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quinta-feira, 21 de março de 2024

Ollivia Gastronomia (Poços de Caldas - MG) - 17/03/2024

 

    Poços de Caldas. Terra onde meus avós maternos passaram a lua de mel, lá no começo dos anos 1950. Eu e Chris não fomos exatamente passar a lua de mel, mas certamente cada viagem que fazemos serve para renovar o nosso amor (ganhei pontos agora, hein?). Ao fazer as pesquisas para saber onde faríamos um jantar para colocar aqui no blog, não teve como escapar do Ollivia Gastronomia, um dos mais tradicionais da cidade, e para onde nos rumamos em um domingo à noite - dia da semana em que, ao menos aqui em São José dos Campos, não é comum os restaurantes abrirem para o jantar.

Sempre renovando nossos votos

    O restaurante fica em uma das principais avenidas da cidade, muito movimentada. Passamos em frente a ele, e não vimos lugar para estacionar. Aí demos a volta no quarteirão e passamos em frente de novo, dessa vez mais devagar. Descobrimos que o pessoal para na calçada mesmo, tem até plaquinha solicitando que o motorista deixe espaço para os pedestres. A fachada é bem discreta, com o nome do restaurante meio escondido no meio das árvores. A entrada do salão principal chama a atenção pelo aspecto rústico-chique e pelos enormes barris de vinho que servem de decoração. Do lado de fora, mas também coberto, várias mesas ao lado do jardim, com decoração caprichada (nos sentamos ao lado de uma carroça de madeira) e belos quadros na parede. Ainda havia outro ambiente fechado, ainda mais distante daquele salão principal, e uma outra área ao ar livre, dessa vez sem cobertura, que deve funcionar mais às sextas e sábados, como um bar (foi ali que a Chris deu suas pitadas no cigarro). Ufa! É grande mesmo. Cabe bastante gente, mas em um domingo à noite tava mais pra vazio do que pra cheio.

A Chris chegando no ambiente é tão linda quanto...

...a Chris saindo do ambiente

Ajeitadin dimais, né mieso?

Distantes demais das capitais - e dos garçons

    Em geral só falo sobre o serviço mais pro final do texto. Mas sabe aquela coisa de já tirarmos a coisa ruim da frente, pra ficar depois só com a parte boa? Pois é. O serviço foi certamente a pior parte da noite. Ao chegarmos fomos apresentados ao restaurante por uma recepcionista, que nos mostrou os diversos ambientes. Escolhemos a parte externa para ficar mais fácil da Chris ir fumar, e nos sentamos. Papo vai, papo vem, papo vai e volta de novo, e nada de um cardápio chegar à mesa. Não cronometrei, mas acho que esperei uns dez minutos pra me levantar e ir eu mesmo buscar o cardápio. E durante toda a noite foi um sacrifício conseguir a atenção dos poucos garçons. A questão nos pareceu óbvia: é muito tamanho pra pouco funcionário. Aos domingos poderiam fechar parte dos ambientes, como já vimos acontecer em outros lugares. Outro problema: nossos pratos principais chegaram em um momento em que não estávamos sentados. Aí foram nos chamar, e quando chegamos à mesa estavam lá nossos pratos, mas nada de talheres. Toca esperar de novo pra eles serem trazidos. Pontos positivos: tempo de espera para entrega dos pratos foi dentro do normal e a garçonete demonstrou bom conhecimento do cardápio. Mais um detalhe: ao final a famosa "gorjeta espontânea" foi de 12%, e não dos tradicionais 10%.

    O foco do cardápio é em "cozinha italiana e contemporânea com um toque mineiro", como informa um texto logo na primeira página. São seis opções de entrada, dezoito de pratos principais e mais seis sobremesas. São muitas opções de ingredientes e proteínas, passando por berinjela, panceta, abóbora cabotiá, bacalhau, cordeiro, queijo canastra, pinhão, enfim, tem para todos os gostos, com descrições bem apetitosas. Os pratos principais são individuais, e partem de R$ 87 (pappardelle com linguiça) , podendo chegar a R$ 137 (cordeiro com aspargos).

    Principiamos a comilança com o Arancini (bolinhos "queijudos" de risoto ao pomodori recheados com muçarela e manjericão fresco, acompanhados de molho aioli, R$ 48). Vieram quatro bolinhos, que estavam bem crocantes por fora e cremosos por dentro. Não tinham grande intensidade de sabor. O molho pomodori veio por baixo dos arancinis, e o aioli por cima, mas ambos em pouca quantidade - uma pena, pois estavam muito bons e levantavam o prato. Chris também sentiu muito a falta do manjericão, que estava na descrição mas praticamente não deu as caras, o metido.
 
O endro, ou algum parente, veio, mas o manjericão ficou em casa

    Sem demorar muito, Chris escolheu para o principal o Mignon ao Melaço de Cana (medalhão de filé mignon finalizado no melaço de cana sobre cama de risoto de queijo coalho, R$ 127). Tem uma frase que eu já escrevi em tantos textos aqui nesse blog, que é só copiar e colar: Chris pediu o filé mal passado e ele veio no ponto errado. Dessa vez tentamos esconder de quem era o pedido, porque em geral quando é para homem eles fazem mesmo mal passado, mas não teve jeito. Veio ao ponto para bem passado. Mas estava saborosa, e tinha aqueles queimadinhos da frigideira, estava bonita (embora nosso foto não esteja muito boa, pedimos escusas). O risoto estava bom, com o melaço bem presente fazendo uma bela e contrastante tabelinha com o salgado do queijo coalho. Chris achou a proporção perfeita, mas o arroz passou um tiquinho do ponto.

Amore Scusamiiiii pela foto maizomenu

    Eu titubeei (palavra estranha, mas fui pesquisar e é assim mesmo que conjuga o trem), mas acabei escolhendo o Arroz com Suã e Goiaba (suã sobre cama de arroz de cebola bruleé e demi glace de goiaba com vinho branco da casa, R$ 89). O suã é um pedaço do porco que eu nunca tinha comido. Não sei se é culpa do Ollivia, mas não achei o bicho muito bonito de feição - será que dava pra miorar um cadinho? Mas a carne estava bem macia, e é bem saborosa, lembrando costela de porco (o corte fica entre a costela e o lombo). O arroz de cebola bruleé era um risoto, com sabor bem agradável de cebola, ligeiramente adocicado (mas o arroz também passou um cadinho do ponto). O demi glace veio num recipiente à parte, e estava muito líquido, poderia ser um pouco mais viscoso para "grudar" melhor na carne - o sabor era bom, uma mistura de molho de carne com tomate e leve acidez, mas a goiaba não foi encontrada. Foi engraçado: acabamos de comer e sobrou um pouco do demi glace, então eu e Chris ficamos provando, pingando o molho no garfo, pondo na boca, fechando os olhinhos, tentando achar a goiaba. Não achamos. 

Aqui o fotógrafo deixou o molho fora do quadro. Tsc tsc.

    Entre as seis sobremesas disponíveis, Chris descartou duas e me deixou escolher entre as outras quatro, magnânima que é. Eu escolhi a Esfera Romeu & Julieta, romântico que sou (panacota de queijo minas sobre cama de crumble amanteigado e finalizado na mesa com goiabada de tacho cremosa, R$ 52) (não sei se as regras gramaticais permitem abrir parênteses depois de outros parênteses, mas agora já estão abertos, apenas para comentar sobre como o Ollivia gosta da expressão "sobre cama de", apareceu três vezes nos quatro pratos que comemos). Pela descrição do prato, especialmente pelo conhecimento que tenho da palavra esfera, achei que viria isso mesmo, uma esfera, com todos esses sabores encapsulados, que explodiriam na boca. Mas veio uma panacota de textura bem firme e sabor neutro, lembrando mesmo um queijo minas fresco, "sobre cama de" um crumble bastante amanteigado, um pouco enjoativo, e com a goiabada servida por cima deles, à nossa frente. Cadê a esfera, meu pai? Outro problema foi que o garçom colocou um tanto da goiabada, aí perguntou se gostávamos de goiabada, e quando a Chris respondeu um enfático "sim", ele entendeu que era pra terminar de servir a goiabada por cima. E serviu, de modo que ela acabou dominando tudo. Por sorte, era muito boa. E o todo não foi ruim.

Na próxima chamaremos o Sebastião Salgado pras fotos

    Talvez seja uma erro nosso, mas o fato é que quando vamos a um restaurante, eu e Chris deixamos a coisa acontecer como tiver que ser. De modo que não somos de ficar pedindo pra refazer pratos, ou pra não pagar taxa de serviço, essas coisas. No Ollivia havia uma moça tocando violão e cantando. O pouco que eu pude ouvir quando cheguei, era bom. Mas do lado de fora também havia um som mecânico, que por vezes era mais alto do que o som ao vivo, porque estávamos distantes da artista. Ainda assim, veio cobrado na conta final os vinte reais por pessoa do couvert artístico - que pagamos sem reclamar, por isso a explicação anterior. Coisas pequenas como essa, aliadas ao serviço sofrível e à carne no ponto errado nos fizeram concluir que não voltaríamos ao Ollivia Gastronomia - embora eu tenha ficado com vontade de provar outros pratos do menu. Já Poços de Caldas, a cidade, pode ser que nos veja de novo: Seu Genésio e Dona Lucy, meus avós, fizeram uma ótima escolha de destino de lua de mel.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8,5
Serviço(2): 5,5 e 5,5
Entrada (2): 7 e 6,5
Prato principal (3): 6 e 7
Sobremesa (2): 6 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 5,5
Média: 6,16 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. João Pinheiro, 1135 - Centro - Poços de Caldas - Minas Gerais
Telefone:  (35) 3712-8077
Instagram: @olliviagastronomia
Facebook: @olliviagastronomia

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Auá Gastronomia (São José dos Campos - SP) - 04/09/2018


Auá significa "gente" em tupi-guarani. Eu não precisei pesquisar essa informação, porque ela está lá, na primeira página do cardápio do restaurante, em um texto assinado pelo chef Gabriel Spaziani. No texto ele também conta um pouco de seu currículo, com passagem por restaurantes importantes, e fala da proposta da casa: mesclar os alimentos de nossa terra com aqueles trazidos pelas outras "tribos" (leia-se imigrantes) que vieram ao Brasil. A proposta parecia bem promissora.

Proposta aceita!

Antes de sermos apresentados ao conceito da cozinha, fomos apresentados à beleza do salão do Auá. Espaçoso, com um bar charmoso na entrada, pé direito alto, muitas plantas, lustres, sofás nos cantos e belos móveis de madeira. Ficamos positivamente impressionados com o cuidado em cada detalhe da decoração. Há até uma salinha de espera para os dias cheios, uma espécie de mezanino, com algumas mesas e itens retrô. Chris só não gostou das cabeças de boi penduradas na parede ("será que não há outra maneira de representar o Nordeste?", ela me disse) e do fato de não haver do lado de fora algum cantinho para os fumantes, nem que seja só com uma cadeirinha e um cinzeiro, como existe em alguns lugares. De minha parte só achei um pecado que, com toda brasilidade citada no cardápio e refletida no nome e na decoração, só tenha tocado música estrangeira no alto falante. Falha de conceito.

"Faz um ar blasé enquanto eu tiro a foto"

Aconchego total

Meu, super hiper mega transada retrozada vintage e hypster essa sala de espera!

O cardápio é uma belezinha, cheio de desenhos, pequenos gracejos ("Engorda? Engorda sim e é bom demais!") e dicas do chef. Para a entrada são oito opções, como dadinho de tapioca (R$ 27) e linguiça recheada com queijo coalho (R$ 61). Escolhemos o Palmito do Norte (palmito pupunha gratinado, com queijo coalho e servido com melado de cana, R$ 27). A descrição já tinha nos interessado, mas o adendo "Único no Vale do Paraíba. Quer apostar ou experimentar logo?", um desafio até meio petulante, foi o que nos conquistou de vez. Mas marketing não é tudo. Faltava comer. E a verdade é uma só: o troço é muito bom. Primeiramente é bastante original, apesar de relativamente simples. E depois, todo o medo de o coalho ser muito forte, ou de o melado ser enjoativo se desfez à primeira garfada. Conjunto muito harmonioso, com todos os ingredientes se conversando sem ninguém se estressar com ninguém. Uma delícia. Nem precisa dizer mais nada: foi a primeira nota 10 da Chris para uma entrada.

"Mocidade Independente do Palmito do Norte, nota...dez!!"

Há muita variedade de opções no menu de pratos principais (humildemente até achamos que poderiam ser reduzidas). Os grelhados (bife ancho, bife chorizo, salmão, entre outros) tem preços variados (em torno de R$50) e quatro opções de acompanhamentos. Também é possível escolher um grelhado e um risoto ou massa da casa (nesses casos acrescenta-se mais R$ 7 ao valor). Também é possível escolher um grelhado e se servir no bufê de saladas e acepipes diversos que toma conta do centro do salão (nesse caso acrescenta-se R$ 19,90 ao valor). Fora isso há diversas opções de pratos com carnes, aves e peixes, além dos risotos e massas já citados. Para completar ainda é possível escolher o bufê de caldinhos, por R$ 32. Ufa! Uma coisa interessante é que quase todos os pratos podem ser para uma, duas ou três pessoas, com preços diferentes. Bom pra quem vai com família e quer gastar um pouco menos.

Chris fez uma opção esperta: comer um dos grelhados e ainda experimentar um risoto da casa. Por isso ela escolheu o filé mignon e como acompanhamento o risoto de alho poró (R$ 64 os dois). Ela não teve nada a reclamar da carne, que chegou no ponto solicitado (mal passado paca!) e muito bem temperada. Quanto ao risoto, infelizmente o arroz passou um pouco do ponto, não estava firme, e o sabor era apenas razoável. Quanto à telha de parmesão que acompanhava o prato, ela achou que tinha muito sabor de óleo, não curtiu. 

A Chris deixaria essa casa sem telha mesmo

Meu pedido foi um tanto arriscado. Escolhi a picanha mineira (picanha suína servida ao molho barbecue de goiaba, acompanhada de mandioca frita e arroz com castanha, R$ 54). O risco a que me referi é o uso de uma fruta tão marcante em um prato salgado. Mas pode relaxar porque deu tudo certo: o molho estava bem suave, com a dose exata de dulçor contrastando bem com o saborosa carne (que estava seca nas pontas, onde não há gordura), e o delicado arroz com castanhas trouxe frescor e crocância. Não citei as mandiocas, apesar de estarem boas e sequinhas, porque achei que elas não precisavam estar no prato. Também não vejo muito sentido em colocar um alecrim só pra enfeite (o da Chris também tinha).

O Fê deixaria essa casa sem mandioca mesmo

Embora a lista de sobremesas não exclua o quase onipresente petit gateau, é possível encontrar opções um pouco mais inusitadas, como o pudim de tapioca e o creme de manga com licor de menta (que a Chris ficou tentada a escolher). Mas não teve como não escolhermos o bolo cremoso de goiabada com sorvete romeu e julieta (R$ 24), que no cardápio vinha com uma caixa de diálogo, como numa história em quadrinhos, dizendo "o famoso petit gateau...só que brasileiro, claro!". Imaginamos um bolinho doce e cremoso, com uma calda de goiaba que escorreria ao primeiro corte, e um sorvete de queijo saboroso ao lado. Mas nossa imaginação, nesse caso, ganhou da realidade: o bolo estava com muito gosto de farinha, a calda não escorreu porque já estava no prato, e o sorvete não tinha muito gosto de queijo. Mas é preciso dizer que a calda "não escorrida" estava muito gostosa e acabou sendo a melhor coisa da sobremesa.

Faltou a calda escorrer, faltou sabor de queijo, sobrou farinha

Fomos muito bem atendidos por um rapaz e uma moça, que se alternavam e estava sempre atentos. Ela, muito simpática, nos explicou todo o funcionamento da casa, com as opções de bufê e caldinhos. Ele, sempre solícito, não parava de passar entre as mesas em vistoria, para saber se estava tudo certo. Sem falar nada nem invadir, apenas para mostrar que estava presente. Quando terminamos nossa entrada ele veio recolher os pratos e perguntou se queríamos outra cerveja (tínhamos tomado uma Cauim da Colorado). Eu disse que queria uma Indica, também da Colorado, mas só quando viessem os pratos principais. Honestamente não imaginei que ele fosse lembrar nem de trazer a cerveja, muito menos de qual exatamente queríamos, mas me surpreendi quando, cerca de vinte minutos depois, nossos pratos chegaram junto com a cerveja solicitada. Falando em tempo, também não há do que reclamar nem de demora nem de pressa na entrega dos pedidos.

Damos notas para vários quesitos mas o que nos faz decidir se voltaríamos ou não para um restaurante é, quase sempre, a qualidade da cozinha. Sendo assim, por mais que o espaço seja lindo e que o atendimento tenha sido ótimo, foi a maravilhosa entrada que fez com que ambos concordássemos que poderíamos voltar ao Auá - mesmo com os pratos principais tendo alguns problemas e a sobremesa tendo sido decepcionante. Nada mais justo, já que de certa maneira a entrada que escolhemos simboliza a proposta do Auá: palmito pupunha diretamente dos índios da Amazônia e gratinado à moda dos franceses, servido sobre queijo coalho dos sertanejos nordestinos, com melado de cana-de-açúcar, planta originária da Ásia. Nada mais "auá" do que isso.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8,5
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 10 e 8
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 5 e 6
Custo-benefício(1): 7 e 8
Média: 7,66 e 7,91
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Madre Paula de São José, 318 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3942-1197
Facebook: https://www.facebook.com/AuaGastronomia