terça-feira, 12 de agosto de 2025

Risoteria Villa Lobos (São José dos Campos - SP) - RETORNO - 02/08/2025

    Não é muito comum revisitarmos restaurantes, já que preferimos conhecer lugares novos. Se tivéssemos o hábito dinheiro de sair pra jantar fora mais vezes, talvez repetíssemos restaurantes com mais frequência. Mas sou muito fã da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, cujos associados oferecem uma receita especial no menu, que muda a cada ano, e que presenteia aquele que a pedir com um prato decorativo pintado à mão. E finalmente a cidade de São José dos Campos, em que habitamos, tem um restaurante que faz parte da associação. Para aumentar ainda mais nosso desejo de retornar à Risoteria Villa Lobos, tivemos as retumbantes companhias de meu irmão Boto, minha mãe Regina e nossa grande amiga Edna para essa revisita mais do que especial.

São ou não são retumbantes?

    Fui reler meu texto de 2016, quando visitamos o lugar pela primeira vez (você pode ler aqui), e, olhando as fotos, percebi que houve poucas mudanças, de maneira geral, no restaurante. Mas fica bastante clara a opção por mais sobriedade, um pouco menos de cor, o que já pode ser notado no próprio logotipo do restaurante (vou colocar mais abaixo o logotipo antigo, para comparação). Essa paleta mais sóbria também se reflete nas cadeiras e nas paredes, já que os quadros que antes enfeitavam o salão principal agora foram deslocados para um ambiente mais fechado, que parece ser usado para eventos. Nada que desabone, acho que é apenas um ajuste baseado nos frequentadores do local. Tínhamos duas fumantes no grupo, e é importante ressaltar que é permitido fumar nas mesas do lado de fora (ao menos a garçonete nos disse isso, apesar das placas indicarem o contrário), mas não fizemos essa opção por conta da friaca do inverno joseense. Ficamos instalados em um bela mesa redonda, logo na entrada do restaurante. 
 
O colorido logotipo antigo

As Cavaleiras da Távola Redonda (os dois rapazes eu não sei quem são)

Aquela selfie que quase desenselfa

    Apesar de termos feito um troca-troca de sabores, com todo mundo experimentando os pratos de todo mundo, vou me ater aqui à apreciação dos pratos solicitados por mim e pela Chris, para que esse texto não fique colossalmente grande, já que, como se poder perceber, o escriba tem uma tendência quase patológica de se estender demais em certas explicações, e vai colocando vírgulas e mais vírgulas, sem nunca chegar ao ponto. Feita a auto-depreciação, vamos falar das nossa entradas.

    Para essa parte da refeição o restaurante apresenta algumas opções bem italianas (bruschettas, polenta com linguiça), além de um tartar de salmão (R$79,90) e um vinagrete de polvo (R$79,90). Mas não foi nada disso que escolhemos. Fomos de Pães e Antepastos (fatias de pães de fermentação natural acompanhadas de trio de antepastos, R$ 34,90) e Burrata (burrata fresca com tomates sweet confit, pesto de manjericão e balsâmico, R$ 79,90). Começando pelos pães, estavam crocantes e muito saborosos (inclusive pedimos um cestinho extra por mais R$13,90). O trio de antepastos veio escalado com patê de azeitonas, patê de cogumelos e manteiga cítrica. Apesar dos patês muito bons, o destaque era a manteiguinha cítrica, deliciosa (dá pra comer pura, com o perdão dos cardiologistas). A burrata também estava uma delícia, com excelente proporção do pesto e da redução de balsâmico. Já os tomatinhos acho que poderiam vir em mais quantidade, posto que estavam saborosíssimos.

Muito pouco pão pra quem tem Dona Regina na mesa

Que burrata, dá zero pra ela

    "Para os pratos principais a estrela é a feijoad...mentira, mentira, claro que tem risoto de monte para escolher". O trecho anterior está entre aspas porque é um copia-e-cola da piada que eu fiz no texto de 2016 sobre o cardápio da Risoteria. Reciclagem é importante, temos que preservar o planeta de novas piadas infames. Melhor repetí-las. Pois bem, os risotos são separados em "da estação", "tradicionais" e "especiais". Há também duas opções de massas e uma seção chamada "Outras especialidades", com cinco pratos - embora três deles também tragam risoto na concepção. Algo interessante, e raro de se ver, é que o próprio cardápio traz a informação de que é possível fazer troca de acompanhamentos, e já lista as quatro possibilidades disponíveis para troca: salada de folhas, batatas fritas, linguini alho e óleo e legumes salteados. Ou seja, quem não gosta muito de risoto, tal qual minha mãe, consegue se virar bem.

    Chris foi nos Risotos Especiais, escolhendo o Risoto de Salmão Gravlax (risoto de arroz carnaroli, com salmão curado, limão siciliano e finalizado em azeite de manjericão, R$109,90). Veio bem bonitinho, com o salmão gravlax formando como que uma flor. O gravlax é uma receita escandinava que consiste em marinar o salmão cru em sal, açúcar e especiarias. Chris adorou o peixe, mas poderia vir um pouco mais. O risoto estava no ponto certo e bem temperado, com boa presença do limão, mas ela achou um pouco enjoativo quando chegou ao final.
 
"Formando como que uma flor", disse o Manchado de Cassis

    Eu escolhi o Prato da Boa Lembrança, que era o Confit de Pato (coxa e sobrecoxa de pato confitada a baixa temperatura servido com risoto de pêra caramelizada e molho de porcini, R$159,90). Começando pelo pato, estava macio, saboroso e com a pele levemente crocante. O risoto de pêra, se fosse pra comer só ele, estava um tanto doce, mas equilibrava bem com o gostoso molho de cogumelo, que poderia ter vindo em mais quantidade. A garfada completa tinha bastante contraste. O tamanho da porção foi perfeito. Em nossa primeira visita, comi em um prato que parecia um vaso, uma coisa enorme, vou até colocar a foto aí abaixo como curiosidade. Com certeza foi feito um ajuste nesse quesito, porque achei todos os pratos bem porcionados.
 
Lá vem o pato, pato aqui pato acoláááá
 
Ó pucê vê como que o prato é bonitinho

Versão antiga do prato e versão antiga do Fê, lá de 2016

    Existem cinco opções de sobremesa, sendo três de inspiração francesa (dois petit gateau e um creme brulê) e duas de inspiração italiana, que foram as que escolhemos. Chris optou pelo Affogatto (sorvete de baunilha finalizado com shot de café espresso, R$29,90). Não tem como ser muito bonito, porque o café quente derrete o sorvete, deixando a apresentação prejudicada. Mas obviamente que a Chris curtiu, bastante gosto de café, com o contraste do sorvete de baunilha de boa qualidade.

Prejudicada na feição, porém satisfatória no palato

    Eu, que já ando meio sacudo de petit gateau e creme brulê, optei pelo Semifredo de Chocolate Branco (chocolate branco, leve toque de maracujá e redução de vinho do porto, R$34,90). A descrição não diz, mas o semifredo vem também com uma farofinha de nozes por cima. Apresentação jeitosa, com algumas flores comestíveis para enfeitar (e comer!), e conjunto agradável, sem ser muito doce, bem equilibrado. Poderia vir um pouco mais da redução de vinho do Porto que eu não reclamaria. 

"Sacudo de petit gateau", disse o Seu Zé de Elencar

    Observação importante: apesar de eu ter mencionado, muito mal-educadamente, que estou sacudo de petit gateau, experimentamos os dois do cardápio, que foram pedidos pelas outras pessoas da mesa, e ambos estavam muito bons. Dá pra pedir sem medo - mesmo estando sacudo.

    Eu, meu irmão e Chris passamos a noite tomando Session IPA da Eisenbahn (R$14,90, 355ml), que foi colocada num baldinho com gelo. Minha mãe tomou um belo Gin Tônica (R$39,90), e Edna tomou suco natural (a partir de R$17,90).

    Quem gosta de formalidades no serviço deve passar longe da Risoteria Villa Lobos. As garçonetes e o garçom são espontâneos e brincalhões, assim como o maitre, que entra nas brincadeiras. Mas não se preocupe, não é nada intrusivo, você não vai se sentir em um acampamento de férias. Nós preferimos mil vezes a espontaneidade do que o engessamento e as mesuras excessivas. Até porque o serviço é eficiente, com os funcionários sempre atentos e com os tempos de entrega dos pratos bem dentro do esperado. Pedimos cinco pratos principais ao mesmo tempo,  todos chegaram juntos, e nenhum chegou frio. Isso indica boa organização na cozinha. Para ajudar, minha mãe ganhou um Gin Tônica de brinde, já que a garçonete ficou fã dela, só faltou pedir autógrafo. E, para ajudar ainda mais, ganhamos um petit gateau extra. A garçonete, sincerona, falou que foi uma pequena confusão na cozinha, fizeram um a mais, e resolveram trazer para nós. Ah, se toda pequena confusão na cozinha resultasse em um petit gateau de cortesia...

    Já é nossa segunda visita ao Risoteria Villa Lobos, e mais uma vez foi uma experiência bastante agradável, ajudada, dessa vez, pelas nossas companhias. Se você se atentou aos preços, percebeu que não se trata de um lugar barato. Reles mortais trabalhadores como nós não podem ir toda semana, sob o risco de insolvência. Isso, aliado ao fato de que o restaurante não apresentou tantas novidades em relação à nossa visita de 2016, nos fez decidir que não faríamos uma nova visita ao Risoteria Villa Lobos. As duas que fizemos já nos deram um ótimo panorama da cozinha da casa, que faz muito bem feito aquilo a que se propõe. Pensando bem, talvez um novo Prato da Boa Lembrança bem apetitoso até nos fizesse mudar de ideia...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 8
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,33 e 7,75
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Heitor Villa Lobos, 841 - Vila Ema, São José dos Campos - São Paulo
Telefone:  (12) 3922-0505
Site: http://www.vlobos.com.br/
Instagram: @risoteriavlobos

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Cafezando #9: Café Borgô (Jundiaí - SP) - 18/07/2025

 

    Minha avó sempre dizia, "se não tem nada de bom para dizer sobre alguém, melhor ficar calado". Falseio a verdade, nenhuma de minhas avós jamais disse isso. Mas é algo bem digno de sabedoria de vó. Nesse texto eu provavelmente estarei indo contra essa avó imaginária, porque não temos muita coisa de positiva para dizer sobre o Café Borgô, onde nos sentamos para tomar um café da tarde em uma sexta-feira fria em Jundiaí. 

Sexta-feira fria e o jovem senhor em mangas de camisa

    Vamos dizer que ele é até bonitinho, vai, tem uma estante com alguns vasos de flores, garrafas de vinho e alguns livros, logo na entrada, ao lado de um sofazinho. Mesas e cadeiras de madeira, ajeitadinhas, umas luminárias feitas de bule, e não muito mais do que isso fazem a decoração do lugar. Tem lá seu charme, um charme discreto, do tipo que mal se mostra, mas tá ali. Viu, "vó que não existe", até que não falei mal, né?
 
Chris tenta se mimetizar no ambiente

 
Não adiantou, te achamos, senhora Chris

    A Chris começou pedindo um panini com queijo e tomate (R$ 16) e um cappuccino italiano (R$13). O panini tava cru, branquelo que só ele (e eu). O cappuccino, que deveria ter canela, tava aguado, sem muito gosto de café nem de canela - no máximo um tornozelo bem de longe, e olhe lá. Eu pedi a torta do dia (R$16), e me foi informado que a torta do dia daquele dia era a de frango com palmito. Eu curto um franguinho com palmitinho, mas o que veio foi torta de batata com milho. Eu achei que tava louco, pedi pra Chris provar, e ela atestou: não é frango e não é palmito. Talvez estejamos os dois loucos, vai saber. De beber eu pedi uma soda italiana de limão siciliano (R$16). A soda italiana é uma bebida que eu gosto de pedir quando não estou tomando álcool (quase nunca acontece), porque é bonita como um drinque e tem aquele gás gostoso que pinica a língua. Dá até um baratinho de leve. Mas não era nem bonita como um drinque, nem pinicava a língua. Xoxa que só ela (e eu). 

Vês, alvo, quase imaculadamente alvo

Do dia que não era do dia e soda sem pinicação

    Eu confesso que esse começo de refeição apagou minha luminária (porque não fumo cachimbo), e aí meio que larguei mão de anotar os preços, e tinha desistido de fazer da visita um texto aqui do blog, por não encontrar prazer em falar mal de um estabelecimento. No entanto, cá estou falando mal de um estabelecimento, e a partir de agora sem os preços que pagamos nos trecos. Mas já digo que tudo junto somado, noves fora trepa dois pede emprestado, deu 104 reais.

    Prosseguimos para os doces. Chris pediu um pedaço de bolo de fubá com goiabada, e até nesse quesito simplérrimo, erraram, porque o bolo tava insosso que só ele (e eu). Ela acompanhou o bolinho com um café espresso, que tava okayzinho. Eu pedi uma tortinha de maçã, que tava exposta na vitrine e me conquistou. Fez lembrar vagamente um apfelstrudel, tava passável. Para beber pedi um café catuaí 62 de Cristina (MG), feito na V60 (esse é o método de extração). Sempre quando pedimos café com algum método de extração diferente, a parte efetiva da extração é feita na mesa. É uma praxe, não seguida pelo Café Borgô. O café já chegou coado, e pode ter sido até na meia, não tenho como saber. Se foi na meia era uma meia saborosa, porque o café tava muito bom, suave, com um leve toque de chocolate (tá vendo, vovó de mentira, acabei de elogiar com veemência um dos itens consumidos).

Chris foi no básico, e no básico se deu mal

Fê apostou em certa ousadia, e se deu medianamente bem

    O pessoal era simpático, inegável isso, era simpático. Sim, me falaram errado o sabor da torta do dia, acontece, mas era um pessoal simpático. Mas você pode ser o funcionário mais simpático do mundo, apresentar o produto com o melhor sorriso, o mais cativante discurso, se o que vem depois não faz jus à sua fala, tudo esmorece e definha (ando lendo muito Machado de Assis). É que nem você preparar o público para um grande espetáculo e em seguida dizer "e agora com vocês Jorge Vercillo!" (puta sacanagem, não sei porque o Vercillo ficou com essa fama de chato, eu não acho tão chato assim, só tinha que ser escroto com alguém pra fazer funcionar minha analogia e escolhi um alvo fácil). 
 
    O mais pior de ruim do serviço foi que chegamos perto do fechamento, aí os funcionários começaram a preparar o ambiente para um evento que haveria no dia seguinte, foram andando pelo salão, começando a arrumar as coisas, conversando sobre onde ficaria isso, onde ficaria aquilo, e nós ali, com nossas dignas presenças sendo vetustamente ignoradas (achei lindo usar esse "vetustamente", mas acabo de descobrir que vetusto significa algo antigo, nada a ver com o que eu queria. Machado me puxaria os lóbulos. Mas vai ficar assim mesmo).

    Fico pensando no peso que os grandes jornalistas culinários sentem quando esculacham um lugar. Por sorte nossos oito leitores não serão responsáveis pela falência do Café Borgô, até porque não devem ir a Jundiaí com muita frequência. Então acho que conseguiremos dormir em paz. Vetustamente em paz.

    É isso. Em breve a gente volta a cafezar.

Endereço: R. do Retiro, 480 - Vila Virginia, Jundiaí - São Paulo
Instagram: @cafeborgo

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Cantina Masseria (Campo Grande - MS) - 22/04/2025

 

    Sempre que estamos em uma cidade, procuramos um restaurante que seja associado à Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que presenteia os clientes com um prato em cerâmica, mediante o pedido de um determinado prato. Em Campo Grande o Cantina Masseria é o único associado, por isso não tivemos dúvida em fazer um jantar por lá. Mas infelizmente eles estavam na transição entre o prato de 2024 e o de 2025 (em pleno abril, minha gente?), e por isso não havia o prato disponível. Mas só descobrimos isso quando já estávamos por lá, então claro que resolvemos fazer a refeição completa assim mesmo. Vai que alguma boa lembrança estava reservada, mesmo sem prato?
 
Boa lembrança pode ser, mas boa foto não, né?

Ah, essa tá melhor, saiu o bobão e dá pra ler o nome do restaurante

    Salão amplo, todo envidraçado, luminosidade agradável, boa distância entre as mesas. Temperatura perfeita. Nos sentamos em uma mesa que estava embaixo de um ar-condicionado e já estávamos prontos para nos mudar, quando o garçom nos disse que desligaria o ar, para nos poupar o trabalho de trocar de mesa. Achamos simpático. Levamos um vinho da África do Sul, que tínhamos comprado no hotel de Aquidauana, e o Cantina Masseria nos cobrou a taxa de rolha de R$30. Um preço aceitável, mas ao telefone nos disseram que era R$25. Não choramingamos esses cinco reais, mas fiz a anotação mental pra não esquecer e colocar aqui no blog, que eu sou desses.
 
Faltou citar no texto o jardim vertical ao fundo, senhor escritor

Será que essa careta é pra fazer a anotação mental?

Feliz como quem vai tomar um vinho

    Quando se vai a um lugar chamado Cantina Masseria, o que se espera é muita culinária italiana no menu. E o Masseria não decepciona nesse quesito. Começando pelas entradas, com opções de arancini, brusquetas e carpaccio. Nos principais são seis opções individuais (como a lasanha de cordeiro por R$ 73,70) e depois várias seções com pratos para dois: risotos (ao funghi por R$ 129,70), massas (espaguete carbonara por R$ 97,70), carnes (ossobuco milanês por R$ 139,90) e peixes (pintado ao urucum por R$ 142,90). É possível pedir porções individuais dos pratos para dois. Nesse caso os pratos de massa saem por 60% do valor indicado e os outros saem por 70% do valor indicado.

    Escolhemos como entrada o carpaccio (fatias de filé mignon cru, parmesão, alcaparras ao molho de maionese e mostarda, acompanhado de pão ciabatta, R$53,70 - não sei que mandinga é essa do Masseria com esses preços quebrados). Achamos que veio muito queijo por cima do carpaccio, e que as alcaparras poderiam fazer parte de um molho, e não apenas virem assim perdidas no meio do queijo. O molho de maionese e mostarda era basicamente os dois ingredientes unidos, nada de muito elaborado. A ciabatta estava boa e bem crocante. E o carpaccio estava cortado finissimamente. O limão, que veio à parte, dava uma boa levantada no prato, por conta da acidez. 

Finississississimamente

Não se abata (leia em voz alta e chore)

    "Fala pra Chris não pedir um filé mignon mal passado, por favor". Foi assim que meu irmão respondeu quando mandei mensagem no grupo da família dizendo que estávamos saindo pra jantar em Campo Grande. Tudo porque a Chris gosta muito de pedir filé mignon mal passado, e os restaurantes em geral gostam muito de errar o ponto. Então ela ficou com isso na cabeça, e não quis contrariar o cunhado: pediu como prato principal o penne com camarão (ao molho branco com camarão flambado, R$83,82 o valor individual, que corresponde a 60% do preço indicado no cardápio). Olha, teria sido melhor pedir um filé no ponto errado. Molho branco muito, muito sem graça (nível macarrão congelado da Sadia), com gosto de leite, basicamente. Camarão xoxo, gosto de água (não salgada). O que pode ser dito de bom é que o macarrão estava no ponto certo. Já em São José, meu irmão disse a ela "também, foi pedir camarão no lugar mais longe do mar". Pois é, agora é tarde pra voltar atrás.

Ufa, ao menos não é um filé no ponto errado...

    Eu não poderia deixar de homenagear minha tia Minga, e pedi a Costela Minga Desossada (assada lentamente em baixa temperatura, com cebolinha glacê, bacon caramelizado e molho demi-glace, acompanhada de nhoque dourado, R$89,90). O molho estava delicioso, com textura incrível e excelente equilíbrio entre dulçor e salgado. O nhoque sozinho era meio bobo, gosto de batata e só. A cebola parecia ser daquelas em conserva, tinha uma acidez bem típica desse tipo de preparo. Eu até gosto, mas não era o sabor esperado. Alguns pedaços de bacon estavam um pouco duros. A carne estava muito macia, derretendo mesmo, e muito saborosa, claro, com a gordura entremeada. O grande refestelo do prato era mesmo o molho, tanto que a Chris ficava molhando os camarões dela nele. Eu deixava, porque sou magnânimo - e porque experimentei o prato dela e fiquei com dó. 
 
Costela Maria Silvia Pereira (minha tia, pô)

    Petit Gateau, Crème Brûlée, Cheesecake de Frutas Vermelhas. É por aí, pelas onipresenças, que caminham as opções de sobremesa do Cantina Masseria. Nada contra, mas já cansamos de comer essas opções. Então fomos na única que era um pouco diferente, o Mil Folhas Com Dois Cremes (massa folhada com creme parisiense de baunilha e de chocolate, com avelãs torradas, R$36,90). Apresentação muito bonita. Mil folhas bem crocante, se quebrando no croc-croc. O chocolate também estava crocante. Creme de baunilha ok, mas textura um pouco pastosa. Faltou mais contraste, que vinha quando comíamos uma colherada junto com o morango. Talvez essa acidez pudesse ser incorporada de alguma forma ao mil folhas. Ou poderia ser servido com uma calda à parte que trouxesse acidez.
 
Bonito tá

    O restaurante estava bem vazio nesta noite de terça-feira, e tivemos os funcionários praticamente só para nós. O garçom principal era bem espontâneo, sem muito gesso, o que sempre agrada. Os garçons em geral mantinham boa distância da mesa, conseguindo estar presentes sem serem invasivos. Gostamos também da maneira que resolveram a situação do ar-condicionado, sem termos que nos mudar de mesa. Houve uma cobrança errada no prato da Chris, que deveria vir com 60% do valor indicado no cardápio, por ser porção individual, mas veio 70%. Mas foi corrigido rapidamente. Também houve a informação errada sobre o valor da taxa de rolha. E ao final solicitamos uma cópia da comanda com nosso consumo, pra guardar de lembrança, e ficamos vários e vários minutos esperando, até que fomos à recepção para pegar. Foram pequenas coisas que acabaram minando nossa nota final de serviço.

    Nossa ida ao Cantinha Masseria foi em busca do Prato da Boa Lembrança. Voltamos sem ele. Mas não significa que voltamos sem boas lembranças. Talvez aquela que mais vá permanecer em nossas mentes seja o molho demi-glace que acompanhava meu prato. Chris usufruiu dele quase tanto quanto eu, e ambos concordamos que foi um dos melhores molhos que já comemos em nossas visitas a restaurantes pelo Brasil afora. Mas infelizmente o restante da experiência gastronômica não acompanhou essa excelência, e definimos que não faríamos uma segunda visita ao Masseria. Não tem problema. Às vezes uma única boa lembrança pode compensar uma vida inteira de tristezas. Ou um penne completamente sem graça...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada (2): 5 e 5
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5 e 6,5
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Afonso Pena, 4311 - Jardim dos Estados, Campo Grande - Mato Grosso do Sul
Telefone:  (67) 3325-7722
Site: https://www.cantinamasseria.com.br/
Instagram: @cantinamasseria

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Turquesa (Bonito - MS) - 18/04/2025

 


    Chovia bonito em Bonito. O que fazer quando chove em uma cidade não fornida de museus e atrações fechadas? Comer e beber, claro. Saímos do Balneário Municipal, já com os ossos molhados, e nossa ideia era fazer um almoço no Juanita, um restaurante famoso da cidade. Mas ele estava muito cheio. Então nos lembramos de um restaurante muito bonitinho pelo qual tínhamos passado na noite anterior, com mesinhas na calçada e uma decoração caprichada. Era o Turquesa, e para lá fomos, embora tenhamos tido que esperar no carro uma meia hora para a chuva diminuir. Mas tínhamos o restaurante todo só para nós!

Uma trégua da chuva bonita em Bonito

    Por dentro a decoração acompanha o charme que já havíamos percebido por fora. Estantes com livros, vasos de flores, paredes pintadas, quadros e muita, muita cor. Até o banheiro tinha quadros criativos. É como se fosse uma casa com uma decoração bem cuidadosa, mas ao mesmo tempo informal. Uma pena que, por conta da chuva, não estavam disponíveis as mesinhas na calçada. 

As índias, uma na parede, uma sentada

Dá pra ver a carinha do Zé Fê ali atrás?

A carinha da Chris dá pra ver muito bem

Será que ele seguiu os quatro passos para ser feliz?

Os quadros criativos do banheiro

    O Turquesa tem como lema, logo abaixo de seu nome, as palavras "Árabe e natural". Isso já dá uma boa dica do que podemos esperar do cardápio: pratos típicos da culinária do Oriente Médio, com muita salada e pratos frescos também como opção. Resolvemos começar nossa refeição com salgados clássicos da cozinha árabe: Chris pediu  kibe com babaganoush (R$ 9,50), eu pedi falafel com babaganoush (R$ 10,50). Os dois estavam bem crocantinhos e bonitos. A babaganoush estava boa, mas faltou um pouco mais daquele queimadinho gostoso (estamos mal-acostumados com a babaganoush de meu irmão). Eu gostei do tempero do falafel, mas Chris achou que faltou tempero no kibe. 

Kibe com babaganoush (baita nome de comida, né?)

Falafel, babaganoush e a Rê Bordosa do Angeli, um dos livros da estante

    Para os pratos principais a casa trabalha com algumas opções individuais, todas por volta de setenta reais (tem combos árabes com diversas opções, mas também lasanha de abobrinha e nhoque de batata doce, por exemplo). Claro que há também opções de pastas com pães (homus, babaganoush, coalhada seca, R$28) e de kebabs, os sanduíches árabes (por volta de R$35 cada).

    Não gostamos de comer muito no almoço quando estamos viajando, por isso resolvemos dividir um prato individual. Escolhemos o kibe assado de carne (R$ 70, kibe assado recheado com chancliche, muçarela e nozes, coberto com coalhada seca e cebola frita, acompanhado de kafta de carne, salada da alegria, maionese de abacate, farofinha crocante, chips de batata doce e torrada de pão sírio). Bastante coisa, né? Apresentação bonita e bem colorida. A saladinha estava mesmo muito alegre, com tempero suave, dava pra sentir bem todos os ingredientes frescos. Maionese com bastante sabor de abacate, parecia mesmo só abacate, poderia ter mais contraste. A farofinha estava uma delícia, muito crocante, pena que veio pouca (quem mandou pedir individual?). Pãozinho bem crocante. Kafta bem temperada, macia, tostadinha. Chips bem sequinhos. Kibe grande, bem recheado, queijo bem suave, equilibrou bem com o sabor da carne e da coalhada seca com cebola frita. Uma comida bem divertida de comer. E a porção individual foi bem satisfatória para nós dois.

Divertida e colorida

    As opções de sobremesa são mínimas. Em verdade são basicamente duas. Ficamos muito interessados em uma delas, o bolinho de arroz cuiabano da vovó servido com sorvete e sabores do cerrado. Mas o bolinho estava em falta. Então só nos restou pedir o halawi, que não é nem uma sobremesa, mas sim um doce árabe de gergelim e pistache (R$12). O que dizer? Gostosinho e talz, mas né? Um tanto doce demais (pudera, o nome do doce vem da palavra árabe halwa, que significa...doce!). Os pedacinhos de pistache agradaram. O café, que pedimos depois, ajudou a contrastar o dulçor excessivo. Mas queríamos algo mais elaborado.

Parece que encontramos o doce mais doce que o doce de batata doce

    Tivemos uma garçonete praticamente só para nós, foi atendimento VIP. Ela não parecia estar no melhor dos humores, estava um pouco seca, pra usar um termo culinário. Era até engraçada a eficiência dela em retirar nossos pratos. Me lembro do café, eu dei o último gole, estava encostando a xícara no pires e ela já veio "com licença, posso tirar?". Pode, pode, claro. Sorri, sozinho, já que Chris estava no banheiro nessa hora. Mas não dá pra reclamar do tempo de espera dos pratos, nem do serviço de maneira geral - embora tenhamos considerado uma falha do serviço a ausência do bolinho da vovó de sobremesa. Com certeza não foi culpa da vovó.

    Eu achei a experiência muito agradável. Tanto que nem era nossa ideia inicial fazer da visita ao Turquesa um futuro texto aqui no blog, mas durante a refeição decidimos que seria uma boa. Gostei muito do prato principal, e fiquei com vontade de experimentar alguns outros. Por isso concluí que faria uma nova visita. Chris, embora também tenha gostado, acha que, apesar de boa, é comida à qual já estamos acostumados, e não acha que valeria uma segunda visita. Mas ambos concordamos que foi uma ótima maneira de passar o tempo enquanto a chuva caía bonita em Bonito.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada (2): 5 e 6,5
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 6,5 e 7,5
Média: 6,37 e 7,20
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

R. Vinte e Nove de Maio, 976 - Rincão Bonito - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99230-0755
Instagram: @turquesabonito

terça-feira, 20 de maio de 2025

Cafezando #8: Vício da Gula (Bonito - MS) - 18/04/2025

 


    Não podemos dizer que é uma casa lá muito católica, exortando seus clientes ao cometimento de um dos pecados capitais. Mas, convenhamos, é um pecado capital dos mais bobos. Tem uns que até vá lá, tipo ira, inveja, soberba e tal, mas gula? Diz que o pecado, pecado mesmo, é quando você come demais, ou bebe demais, de maneira intencional. Ué, mas é aí que está a graça da coisa. Se for sem querer não tem graça. Já até vejo a chegada no céu e a bronca "naquele dia você comeu três cachorros-quentes propositalmente?". "Sim, senhor, ninguém me enfiou goela abaixo, eu adoro cachorro-quente". "Pois então vós não vais entrar no paraíso". "Tá bom. Lá embaixo tem cachorro-quente?". "Sim, mesmo que fosse feito frio ele ficaria quente. O fogo, sabe?".

Prontos pro crime e pro pecado

    Como pode ser visto na foto acima, não é lá muito charmoso por fora o Vício da Gula, mas por dentro é bem bonitinho, com um jardinzinho, mesinhas no quintal, e na parte interna alguns quadros com motivos cafezísticos na parede. Começamos o vício da gula na parte de dentro, porque a mesa de fora estava ocupada. Depois que os invasores saíram, tomamos o lugar deles na mesa de fora. 

Na parte interna, Chris observa o cardápio

Na parte externa, Fê toma seu lugar dos invasores

Aí o Fê só sentou pra foto mesmo, é fake

    A Chris começou com um suco de laranja (R$12) e um Croi Peru (croissant de peito de peru, patê de ervas, rúcula e tomate seco, R$35). Croissant crocante e saboroso. Suco de laranja fez o papel de suco de laranja mesmo. Ela também pediu um café coado da casa (R$12), porque o suco a dona Chris toma num gole só, meio que pra cumprir tabela. Ela gosta mesmo é de café (mas achou o coado da casa meio sem graça). Eu pedi uma vitamina de banana, maçã e morango (R$20), que eu acho que podia ser servida mais bonitamente, mas tava boa, tinha os gostos das frutas, não tem muito mais o que exigir. Comi um toast pantaneiro (carne seca, banana caramelizada e catupiry, R$36). Era uma sexta-feira santa, e eu não deveria estar comendo carne vermelha. Mais um pecado pra lista ("O senhor comeu carne vermelha numa sexta-feira santa!" "Não comi, não comi! Tava mais pra marronzinha, eu juro, tava mais pra marronzinha!"). Blasfêmias à parte, o toast tinha uma bela combinação de sabores, e veio sem miséria nos ingredientes.

Quer ver a Chris ficar feliz? Café no seu nariz!

O Croi Peru (sem piada, sem piada) e o suco de laranja

Carne vermelha escondida embaixo das bananas! Herege!

Fê mandando ver na heresia

    Existe uma bela vitrine de doces à disposição, e o melhor jeito de escolher doces é mesmo com os olhos. Chris escolheu a torta de limão (os doces vão ficar sem o preço aqui nesse texto, por motivo de não termos anotado), uma receita clássica da casa desde 1997 (é o que tá escrito no cardápio). E é boa mesmo, além de muito bonita. Eu escolhi a baba de moça de morango (não tem preço, esqueceu?), que não se sustentou em pé fisicamente, mas se manteve altiva nos sabores equilibrados e nada enjoativos. Chris tomou um café mantiqueira feito no coador Hario V60 (um coador espiralado e com inclinação de 60 graus) e eu tomei um café do norte pioneiro feito na clever (um método de extração que mantém o café por mais tempo em contato com a água). A gente aprende essas coisas nas viagens, mas esquecemos logo depois. Tipo, daqui uns dias, se alguém me perguntar "e aí, como é o método clever de extração de café?" eu vou fazer uma indisfarçável cara de "ué". Falando nos cafés, meu norte pioneiro tava melhor que o mantiqueira da Chris. 
 
Di comê cozóio
 
A torta de limão, já parcialmente ingerida, e o garçom servindo no Hario V60

Não se sustenta, mas é altiva, a baba da moça

O garçom servindo na clever, que eu já esqueci o que era...
 
    O Vício da Gula é um jovem clássico bonitense, na ativa desde 1996, quando fornecia kit de lanche para as agências entregarem a seus clientes nos passeios. Hoje, quase trinta anos depois, a casa se diversificou, entrando no ramo de hambúrgueres, lanches, café e confeitaria. Chegamos a nos preocupar de o lugar estar fechado nesse feriadão prolongado, mas ninguém chega aos trinta anos na ativa com preguiça de trabalhar. Embora, convenhamos novamente, a preguiça, assim como a gula, também é um pecado capital dos mais bobos. "Naquele feriado de sexta-feira santa vocês preferiram dormir do que abrir o café, e deixaram a Chris e o Fê famintos!". Pensando bem, isso seria mesmo um pecado.

É isso. Em breve a gente volta a cafezar.

Endereço: R. 24 de Fevereiro, 1903 - Centro - Bonito - Mato Grosso do Sul
Instagram: @viciodagula