinho bem-vindo

Não chega ao número de títulos brasileiros do Palmeiras (cinco, tá?) as vezes em que aceitamos o couvert em algum restaurante. Mas o deste aqui era irresistível. Confira: pães variados, pannacotta de palmito pupunha com cubinhos de tomate e alho negro, pastinha de cream cheese com jabuticaba e manteiga com flor de sal (R$ 28 para duas pessoas). Isso porque, na descrição do cardápio, não consta a telha de pão de queijo, que é como se fosse um pão de queijo na forma de uma torrada bem fina. Uma delícia, e muito prático para abdicar da faca e usá-lo para se servir. A pannacotta estava com uma textura agradável e bom tempero, suavizado pela presença do alho negro e do tomate, que dão uma adocicada no sabor. Nenhum de nós curtiu muito a manteiga com flor de sal, que acaba sendo tão somente uma manteiga bem salgada. Já o cream cheese de jabuticaba tinha um grande defeito de vir em pouquíssima quantidade. Ou seja: sobrou manteiga e faltou cream cheese em nossa experiência. Mas os pães eram gostosos e a apresentação, belíssima.

Fotos oblíquas denotam o talento do fotógrafo

Apesar de já termos comido o couvert, claro que não poderíamos abdicar de mais uma entradinha. Entre algumas opções interessantes - como a barriga de porco pururuca servida com caramelho de shoyu e laranja, farofa da Graúna e chantily de feijão (R$ 28) - acabamos escolhendo o crab cake Vale do Paraíba (bolinho de siri com arroz negro, coulis de açaí e degustação de pimentas, R$ 29). O que nos atraiu foi o bolo feito com carne de siri e arroz negro e, claro, a inusitada degustação de pimentas. São elas, por ordem de picância: biquinho, bodinho e cumari. A idéia é experimentar o bolinho junto com as pimentas, seguindo o grau de ardência. A idéia é muito boa, e o resultado é interessante, mas não pudemos deixar de notar que, sem as pimentas, o bolinho carecia de um pouco mais de tempero. Também fiquei curioso para experimentar o coulis de açaí, mas ele parecia uma sujeira no prato, e não algo para ser experimentado. Com consistência muito firme, e pouca quantidade, ele grudou na louça, e não conseguimos sentir seu sabor. Uma pena. No fim das contas gostamos mais da criatividade do que propriamente dos sabores da entrada.

Muita poesia e pouca prosa

Há duas seções no cardápio de pratos principais: "do mar para mesa" e "do campo para mesa". A primeira tem duas páginas, a segunda apenas uma. Nada mais justo em uma cidade litorânea. Os pratos são todos individuais, e poucos ficam abaixo dos R$ 70. Pratos com camarões são os mais caros, chegando perto dos R$ 100, enquanto o nhoque de batata baroa é listado por R$ 62. Talvez o cardápio pudesse ser mais criativo nos nomes das criações, usando de referências literárias para fazer jus ao nome do lugar. Mas há títulos curiosos, como "risoto de polvo malandrinho" (que eu quaaase pedi) e "bacalhau pensado na cama".

Por falar em nomes curiosos, Chris escolheu o peixe Maria Panela (peixe assado com ervas, cebolas, azeite e vinho branco, com batatas crocantes, alho negro, alecrim e flor de sal, R$ 88). O peixe que veio à mesa foi o robalete, que, como se pode supor, é uma versão menor do robalo. Apresentação bonita, com o peixe recheado, servido quase inteiro, sem cabeça (e supostamente sem espinhas) com as batatas ao lado. Como os parênteses ao lado entregam, a Chris encontrou uma malfadada espinha no peixe, o que é sempre reprovável. Outra coisa que ela reprovou foram os alecrins servidos frescos e inteiros, que ela inadvertidamente confundiu com espinhas em alguns momentos. Quanto ao sabor, a princípio ela até gostou, mas achou enjoativo com o tempo, com sabor de vinho muito intenso. Outro problema foi que, quando provado sozinho, o peixe estava sem sal - provavelmente foi esse o prato que o outro cliente pediu e encontrou o mesmo defeito. Mas se salvaram as batatas, que ela gostou bastante.

Assim assim...

De minha parte escolhi o mexidinho do mar (camarões, lulas e polvo com risoto de arroz negro, cubinhos de tomate e de palmito pupunha, R$ 96). A apresentação não tem muita sofisticação, como já indica o nome do prato. Achei que o molho tinha sabor forte demais, complicado de se comer em separado. Mas em conjunto com o arroz negro ficava mais harmonioso. A consistência do polvo e dos camarões estava perfeita, mas achei a lula um pouco borrachuda, além de cortada em pedaços irregulares, alguns muito grandes. Trata-se de um prato intenso, para fortes, o que talvez não fosse meu caso nessa noite.

Ai, quanta intensidade...

Para a sobremesa a Chris deixou a escolha em minhas mãos, e eu estava bem propenso a pedir o pot-pourri Frederic de Maeyer (torta de cupuaçu com aipim e coco, tarte tartin com especiarias e pannacotta de iogurte e chocolate branco, compota de banana e maracujá, R$ 34). Parecia um bom apanhado do que o chef Frederic (que comanda o restaurante Eça, no Rio de Janeiro) é capaz de fazer em termos de sobremesas. Mas, por conta de nossa refeição ter sido bem farta, com couvert, entrada e prato principal, achei que o pot-pourri seria demais para nós, e acabei escolhendo o trio de crème brûlée (chocolate, fava Tonka e frutas vermelhas, R$ 29). Apresentação simples mas bonita. O crème brûlée tem aquele açúcar queimado por cima, mas achamos que os de chocolate e de fava Tonka estavam com o açúcar queimado demais. Chris achou o sabor do de chocolate muito parecido com o do pudim que ela compra no supermercado. Ambos gostamos mais da opção com frutas vermelhas, que estava mais gostosa e equilibrada, com o açúcar menos queimado. Outro ponto positivo, dos três, é que o açúcar não estava muito duro, e era fácil de cortar, ao contrário do que já nos aconteceu até mesmo no Olympe, no Rio de Janeiro.

Um trio de três para uma dupla de dois

Começamos nossa refeição com uma cerveja de Paraty, a Caborê Pilsen (R$ 19). Já conhecíamos a cerveja de nossas outras visitas à Paraty, e não tínhamos gostado muito, mas resolvemos dar mais uma chance. Mas ela continua um pouco insossa. Terminamos nossa refeição com água, que essa não tem erro.

Os garçons se mostraram muito atenciosos, e conhecedores do cardápio. Aquele que nos atendeu recitava de cor os ingredientes dos pratos, sem precisar "colar", e demonstrava entusiasmo ao falar das opções da casa. Ao final ele perguntou o que tínhamos achado da refeição e Chris fez a mesma reclamação do outro cliente sobre a falta de sal. Sua resposta foi a mesma: "é que nosso chef não gosta de carregar muito no sal". Bem, na mesma noite o chef recebeu duas reclamações iguais, então talvez seja o caso de rever os preceitos. Senão, de que serve perguntar aos clientes o que acharam? Também sentimos uma pequena demora para a entrega dos pratos principais, mas nada que chegasse a incomodar muito. Para finalizar as queixas, bem que poderiam ter nos avisado que o corredor lateral é ao ar livre, já que do lado de dentro não dá para perceber esse diferencial da casa.

Começamos a refeição muito bem impressionados com o gaspacho de cortesia, com o couvert extremamente bem apresentado e com a entrada criativa. Também ficamos felizes com o atendimento atencioso, bem instruído e dedicado. Mas os pratos principais nos decepcionaram um pouco. Acho que foi por conta disso que chegamos à conclusão que não voltaríamos ao Quintal das Letras. Em nossas futuras visitas à Paraty - e elas acontecerão, porque amamos a cidade - daremos oportunidades a outros restaurantes. Mas, quem sabe um dia, quando estivermos visitando a Livraria das Marés, do mesmo dono, poderemos sentir o cheiro da comida ao lado e nos animarmos a voltar. Afinal, como diria Nietzsche, de quem a Chris não gosta mas com quem há de concordar, "não há fatos eternos como não há verdades absolutas".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8,5
Couvert(2): 7 e 8,5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,42 e 7,46
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua do Comércio, 58 - Centro Histórico - Paraty - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 3371-2616
Site: http://www.pousadaliteraria.com.br/gastronomia/quintal-das-letras1.htm















sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Outback (São José dos Campos - SP) - 08/11/2016


Por boa parte da minha vida eu achei que o restaurante Outback fosse australiano. Só recentemente descobri que a rede tem origem nos Estados Unidos e homenageia, em seu nome e em sua decoração, a região homônima da Austrália. Americanos são mesmo bons nesse negócio de ganhar dinheiro. Hoje já existem 83 lojas só no Brasil. E garanto que, se você estiver lendo isso de noite, todas elas estarão cheias de gente neste momento. Aliás, é comum ter que esperar para conseguir uma mesa. Eu e Chris já fomos preparados para isso, mas como chegamos cedo, por volta das 19 horas, conseguimos uma imediatamente. Às 21 horas, quando saímos do restaurante e tiramos a foto abaixo, já havia bastante gente esperando por um lugar.

Essa é a entrada na hora da nossa saída, entendeu?

Fomos acomodados em uma mesa no canto, bem pertinho do banheiro, com sofá de um lado e cadeiras do outro. Prontamente tivemos a visita do garçom Leonardo, que se apresentou e disse que nos serviria naquela noite. Esse contato pessoal do garçom com o cliente é uma tradição da rede. O restaurante tem ambiente à meia-luz, e o salão é bastante amplo, com belas fotos de paisagens australianas nas paredes. Mas quando eu disse que a iluminação é branda, não imagine um jantar romântico. A atmosfera é muito mais de bar, com as pessoas falando alto, muitas delas turbinadas pela promoção chamada Billabong Hour, em que as bebidas alcoólicas são servidas pela metade do preço (de segunda à sexta, das 17 às 20 horas). Em resumo: o lugar é barulhento, e é bom saber disso antes de ir.

À meia-luz, mas sem clima de romance

Nosso cafofo no Outback, e no quadro uma foto de um coração australiano

A primeira atitude de Leonardo foi nos trazer o couvert, um pão australiano servido com manteiga e com faca (veja a foto e entenda). Trata-se de um agrado do Outback, que não é cobrado, e ajuda a dar uma amenizada na fome, especialmente para quem teve que esperar por uma mesa. Não era nosso caso, mas estávamos com fome e devoramos rapidamente o gostoso pãozinho com manteiga.

Ai, quanta violência...

Existem oito opções de aperitivos no cardápio, algumas delas bem interessantes, como o Gold Coast Coconut Shrimp (camarões empanados com coco ralado e molho Marmelade, R$ 46,95). Mas para nós já estava claro o que iríamos pedir: a famosa e icônica Bloomin` Onion (R$ 45,45). Para quem não sabe, trata-se de uma cebola grandona empanada, servida com as pétalas abertas e com um molho picante. O dono de um steak house em New Jersey (EUA) diz ter inventado o prato na década de 1970 (assim diz o Wikipédia em inglês), mas certamente foi o Outback que o popularizou. Um canal de vídeos no You Tube chamado "Ana Maria Brogui" ensina a fazer o prato (clique aqui para ver), e eu já me arrisquei algumas vezes a tentar reproduzir. Não ficaram ruins minhas tentativas, mas nem se comparam à versão original, em que as pétalas de cebola se soltam facilmente, o empanado é crocante e não se esfarela, e o molho é picante na medida certa. Aliás, quem não gosta de pimenta não deve se aventurar, já que o próprio empanado também possui alguma ardência, mesmo sem o uso do molho.

A Chris sorri porque finalmente vai experimentar a cebola bem feita

Embora seja comumente lembrado como um lugar para tomar chopp com os amigos e se entupir de porções e afins, o Outback é, sim, um restaurante, e seu cardápio prova isso. Há opções de massas, peixes, frangos, sopas, saladas e, claro, os famosos steaks que são a marca da casa. Existe uma seção do cardápio chamada "Favoritos para compartilhar", mas fora isso todas as opções são individuais . Os pratos de massa estão entre os mais baratos, custando menos de R$ 50 cada. Os peixes e frangos também são opções mais em conta, sendo o mais caro o South American Salmon (salmão com molho Remoulade, R$ 55,95). Todas as opções de proteína permitem ao cliente escolher um acompanhamento, entre dez disponíveis. Também é possível escolher acompanhamentos extra, por R$ 23,95 cada. Entre os acompanhamentos há diversos tipos de arrozes, além de batatas fritas, purês e legumes. Uma coisa curiosa é que vários dos nomes dos pratos fazem referências à Austrália, usando de termos geográficos (golden coast), da fauna (wallaby), do cinema (the mad max), entre outros.

Para ficarmos com a especialidade da casa, eu e Chris acabamos optando por steaks. Na página dedicada a eles no menu, há também as opções de ponto da carne disponíveis: bem passada, ponto para bem passada, ao ponto, ponto para mal passada e mal passada. Ao lado de cada opção há uma foto e um pequena descrição das características de cada ponto. Muito instrutivo e útil.

Sou forçado a confessar que não fui eu que tirei esta foto, peguei da internet

No dia de nossa visita, cada pedido de steak dava direito a uma balsamic green salad, cujo nome bonito se traduz em folhinhas de alface, com tomate e cebola, temperados com vinagre balsâmico. Esse mimo não é algo permanente, tanto que estava indicado com um adesivo colado no cardápio. Sendo assim, iniciamos nossa refeição com as simpáticas saladinhas.

Balsamiquinha greenzinha saladinha

Entre os steaks, Chris escolheu o The Outback Special® (miolo de alcatra de 325g na chapa, com tempero Outback, R$ 61,95). Chris pediu ao ponto para mal passada, e como acompanhamento ela escolheu o harvest brown rice (arroz integral com lentilha e castanha). O ponto da carne veio perfeito e, embora isso pareça obrigação, é uma raridade em nossas experiências gastronômicas. Chris gostou muito do arroz, levemente adocicado, que fez um bom contraponto à carne, com tempero ligeiramente picante. Pena que a carne tinha alguns pedaços bem "nervosos", o que prejudicou um pouco a experiência.

Carne ligeiramente nervosa

Minha escolha foi o The Porterhouse (corte de t-bone com cerca de 500g, na chapa, R$ 71,95). Como acompanhamento escolhi as homemade golden potatoes, uma batata grande, cozida e depois frita, servida com casca e cortada em quatro pedaços. A batata estava uma delícia, crocante e com tempero suave. O t-bone tem uma pequena parte de filé mignon e uma parte maior de contra filé. Infelizmente a parte do contra filé tinha, assim como na carne da Chris, pedaços com bastante nervo. Tirem as crianças da sala e me perdoem o palavreado forte, mas eu tive que regurgitar um naco que já estava na minha boca, porque estava impossível mastigar (acho que a Chris nem viu, e se viu, fingiu que não viu). Também achei que ela chegou à mesa um pouco fria. Isso posto, a carne estava com tempero agradável, e a parte de filé mignon estava bem macia - mas aí é moleza, né?

As batatas ganharam do t-bone

Não tinha muitas esperanças em relação à sobremesa no Outback. Achava que seriam opções genéricas, daquelas bem básicas. Mas até que a casa me surpreendeu, apresentando cinco opções que tentam fugir do óbvio, ao menos na descrição, como a Lajotinha Magma Cake (R$ 18) que, citando ipsis litteris o cardápio, é um "intenso bolo quente de chocolate com pedaços de Lajotinha Kopenhagen, servido com sorvete de baunilha, morango e nossa calda de caramelo". Convenhamos, parece a descrição de um petit gateau, não? Acabamos pedindo o "Chocolate Thunder From Down Under" (eles são bons para dar nome!), que é um brownie encimado por sorvete de baunilha e chantilly, com calda e raspas de chocolate (R$ 27,95). A porção é generosa, e mesmo já estando bem satisfeitos conseguimos comer tudo, já que estava uma delícia. Não sou grande fã de chantilly, e tive medo de a mistura ficar enjoativa, mas a proporção de doçura foi perfeita.


Taí o "trovão de chocolate de lá de baixo"

Não há outra palavra para descrever o serviço do Outback: impressionante. Com o salão gigante abarrotado de gente, parecia que só eu e Chris estávamos no restaurante. Leonardo, o garçom responsável por nossa mesa, estava por perto o tempo todo, e muitas vezes se antecipando às nossas demandas, como no momento em que trouxe mais molho picante enquanto comíamos nossa cebola de entrada. Também se mostrou atencioso quando veio avisar que a Billabong Hour, que dá desconto no preço das bebidas alcoólicas das 17 às 20 horas, estava para acabar. Outro ponto a favor do serviço são os pequenos agrados, como o couvert de cortesia e a saladinha antes dos pratos principais (embora o preço cobrado justifique os "presentes"). Digno de nota, ainda, o fato de nossas carnes terem sido servidas exatamente no ponto em que desejávamos. E, para terminar os elogios, o tempo de espera entre cada prato foi perfeito, o que nos fez imaginar a loucura que deve ser a cozinha do lugar. Mas uma loucura repleta de organização, certamente. Ao final não demos nota máxima para o serviço, provavelmente porque o treinamento dos garçons, que certamente é de excelência, talvez os faça perder um pouco da espontaneidade e da "magia", que é aquele algo a mais que transforma uma nota 9 em nota 10.

Acompanhamos as nossa refeições com alguns chopps Brahma que, graças à citada Billabong Hour, saíram por R$ 4,97 a caneca de 340ml (o preço normal é R$ 9,95). Há também uma pequena carta de vinhos e algumas opções de cervejas long neck nacionais e importadas.

Esse já foi

Os preços do Outback não são exatamente baratos, mas ao final da refeição consideramos o custo-benefício bom, uma vez que as porções são bastante fartas e a qualidade da comida é satisfatória. Saímos de lá com couvert, três chopps de 340ml cada um, entrada, prato principal, sobremesa e uma água no bucho, e foi baseado nisso tudo que demos nossa nota nesse quesito. Na hora de responder à pergunta sobre se voltaríamos ou não ao restaurante, ambos concordamos que é um excelente lugar para tomar chopp e comer aperitivos, exatamente o que a maioria das pessoas faz, e que voltaríamos para algo assim. Não é espanto notar, portanto, que as notas referentes aos pratos principais estão entre as piores, tanto na minha avaliação quanto na da Chris. Mas voltar para comer aquele cebola e tomar um chopinho...só se for agora!

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 6
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 8 e 8
Prato principal(3): 7 e 6,5
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 8 e 7
Média: 7,58 e 7,37
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Centervale Shopping - Avenida Deputado Benedito Matarazzo, 9403 - Jd. Oswaldo Cruz - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3911-3220
Site: https://www.outback.com.br/home/
Facebook: https://www.facebook.com/OutbackSteakhouseSaoJosedosCampos/









quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Arturito (São Paulo - SP) - 23/09/2016

(Fonte: http://www.paolacarosella.com.br/)

Este blog provisoriamente deixa de se chamar "Chris e Fê vão papar" e passa a se chamar "Chris e Fê e uma galera vão papar". Tá, foram só mais quatro pessoas junto com a gente, mas como fugiu do costume de irmos só nós dois, vale a brincadeira. Foi convite do meu tio Feu, que também tem um blog sobre suas experiências etílico/gastronômicas (que pode ser conhecido aqui), visitar o Arturito, restaurante da chef-celebridade Paola Carosella (ela deve odiar o epíteto, mas fazer o quê, trabalhar na TV dá nisso), junto com sua namorada Amália. Também presentes estavam meu irmão Boto (ele se chama Carlos, mas o chamo de Boto há tanto tempo que o teclado se recusa a escrever "meu irmão Carrliaoss". Viu como é verdade?) e sua esposa Tauana. Chegamos ao restaurante por volta das oito da noite, e ele já estava bem cheio, inclusive com gente esperando vagar uma mesinha. Feu tinha feito a reserva com bastante antecedência, e quem quiser visitar deve fazer o mesmo.

Chris e Fê e uma galerinha

Como não sou especialista em botânica, não sei dizer qual planta trepadeira orna a entrada do restaurante. Mas sei dizer que é interessante e inusitado. Apesar das folhagens, a entrada é discreta, e não ostenta o nome do restaurante em lugar algum, a não ser em uma plaquinha na calçada, destinada a quem passar de carro, já que fica virada para a rua. Outra coisa muito interessante é que a cozinha, que fica no primeiro andar, tem paredes de vidro, e parte da movimentação interna pode ser avistada de fora. A porta usada para adentrar o restaurante também é de vidro, e bastante alta, já indicando o pé direito alto do restaurante. Como a espera por uma mesa costuma ser grande para quem não fez reserva, há alguns banquinhos e até um cinzeirinho do lado de fora, destinado aos que fumando esperam.

O bom de ir com mais gente é que tem fotógrafo! By Carlos Ghiraldelli

Seguindo o elemento decorativo externo, na parte de dentro as paredes também são ornadas com plantas. O salão não é muito amplo, mas é comprido, e quem se senta enconstado à parede ganha um confortável sofá para esperar pelos pratos - e este conforto extra pode ser de grande valia no decorrer da noite. No meio do corredor onde ficam as mesas há algumas bancadas, usadas para facilitar e agilizar o trabalho de entrega e retirada dos pratos. Há também uma espécie de trilho, que eu não vi em funcionamento, mas que suponho deva servir para carregar coisas pesadas de um lado a outro do restaurante. Esta suposição ganha força ao saber que a adega da casa fica ao final do corredor, perto dos banheiros. Aliás, por falar neste "cômodo", em uma casa que comporta mais de cinquenta clientes o ideal seria que os banheiros não fossem individuais, como é o caso. Há apenas espaço para uma pessoa por vez, tanto no masculino como no feminino.

Amália, Chris e a parede ornada

Fê, os trilhos e as bancadas

Eu e Chris não costumamos pedir couvert, preferimos reservar nossos estômagos para coisas mais elaboradas que pão com manteiga. Mas meus companheiros de comilança, se aproveitando de uma ida minha ao banheiro, e sabedores do famoso pão com fermentação de 72 horas do lugar, pediram o deguste para nós seis (R$ 9,50 por pessoa). Fiz uma provocação um pouco acima sobre couvert ser "pão com manteiga", mas aqui a blague se aplica, com o acréscimo de um pratinho com azeite, para molhar o pão. E o tal pão com fermentação de 72 horas? É gostoso, a casca dura dá um sabor forte, embora por vezes seja um pouco difícil de cortar. Rasgá-la com as mãos é mais proveitoso do que tentar usar a faca. Mas não podemos dizer que foi desagradável. O pão está disponível para venda, para quem encomendar antes. Mais precisamente 72 horas antes.

O pão que demora três dias para ficar pronto

O cardápio lista oito opções de entrada, e curiosamente cada um de nós seis pediu uma diferente. Sem combinar (quase) nada. Embora tenhamos experimentado quase todos, vamos nos ater mais detalhadamente às entradas que eu e Chris pedimos, senão este texto, que já está ficando grande, ficará gigante, ainda mais se eu continuar aqui explicando tudo que escrevo ou deixo de escrever, que é algo que foge ao meu controle, quando vejo, já estou escrevendo, sabe? Então.

Chris pediu o magret de pato curado e pão de abóbora de fermentação natural (R$ 32). O sabor razoável do magret e o bom pão de abóbora torrado não emocionaram a Chris o suficiente para ela esquecer o fato de que o prato é muito seco. Nem precisa comer para saber, basta olhar a foto aí abaixo. Faltou aquela molhadinha para ajudar a empurrar a comida. Desta vez nem o azeite nem a manteiga que acompanhavam o couvert vieram como companheiros.

É seco, mas até jacaré no seco...sabe, né?

Eu escolhi o ceviche de ostras de Santa Catarina (R$ 25, três unidades). Há uma opção com seis unidades, por R$ 41. Servidas em um pratinho com gelo, e muito bem temperadas com gengibre e pimenta, as ostrinhas conquistaram meu paladar. Embora não estivéssemos em Santa Catarina, elas pareciam bastante frescas, como se recém saídas da água. Uma delícia, e até me arrependi de não ter pedido a porção grande, com seis unidades.

Ostras geladinhas, quem vai querer?

Embora não entrem na nossa avaliação, as outras entradas que experimentamos ficaram entre razoáveis e boas. Só acho um pouco inexplicável que entre as opções exista o jamón ibérico pata negra (R$ 39), que se consiste unicamente no famoso presunto espanhol fatiado no prato. Não julgo meu irmão, que pediu porque estava afim de comer, mas julgo o restaurante por não propor nada com o ingrediente, se limitando a fatiá-lo. Fico imaginando se algum participante do Masterchef, programa de culinária no qual a chef Paola é jurada, resolve fazer isso, o tanto de groselha que vai ouvir na cabeça.

Na hora de escolher os pratos principais os comensais não foram tão democráticos, e apenas três, das nove opções do menu, foram escolhidas. Uma coisa interessante na descrição dos pratos é a tentativa de colocar sempre a origem dos alimentos - como "ostras de Santa Catarina", "cogumelos selvagens brasileiros" e "vieiras de Picinguaba". Abaixo do menu existe a informação de que quase todas as verduras, folhas e legumes vem de uma cooperativa no extremo sul de São Paulo. Também chama a atenção a presença de dois sanduíches como pratos principais, algo bastante inusitado. O menu também faz questão de ressaltar que a proposta da casa é valorizar cada ingrediente, com uma cozinha simples. Os preços variam bastante, mas nenhum prato passa dos cem reais, indo de R$ 36 (um dos sanduíches) a R$ 86.

O singelo cardápio

Chris queria comer carne, já que a chef Paola é conhecida como a Rainha do Fogo. Mas curiosamente existe apenas uma opção de carne assada na brasa no cardápio. Trata-se do ojo de bife brangus brasileiro, servido com chimichurri, cebolas tostadas e farofa do Lucas (R$ 86). O ojo de bife é o miolo do contrafilé, uma carne com bastante gordura entremeada. Chris pediu malpassada, e meu tio Feu e meu irmão pediram o mesmo prato, mas com a carne ao ponto. Acontece que a carne do meu tio veio mais malpassada que a da Chris, e eles trocaram os pratos - que ainda assim a Chris julgou assada demais. Ela também deu azar na troca, e pegou um pedaço de nervo incomível. Ela achou a tal "farofa do Lucas" (que não é aquele do Masterchef) gostosa, e também gostou das cebolas, mas pensou que poderia vir mais algum acompanhamento, achou um pouco pobre.


A proposta é valorizar o ingrediente, ok, mas é um pouco pobre mesmo

Eu optei pelo peito de boi brangus braseado lentamente, com fregola sarda (uma massa feita de semolina e água, em formato cilíndrico), harissa (uma mistura de temperos típica do norte da África) e iogurte artesanal (R$ 62). A carne veio bem macia, se soltando ao simples toque do garfo. O sabor também era bom, com o molho bem farto. Nunca tinha comido a tal fregola sarda, e achei que não acrescentou muito, nem em sabor nem em consistência. Como ela também era bem macia, faltou um contraste com a carne, talvez alguma crocância. A harissa, que é à base de pimentas, poderia ser até um pouquinho mais picante. O iogurte trouxe uma acidez bem vinda. Mas não fiquei emocionado com o prato, nem a Amália, que também pediu o mesmo.

Não são bonitinhas as fregolas?

Entre os outros presentes à mesa, ninguém desgostou de seu prato, mas também não ouvi loas de amor à comida. Parece que houve consenso de que estava tudo gostoso, mas nada maravilhoso.

Para a etapa final da refeição, eu e Chris escolhemos dividir a rabanada de brioche brulée, bananas caramelizadas e creme inglês de urucum (R$ 26). A rabanada veio por baixo, com a camada de açúcar caramelizado e as bananas por cima, e o creme de urucum, bem líquido, por baixo do prato. Ambos achamos o sabor bem sutil, até demais. Faltou doçura. O creme de urucum, ingrediente usado mais para dar cor do que sabor, não acrescentou muito, e a rabanada também não estava lá muito doce. O resultado foi meio pálido, faltou aquela festa na boca. Neste momento da refeição já nem conseguíamos provar direito os pratos escolhidos pelos nossos companheiros de mesa, mas a avaliação geral também não passou do razoável.

Não é lá muito boa de feição

Como quase todos os convivas eram mais de cerveja que de vinho, foi nela que nos focamos durante a noite. O restaurante trabalha com três rótulos da Cervejaria Zalaz, de Paraisópolis (MG). Cada garrafa, de 300ml, custava R$ 19.

O serviço foi certamente um dos pontos mais fracos da noite, a começar pelo nosso pedido inicial de cervejas, que demorou uma eternidade a chegar. Acabamos comendo todo o couvert a seco, com exceção da minha cunhada Tauana, que pediu uma taça de vinho e foi servida bem antes da gente. Aliás, uma mesa ao nosso lado também foi servida de vinho antes de nossas geladas chegarem. Outro problema: lembra que eu falei que as bancadas no centro do salão são "usadas para facilitar e agilizar o trabalho de entrega e retirada dos pratos"? Pois é, na verdade elas não são usadas, já que demorou um bocado para nossos pratos da entrada serem retirados da mesa. Depois de algum tempo nos enchemos de conviver com a sujeira e começamos a juntar os pratos um sobre o outro, momento em que finalmente alguém se tocou e veio retirar as louças. Faltou atenção da brigada. O fato de o restaurante estar cheio ameniza um pouco, e só um pouco, os problemas citados.

Depois de algum tempo de nossos pedidos de pratos principais, um garçom veio até a mesa e disse que, por termos feito os pedidos separados - primeiro as entradas e só depois os principais - nosso pedido iria demorar uns cinquenta minutos para chegar, já que outras mesas "passaram à nossa frente". Neste momento meu tio Feu fez uma brincadeira, sorrindo, com leveza, dizendo que "no Masterchef ela manda todo mundo cozinhar em uma hora", ao que o garçom respondeu "ainda bem que aqui não é Masterchef, aqui é vida real". Achei a resposta um tanto grosseira, me parece que os funcionários já estão armados contra qualquer referência ao programa que popularizou a chef Paola Carosella.

Quem trabalha na TV, ainda mais em um canal aberto, se coloca como vidraça. É inevitável. Paola está recebendo os dividendos de ser uma "chef-celebridade" - restaurante lotado, cobertura da mídia - mas também tem que estar disposta a receber o ônus, que vem na forma de uma avaliação mais criteriosa e exigente, mesmo que isso se dê inconscientemente. Claro que eu e Chris tentamos ao máximo dar as notas e fazer nosso julgamento de forma mais isenta possível, como fazemos em todos os restaurantes. Mas é claro também que sabemos que nosso conhecimento prévio da responsável pela cozinha, que se apresenta na TV na posição de julgadora, pode ter nos traído sem que tivéssemos controle sobre isso. Fato é que, devido a todos os motivos apontados acima, ambos decidimos - e essa decisão foi unânime na mesa - que não voltaríamos ao Arturito. Apesar de alguns bons momentos, a relação custo-benefício não justificaria um retorno. Agora posso fazer uma brincadeira sobre o programa sem risco de ouvir alguma grosseria: Chef Paola, por favor, entregue o avental, o Chris e Fê vão papar para você termina aqui.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 5 e 5
Entrada(2): 4 e 8
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 4 e 6
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5 e 6,45
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Artur de Azevedo, 542 - Pinheiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 3063-4951
Site: http://arturito.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Restaurante-Arturito-Pinheiros-Sao-Paulo/378895122156239?fref=ts (não oficial)