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domingo, 18 de maio de 2025

Casa do João (Bonito - MS) - 16/04/2025

 

    Casa do João. A primeira coisa que me veio à cabeça quando estávamos indo para lá foi cantar "A Chris roubou pão na casa do João". Para minha surpresa, ela não respondeu "quem, eu?", porque não conhecia a brincadeira. Será que não rolava isso lá no Rio de Janeiro? Com delito ou não, nos dirigimos em uma noite de quarta-feira para a Casa do João, que fica no centro de Bonito, mas em uma rua perpendicular à Rua Pilad Rebuá, que é a rua do agito na cidade. Mas a Casa do João não precisa do agito da Pilad, porque dentro dela cabe praticamente uma cidade inteira: 476 lugares. Serra da Saudade (MG), o menor município do pais, tem 776 habitantes. Ok, teríamos que deixar trezentas pessoas de fora, mas boa parte da cidade caberia dentro da Casa do João. 
 
Mas afinar, robô o num robô o pão?

    Há um salão enorme, que comporta a maioria dos lugares, um pequeno balcão mais elevado, onde ficamos, além de um outro salão fechado, que estava desativado no dia de nossa visita - deve ser usado nos dias mais cheios. A decoração é diversa e bem caprichada, com lustres bonitos e alguns objetos rústicos. O teto do salão principal é sem forro, lembrando um rancho de fazenda mesmo. Houve o cuidado de preservar até um antigo poço, que foi usado até os anos 1990. Completando, o restaurante ainda abriga um pequeno museu com objetos antigos relacionados ao restaurante e à cidade e uma pequena loja de artesanato na saída. É praticamente uma atração turística à parte. Chris também ficou satisfeita com o cantinho para fumantes, sem precisar sair à rua. O lugar não estava lotado, mas tinha bastante gente, e aí entra o que, para nós, é o principal problema do ambiente: é um tanto caótico e barulhento, pela quantidade de pessoas. Mas é o estilo da casa, não tem como fugir.
 
Chris tendo um contato direto com lustres e peixes voadores

O Fê com cara de quem roubou pão

A Chris e, atrás dela, o salão, que estava desativado no dia de nossa visita
 
Dê um lugar para essa moça fumar e ela moverá o mundo

Self service de água

Um traíra na Casa do João

    O cardápio é acessado por QR Code, algo que não curtimos muito. Mas aqui dá pra entender: imagine quantos cardápios físicos eles teriam que ter em um lugar tão grande? Outro efeito colateral de um restaurante que recebe tanta gente é o cardápio com dezenas de opções, entre entradas, caldos, peixes, carnes, pratos vegetarianos, pratos kids, e com porções individuais, para dois, para três e até para cinco pessoas (caso do Arroz de Comitiva do João, que sai por R$320). É realmente muita coisa, e ficamos um bom tempo para decidir o que pedir.

    Resolvemos pedir duas entradas, e dividimos as duas. Uma delas foi o Caldinho de Boas Vindas (caldo de peixe com mandioca e coentro, R$24), servido num copinho americano (tô pensando aqui, se é de boas vindas tinha que ser de graça, né?). Sabor forte de peixe, claro, mas achei que poderia ser mais temperado. Chris gostou mais que eu. Também pedimos a Casquinha de Traíra (filé de traíra desfiada, tomate, cebola, azeite de dendê, alho, leite de coco, pimenta do reino e cebolinha , R$27,90). Nessa aconteceu o contrário, eu gostei bastante, achei saborosa e crocante, embora um pouco seca. Chris achou muito farofenta. 
 
Boas vindas. Sei...

Saborosa e crocante ou seca e farofenta?

Fê recebendo as boas vindas

    A maioria dos pratos principais da Casa do João é para dividir. São apenas seis opções entre os pratos individuais e dezesseis de pratos para compartilhar. Resolvemos tomar esse caminho. Ficamos tentados a escolher a traíra frita (R$224 na versão para duas pessoas), que é o carro chefe da casa, e a origem do restaurante. Mas não resistimos à Mojica de Jacaré (R$272 para duas pessoas), um tipo de moqueca feita com carne de jacaré, mandioca e urucum, servida com arroz, pirão e farofa de banana. 
 
    A primeira coisa a destacar é a lindeza, impressionante como o urucum deixa as coisas bonitas. O arroz tava ok, bem soltinho. O pirão estava delicioso, mas não tinha consistência de pirão, parecia mais um molho mesmo (acho que tinha creme de leite). Farofa gostosa, bem crocante (embora a Chris tenha dito "a da sua mãe fica molhadinha e crocante ao mesmo tempo"). Quanto à mojica, é preciso modular a expectativa primeiro, porque não vem aquele sabor forte de moqueca baiana, apesar de parecer com uma. Tá mais pra moqueca capixaba. Mandioca bem macia. Temperos delicados, mas presentes. A carne de jacaré estava um pouco borrachuda, foi o ponto que menos gostamos do prato (ambos já tínhamos comido jacaré antes, não era nossa primeira vez com o réptil). Misturar o caldo da mojica com a farofa foi um exercício ao qual me dediquei com deleite, mesmo depois de satisfeito. Um belo prato, não de se comer gemendo, não tem aquela intensidade, mas ainda assim um belo prato. 

Um belo prato que além de tudo é bonito e tem lindeza

Só o réptil tava meio emborrachado

    Era o nosso segundo dia em Bonito e Chris já estava apaixonada por uma frutinha local chamada jaracatiá. Então não tinha como não pedir de sobremesa o sorvete de jaracatiá com doce de leite quente, farofa de banana chips com paçoca (R$51,90). Vieram duas bolas de sorvete, e ambos ficamos com a forte impressão de que uma delas era de creme, não de jaracatiá. Faltou deixar isso claro na descrição. A junção de calor e frio é bem interessante, como em um petit gateau ou um apfelstrudel servido com sorvete. Aqui também deu certo, doce de leite bem gostoso e quentinho. Claro que isso faz com que a gente tenha que comer logo, pro sorvete não virar vitamina. 

Demoramos pra pegar o nome da fruta, sempre vinha um "jacaratiá"

    Com capacidade para servir quase dois terços da menor cidade do país ao mesmo tempo, claro que o serviço é uma parte importante da Casa do João. Por exemplo, logo na chegada uma hostess é responsável por direcionar os convivas a um local para o "assentamento". Dissemos que havia uma fumante, e que seria interessante ficar mais perto do "fumódromo". Infelizmente não foi possível, e fomos posicionados a uns 4km de distância. Mas antes mesmo de termos feito nosso primeiro pedido a mesma hostess veio até nossa mesa e disse que tinha vagado uma mesa para dois no balcão elevado, mais perto do local de abastecimento de nicotina. Fomos para lá, felizes da vida - Chris especialmente. E o serviço é todo assim, trabalhado na eficiência. Há garçons responsáveis por áreas específicas, e eles se apresentam pelo nome logo na chegada dos clientes. O nosso era o Rafael, que em dado momento deu uma sumida. Quando reapareceu, se justificou dizendo que tinha derrubado suco em si mesmo, e estava se limpando. Gostamos dessa espontaneidade, e esse foi um dos poucos momentos em que isso rolou. No mais das vezes, como dito, o serviço prima pela eficiência, sem muito salamaleque. Mas é inegável que é muito eficiente. O prato que mais demorou foi a mojica, e mesmo assim acho que não chegou a meia hora de espera.

    A Casa do João tem música ao vivo. Na noite de nossa visita era uma moça com seu violão. Repertório legal, que nós gostamos. Mas o fato de ter música ao vivo é mais um ingrediente nesse caldo meio caótico que forma o ambiente do lugar. É tudo tanto (nome de um disco da Tulipa Ruiz) que a gente fica meio zonzo. Isso não depõe contra a casa, apenas é algo que, para mim e para a Chris, joga um pouco contra quando temos que responder se voltaríamos ao lugar. E ambos concordamos que não voltaríamos. O que não nos impede de concordar que é uma experiência bonitense que qualquer pessoa que visita a cidade deveria ter. Não é sempre que se tem tudo tanto em um único lugar.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 8 e 8
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 5,5 e 6
Média: 6,70 e 6,95
Voltaria?: Não e não

Serviço:

R. Cel. Nelson Felício dos Santos, 664 - Centro - Bonito - Mato Grosso do Sul
Telefone: (67) 99216-0713
Instagram: @casadojoaorest

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Flor de Mandacaru (Petrolina - PE) - 18/09/2024

 

    É bastante raro eu e Chris almoçarmos quando estamos viajando. A gente come uma coisinha aqui, outra ali, mas aquela coisa de parar e bater um prato a gente não costuma fazer, pelo motivo único de que a preguicite aguda que nos acomete após a comilança atrapalha o passeio. Mas abrimos uma exceção para o Flor de Mandacaru. Por quê? Porque ele era o restaurante que mais aparecia em todas as pesquisas prévias de "onde comer em Petrolina", recomendadíssimo em tudo que é lugar. Mas ele ainda não tinha a nossa recomendação, que, convenhamos, é a mais importante de todas. 
 
Chegando pra bater um prato

    O restaurante fica afastado do circuito turístico da cidade. Chegamos por lá perto do meio dia, no intenso calor do semi-árido pernambucano. Existe um ambiente climatizado, mas preferimos ficar na primeira mesa do lado de fora, pra facilitar a saída da Chris pra dar suas pitadas, e também porque é bem melhor ficar ao ar livre. O ventinho que batia foi suficiente para o refresco.
 
Na primeira mesa pra fugir sem pagar a conta

Mentira, gente, queisso, somos honestos, era só pra Chris fumar

    O restaurante tem uma decoração muito caprichada, com altas doses de charmosidade e nordestinidade, repleto de pequenos detalhes que a gente vai captando aos poucos enquanto esperamos entre um prato e outro. Ficamos no corredor, que tem paredes cheias de artesanato de um lado e imitando uma casa de taipa do outro, e na parte do fundo há mais mesas, algumas delas embaixo de uma árvore. A parte interna, climatizada, é menos charmosa, mas também conta com alguns móveis antigos, e até o corredor para o banheiro abriga alguns quadros e mais doses de charmosidade. Melhor do que eu ficar escrevendo é você ver algumas das trocentas fotos que tiramos do lugar:

Difícil dizer quem é mais charmoso

Aqui não é tão difícil dizer quem é mais charmoso

Tudo trabalhado na delicadeza

Mas o Pinóquio achou que era demais pra ele

A taipa e a gata

Um mesão pra família inteira embadárvore

E até pra ir ao banheiro você não se livra das charmosidades

    O cardápio também é todo trabalhado nas gravuras com temas do sertão. Todo esse cuidado parece supérfluo, mas acrescenta muito à experiência. Ninguém gosta de coisa feia, né? Bom, talvez a Chris goste. Entre as opções de entradas, são vários petiscos para compartilhar (dadinhos de tapioca, moela, sarapatel, torresmo), que partem de R$ 25,90 (batata frita) podendo chegar até R$ 64,90 (petisco de bode). Para os pratos principais o menu é dividido entre "Novidades", "Regionais" e "Peixes", com pratos sempre para duas ou três pessoas, partindo de R$ 65,90 (salada Velho Chico) até R$ 174,90 (moqueca de camarão). Também existe uma opção de menu-degustação, com doze etapas, mas que precisa ser reservado com antecedência (R$ 159,00 para uma pessoa). 
 
    Pois bem, finalmente chegou a hora de comer. Para petiscar ficamos em dúvida entre algumas opções, mas acabamos optando pelo bolinho de cari (R$ 43,90). Para quem não sabe - como nós não sabíamos - o cari é um peixe muito comum no Rio São Francisco (às margens do qual se situa Petrolina), uma espécie de peixe cascudo, parecido com um bagre. Foi servido com limão, molho de pimenta e uma maionesinha. O bolinho estava crocante por fora, cremoso por dentro, e com um sabor bem intenso do peixe, que é saborosíssimo. Vieram oito bolinhos, de modo que não tivemos que nos estapear, cada um comeu seus quatro de direito. 
 
Caro cari, comemos com contentamento
 
    A escolha do prato principal foi um pouco mais complexa. Em geral os restaurantes em que vamos e que entram no blog tem opções de pratos individuais. No Flor de Mandacaru nós tivemos que fazer uma terapia de casal, e nos livrar daquilo que nos aparta para encontrar aquilo que nos une. Mas não foi tão difícil, porque muitas coisas nos unem. Por exemplo, uma Tilápia Ao Molho De Limão (filé de tilápia grelhada com molho de limão, picles de mostarda e tomate confitado, com arroz de coco e salada, R$ 129,90). 
    Vou começar pelo que foi negativo: achei a salada sem inspiração e desnecessária; poderia vir mais tomate confit; Chris achou o arroz de coco muito adocicado (eu achei que era essa a intenção mesmo); poderia vir mais picles de mostarda. Sobre essa última consideração, cabe um adendo: comentei com uma garçonete (que acho que era uma espécie de gerente) que não tinha visto o picles, e ela disse que estava no meio do molho. Um pouco depois ela apareceu com uma molheira só com o picles, pra gente colocar do jeito que a gente quisesse. Achei uma boa atitude, e até acho que o prato deveria ser servido assim, com o picles à parte. Falando sobre a tilápia, estava muito saborosa (mas não muito crocante, talvez o molho de limão também pudesse ser à parte), com o molho trazendo a acidez do limão no ponto certo, bem equilibrado. Casou muito bem com o arroz de coco.

Encontrando o que nos une

No prato pra vocês verem mais de perto

    Para a sobremesa não foi precisa fazer terapia de casal, porque a gente escolheu duas: o Doce de Coroa de Frade (R$ 18) e a Manga Com Sorvete de Rapadura (R$ 22). Ambos comemos dos dois degustes, de modo que nossas notas de sobremesa se referem a uma média entre as duas. Vamos começar pelo Doce de Coroa de Frade. Repito o que disse sobre o cari: se você não sabe o que é - como nós não sabíamos - o Coroa de Frade é um cacto, muito comum na caatinga, usado para fins medicinais, mas também para fazer doces. O restaurante tem um vaso dele, que estava ao lado da nossa mesa.
 
O nome é porque parece a carequinha de um frade ali em cima

    Apesar de inusitado, o doce acaba se parecendo bastante com uma cocada, pelo uso do açúcar queimado. Não conseguimos sentir especificamente o gosto do cacto. O sabor era bom, embora o caramelo estivesse bem intenso, quase no limite do amargor.

Desgostoso não era, mas não encantou

     A outra sobremesa, a manga com sorvete de rapadura, foi bem mais recompensadora para nossos paladares. O sorvete estava muito agradável - apesar de ser de rapadura, não tinha dulçor excessivo - e os pedaços de manga que vinham juntos na colherada acrescentavam frescor e o sabor maravilhoso da fruta. Quando a sobremesa chegou em nossa mesa havia alguns clientes indo embora, e eles ficaram encantados com o visual. Eu diria que ficaram invejosos, inclusive. Mas era tudo nosso!

Tira o zóio!

    O atendimento do restaurante acompanha a excelência da decoração. É quase personalizado, mesmo com tantas mesas. Inclusive, quando fizemos um pedido a uma pessoa diferente daquela que estava nos atendendo, a nossa garçonete original ficou "enciumada", e nos disse que quando precisássemos de alguma coisa era só chamá-la. Muito conhecedora do cardápio, Cida nos deu boas dicas, explicou sobre os ingredientes e esteve sempre atenta. Além de Cida havia outra funcionária, já citada, que parecia a gerente, extremamente atenta, e que foi quem nos trouxe o picles de mostarda à parte. Em relação ao tempo de espera entre os pratos, foi bastante satisfatório, não chegando a demorar mas também não parecendo um McDonald´s.

    "Quando for a Petrolina/ A negócios ou a passeio/ Não deixe de visitar/ O restaurante do meio/ Ambiente, construído/ Por quem entende de asseio". Essa é uma das estrofes de um poema de Chico Pedrosa Galvão, que está no cardápio do Flor de Mandacaru. A dica de Chico é também a nossa dica: se for a Petrolina, visite o Flor de Mandacaru. Nós, se voltarmos à cidade, certamente repetiremos a dose. Sempre focando naquilo que nos une, nunca no que nos aparta. É uma boa dica de vida, que o Flor de Mandacaru ensina na prática.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 8 e 9
Entrada (2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 8 e 7
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 8 e 8
Média: 8 e 7,83
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

R. das Ameixas, 155 - COHAB São Francisco - Petrolina - Pernambuco
Telefone: (87) 3863-7607
Site: https://restauranteflordemandacaru.com.br
Instagram: @restauranteflordemandacaru

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Osteria Limoncello (Vinhedo - SP) - 24/05/2024

 

    Fomos ao Osteria Limoncello em uma noite de sexta-feira razoavelmente fria para mim e muito fria para a Chris. No caminho até o restaurante, comentei "onde estão esses vinhedenses?". A cidade estava tranquila, com poucos carros nas ruas. Tínhamos passado o dia no Hopi Hari e estávamos bem cansados, por isso saímos um pouco mais tarde do que nosso normal. Ao chegarmos ao local, quase não conseguimos lugar, estava bem cheio. Então descobrimos: as pessoas já estavam instaladas em seus restaurantes/bares/lanchonetes. Nós é que estávamos meio atrasados.

"Opa, será que ainda dá pra gente rangar aí?"

    A Osteria fica em uma região bem tranquila, e a primeira coisa que gostamos foi da facilidade de parar o carro. Há um amplo estacionamento ao lado do restaurante, bem iluminado e sem burocracias como cancelas, portões, manobristas. É chegar e parar.

Chegar e parar, conforme foi escrito

    A fachada parece mais de uma residência, o que combina com o conceito de osteria, que originalmente eram restaurantes familiares na Itália (hoje o conceito mudou um pouco). Há uma mesinha do lado de fora, que seria nossa escolha óbvia, não fosse o razoável frio ("muito frio!", berra uma Chris imaginária no meu ouvido). Ao adentrar o salão principal o visitante se depara com um lindo fogão amarelo, com cara de vintage. As mesas disponíveis nesse primeiro salão estavam reservadas, por isso fomos para o segundo salão, mais nos fundos do restaurante. Ali a decoração não é tão caprichada, mas o lugar é assaz agradável. Como ele fica meio no alto, dá pra ver a cozinha em funcionamento lá embaixo, já que as paredes são todas de vidro. Outro ponto positivo é que a temperatura estava perfeita. 

"Muito frio!", berra a Chris de verdade

Lindo fogão amarelo com cara de vintage, não é?

"Assaz agradável", disse o escriba pernóstico

A cozinha está lá embaixo, nós aqui em cima

    As divisões do cardápio são bem italianas, como não poderia deixar de ser. Temos os antipasti e as entrati (pô, nem precisa traduzir, né?). Curiosamente, logo depois estão listados os dolci della tradizione, ou seja, as sobremesas, que normalmente ficam lá pro final do menu. Depois existem várias opções de pasta, risotti e gnocchi (massa, risoto e nhoque) e em seguida os piatti, que são considerados os pratos principais, que sempre trazem uma proteína animal (embora eu não entenda como é possível bater uma massa e depois ainda comer um outro prato). Finalizando ainda existem algumas "Sugestões da semana", que imagino serem pratos que não fazem parte do cardápio fixo.

    Como uma boa osteria, a carta de vinhos é bem fornida. Mas não estávamos com vontade de tomar vinho (tradução: estávamos pobres e não queríamos pagar os três dígitos que custavam cada vinho, no mínimo). Por sorte a casa oferecia uma boa gama de cervejas, algo não muito comum - geralmente é Heineken, Stella Artois e olhe lá. Eles tinham quase toda a linha da Cervejaria Leopoldina, com cervejas de diversos estilos. Tomamos uma Session IPA (R$ 28,00, 500ml) que combinou muito bem como nossos dois pratos - sugestão do sommelier esse mesmo aqui que vos escreve.

    De entrati escolhemos a bruschetta di carciofi (alcachofra, mostarda Dijon, rúcula no pão de azeite da casa, R$ 40). Apresentação farta, sem economizar no recheio. As folhas que vieram picadas não pareciam de rúcula, e sim de couve. De qualquer maneira, combinaram bem com o parmesão. O tempero estava mais neutro, o que não foi considerado um defeito, já que a alcachofra tem sabor delicado - e tinha alguns pedaços com um tostadinho agradável. O pão não estava tão crocante, mas também não estava molenga, o que facilitava na hora de cortar. Pena que nós dois encontramos alguns pedaços mais firmes da alcachofra, daqueles incomíveis mesmo, de ter que tirar da boca disfarçadamente pra não ficar feio.

De falta de recheio não dá pra reclamar

    Chris escolheu um prato da seção de massas, o ravioli de brie e camarões (massa fresca recheada de brie, servida na manteiga de sálvia, tâmara, castanha do Pará e camarões médios grelhados, R$ 103). Ela ficou com muita dúvida do que escolher, mas eu achei que esse prato era a cara dela, e dei uma forcinha para ela escolhê-lo. Mas eu não sabia que viria frio. Sim, essa foi a principal crítica da Chris: o prato estava frio. Mas a combinação de sabores era realmente interessante, com os pedacinhos de tâmara e a castanha entregando dulçor, contrastando com a picância e leve amargor do brie, com a manteiga de sálvia trazendo untuosidade. E camarão, né, que segunda a Chris "até gelado é bom". 

Se tivesse um microondas na mesa a Chris butava um minutinho

    Eu não resisti ao chamado da guancia veneziana (bochecha suína assada por seis horas em seu molho, servido com polenta bergamasca, R$ 99). Não entendi muito bem a apresentação, veio um prato com a guancia e molho e um outro prato com a polenta. Por que não servir empratado, meu Brasil? A guancia também veio morna-quase-fria, à semelhança do prato da Chris. O único elemento realmente quente era a polenta. Meu prato era o único que estava adjetivado no cardápio: "extremamento magra, macia e saborosa", dizia o texto, se referindo à guancia. De fato a carne estava "extremamente" desmanchando, de fato era "extremamente" magra, mas não sei se usaria o termo "extremamente" para me referir ao sabor, que era bom, sim, especialmente o molho, mas não extremamente bom. A polenta estava boa, com textura legal. Proporção errada, muita polenta pra pouco porco e pouco molho. 

Ajuda o pai, pô, emprata o trem

Fê fez o serviço, e ficou bonito, hein?

    Já que os pratos principais vieram frios, resolvemos pedir para a sobremesa o gelato de gorgonzola (sorvete de gorgonzola servido com figo Ramy da casa e nozes, R$ 42). A calda do figo Ramy se assemelha muito a melaço, e com o tempo pode se tornar um pouco enjoativa. Mas o fato é que eu pirei demais nos sabores inusitados da combinação do sorvete de gorgonzola, e a tradicional picância e salgado do queijo, com o figo e sua calda. As nozes tinham mais o propósito de trazer crocância às mordidas. Chris gostou menos que eu, e fui obrigado a comer boa parte da sobremesa sozinho. Tadinho de mim.

Quem vê mal sabe a loucura que é isso aí

    Quando fomos instalados nos fundos do restaurante já pensamos "xi, hoje vai ser daqueles dias em que o garçom dá umas sumidas". Mas que nada, não ficava nem um minuto sem aparecer alguém, e o serviço foi bem atencioso - até porque haviam outras mesas ocupadas junto com a gente. Só demoraram um pouco pra tirar nossos pratos da entrada. Não é daquele tipo de serviço muito "conversadeiro", mas os funcionários eram simpáticos na medida certa. Estranhamos um pouco a mesa sem toalha nem nada. Nossa mesa era de madeira e tava um pouquinho desgastada, quase uma mesa vintage - só que não.

    "O futuro importa, mas o presente deve ser saboreado". Essa bela frase está no site do Osteria Limoncello. Concordamos bastante com ela. E seria injusto dizer que não saboreamos boas coisas no restaurante. O que ocorreu, principalmente, foi frustração, porque nós adoramos o cardápio, e ficamos muito indecisos sobre o que pedir, justamente porque várias coisas nos chamaram a atenção. Mas algumas falhas em nossos pratos principais, somadas aos preços não muito convidativos, nos fizeram concluir que não voltaríamos ao Osteria Limoncello. O futuro importa e o presente deve ser saboreado na temperatura certa.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 7
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 8
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 6,25 e 6,87
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Ana Lombardi Gasparini, 215 - Represa 1 - Vinhedo - São Paulo
Telefone:  (19) 4040-4514
Site: https://osterialimoncello.com/
Facebook: @osterialimoncello
Instagram: @osterialimoncello

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Minha Louca Paixão (Morro de São Paulo - BA) - 04/10/2023

 

    Morro de São Paulo virou um mastodonte turístico. Eu e Chris já tínhamos visitado a cidade, há mais de vinte anos, em separado. Agora fomos juntos, e é impressionante como o povoado mudou. São dezenas de pousadas, hotéis, lojinhas de artesanato, e, claro, restaurantes. O problema é que a maioria deles tem um cardápio muito parecido, oferecendo moqueca/bobó/peixe assado/pizza, enfim, tudo aquilo que faz sucesso entre os turistas. Adoramos essas comidas, mas para o blog buscamos algum lugar que fizesse algo diferente, já que não tem graça ficarmos aqui escrevendo sobre moqueca, que todo mundo já conhece. Então descobrimos o Minha Louca Paixão.

Chegando onde o vento faz a curva

    Minha Louca Paixão parece um nome estranho para um restaurante, mas na verdade se trata de uma pousada com restaurante. É, acho que também é um nome estranho para uma pousada. Ocorre que, segundo o texto no site da pousada, ela foi "pensada e desenhada para celebrar e enaltecer o amor". Aí fez sentido, olha só que bonito. Cafona, mas bonito. A pousada/restaurante fica na Terceira Praia, um trecho bem mais tranquilo de Morro, um pouco afastado do centrinho e da badalada Segunda Praia. Existe apenas um ambiente, um salão bem amplo e aberto, com mesas e cadeiras de madeira, luminárias balançantes e...abacaxis. Abacaxis dourados, um em cada mesa, e três bem grandões em um aparador. Não descobrimos qual é a dos abacaxis. Há também um belo palco, mas na noite em que lá estivemos não rolou nenhum show. Chris curtiu bastante o espaço para fumantes, coberto, e perto do belo jardim da pousada. 

Um salão para abrandar o calor do sol (embora fosse noite)

Prontos para sermos levados sem destino

Chris solta na vida

Chris mandando seus beijos, e fumaças, pelo ar

    As divisões do cardápio tem títulos interessantes. As entradas são "Para beliscar com vontade". Entre os principais, há "Da horta para a mesa", "De Portugal para a Bahia", "Do mar para o prato", "Da panela de barro", entre outros. E as sobremesas são "Para fechar com chave de ouro". Entre os principais, apenas as saladas tem valores abaixo dos três dígitos, e são quase todos individuais.

    "Para beliscar com vontade" nós escolhemos os Camarões VG Crocantes (em crosta de coco fresco com chutney de manga caseiro, R$ 99). Olha, nós até preferimos os camarões médios aos grandes. Mas o nome do prato indicava que seriam camarões VG, ou Verdadeiramente Grandes, e acho que não eram não. Você pode ver a foto aí embaixo, pra não dizer que estamos sendo chatos. O chutney de manga estava bem picante, e talvez isso devesse ficar mais claro na descrição. O outro molho que se vê no prato, avermelhado e espesso, parecia de cacau, e também estava picante. Também havia uns respingos de um molho que parecia de ervas, mas não era suficiente para contrastar a picância. O camarão estava crocante, saboroso e no ponto correto.
 
Picante de puxar as barbas de Deus

    Chris escolheu uma opção "Do mar para o prato", a Cumbuca Gratinada de Peixe & Camarão VG (num aveludado com alho poró e vinho branco, acompanha arroz branco e salada verde, R$ 125). Veio uma travessa com o gratinado de peixe e camarões (que, mais uma vez, não parecia VG), uma cumbuca com arroz e outra com salada. Chris entendeu que o arroz era desnecessário. Ela adorou o tempero da salada, com parmesão. A paradinha com peixe e camarão parecia um suflê, estava gostosa, com sabor delicado, e o peixe aparecendo mais do que o camarão. O alho poró também poderia aparecer um pouco mais no conjunto. A descrição do prato estava mais apetitosa do que o prato em si. 

Chris cavalgou nesses desatinos, mas não se apaixonou

    Eu fui em um prato "De Portugal para a Bahia", o Polvo à Lagareiro (confitado em azeite de oliva, com batatas ao murro e legumes grelhados, R$ 132). Começar falando sobre a proporção: vieram dois polvos e duas batatas, e acho que um polvo e uma batata (e uns 40 reais a menos no valor) estariam de bom tamanho. Inclusive casaria melhor com a quantidade de legumes grelhados - que estavam queimadinhos e saborosos. Os polvos estavam bem macios, um deles tinha mais alho (o que ficou por cima), e o outro tinha um ponto de sal a mais. As batatas estavam bem temperadas e crocantes. Terminei de comer bem depois da Chris, mas dei conta do recado.
 
Fê e a comida que leva para os quatro cantos do mundo

    "Para fechar com chave de ouro" escolhemos a Bem Bolada (mousse de caramelo salgado, canoa de tapioca, sorvete de amendoim e explosão de paçoca, R$ 45). Gostamos da junção de todos os elementos , com diversas texturas e gostos. O caramelo salgado faz uma festinha na boca, inclusive com um toque de acidez interessante. A "explosão de paçoca" citada na descrição era a paçoca esfarelada por cima da sobremesa, mais doce e com mais sabor de amendoim do que o sorvete, que estava delicado. A tapioca trazia crocância e uma benvinda nordestinidade. 

Não nos levou às bordas do céu, mas esteve bom

    Quem gosta de música, especialmente do rock brasileiro dos anos 80/90, deve ter percebido que as legendas das fotos acima fazem referência à música "Vento Ventania", da banda Biquini (ex-Biquini Cavadão). A escolha não foi à toa. Ventava muito no restaurante na noite de nossa visita. Mas muito mesmo. Latinhas foram ao chão, guardanapos foram parar em cima do meu polvo, cabelos esvoaçaram mais do que seria charmoso. A desculpa "está na praia, venta mesmo" não se aplica a um restaurante que não tem pratos individuais por menos de cem contos. Atrapalhou bastante a experiência, e o quesito "ambiente", que deveria ter nota alta por estar à beira mar e pelo belo salão, caiu bastante em nossa nota final.

O vento emaranhando o cabelo do menino

    O serviço foi bastante correto, quase invisível, sem grandes simpatias mas também sem ser invasivo. Os pratos demoraram um pouco além do razoável para chegar. Outro ponto que achamos estranho, para um restaurante desse nível "financeiro", foi o fato de só ter guardanapos de papel.

    O que nos parece é que o Minha Louca Paixão precisa se decidir entre ser um restaurante típico de praia - e aí ele precisa baixar muito os preços - ou ser um restaurante diferenciado que está instalado na praia - e aí ele precisa melhorar em vários pontos, notadamente o controle do ar-condicionado natural. Da maneira que está, embora tenhamos tido bons momentos e experimentado bons sabores, o custo-benefício fica bastante prejudicado. De modo que ambos concordamos que não faríamos uma segunda visita ao restaurante. Completando com mais um verso do Biquini, "me leve, mas não me faça voltar".


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal (3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 5,5
Média: 6,41 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Terceira Praia, s/n - Cairu - Povoado de Morro de São Paulo - Bahia
Telefone:  (75) 3652-1098
Site: https://www.minhaloucapaixao.com.br/#BaryRestaurantes
Instagram: @pousadaminhaloucapaixao