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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Unüm (São José dos Campos - SP) - 19/02/2025

 

    Desde que me formei na faculdade, em 2001, voltei poucas vezes ao bairro Urbanova. Ele mudou bastante. Onde antes havia terrenos e mais terrenos, hoje há condomínios, prédios, casas e comércios diversos. Em algum lugar por ali o jogador Casemiro tem uma casa, o que contribuiu para a fama do bairro de ser um lugar de endinheirados. Longe de fazermos parte dessa classe social, eu e Chris nos aventuramos por lá, para visitar o Unüm Bistrô, que fica em uma rua relativamente tranquila, em um pequeno boulevard com mais alguns outros pontos de comércio.
 
Pela definição da foto se percebe que não são endinheirados

    O lugar é bem pequeno, fazendo jus ao título de bistrô. Existem algumas mesas do lado de fora, embaixo de uma marquise, e mais algumas do lado de dentro. É aconchegante, e  tem uma decoração simples, mas cuidadosa. As mesas tem dois lugares, demonstrando a aptidão do lugar em receber casais. As mesas encostadas na parede tem um sofázinho bem confortável.

O sofázinho confortável ficou pra Chris

A cadeira confortável ma non troppo ficou com o Fê

    Primeiro ponto positivo do serviço: menu físico. Confesso que essa moda de QR Code, sustentabilidade à parte, tem me incomodado. O cardápio físico facilita muito a visualização das opções disponíveis, e sem depender de sinal de internet. Será que é coisa de véio? 

    Entre as entradas, nada de muito inovador, existem opções de brusqueta, carpaccio e aquela que mais nos atraiu, o rolinho de Parma (rúcula, presunto parma, maçã caramelizada, parmesão, crema balsâmico e pesto de manjericão, R$ 72,90 ). A apresentação é um pouco caótica, com os rolinhos todos muito juntos, formando uma massaroca. Também achei absolutamente incompreensível a presença de palitinhos de plástico, nada condizentes com o ambiente, e ainda por cima nada práticos para "palitar" os rolinho e  levá-los à boca. Quanto ao sabor, gostamos, estavam bem delicados, especialmente considerando a força dos ingredientes. A redução de balsâmico talvez tenha dominado um pouco, sentimos falta de mais pesto. Mas havia bastante contraste na boca, o que é sempre interessante.
 
Incompreensíveis, os palitos

    O cardápio traz divisões bem claras para os principais, entre carne bovina, suína, frutos do mar, massas e opções vegetarianas. Me parece bem clara uma certa vocação italiana da cozinha, apesar da alcunha de bistrô. Os pratos são individuais, e os preços variam de R$ 72,90 (lasanha de ragu de mignon ao pomodoro) a R$ 119,90 (arroz colorido de bacalhau com posta)

    Chris escolheu duas coisas que ela ama: risoto e filé mignon. Foi de risoto de parmesão com cubos de mignon e crispy de parma (R$ 99,90). Ela deu uma primeira garfada no risoto, sem mais nada, e disse: "tá com gosto de água". Não que eu precise referendar as coisas que ela diz, mas ela me deu uma garfada, e a impressão é que o risoto não foi feito com caldo, e sim com água mesmo - e sem sal, né? Quase nada de gosto de parmesão. A garfada completa, com o presunto e o mignon, até que dava uma equilibrada nos sabores. Mas seria muito melhor, claro, se o risoto também contribuísse com alguma coisa, sem fazer a fama na aba dos outros, o folgado.
 
O escriba não citou as flores, pô

    Eu fiquei com vontade de vários pratos, mas acabei escolhendo um porquinho, o medalhão suíno com mousse de cabotiá e farofa crocante (farofa com queijo coalho, bacon e castanha de caju e molho de conhaque com laranja, R$ 86,90). Por etapas: purê bem correto, textura macia, bastante sabor da abóbora, adocicado. Farofinha deliciosa, bem crocante, com elementos salgados (queijo coalho, bacon) que contrastavam muito bem com o purê. Medalhões ligeiramente secos, mas macios, fáceis de comer, e saborosos. O molho acabou se perdendo um pouco, senti falta de mais acidez, que ele poderia trazer. Garfada completa muito saborosa e cheia de sensações.

Aqui tem fulô também, o cara nem cita, insensível

    A inclinação italiana da cozinha fica mais clara na seção de sobremesas, que já começa com diversas opções de canolis. Mas também há uma torta de maçã que se assemelha a um apfelstrudel, além do onipresente petit gateau, aqui em versão com doce de leite e coco. Como são quatro opções de canoli, e eles aparecem antes das outras sobremesas, achamos que eram uma especialidade da casa. Foi uma boa escolha. Chris optou pelo de canoli de frutas vermelhas com pistache (R$ 25,90 ). Tivemos, finalmente, a Chris fazendo aquele "hmmm, que delícia", que ainda não tinha rolado no jantar (nem quando ela olhou pra mim). Bonito, crocante, com sabores equilibrados, nada enjoativo. Eu escolhi o canoli de limão siciliano (R$ 19,90 ), e os mesmos adjetivos usados para o canoli da Chris servem também para o meu.
 
Crocante e gostoso!

Gostoso e crocante! That´s what she said...

    O restaurante é pequeno e estava vazio, de modo que tivemos a equipe de atendimento praticamente só para nós. O serviço foi bem correto, com funcionários simpáticos e bom tempo de espera entre os pratos - embora o meu principal tenha chegado um pouco antes do que o da Chris. Pela pequenez do lugar existe aquele problema de, às vezes, o garçom ficar próximo demais - pô, assim a gente nem pode falar mal da comida com liberdade. Fora isso, não temos muito do que nos queixar quanto ao serviço, embora não gostemos muito quando o garçom pergunta, após cada etapa da refeição, se estamos gostando. Mas aí pode ser chatice nossa. Diz aí, você gosta disso?

    Unüm significa "um", ou "único", em latim. E essa é a proposta do restaurante: ser um lugar único. De fato, em se tratando de São José dos Campos, um tipo de restaurante pequeno, com esse cuidado na decoração e apresentação dos pratos, não é tão comum. Os preços não são baratos, mas são condizentes com esse formato de estabelecimento - quando se coloca  "bistrô" no nome parece que é salvo conduto pra cobrar caro. Falando nisso, acho que existe alguma confusão no conceito também, colocando um nome em latim, focando mais em pratos italianos (até aí ok, combina), mas colocando um termo em francês no nome, talvez pra trazer alguma sofisticação, vai saber. Falando nos pratos, existem alguns deslizes, como palitinhos de plástico, e a indesculpável falta de sabor no risoto da Chris. Mas minha experiência, de maneira geral, foi de boa a ótima. Por isso eu voltaria ao Unüm. Já a Chris não foi feliz no prato principal, e não repetiria a visita. Então provavelmente vamos ficar só na visita unüm, não vamos pra duo, tria, quattuor, quinque e o resto dos números em latim.
 
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,33 e 7,5
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Avenida Ironman Victor Garrido, 651|loja 02 - Urbanova - São José dos Campos - SP
Telefone:
(12) 98849-4597
Instagram: @unumbistro

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Insólito Gastrobar (São José dos Campos - SP) - 18/06/2024

 

    Contrário ao costume. Inabitual. Incomum. Extraordinário. Essas são algumas das definições do dicionário para a palavra "insólito". Não parece um nome ruim para um gastrobar, um tipo de empreendimento que não é muito comum em São José dos Campos. A essência de um gastrobar, como o nome indica, é unir um ambiente de bar, mais informal e irreverente, com petiscos e pratos mais elaborados e criativos, que não são comumente encontrados em bares. Foi para essa missão insólita que Chris e eu nos rumamos em uma noite fresca de terça-feira - com a adição luxuosa de meu irmão Carlos, vulgo Cazaugusto, vulgo Boto, que se juntou a nós.
 
Família Vulgo: Vulgo Boto, Vulgo Fê e Vulgo Chris
 
    O cuidado na decoração já chama a atenção do lado de fora, com o belo e criativo logo do bar desenhado em uma parede, ao lado de mesinhas, uma bela árvore e a frase "O incomum em cada detalhe". Do lado de dentro um primeiro salão com o balcão do bar, uma estante com diversas garrafas coloridas, e muito uso de tijolinho à vista, pra dar aquele toque vintage da moda. Também há um corredor lateral, coberto, com algumas mesas. Indo para os fundos do restaurante encontramos mais alguns elementos de decoração antigos, como telefones e televisores, além de uma prateleira cheia de CDs (pois é, CDs já são considerados peças de museu). Para finalizar, uma grande área aberta na parte de trás do restaurante, com diversas mesas de tamanhos e alturas diferentes. Em um cantinho, quase imperceptível, o elemento mais insólito da decoração: um orelhão. Importante lembrar aos fumantes: tanto nas mesinhas da frente como na parte aberta ao fundo é permitido fumar. Chris ficou saltitante com essa informação.

É muito capricho, né não?

Taças, tijolos à vista, garrafas coloridas

Mais um pouco de tijolinhos à vista e o corredor lateral
 
Peças de museu (não o Boto, que é peça de rio)
 
Tem aquecedor, mas só um trouxa foi de camiseta curta

Um orelhão é insólito o suficiente pra você?

    Como se trata de um gastrobar, convém escrever brevemente sobre as bebelanças disponíveis no local. De cerveja eles estão muito bem servidos, já que trabalham com toda a linha de chopp da Cervejaria Bamberg (que é boa pacacete). Para os drinks são diversas opções, quase todas clássicas, não existem muitas invenções (algo que eu acho que poderia ser melhor trabalhado). A casa tem parceria com os Alquimistas da Serra, uma destilaria artesanal de São Francisco Xavier. Segundo nos foi informado, em breve eles vão começar a fazer as destilações no próprio local. Durante nossa estada tomamos alguns chopps (média de R$ 14 o de 300ml e R$ 19 o de 500ml), um Bloody Mary (bonito, gostoso e picante, R$ 30) e um drink sem álcool chamado Manguito Sour (bem refrescante, com diversas frutas e espuma de gengibre, R$ 23).

"Bonito, gostoso e picante" (that´s what she said)

O roxinho são gotas da flor Clitorea Ternatea (serião memo)

Pessoas iluminadas

    Como é de se esperar em um gastrobar, o cardápio é bem curto. A maior parte das opções fica na seção "Entradas e Petiscos", recheada de coisas bem apetitosas. Não há nada assim muuuito insólito, mas existem algumas coisas não tão comuns, como o "Cocktail de camarão" (R$ 49) e o "Bolinho de abóbora kabocha com gorgonzola e molho de laranja e mel" (5 unidades, R$ 28). Optamos por escolher três entradas diferentes, para dividirmos entre nós (as notas finais são uma média de nossa apreciação das três). 

    Nossas escolhas foram: pastel de camarão com molho vinagrete (4 unidades, R$ 34), bolinho de bacalhau com geléia de abacaxi com pimenta (6 unidades, R$ 36) e o ceviche havaiano (tilápia marinada na vodka aromatizada com mix de limões, manga e especiarias, R$ 32). Todas as porções são muito bem servidas e condizentes com o preço. Pastéis muito bem recheados (tipo uns 10 camarões dentro de cada), com massa bem crocante e o vinagrete ajudando a elevar o sabor - mas o recheio poderia ser mais cremoso, com algo para "unir" os camarões. Os bolinhos de bacalhau estavam gostosos, embora eu tenha achado que faltou um pouco de bacalhau no recheio. Mas a massa tava bem crocante por fora (uns dois vieram um pouco queimadinhos), com o recheio bem cremoso por dentro. Achei a geléia de pimenta um tanto sem graça, faltou picância. O ceviche havaiano estava bem refrescante, muito saboroso, com acidez na medida, e acho que foi o preferido de todos.

Um chopps e quatro pastel

Bolinho de bacalhau pra quem não gosta muito de bacalhau

É um belo bocado de ceviche

    Fora da seção de "Entradas e Petiscos" temos saladas, pratos principais, caldinhos, vegetarianos e alguns hambúrgueres. Entre os pratos principais são seis opções, e acho que é onde reside o principal problema do Insólito: nada faz jus ao nome do lugar ou ao que se espera de um gastrobar. São opções bastante comuns, clichês mesmo, sem nada de insólitas.

    Chris escolheu o Filé Insólito (risoto de cogumelos, filé mignon e molho rôti, R$ 77). Apresentação bonita, com o filé no meio do prato, sobre o risoto, com o molho bem escuro por cima. Já perdi a conta de quantas vezes escrevi isso aqui no blog desde 2014, mas vamos lá de novo: o ponto da carne da Chris veio errado. Ela pediu mal passado e veio ao ponto. Mas ela comeu todo o filé com o molho. O grande problema estava no risoto, que ficou quase todo no prato. Estava com um sabor forte de álcool e muita acidez. Provavelmente usaram muito vinho, ou não deixaram o vinho evaporar. Um desastre.

A viola estava bela, mas o pão...

    Eu mandei ver um Medalhão do Chef (filé mignon com batata bolinha, tomate confit, alecrim e arroz de amêndoas, R$ 75). Coloquei nos parênteses a descrição do cardápio, mas as amêndoas ficaram nas amendoeiras, não chegaram ao prato. Em termos estéticos não tava lá muito bonito, um tanto amontoado. O meu filé veio ao ponto, que foi o ponto que eu pedi mesmo. Batatinhas ok (um pouco salgadas), tomate razoável, arroz legal. Uma boa comida, mas longe de valer os setenta e cinco mangos cobrados.

As amêndoas não vieram, e quem veio não disse a que veio

    Meu irmão estava lá pra comer, beber e se divertir, sem analisar porra nenhuma, como ele mesmo disse. Mas ele mandou dizer que o risoto de camarão tava bom, mas ele faria melhor, e que a couve crispy não tava crispyzada, tava xoxa. 
 
Ninguém há de reclamar da falta de camarões
 
    São apenas três opções de sobremesa, todas clássicas, mas com um toque diferente. A gente queria o Choco Gin (mousse de chocolate meio amargo e gin envelhecido, R$ 22), mas estava em falta. Ficamos com o Papaya Dream (creme de papaya com vermute artesanal, R$ 22). O creme tava quase no ponto de sorvete, e tava bem sem gracinha. As sobremesas são outro quesito em que o Insólito tem que dar uma "insolitada", não adianta só colocar um vermute artesanal numa sobremesa clássica e achar que tá resolvido. Inclusive a sobremesa funciona melhor com o clássico licor de cassis do que com o vermute.
 
Nhé

    O restaurante estava bem vazio, só havia mais uma mesa ocupada. O serviço todo foi feito por apenas um garçom. No quesito simpatia a nota é dez com louvor. Conversador, risonho, conhecedor do cardápio, falou até de assuntos alheios ao restaurante. Mas por vezes dava uma sumida, e também demorava um pouco para retirar os pratos em cada etapa da refeição. Outro problema do serviço, esse sem relação com o garçom, é que os pratos principais demoraram um pouco além do razoável para chegarem.

    Importante deixar claro uma coisa: nós queremos vida longa ao Insólito. São José carece de mais lugares como esse, que tentam fazer alguma coisa diferente, anormal, incomum, extraordinária. Mas não é fácil chegar a esses adjetivos. Com pouco mais de três meses de vida, acho que o Insólito ainda está tateando sua verdadeira vocação. Em nossa humilde opinião, para continuar como um gastrobar, ou seja, um lugar onde se pode fazer uma refeição completa, é preciso melhorar as opções e as preparações dos pratos principais e das sobremesas. Porque os diversos ambientes, o atendimento descolado, a decoração criativa, os petiscos gostosos e as boas bebidas certamente nos fariam voltar novamente ao lugar. Mas para uma noite de bar. Não de gastrobar.     

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 9
Serviço(2): 6,5 e 6,5
Entrada (2): 8 e 7,5
Prato principal(3): 4 e 5
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 5,91 e 6,41
Voltaria?: Sim e sim (pra botecar!)

Serviço:

Av. Anchieta, 149 - Jardim Nova America - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 99783-4244
Instagram: @insolito.br

quinta-feira, 21 de março de 2024

Ollivia Gastronomia (Poços de Caldas - MG) - 17/03/2024

 

    Poços de Caldas. Terra onde meus avós maternos passaram a lua de mel, lá no começo dos anos 1950. Eu e Chris não fomos exatamente passar a lua de mel, mas certamente cada viagem que fazemos serve para renovar o nosso amor (ganhei pontos agora, hein?). Ao fazer as pesquisas para saber onde faríamos um jantar para colocar aqui no blog, não teve como escapar do Ollivia Gastronomia, um dos mais tradicionais da cidade, e para onde nos rumamos em um domingo à noite - dia da semana em que, ao menos aqui em São José dos Campos, não é comum os restaurantes abrirem para o jantar.

Sempre renovando nossos votos

    O restaurante fica em uma das principais avenidas da cidade, muito movimentada. Passamos em frente a ele, e não vimos lugar para estacionar. Aí demos a volta no quarteirão e passamos em frente de novo, dessa vez mais devagar. Descobrimos que o pessoal para na calçada mesmo, tem até plaquinha solicitando que o motorista deixe espaço para os pedestres. A fachada é bem discreta, com o nome do restaurante meio escondido no meio das árvores. A entrada do salão principal chama a atenção pelo aspecto rústico-chique e pelos enormes barris de vinho que servem de decoração. Do lado de fora, mas também coberto, várias mesas ao lado do jardim, com decoração caprichada (nos sentamos ao lado de uma carroça de madeira) e belos quadros na parede. Ainda havia outro ambiente fechado, ainda mais distante daquele salão principal, e uma outra área ao ar livre, dessa vez sem cobertura, que deve funcionar mais às sextas e sábados, como um bar (foi ali que a Chris deu suas pitadas no cigarro). Ufa! É grande mesmo. Cabe bastante gente, mas em um domingo à noite tava mais pra vazio do que pra cheio.

A Chris chegando no ambiente é tão linda quanto...

...a Chris saindo do ambiente

Ajeitadin dimais, né mieso?

Distantes demais das capitais - e dos garçons

    Em geral só falo sobre o serviço mais pro final do texto. Mas sabe aquela coisa de já tirarmos a coisa ruim da frente, pra ficar depois só com a parte boa? Pois é. O serviço foi certamente a pior parte da noite. Ao chegarmos fomos apresentados ao restaurante por uma recepcionista, que nos mostrou os diversos ambientes. Escolhemos a parte externa para ficar mais fácil da Chris ir fumar, e nos sentamos. Papo vai, papo vem, papo vai e volta de novo, e nada de um cardápio chegar à mesa. Não cronometrei, mas acho que esperei uns dez minutos pra me levantar e ir eu mesmo buscar o cardápio. E durante toda a noite foi um sacrifício conseguir a atenção dos poucos garçons. A questão nos pareceu óbvia: é muito tamanho pra pouco funcionário. Aos domingos poderiam fechar parte dos ambientes, como já vimos acontecer em outros lugares. Outro problema: nossos pratos principais chegaram em um momento em que não estávamos sentados. Aí foram nos chamar, e quando chegamos à mesa estavam lá nossos pratos, mas nada de talheres. Toca esperar de novo pra eles serem trazidos. Pontos positivos: tempo de espera para entrega dos pratos foi dentro do normal e a garçonete demonstrou bom conhecimento do cardápio. Mais um detalhe: ao final a famosa "gorjeta espontânea" foi de 12%, e não dos tradicionais 10%.

    O foco do cardápio é em "cozinha italiana e contemporânea com um toque mineiro", como informa um texto logo na primeira página. São seis opções de entrada, dezoito de pratos principais e mais seis sobremesas. São muitas opções de ingredientes e proteínas, passando por berinjela, panceta, abóbora cabotiá, bacalhau, cordeiro, queijo canastra, pinhão, enfim, tem para todos os gostos, com descrições bem apetitosas. Os pratos principais são individuais, e partem de R$ 87 (pappardelle com linguiça) , podendo chegar a R$ 137 (cordeiro com aspargos).

    Principiamos a comilança com o Arancini (bolinhos "queijudos" de risoto ao pomodori recheados com muçarela e manjericão fresco, acompanhados de molho aioli, R$ 48). Vieram quatro bolinhos, que estavam bem crocantes por fora e cremosos por dentro. Não tinham grande intensidade de sabor. O molho pomodori veio por baixo dos arancinis, e o aioli por cima, mas ambos em pouca quantidade - uma pena, pois estavam muito bons e levantavam o prato. Chris também sentiu muito a falta do manjericão, que estava na descrição mas praticamente não deu as caras, o metido.
 
O endro, ou algum parente, veio, mas o manjericão ficou em casa

    Sem demorar muito, Chris escolheu para o principal o Mignon ao Melaço de Cana (medalhão de filé mignon finalizado no melaço de cana sobre cama de risoto de queijo coalho, R$ 127). Tem uma frase que eu já escrevi em tantos textos aqui nesse blog, que é só copiar e colar: Chris pediu o filé mal passado e ele veio no ponto errado. Dessa vez tentamos esconder de quem era o pedido, porque em geral quando é para homem eles fazem mesmo mal passado, mas não teve jeito. Veio ao ponto para bem passado. Mas estava saborosa, e tinha aqueles queimadinhos da frigideira, estava bonita (embora nosso foto não esteja muito boa, pedimos escusas). O risoto estava bom, com o melaço bem presente fazendo uma bela e contrastante tabelinha com o salgado do queijo coalho. Chris achou a proporção perfeita, mas o arroz passou um tiquinho do ponto.

Amore Scusamiiiii pela foto maizomenu

    Eu titubeei (palavra estranha, mas fui pesquisar e é assim mesmo que conjuga o trem), mas acabei escolhendo o Arroz com Suã e Goiaba (suã sobre cama de arroz de cebola bruleé e demi glace de goiaba com vinho branco da casa, R$ 89). O suã é um pedaço do porco que eu nunca tinha comido. Não sei se é culpa do Ollivia, mas não achei o bicho muito bonito de feição - será que dava pra miorar um cadinho? Mas a carne estava bem macia, e é bem saborosa, lembrando costela de porco (o corte fica entre a costela e o lombo). O arroz de cebola bruleé era um risoto, com sabor bem agradável de cebola, ligeiramente adocicado (mas o arroz também passou um cadinho do ponto). O demi glace veio num recipiente à parte, e estava muito líquido, poderia ser um pouco mais viscoso para "grudar" melhor na carne - o sabor era bom, uma mistura de molho de carne com tomate e leve acidez, mas a goiaba não foi encontrada. Foi engraçado: acabamos de comer e sobrou um pouco do demi glace, então eu e Chris ficamos provando, pingando o molho no garfo, pondo na boca, fechando os olhinhos, tentando achar a goiaba. Não achamos. 

Aqui o fotógrafo deixou o molho fora do quadro. Tsc tsc.

    Entre as seis sobremesas disponíveis, Chris descartou duas e me deixou escolher entre as outras quatro, magnânima que é. Eu escolhi a Esfera Romeu & Julieta, romântico que sou (panacota de queijo minas sobre cama de crumble amanteigado e finalizado na mesa com goiabada de tacho cremosa, R$ 52) (não sei se as regras gramaticais permitem abrir parênteses depois de outros parênteses, mas agora já estão abertos, apenas para comentar sobre como o Ollivia gosta da expressão "sobre cama de", apareceu três vezes nos quatro pratos que comemos). Pela descrição do prato, especialmente pelo conhecimento que tenho da palavra esfera, achei que viria isso mesmo, uma esfera, com todos esses sabores encapsulados, que explodiriam na boca. Mas veio uma panacota de textura bem firme e sabor neutro, lembrando mesmo um queijo minas fresco, "sobre cama de" um crumble bastante amanteigado, um pouco enjoativo, e com a goiabada servida por cima deles, à nossa frente. Cadê a esfera, meu pai? Outro problema foi que o garçom colocou um tanto da goiabada, aí perguntou se gostávamos de goiabada, e quando a Chris respondeu um enfático "sim", ele entendeu que era pra terminar de servir a goiabada por cima. E serviu, de modo que ela acabou dominando tudo. Por sorte, era muito boa. E o todo não foi ruim.

Na próxima chamaremos o Sebastião Salgado pras fotos

    Talvez seja uma erro nosso, mas o fato é que quando vamos a um restaurante, eu e Chris deixamos a coisa acontecer como tiver que ser. De modo que não somos de ficar pedindo pra refazer pratos, ou pra não pagar taxa de serviço, essas coisas. No Ollivia havia uma moça tocando violão e cantando. O pouco que eu pude ouvir quando cheguei, era bom. Mas do lado de fora também havia um som mecânico, que por vezes era mais alto do que o som ao vivo, porque estávamos distantes da artista. Ainda assim, veio cobrado na conta final os vinte reais por pessoa do couvert artístico - que pagamos sem reclamar, por isso a explicação anterior. Coisas pequenas como essa, aliadas ao serviço sofrível e à carne no ponto errado nos fizeram concluir que não voltaríamos ao Ollivia Gastronomia - embora eu tenha ficado com vontade de provar outros pratos do menu. Já Poços de Caldas, a cidade, pode ser que nos veja de novo: Seu Genésio e Dona Lucy, meus avós, fizeram uma ótima escolha de destino de lua de mel.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8,5
Serviço(2): 5,5 e 5,5
Entrada (2): 7 e 6,5
Prato principal (3): 6 e 7
Sobremesa (2): 6 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 5,5
Média: 6,16 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. João Pinheiro, 1135 - Centro - Poços de Caldas - Minas Gerais
Telefone:  (35) 3712-8077
Instagram: @olliviagastronomia
Facebook: @olliviagastronomia

quinta-feira, 2 de março de 2023

Le Quintal (São José dos Campos - SP) - 24/02/2023

 


Na sexta-feira passada fomos jantar no quintal da casa de um casal que nunca tínhamos visto na vida. Sim, é possível descrever dessa maneira a sensação de visitar pela primeira vez o Le Quintal. Trata-se de um restaurante muito distante do convencional. Só funciona nas noites de sexta e sábado, sob reserva. O menu de cinco etapas é divulgado na segunda-feira, nas redes sociais. E o mais curioso: o serviço é feito nos fundos de uma residência, sem nenhuma placa ou indicativo de que se trata de um restaurante.

"Boa noite, podemos rangar aí no quintal?"

Claro que não é um quintal qualquer. A decoração é toda trabalhada, com muitos detalhes por todos os lados: objetos de palha, móveis de madeira, cortinas com estampas floridas, garrafas de vinho, lustres, flores e mais uma infinidade de coisas. Segunda a proprietária, tudo aquilo foi sendo construído com o tempo, com outras pessoas trazendo uma coisinha aqui, outra ali, para formar um mosaico bem interessante. Existem mesas de diversos tamanhos, para acomodar casais ou grupos maiores. Embora exista uma pequena parte aberta, a maioria do quintal é coberta, o que deve permitir o serviço mesmo em dias de chuva. A cozinha é aberta, sendo possível observar todo o trabalho dos cozinheiros, além de sentir os aromas das comidas antes que elas cheguem à mesa - o que é bem instigante para o paladar.

Chris embelezando ainda mais o ambiente

Fê embesteando um pouco o ambiente

Um lustre florido, no detalhe pra você

Um arranjo de vinho e rolhas

Garrafa de vinho: muito melhor que passarinho!

(vou fazer um aparte sobre o nome do estabelecimento. No Instagram, a rede social mais usada por eles, a arroba é "lequintalbistro". Acho o nome perfeito: tem uma gracinha ali com o idioma francês, que condiz com o clima descontraído da casa, além de usar o título de bistrô, que originalmente na França se referia a restaurantes menores, mais intimistas. O problema é que eles também usam, em alguns materiais de divulgação, o nome Le Quintal VIP Gourmet Club - e este também é o nome que aparece na pesquisa do Google. E aí, confesso, é um nome que quase me afastou do restaurante, porque sugere alguma sofisticação, elitização e frescurização que, definitivamente, não é o que encontramos na casa. Convenhamos que as palavras "VIP", "gourmet" e "club" não significam absolutamente nada - e, pior, dão uma ideia errada do lugar)

Antes de falar sobre a comidança, um detalhe importante: o Le Quintal não cobra rolha. Isso significa que as pessoas podem levar seus próprios vinhos de casa. Isso melhora bastante o custo-benefício. Se for em dois beberrões, nossa sugestão é levar duas garrafas de vinho, já que o serviço todo demora mais de três horas (slow food, baby!). Nós levamos só uma, e nos arrependemos. Mas, caso necessário, existe uma adega com vinhos no local, além de outras bebidas, cobradas à parte. O valor do menu de cinco etapas é de R$ 149,99 por pessoa.

A festa começou com o couvert. Pequenos pães de fabricação própria, quentinhos, acompanhados de caponata de berinjela (legalzinha), pasta de ervas (bem saborosa, feita com maionese, mas bem leve) e manteiga com mel e flor de sal (uma delícia). Essa última, inclusive, pode ser levada para casa (pagando, claro, e não é lá muito barato: R$ 15 por 50g). 

Pela ordi: caponata, manteiga e pasta. Ao fundo, os pães, por óbvio

A festa continuou com a entrada, um palmito imperial grelhado com mix de folhas e ervas, acompanhado de molho pesto. Apresentação muito xuxu, com o palmito e as folhas parecendo uma árvore. Claro que o ogro aqui não percebeu na hora, foi a Chris que chamou minha atenção para a arte no prato. Mas não me passou despercebida a textura maravilhosa do palmito, derretendo na boca, e o molho pesto bem saboroso, com pedacinhos de queijo parmesão.

Não é dado aos ogros perceber a sutileza

A terceira etapa do banquete foi o risoto de limão siciliano coroado por queijo grana padano. Eu faço esse prato de maneira bem regular, e a Chris disse que o meu é melhor - mas existe a possibilidade de ela estar sendo enganada pelo poder do amor. Eu, que sou menos suspeito, achei o risoto muito aromático, e com sabor bem intenso do limão. Talvez um toque a mais de sal e pimenta, aquele famoso punch, caísse bem. 

Sem o poder do amor não é a mesma coisa

Calma que a festa ainda não acabou. Na quarta etapa tivemos o filé alto ao molho de mostarda, escoltado por legumes grelhados. Aqui houve um pequeno problema, porque os legumes chegaram um pouco frios. Mas estavam gostosos e com textura boa (acho que o tomate poderia estar mais chamuscadinho). O filé estava muito bem temperado, e o ponto veio correto (o meu ao ponto e o da Chris mal passado). Molho de mostarda muito bom, nada agressivo, combinando tanto com o filé quanto com os legumes.
 
Aliando boniteza com sabor
 
Para finalizar o refestelo, tivemos o cheesecake com calda quente de goiabada cascão. Aqui mais um pequeno problema de temperatura, já que a calda não estava quente, e não fez contraste com o cheesecake, que estava bem gelado. No entanto, em relação aos sabores, ambos gostamos bastante do equilibrio entre o salgado e o doce.

Eles são muito bons de desenhinhos, não é mesmo?
 
Em relação ao serviço, importante começar falando sobre o processo de reserva. Em nossa experiência, foi bastante tranquilo: uma mensagem de Whatsapp, rapidamente respondida, e pronto, nossa reserva estava feita. A orientação é chegar a partir das 20:30. Nós chegamos alguns minutinhos antes disso, mas já fomos atendidos, e já havia um casal lá dentro. A entrada na casa é feita por um corredor lateral, que leva até o quintal, ao fundo. O atendimento é feito por dois jovens garçons, ambos eficientes e simpáticos. . Além disso, os proprietários passam em todas as mesas, conversando, fazendo algumas brincadeiras e falando sobre os pratos. É algo bastante pessoal, e diferente do usual. A água é cortesia, e a garrafa é reposta sempre que chega ao fim. Se podemos fazer duas pequenas críticas, são estas: não nos foram apresentadas as outras opções de bebida além da água - e do vinho que levamos; não perguntaram o ponto desejado da carne. Chris é que, antes de prepararem, chamou o garçom e disse que queria a dela mal passada. Pelo que entendemos, o padrão é fazer a carne ao ponto. Portanto, caso queira sangue, peça!

Em relação ao tempo de entrega dos pratos, é preciso ter em mente que a proposta é de slow food levada ao paroxismo. Talvez a comunicação do restaurante devesse ser mais clara em relação a isso no momento da reserva. Chegamos às 20:30 e saímos perto da meia-noite. Para nós não houve problema, foram três horas e meia bastante agradáveis, mas entendemos que há pessoas que podem se incomodar. Em nossa visita, a maior demora se deu entre o primeiro e o segundo prato - creio que demorou perto de uma hora entre um e outro. Existe um pouco de flexibilidade em relação aos couverts, que são servidos à medida que as pessoas vão chegando, mas a partir da entrada, todos os pratos saem da cozinha ao mesmo tempo. É compreensível, já que não se trata de uma cozinha industrial cheia de funcionários, então os pratos são todos montados e servidos juntos (talvez por isso haja alguns problemas de temperatura eventuais).

 
Linha de produção das boas

A família Le Quintal, fazendo o que sabe

Em algum momento de nossa refeição, Chris chegou a dizer que iria dar nota dez em todos os quesitos (acho que ela estava empolgada com o carnaval). Depois ela acabou por fazer algumas modulações. Mas o fato é que a experiência de jantar no Le Quintal é das melhores que tivemos aqui em São José. É comida muito bem apresentada, com ótimos ingredientes e muito bem temperada - além do atendimento intimista e eficiente. Em relação às receitas, o Le Quintal não tem foco na criatividade, não tenta recriar a roda, nem usa técnicas mirabolantes, mas faz muito bem feito aquilo que se propõe. Além disso, pelo fato de não cobrar rolha nem os 10% de serviço, acaba tendo um custo-benefício, se não maravilhoso, ao menos satisfatório. Por tudo isso, eu e Chris concordamos que faríamos uma segunda visita ao Le Quintal. E desta vez não estaríamos mais comendo no quintal da casa de dois completos desconhecidos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
 
Ambiente (2): 7 e 8
Serviço (2): 9 e 9
Couvert (1): 7 e 7
Entrada (2): 9,5 e 8
Prato principal 1 (3): 7,5 e 7
Prato principal 2 (3): 9 e 8
Sobremesa (2): 7 e 7
Custo-benefício (1): 8 e 8
Média: 8,09 e 7,75
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
 
R. Francisco Bráulio Filho, 90 - Jardim das Industrias - São José dos Campos - SP
Telefone:(12) 98119-6311 (Whatsapp para reservas)
Instagram: @lequintalbistro