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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Turquesa (Bonito - MS) - 18/04/2025

 


    Chovia bonito em Bonito. O que fazer quando chove em uma cidade não fornida de museus e atrações fechadas? Comer e beber, claro. Saímos do Balneário Municipal, já com os ossos molhados, e nossa ideia era fazer um almoço no Juanita, um restaurante famoso da cidade. Mas ele estava muito cheio. Então nos lembramos de um restaurante muito bonitinho pelo qual tínhamos passado na noite anterior, com mesinhas na calçada e uma decoração caprichada. Era o Turquesa, e para lá fomos, embora tenhamos tido que esperar no carro uma meia hora para a chuva diminuir. Mas tínhamos o restaurante todo só para nós!

Uma trégua da chuva bonita em Bonito

    Por dentro a decoração acompanha o charme que já havíamos percebido por fora. Estantes com livros, vasos de flores, paredes pintadas, quadros e muita, muita cor. Até o banheiro tinha quadros criativos. É como se fosse uma casa com uma decoração bem cuidadosa, mas ao mesmo tempo informal. Uma pena que, por conta da chuva, não estavam disponíveis as mesinhas na calçada. 

As índias, uma na parede, uma sentada

Dá pra ver a carinha do Zé Fê ali atrás?

A carinha da Chris dá pra ver muito bem

Será que ele seguiu os quatro passos para ser feliz?

Os quadros criativos do banheiro

    O Turquesa tem como lema, logo abaixo de seu nome, as palavras "Árabe e natural". Isso já dá uma boa dica do que podemos esperar do cardápio: pratos típicos da culinária do Oriente Médio, com muita salada e pratos frescos também como opção. Resolvemos começar nossa refeição com salgados clássicos da cozinha árabe: Chris pediu  kibe com babaganoush (R$ 9,50), eu pedi falafel com babaganoush (R$ 10,50). Os dois estavam bem crocantinhos e bonitos. A babaganoush estava boa, mas faltou um pouco mais daquele queimadinho gostoso (estamos mal-acostumados com a babaganoush de meu irmão). Eu gostei do tempero do falafel, mas Chris achou que faltou tempero no kibe. 

Kibe com babaganoush (baita nome de comida, né?)

Falafel, babaganoush e a Rê Bordosa do Angeli, um dos livros da estante

    Para os pratos principais a casa trabalha com algumas opções individuais, todas por volta de setenta reais (tem combos árabes com diversas opções, mas também lasanha de abobrinha e nhoque de batata doce, por exemplo). Claro que há também opções de pastas com pães (homus, babaganoush, coalhada seca, R$28) e de kebabs, os sanduíches árabes (por volta de R$35 cada).

    Não gostamos de comer muito no almoço quando estamos viajando, por isso resolvemos dividir um prato individual. Escolhemos o kibe assado de carne (R$ 70, kibe assado recheado com chancliche, muçarela e nozes, coberto com coalhada seca e cebola frita, acompanhado de kafta de carne, salada da alegria, maionese de abacate, farofinha crocante, chips de batata doce e torrada de pão sírio). Bastante coisa, né? Apresentação bonita e bem colorida. A saladinha estava mesmo muito alegre, com tempero suave, dava pra sentir bem todos os ingredientes frescos. Maionese com bastante sabor de abacate, parecia mesmo só abacate, poderia ter mais contraste. A farofinha estava uma delícia, muito crocante, pena que veio pouca (quem mandou pedir individual?). Pãozinho bem crocante. Kafta bem temperada, macia, tostadinha. Chips bem sequinhos. Kibe grande, bem recheado, queijo bem suave, equilibrou bem com o sabor da carne e da coalhada seca com cebola frita. Uma comida bem divertida de comer. E a porção individual foi bem satisfatória para nós dois.

Divertida e colorida

    As opções de sobremesa são mínimas. Em verdade são basicamente duas. Ficamos muito interessados em uma delas, o bolinho de arroz cuiabano da vovó servido com sorvete e sabores do cerrado. Mas o bolinho estava em falta. Então só nos restou pedir o halawi, que não é nem uma sobremesa, mas sim um doce árabe de gergelim e pistache (R$12). O que dizer? Gostosinho e talz, mas né? Um tanto doce demais (pudera, o nome do doce vem da palavra árabe halwa, que significa...doce!). Os pedacinhos de pistache agradaram. O café, que pedimos depois, ajudou a contrastar o dulçor excessivo. Mas queríamos algo mais elaborado.

Parece que encontramos o doce mais doce que o doce de batata doce

    Tivemos uma garçonete praticamente só para nós, foi atendimento VIP. Ela não parecia estar no melhor dos humores, estava um pouco seca, pra usar um termo culinário. Era até engraçada a eficiência dela em retirar nossos pratos. Me lembro do café, eu dei o último gole, estava encostando a xícara no pires e ela já veio "com licença, posso tirar?". Pode, pode, claro. Sorri, sozinho, já que Chris estava no banheiro nessa hora. Mas não dá pra reclamar do tempo de espera dos pratos, nem do serviço de maneira geral - embora tenhamos considerado uma falha do serviço a ausência do bolinho da vovó de sobremesa. Com certeza não foi culpa da vovó.

    Eu achei a experiência muito agradável. Tanto que nem era nossa ideia inicial fazer da visita ao Turquesa um futuro texto aqui no blog, mas durante a refeição decidimos que seria uma boa. Gostei muito do prato principal, e fiquei com vontade de experimentar alguns outros. Por isso concluí que faria uma nova visita. Chris, embora também tenha gostado, acha que, apesar de boa, é comida à qual já estamos acostumados, e não acha que valeria uma segunda visita. Mas ambos concordamos que foi uma ótima maneira de passar o tempo enquanto a chuva caía bonita em Bonito.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada (2): 5 e 6,5
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 6,5 e 7,5
Média: 6,37 e 7,20
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

R. Vinte e Nove de Maio, 976 - Rincão Bonito - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99230-0755
Instagram: @turquesabonito

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Unüm (São José dos Campos - SP) - 19/02/2025

 

    Desde que me formei na faculdade, em 2001, voltei poucas vezes ao bairro Urbanova. Ele mudou bastante. Onde antes havia terrenos e mais terrenos, hoje há condomínios, prédios, casas e comércios diversos. Em algum lugar por ali o jogador Casemiro tem uma casa, o que contribuiu para a fama do bairro de ser um lugar de endinheirados. Longe de fazermos parte dessa classe social, eu e Chris nos aventuramos por lá, para visitar o Unüm Bistrô, que fica em uma rua relativamente tranquila, em um pequeno boulevard com mais alguns outros pontos de comércio.
 
Pela definição da foto se percebe que não são endinheirados

    O lugar é bem pequeno, fazendo jus ao título de bistrô. Existem algumas mesas do lado de fora, embaixo de uma marquise, e mais algumas do lado de dentro. É aconchegante, e  tem uma decoração simples, mas cuidadosa. As mesas tem dois lugares, demonstrando a aptidão do lugar em receber casais. As mesas encostadas na parede tem um sofázinho bem confortável.

O sofázinho confortável ficou pra Chris

A cadeira confortável ma non troppo ficou com o Fê

    Primeiro ponto positivo do serviço: menu físico. Confesso que essa moda de QR Code, sustentabilidade à parte, tem me incomodado. O cardápio físico facilita muito a visualização das opções disponíveis, e sem depender de sinal de internet. Será que é coisa de véio? 

    Entre as entradas, nada de muito inovador, existem opções de brusqueta, carpaccio e aquela que mais nos atraiu, o rolinho de Parma (rúcula, presunto parma, maçã caramelizada, parmesão, crema balsâmico e pesto de manjericão, R$ 72,90 ). A apresentação é um pouco caótica, com os rolinhos todos muito juntos, formando uma massaroca. Também achei absolutamente incompreensível a presença de palitinhos de plástico, nada condizentes com o ambiente, e ainda por cima nada práticos para "palitar" os rolinho e  levá-los à boca. Quanto ao sabor, gostamos, estavam bem delicados, especialmente considerando a força dos ingredientes. A redução de balsâmico talvez tenha dominado um pouco, sentimos falta de mais pesto. Mas havia bastante contraste na boca, o que é sempre interessante.
 
Incompreensíveis, os palitos

    O cardápio traz divisões bem claras para os principais, entre carne bovina, suína, frutos do mar, massas e opções vegetarianas. Me parece bem clara uma certa vocação italiana da cozinha, apesar da alcunha de bistrô. Os pratos são individuais, e os preços variam de R$ 72,90 (lasanha de ragu de mignon ao pomodoro) a R$ 119,90 (arroz colorido de bacalhau com posta)

    Chris escolheu duas coisas que ela ama: risoto e filé mignon. Foi de risoto de parmesão com cubos de mignon e crispy de parma (R$ 99,90). Ela deu uma primeira garfada no risoto, sem mais nada, e disse: "tá com gosto de água". Não que eu precise referendar as coisas que ela diz, mas ela me deu uma garfada, e a impressão é que o risoto não foi feito com caldo, e sim com água mesmo - e sem sal, né? Quase nada de gosto de parmesão. A garfada completa, com o presunto e o mignon, até que dava uma equilibrada nos sabores. Mas seria muito melhor, claro, se o risoto também contribuísse com alguma coisa, sem fazer a fama na aba dos outros, o folgado.
 
O escriba não citou as flores, pô

    Eu fiquei com vontade de vários pratos, mas acabei escolhendo um porquinho, o medalhão suíno com mousse de cabotiá e farofa crocante (farofa com queijo coalho, bacon e castanha de caju e molho de conhaque com laranja, R$ 86,90). Por etapas: purê bem correto, textura macia, bastante sabor da abóbora, adocicado. Farofinha deliciosa, bem crocante, com elementos salgados (queijo coalho, bacon) que contrastavam muito bem com o purê. Medalhões ligeiramente secos, mas macios, fáceis de comer, e saborosos. O molho acabou se perdendo um pouco, senti falta de mais acidez, que ele poderia trazer. Garfada completa muito saborosa e cheia de sensações.

Aqui tem fulô também, o cara nem cita, insensível

    A inclinação italiana da cozinha fica mais clara na seção de sobremesas, que já começa com diversas opções de canolis. Mas também há uma torta de maçã que se assemelha a um apfelstrudel, além do onipresente petit gateau, aqui em versão com doce de leite e coco. Como são quatro opções de canoli, e eles aparecem antes das outras sobremesas, achamos que eram uma especialidade da casa. Foi uma boa escolha. Chris optou pelo de canoli de frutas vermelhas com pistache (R$ 25,90 ). Tivemos, finalmente, a Chris fazendo aquele "hmmm, que delícia", que ainda não tinha rolado no jantar (nem quando ela olhou pra mim). Bonito, crocante, com sabores equilibrados, nada enjoativo. Eu escolhi o canoli de limão siciliano (R$ 19,90 ), e os mesmos adjetivos usados para o canoli da Chris servem também para o meu.
 
Crocante e gostoso!

Gostoso e crocante! That´s what she said...

    O restaurante é pequeno e estava vazio, de modo que tivemos a equipe de atendimento praticamente só para nós. O serviço foi bem correto, com funcionários simpáticos e bom tempo de espera entre os pratos - embora o meu principal tenha chegado um pouco antes do que o da Chris. Pela pequenez do lugar existe aquele problema de, às vezes, o garçom ficar próximo demais - pô, assim a gente nem pode falar mal da comida com liberdade. Fora isso, não temos muito do que nos queixar quanto ao serviço, embora não gostemos muito quando o garçom pergunta, após cada etapa da refeição, se estamos gostando. Mas aí pode ser chatice nossa. Diz aí, você gosta disso?

    Unüm significa "um", ou "único", em latim. E essa é a proposta do restaurante: ser um lugar único. De fato, em se tratando de São José dos Campos, um tipo de restaurante pequeno, com esse cuidado na decoração e apresentação dos pratos, não é tão comum. Os preços não são baratos, mas são condizentes com esse formato de estabelecimento - quando se coloca  "bistrô" no nome parece que é salvo conduto pra cobrar caro. Falando nisso, acho que existe alguma confusão no conceito também, colocando um nome em latim, focando mais em pratos italianos (até aí ok, combina), mas colocando um termo em francês no nome, talvez pra trazer alguma sofisticação, vai saber. Falando nos pratos, existem alguns deslizes, como palitinhos de plástico, e a indesculpável falta de sabor no risoto da Chris. Mas minha experiência, de maneira geral, foi de boa a ótima. Por isso eu voltaria ao Unüm. Já a Chris não foi feliz no prato principal, e não repetiria a visita. Então provavelmente vamos ficar só na visita unüm, não vamos pra duo, tria, quattuor, quinque e o resto dos números em latim.
 
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,33 e 7,5
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Avenida Ironman Victor Garrido, 651|loja 02 - Urbanova - São José dos Campos - SP
Telefone:
(12) 98849-4597
Instagram: @unumbistro

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Krsna (São José dos Campos - SP) - 25/02/2024

 

       Krsna é a transliteração em alfabeto latino de uma palavra em sânscrito. O mais comum é vermos a palavra escrita como "krishna", que é a transcrição para o alfabeto latino do som da palavra em sânscrito. Aí a gente tá mais acostumado, né? Hare Krishna, e tudo mais. Trata-se de um dos deuses mais importantes do hinduísmo, religião predominante na Índia. Nada mais justo do que nomear assim um restaurante especializado em comida indiana, em pleno bairro da Vila Ema, em São José dos Campos.
 
Nem precisa tocar a campainha, a casa está aberta
     
    O Krsna só abre para almoço, todos os dias da semana. Estivemos lá em um domingo, e o lugar, se não estava lotado, também estava longe de estar às moscas. Um feito e tanto, se levarmos em conta que o Krsna fica em uma rua pacata, com pouca passagem de veículos. A entradinha singela logo nos leva a um corredor com paisagismo caprichado, e a um túnel natural. Logo após o túnel existem algumas mesas ao ar livre. À direita, mais algumas mesas do lado de fora, sob uma cobertura de madeira e vime. Nesses locais existem ventiladores para aplacar o calor - estivemos lá em um dia bem quente. Também há um salão interno, menos charmoso, mas com ar-condicionado. Nesse salão interno também existe uma pequena lojinha com produtos indianos, como o ghee (manteiga clarificada), incenso e outros quetais.

Uma paradinha pra selfie antes de entrar no túnel

E tem coach espiritual no caminho

A gente chegou a se aboletar nessa mesa...

...tiramos foto com cara de besta e tudo...

...mas depois mudamos pra uma mais perto do garçom...

...e mais pertinho da saída
 
    O Krsna trabalha com culinária indiana lacto vegetariana e vegana. Todos os dias existe apenas um combo vegetariano e um combo vegano disponíveis. Cada combo traz cinco pequenas porções de pratos diversos. O pulao (arroz que pode vir com diversas especiarias) é quase onipresente em todos os combos. As outras quatro opções podem variar entre legumes com diversos tipos de preparo, além de saladas, farofas, cuscuzes, feijões, etc. Se por um lado existe certa frustração por não poder escolher um combo qualquer entre todos os que constam no cardápio, por outro é muito bom para os indecisos, porque são apenas duas opções de escolha. O combo custa R$ 42 durante a semana e R$ 44,90 aos finais de semana. Também existe a opção de meia porção de cada prato, que eles chamam de kids (R$ 34 durante a semana e R$ 36,50 aos finais de semana). Por último, também existe a opção tali, em que são servidos os dez pratos disponíveis no dia (cinco vegetarianos e cinco veganos) em porções menores (R$ 48 durante a semana e R$ 52 aos finais de semana). Também existem algumas (poucas) opções de salgados e saladas à parte.

    Como não existe uma seção de entradas no menu, resolvemos comer a samosa assada, uma espécie de pastel tipicamente indiano. Pedimos um de tofu com shimeji e um de ricota com rúcula e tomate seco (R$ 6 cada). A primeira estava em boa temperatura, mas um pouco seca. Também faltou um pouco de tempero. A segunda tinha um sabor mais agradável, mas estava fria. 

Uma seca, outra fria, mas bonitinhas, convenhamos
 
    Para o combo principal, a Chris ficou com o vegano. Antes de falar de cada item, uma observação que vale para todos: estavam frios, o que prejudicou bastante a apreciação. O combo vegano veio com: pulao (arroz com canela), que a Chris achou que poderia estar mais condimentado; saphedo been (feijão branco com espinafre e limão siciliano), certamente o melhor dos cinco elementos, bem condimentado, com a leve acidez do limão levantando o sabor; phoolago bhee (cuscuz de couve-flor), que estava gostosinho, mas faltou mais tempero - e olha que a Chris adora cuscuz; aoloo kofta (almôndegas de batata ao sugo), cujas almondeguinhas de batata estavam bem bonitinhas, e o molho ao sugo tinha bastante sabor de tomate, mas era o elemento mais frio do combo; tabule, que também poderia estar mais temperado. Como mimo doce, o combo trazia uma colherzinha com um pedaço de bolo de chocolate, que a Chris achou bom.

 
A apresentação é bonita, e os talheres também!

    Meu combo principal foi o vegetariano. Também estava com a maioria dos elementos em temperatura abaixo do que deveria - um eufemismo para "frio". Vamos aos itens: pulao (arroz integral com quinoa), correto, bem cozido; dahl (feijão azuki, vegetais e ricota), assim como no combo da Chris, aqui também o feijão foi o melhor, muito bem temperado, com bastante quiabo, bastante caldo, uma delícia; sabji (brócolis oriental com vinagre de arroz), outro que estava interessante, com uma acidez bem presente; bikharana (farofa de alho poró), tímida demais, basicamente só a farinha de milho, o alho poró sequer mandou lembranças; maionese de cenoura, que era uma saladinha de batata com folhas, e a maionese por cima, que estava bonita na cor, mas sem graça de tudo no sabor. Meu mimo doce era um creme de limão, assaz agradável.

Dois elementos bem legais, dois bobos, e um neutro

    Embora não façamos avaliação de bebidas, devemos deixar registrado que gostamos de tudo que bebemos, desde os lassis, bebidas indianas à base de iogurte, até os sucos e kombuchas.

    Em um final de semana, com menos funcionários, o serviço acaba ficando um pouco prejudicado para quem se senta do lado de fora. Havia apenas um garçom, que por vezes ficava um tempo sem aparecer na nossa mesa. Por exemplo, recebemos nossas samosas, e o garçom se retirou. Ficamos olhando para elas, as samosas, ali bonitinhas, crocantinhas, por uns cinco minutos, sem um guardanapo à vista para pegá-las. E ficamos tentando chamar a atenção do rapaz, que passava lá dentro do salão e não nos via. Até que ele veio e nos avisou que o guardanapo estava dentro do saquinho onde estavam os talheres. Um problema bobo, que seria rapidamente resolvido se houvesse alguém por ali. Os pratos foram servidos bem rapidamente, talvez até demais - lembra que estava tudo meio frio? Pois é. Também achamos que poderia haver à mesa mais alguma opção de tempero além da pimenta malagueta.   

    Picância. Condimento. Intensidade. No imaginário da culinária indiana, são palavras como essas que vem à mente. Sentimos falta delas em nossa experiência no Krsna. Trata-se de um lugar que tanto eu como a Chris já tínhamos visitado anteriormente. Em que pese o fato de que das outras vezes nossas anteninhas de avaliação não estivessem ligadas, fato é que foram experiências bem melhores do que esta. Chris não conseguiu perdoar a frieza dos elementos, e por isso decidiu que não faria uma nova visita ao lugar. Eu ainda daria mais uma chance, já que gostei de alguns itens de meu combo, e fiquei com vontade de provar diversos pratos de outros combos. Mas é preciso elevar a temperatura, em todos os sentidos. Senão não há hare krishna e hare rama que resolva.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 5 e 5
Entrada (2): 5 e 4
Prato principal (3): 5 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 6,5
Média: 5,4 e 6,05
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

R. Justino Cobra, 265 - Vila Ema, São José dos Campos - São Paulo
Telefone:  (12) 3911-3784
Instagram: @krsnarestaurante

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Garagem Gastrobar (Juiz de Fora - MG) - 21/06/2019


Temos algumas queixas sobre o turismo em Juiz de Fora, especialmente o fato de praticamente todos os museus da cidade estarem fechados nos dias de nossa visita. Mas não podemos negar que há muitas opções de restaurantes e bares para visitar, e ficamos com vontade de conhecer vários. Mas como tínhamos apenas uma noite, acabamos optamos pelo Garagem Gastrobar. Seu dono é Pablo Oazen, vencedor da edição 2017 do Masterchef Profissionais, programa do qual sou telespectador assíduo. Hoje ele não participa tanto do dia a dia do lugar, mas é claro que sua marca aparece na criação dos pratos.

Chris estaciona na garagem (pegou? pegou?)

A casa está localizada em uma região agitada, com várias outras opções gastronômicas. Instalada em uma esquina, a primeira coisa que chama a atenção é a cozinha envidraçada que pode ser avistada da calçada (como dá pra ver na foto acima). Mais ou menos como um reality show de culinária ao vivo. Do lado de dentro uma das paredes faz as vezes de uma enorme lousa, com desenhos e alguns itens do cardápio escritos em giz, além da inscrição "Cozinha Mineiroca". Muito bonito - especialmente para alguém como eu que não consegue nem escrever o nome com giz. Ambiente à meia luz, mas com as mesas bem iluminadas, e nas paredes algumas matérias de jornais e revistas sobre o proprietário e uma dólmã usada por ele. 

Chris com o menu, e ao fundo a lousa enfeitada (não pelo Fê)
Acima de nós as matérias sobre o Pablo, e a dólmã ficou sem foto
Quando chegamos ao Garagem ainda não sabíamos se a visita resultaria em um texto aqui do blog. Com a proposta de ser um gastrobar, achávamos que talvez houvesse apenas petiscos e acepipes para comer acompanhado de uma cerveja ou um drink. Mas quando vimos que o cardápio oferecia opções de pratos principais e sobremesas, resolvemos fazer a refeição completa. O decorrer da noite nos mostrou que talvez essa não tenha sido a melhor opção.

A primeira página do menu é toda dedicada às comidinhas típicas de bar/boteco, com os dizeres "Comer com as mãos...nunca foi tão elegante" na parte de cima da página. Para nós elas fariam o papel de entrada. Entre algumas pelas quais nos interessamos, como o jiló à oriental, optamos pelo quiabinho tostado a la fleur de sal (quiabos salteados com azeite, limão e flor de sal, R$18). Apresentação simples, com os quiabinhos envoltos em uma farofinha. Eu segui a dica da casa e comi os quiabinhos com as mãos (juro que não fiz o mesmo com a farofa!). Independente do método de jogar pra boca, o quiabinho tinha um cítrico delicioso, contrabalanceado por uma moderada picância da farofinha, resultando em algo que eu comeria a noite inteira. Chris também gostou, mas nem tanto quanto eu.

Falar que é lindo, assim, não é não, mas é bão demais da conta!

Os pratos principais aparecem no menu precedidos da frase "Nossos pratos para quem não gosta de historinhas". Como não é a especialidade da casa, há poucas opções. Antes de detalhar nossas escolhas, vale relatar algo curioso (para usar uma palavra boazinha) que aconteceu. Assim que escolhemos, a garçonete levou nosso pedido e pouco depois voltou, dizendo que os pratos podiam demorar um pouco, já que o chef havia faltado, e quem estava no lugar dele era muito novo e não estava tão a par dos processos de cada prato. Falamos que tudo bem, e ela saiu. Um pouco depois ela voltou, dizendo que o acompanhamento do prato da Chris não poderia ser servido, porque o chef não "ia dar conta de fazer". Aí você deve estar pensando que fosse algo muito elaborado, cheio de processos, difícil de fazer. Que nada: era um simples arroz. Difícil de entender.

Pois bem, a escolha original da Chris era o "medalhão de filé com bacon mesmo, uai...e arroz canastrinha" (era desse jeito que estava escrito! R$62). Mas ela teve que trocar o arroz por uma frigideira de batata e cogumelo acompanhados de ovo frito. Embora fosse bem longe de seu pedido original, a combinação era promissora. Apresentação legal, numa panelinha de ferro. Ela pediu a carne mal passada e a extremidade que estava à vista parecia bem vermelha, mas por dentro a maior parte estava ao ponto. Ela gostou medianamente dos acompanhamentos, estavam bem temperados e no ponto certo, mas nada extraordinários. E realmente não deu pra entender como esse acompanhamento é mais fácil de fazer do que um arroz.

Cortar essas rúculas deve ser mais difícil que fazer arroz...

Minha escolha foi o peito de pato laqueado, cebolinha com especiarias e purê de cenoura com laranja (R$ 72). O pato estava incrivelmente bom, com um pouco de crocância mas ao mesmo tempo bem macio, e muito bem temperado. Mas em termos de sabor é como se ele estivesse sozinho no prato. O purê não tinha nada do cítrico que a laranja poderia sugerir, e também não tinha sal nem pimenta. O mesmo defeito atingiu o molho que acompanhava. As cebolinhas com especiarias até estavam boas, mas vieram em pouca quantidade. No fim o purê serviu pra encher a barriga, enquanto o pato serviu pra dar prazer - que é, obviamente, o objetivo principal quando se come fora, não é?

O prazer está no meio

"Pequenas doçuras e travessuras". É assim que o cardápio apresenta suas opções de doces. São apenas três, e escolhemos a "Terra de Chocolate" (mousse de chocolate, café e menta, R$ 23). Apresentação coisa linda: um vaso, com uma espécie de biscoito de chocolate fazendo o papel da terra e as folhas de menta como se plantadas. Por baixo a mousse de chocolate, e no fundo uma massa tipo de torta doce. Consistência agradável, com o biscoito dando crocância e mousse bem suave. Sabor não muito doce, café sutil até demais. A massa acabou ficando seca no final, porque não sabíamos de sua existência e ela acabou ficando sozinha. No fim, de maneira geral, o conceito ganhou do sabor.

Mas vá, é um baita conceito!

Sob o ponto de vista do atendimento pessoal, gostamos bastante do serviço. Muitos garçons, todos muito solícitos e simpáticos, embora não tenham passado no "Teste do Cigarro" (quando a gente sai pra Chris fumar e esperamos que na volta os pratos estejam recolhidos). Mas é claro que a nota de serviço despencou mesmo por conta dos problemas da cozinha, já citados no texto. Embora tenhamos sido avisados de que os pratos principais poderiam demorar, não nos pareceu razoável esperar cerca de uma hora por eles - e muito menos nos pareceu razoável o motivo da demora, especialmente com a casa não tão cheia.

Tomamos duas cervejas juiz-foranas durante nossa visita (servidas geladas demais, mas aí é chatice de sommelier). Também existem várias opções de drinks, alguns clássicos, outros criações da casa. São as bebidas alcoólicas e os petiscos que traduzem melhor a vocação e a proposta do Garagem. Mas é claro que isso não serve como desculpa para os erros e problemas nos nossos pratos principais, que, afinal, estão no cardápio. Apesar disso eu fui condescedente, e concluí que voltaria ao Garagem, para beber e comer uns "trem com a mão". Já a Chris não foi tão amigável, e conluiu que não retornaria. Talvez, quem sabe, se ela tivesse comido o tal do arroz canastrinha...      


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 6 e 6
Entrada(2): 7 e 8,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,41 e 7,83  
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Luís de Camões, 74 – São Mateus - Juiz de Fora - Minas Gerais
Telefone: (32) 3231-3476
Facebook: https://www.facebook.com/garagemgastrobarjf/
Instagram: https://www.instagram.com/garagemgastrobar/?hl=pt-br

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mar del Plata (Santos - SP) - 25/08/2017



Estávamos hospedados na praia de José Menino, e rodamos oito quilômetros pela bela orla santista para chegar ao Mar del Plata, que fica na Ponta da Praia. Instalado em meio a prédios residenciais, o restaurante se destaca na paisagem com suas janelas de vidro que deixam entrever seu salão. Em frente, cargueiros gigantes passam pra lá e pra cá no movimentado Porto de Santos. A casa está no mesmo lugar desde 1992, e esses 25 anos serviram para torná-la uma das mais tradicionais mesas da cidade.

Eu adorei o salão, bem iluminado, com os móveis e objetos em tons claros, espelhos em todas as paredes, fazendo o lugar parecer maior do que é, mas sem perder a sensação de intimidade. Para realçar ainda mais essa característica, confortáveis sofás encostados às paredes - onde, claro, nos acomodamos. Chris também gostou, mas não tanto quanto eu. Acho que é tão raro encontrar um salão bem iluminado que me deixei levar pela empolgação. Segundo o site, houve uma grande reforma em 2010, e sete anos depois é incrível como tudo parece novo.

Incrível como parece novo (o lugar, não o rapaz)

Ói nóis lá no espelho lá lonjão, ó lá!

Quase todas as opções de entrada são aquelas porções típicas que se encontra em bons quiosques de praia: isca de peixe, camarão à paulista, marisco ao vinagrete, lula ao alho e óleo, entre outras. Como não tínhamos areia sob nossos pés nem sol sobre nossas cabeças, optamos por algo mais singelo: casquinhas.

Chris escolheu a casquinha de siri especial (R$ 19). Não sabemos o porquê do adjetivo "especial", já que não havia a casquinha "não-especial". Fato é que a Chris achou a casquinha gostosa, com bastante gosto de siri. Outro ponto positivo é que não foram encontrados aqueles pedacinhos da casca do siri, que são bem desagradáveis. Mas ela achou que faltou uma porradinha a mais no tempero.

Uma porradinha cairia bem

Para mim a pedida foi o coquilles del mar (R$ 21), assim meio afrancesado, meio espanholado, mas que nada mais era do que a casquinha com vários frutos do mar (polvo, lula e camarão). Estava bonita, cremosa, saborosa e com todos os ingredientes no ponto certo. Não há muito mais o que pedir de uma casquinha.

Não posso pedir nada mais de você, coquille del mar
  
Sempre critico cardápios muito extensos, porque acho muito difícil que um restaurante possa manter a qualidade e a excelência em uma quantidade muito grande de pratos. No Mar del Plata as opções passam de oitenta, sendo que a maioria, claro, é focada em frutos do mar. Ainda bem que não tivemos que escolher, pois já fomos ao lugar sabendo o que escolheríamos: a meca santista, o prato típico da cidade.

No ano de 2005 um concurso promovido pela prefeitura, em conjunto com a Unisantos (Universidade Católica de Santos), escolheu os ingredientes que mais representam Santos. Deu meca, banana e palmito pupunha na cabeça. A partir dessa eleição o chef Rodrigo Anunciato criou o prato, que traz dois filés de meca, risoto de palmito com cenoura ralada e farofa de banana com bacon. Claro que é mais legal quando um prato espontaneamente se torna a cara de uma cidade ou região, mas acho válida a iniciativa da prefeitura, que certamente é boa para o turismo. Hoje a meca de fato se tornou uma tradição da cidade, e é servida em vários restaurantes.

No restaurante Mar del Plata a versão "inteira" custa R$ 189. Segundo o garçom ela serve até três pessoas, por isso escolhemos a versão "meia" (R$ 158, numa matemática que não faz muito sentido, mesmo se levarmos em conta que restaurantes costumam cobrar 70% do valor nas versões "meia", o que daria R$ 132,30). A refeição vem em uma travessa, que é servida pelo garçom nos pratos dos clientes. Como pedimos a versão reduzida, ganhamos apenas uma camarãozão, que foi dividido em dois. Mesquinharia, né? O peixe estava gostoso, embora pudesse se valer de um pouco mais de sal. Tem consistência bem firme, e quando é cortado chega a parecer um peito de frango. O arroz estava soltinho e saboroso, com o palmito pupunha bem macio. A farofa estava agradável, molhadinha pela presença da banana e também pela gordura do bacon. Mas é inegável que o prato é seco. Falta umidade, que a farofa não é capaz de proporcionar - aliás, muito ao contrário. Talvez se o risoto fosse feito com arroz arbóreo o resultado seria melhor. Mas ao final eu gostei, achei que houve mais qualidades do que defeitos, ao contrário da Chris. 

Tudo tão farto e um camarãozão só, poxa

Dois ícones de Santos: a meca santista e ao fundo as muretas brancas

O ideal seria pularmos esse parágrafo referente às sobremesas, mas não podemos, em nome do bom jornalismo. Dentre as opções disponíveis, perguntamos ao garçom quais eram efetivamente feitas no restaurante. Apenas duas, ele nos disse: o manjar e o pudim de leite (esquecemos de anotar o preço, mas custam em torno de R$ 10 cada). Chris ficou com o manjar, que foi feito com cravo, o que a desagradou bastante. Embora seja até comum o manjar ser feito com cravo, ela achou que a calda estava com gosto excessivo da iguaria, o que atrapalhou a apreciação. Eu fiquei com o pudim de leite que estava, para ser direto, medíocre. Até que veio com bastante calda, mas o pudim em si carecia de doçura.

Não chegou a ser um manjar dos deuses

Como direi? Medíocre

Os garçons, aparentemente, tem bastante tempo de casa. Isso às vezes se reflete em conhecimento do cardápio, jogo de cintura e agilidade. Noutras em um certo relaxamento, como se o jogo já estivesse ganho, ou tivesse perdido a graça. Tanto as qualidades quanto os defeitos de uma brigada antiga estão presentes no serviço do Mar del Plata. O garçom que esteve conosco na maior parte do tempo parecia tão à vontade na sua função que chegava a parecer desinteressado em alguns momentos. Mas não tivemos problemas maiores em relação ao tempo de espera entre os pratos nem demora para sermos atendidos - até porque éramos os únicos comilões durante boa parte da noite.

Imagine pedir um prato unitário, composto de arroz com palmito e cenoura, farofa de banana e bacon, dois filés de peixe e meio camarão por R$ 78. Caro, né? Pois dividindo o valor do prato pra dois, esse é o preço que se paga pela meca santista no Mar del Plata. A relação custo-benefício sai bastante machucada, mesmo sendo a meca um peixe relativamente caro. Talvez estando em três, ou até quatro, e pedindo o prato completo por R$ 189, essa relação pode melhorar. Mas não foi nosso caso. Esse foi o principal motivo de ambos concordarmos que não voltaríamos ao Mar del Plata. Como bons turistas que somos, realizamos nossa "obrigação" de comer o prato símbolo da cidade, e não nos arrependemos. Foi bom enquanto durou, meca santista. Um dia, quem sabe, voltamos a nos encontrar. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6,5 e 8
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 6,5 e 8
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 4
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,33 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. Alm. Saldanha da Gama, 137 - Ponta da Praia - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3261-4253
Site: http://restaurantemardelplata.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantemardelplata/

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Íz (Goiânia - GO) - 14/03/2017


Estávamos decepcionados com a capital de Goiás. Além de já ter poucas atrações turísticas, pegamos dois museus fechados em dias em que deveriam estar abertos. Então a visita ao Íz (que significa "paladar" em húngaro) era a última esperança de redenção para a cidade. O restaurante foi eleito um dos cinco melhores do centro-oeste em 2016, pela revista Prazeres da Mesa, e chegamos lá com as expectativas altas para conferir o trabalho do jovem chef Ian Baiocchi, que abriu seu empreendimento em 2015.

Íz, redima sua cidade ou morra tentando!

Chegamos de carro, e pudemos notar no caminho que o Íz está inserido em um bairro de classe média alta de Goiânia. Instalado em uma rua tranquila, o restaurante tem uma fachada elegante, iluminação baixa e o nome do lugar escrito em luz branca, dando a impressão de que está flutuando no ar. As paredes de vidro permitem ver o ambiente interno, e do lado de dentro elas dão um efeito bacana, como se o restaurante fosse aberto, mas com todo o conforto de um ambiente fechado. As mesas encostadas às paredes contam com sofás. Chris chegou a se sentar em um deles, mas não gostou muito e "se mudou", porque ficavam longe da mesa. Há também um bar com banquinhos, e um ambiente de espera, para os dias mais cheios.



"Acho que vou me mudar, sabe?"


Um vulto passeia na lua cheia

O cardápio começa com os pratos "Para compartilhar", onde estão as entradas e o couvert. Ali já deu para ver que a proposta da casa é uma cozinha moderna, com toques criativos e uso diferenciado dos ingredientes, como pode ser notado no queijo coalho tostado, servido com falso caviar de jabuticaba, melado de cana e pó de manteiga de garrafa (R$ 34). Mas nossa escolha foi ainda mais fora da caixinha: Caprese Molecular (esféricos de burrata, mini croutons de ciabatta, tomate confit, manjericão e balsâmico envelhecido, R$ 38), uma recriação, servida em colher, da famosa salada italiana. Apresentação linda, com oito colheres prontinhas pro crime. Eu adorei os sabores e as texturas, e me deliciei com cada colherada. Chris gostou menos, achou que as esferas de burrata pareciam manteiga, e sentiu que faltou mais tempero. Para ser honesto, também achei que uma pimentinha daria um belo tchans no sabor. Minha cara de pidão não sensibilizou, e Chris comeu as quatro colheres a que tinha direito, mesmo sem ter gostado tanto.

The Taste Goiânia

"Ah, me deixa comer ao menos cinco, vai?"

O cardápio do Íz é do tipo que adoramos: apenas nove opções de pratos principais. Sinal de que existe um filtro para se colocar algo no menu, e bom indício de que qualquer pedido vai ser executado com extremo cuidado. Apesar de pequeno, o menu contempla opções com frutos do mar, carnes bovina, suína e de pato, além de um nhoque. Todos os pratos são individuais, e custam em média R$ 83. A pegada é a mesma das entradas, com opções criativas como o pirarucu a la plancha, servido com paçoca de rabada, purê de banana e tartar de banana-da-terra (R$ 79). No dia de nossa visita também havia outros três pratos disponíveis, que não constavam no cardápio fixo.

Chris escolheu o filé mignon sautée (com manteiga de ervas, mandioquinha gratinada com panceta da casa, aspargos salteados e redução de vinho do Porto, R$ 88). Com o tempo aprendemos uma pegadinha: quando pedimos a carne mal-passada da Chris, não avisamos que é para ela, ou até damos a entender que é para mim. Não sei se foi isso, mas o fato é que o filé veio sangrando, do jeito que ela gosta (e, sim, o garçom achou que era meu). Além desse acerto, Chris adorou a mandioquinha, servida em duas "torres", junto com a panceta. Os aspargos estavam gostosos e torradinhos por baixo. O principal problema do prato era também sua maior qualidade: o molho que se formou, com a manteiga de ervas, a redução de vinho do Porto e o sangue, estava uma delícia. Mas nenhum ingrediente tinha a capacidade de sorver essa maravilha, que acabou ficando no prato. Talvez os aspargos, gostosos mas sem muita função, pudessem ser substituídos por algo com essa característica "sugadora".

"Um pãozinho, tens?"

É bastante raro encontrar cupim como prato principal em restaurantes, por isso eu, que adoro o corte, não poderia deixar de pedir o cupim braseado (com roti de pimenta de cheiro, ratatouille caipira e farofa de limão china, R$ 81). Quando o prato chegou, servido de forma simples e direta, coloquei meu garfo na carne, para cortá-la, e notei que não precisaria da faca. O cupim simplesmente desmanchou ao toque do garfo. Tão importante quanto a textura, o sabor estava incrível. Juntando com a farofa de limão, com o cítrico presente mas discreto, e os legumes bem temperados, trazendo frescor e cor, chegamos a algo da prateleira dos prodígios. E, de forma didática, aqui havia o que faltou no prato da Chris: a farofa para absorver o roti. Ah, o limão china, que estranhei ao ler, é o que conhecemos no Sudeste como limão-cravo. 

Não me contento em ver essa foto, quero mordê-la

Acompanhamos nossa refeição com um vinho malbec argentino Alto las Hormigas 2014 (375ml,  R$ 57). Acabo de pesquisar na internet seu preço, e encontrei por R$ 46. Ao menos o restaurante não quis nos extorquir cobrando o dobro do preço.

Empolgados com nossos pratos principais, resolvemos pedir uma sobremesa para cada, ao invés de escolher uma para dividir como normalmente fazemos. São apenas cinco opções (porque não considero "frutas da estação" como uma sobremesa, tá?)

Chris escolheu a torta fondant, feita com chocolate callebaut 70%, merengue e sorvete de baunilha, caramelo, especiarias e flor de sal (R$ 32). Apresentação bonita, com a louça combinando com as cores da sobremesa. O toque de flor de sal não emocionou a Chris a ponto de ela abstrair o fato de que merengue + chocolate formaram uma combinação doce demais para seu paladar. E nem vou escrever que ela chamou de "petit gateau metido à besta". Ops, escrevi...

Metido a quê, menina?

Eu escolhi a a ambrosia do palácio, acompanhada de sorvete de banana marmelo, mirtilo passa, canela crocante e "coulis secreto" (R$ 34). Apresentação bonita, mas achei o prato muito fundo, dificultou um pouco para comer. Também achei que havia um excesso de informações, com o coulis muito doce anulando um pouco o gosto da ambrosia. Achei interessantes os mirtilos passas, e a falsa canela, que deu uma crocância. Mas mordi com força uma cravo que certamente não deveria estar ali, e prejudicou meu paladar.

Ache o cravo escondido e ganhe um gosto ruim na boca de brinde

Rafael foi o garçom que nos atendeu na maior parte do tempo. Atencioso, com conhecimento do cardápio e muito simpático, embora ligeiramente invasivo em alguns momentos, quando ficava muito perto da mesa esperando nossos pedidos. Sérgio, que parecia ser o maitre, nos apresentou aos pratos que não estavam no cardápio fixo, e se alongou por muito tempo nas descrições, poderia ter sido mais sucinto. Se mostraram atentos quando saímos para a Chris fumar, nos levando um banquinho e um pratinho para ela bater as cinzas. O serviço foi bem ligeiro, com os pratos saindo da cozinha em não mais do que vinte minutos.

Ao fim, minha experiência foi sensivelmente mais satisfatória do que a da Chris, e portanto tivemos opiniões diferentes quanto à uma possível volta ao Íz. Chris achou que o custo-benefício não valeria um retorno. Já eu fiquei encantado com os sabores da entrada e com o maravilhoso cupim, e voltaria ao lugar para provar outros itens do cardápio. Se o restaurante foi a redenção esperada para a capital goiana? Ao menos para um de nós, a resposta pode ser um retumbante "sim".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada(2): 6 e 8
Prato principal(3): 8 e 9
Sobremesa(2): 5,5 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 6,16 e 7,70
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua 1129, 146 (Quadra 237, Lote 30) - Setor Marista - Goiânia - Goiás
Telefone: (62) 3092-5177
Site: http://izrestaurante.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/izrestaurante/?fref=ts