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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Minha Louca Paixão (Morro de São Paulo - BA) - 04/10/2023

 

    Morro de São Paulo virou um mastodonte turístico. Eu e Chris já tínhamos visitado a cidade, há mais de vinte anos, em separado. Agora fomos juntos, e é impressionante como o povoado mudou. São dezenas de pousadas, hotéis, lojinhas de artesanato, e, claro, restaurantes. O problema é que a maioria deles tem um cardápio muito parecido, oferecendo moqueca/bobó/peixe assado/pizza, enfim, tudo aquilo que faz sucesso entre os turistas. Adoramos essas comidas, mas para o blog buscamos algum lugar que fizesse algo diferente, já que não tem graça ficarmos aqui escrevendo sobre moqueca, que todo mundo já conhece. Então descobrimos o Minha Louca Paixão.

Chegando onde o vento faz a curva

    Minha Louca Paixão parece um nome estranho para um restaurante, mas na verdade se trata de uma pousada com restaurante. É, acho que também é um nome estranho para uma pousada. Ocorre que, segundo o texto no site da pousada, ela foi "pensada e desenhada para celebrar e enaltecer o amor". Aí fez sentido, olha só que bonito. Cafona, mas bonito. A pousada/restaurante fica na Terceira Praia, um trecho bem mais tranquilo de Morro, um pouco afastado do centrinho e da badalada Segunda Praia. Existe apenas um ambiente, um salão bem amplo e aberto, com mesas e cadeiras de madeira, luminárias balançantes e...abacaxis. Abacaxis dourados, um em cada mesa, e três bem grandões em um aparador. Não descobrimos qual é a dos abacaxis. Há também um belo palco, mas na noite em que lá estivemos não rolou nenhum show. Chris curtiu bastante o espaço para fumantes, coberto, e perto do belo jardim da pousada. 

Um salão para abrandar o calor do sol (embora fosse noite)

Prontos para sermos levados sem destino

Chris solta na vida

Chris mandando seus beijos, e fumaças, pelo ar

    As divisões do cardápio tem títulos interessantes. As entradas são "Para beliscar com vontade". Entre os principais, há "Da horta para a mesa", "De Portugal para a Bahia", "Do mar para o prato", "Da panela de barro", entre outros. E as sobremesas são "Para fechar com chave de ouro". Entre os principais, apenas as saladas tem valores abaixo dos três dígitos, e são quase todos individuais.

    "Para beliscar com vontade" nós escolhemos os Camarões VG Crocantes (em crosta de coco fresco com chutney de manga caseiro, R$ 99). Olha, nós até preferimos os camarões médios aos grandes. Mas o nome do prato indicava que seriam camarões VG, ou Verdadeiramente Grandes, e acho que não eram não. Você pode ver a foto aí embaixo, pra não dizer que estamos sendo chatos. O chutney de manga estava bem picante, e talvez isso devesse ficar mais claro na descrição. O outro molho que se vê no prato, avermelhado e espesso, parecia de cacau, e também estava picante. Também havia uns respingos de um molho que parecia de ervas, mas não era suficiente para contrastar a picância. O camarão estava crocante, saboroso e no ponto correto.
 
Picante de puxar as barbas de Deus

    Chris escolheu uma opção "Do mar para o prato", a Cumbuca Gratinada de Peixe & Camarão VG (num aveludado com alho poró e vinho branco, acompanha arroz branco e salada verde, R$ 125). Veio uma travessa com o gratinado de peixe e camarões (que, mais uma vez, não parecia VG), uma cumbuca com arroz e outra com salada. Chris entendeu que o arroz era desnecessário. Ela adorou o tempero da salada, com parmesão. A paradinha com peixe e camarão parecia um suflê, estava gostosa, com sabor delicado, e o peixe aparecendo mais do que o camarão. O alho poró também poderia aparecer um pouco mais no conjunto. A descrição do prato estava mais apetitosa do que o prato em si. 

Chris cavalgou nesses desatinos, mas não se apaixonou

    Eu fui em um prato "De Portugal para a Bahia", o Polvo à Lagareiro (confitado em azeite de oliva, com batatas ao murro e legumes grelhados, R$ 132). Começar falando sobre a proporção: vieram dois polvos e duas batatas, e acho que um polvo e uma batata (e uns 40 reais a menos no valor) estariam de bom tamanho. Inclusive casaria melhor com a quantidade de legumes grelhados - que estavam queimadinhos e saborosos. Os polvos estavam bem macios, um deles tinha mais alho (o que ficou por cima), e o outro tinha um ponto de sal a mais. As batatas estavam bem temperadas e crocantes. Terminei de comer bem depois da Chris, mas dei conta do recado.
 
Fê e a comida que leva para os quatro cantos do mundo

    "Para fechar com chave de ouro" escolhemos a Bem Bolada (mousse de caramelo salgado, canoa de tapioca, sorvete de amendoim e explosão de paçoca, R$ 45). Gostamos da junção de todos os elementos , com diversas texturas e gostos. O caramelo salgado faz uma festinha na boca, inclusive com um toque de acidez interessante. A "explosão de paçoca" citada na descrição era a paçoca esfarelada por cima da sobremesa, mais doce e com mais sabor de amendoim do que o sorvete, que estava delicado. A tapioca trazia crocância e uma benvinda nordestinidade. 

Não nos levou às bordas do céu, mas esteve bom

    Quem gosta de música, especialmente do rock brasileiro dos anos 80/90, deve ter percebido que as legendas das fotos acima fazem referência à música "Vento Ventania", da banda Biquini (ex-Biquini Cavadão). A escolha não foi à toa. Ventava muito no restaurante na noite de nossa visita. Mas muito mesmo. Latinhas foram ao chão, guardanapos foram parar em cima do meu polvo, cabelos esvoaçaram mais do que seria charmoso. A desculpa "está na praia, venta mesmo" não se aplica a um restaurante que não tem pratos individuais por menos de cem contos. Atrapalhou bastante a experiência, e o quesito "ambiente", que deveria ter nota alta por estar à beira mar e pelo belo salão, caiu bastante em nossa nota final.

O vento emaranhando o cabelo do menino

    O serviço foi bastante correto, quase invisível, sem grandes simpatias mas também sem ser invasivo. Os pratos demoraram um pouco além do razoável para chegar. Outro ponto que achamos estranho, para um restaurante desse nível "financeiro", foi o fato de só ter guardanapos de papel.

    O que nos parece é que o Minha Louca Paixão precisa se decidir entre ser um restaurante típico de praia - e aí ele precisa baixar muito os preços - ou ser um restaurante diferenciado que está instalado na praia - e aí ele precisa melhorar em vários pontos, notadamente o controle do ar-condicionado natural. Da maneira que está, embora tenhamos tido bons momentos e experimentado bons sabores, o custo-benefício fica bastante prejudicado. De modo que ambos concordamos que não faríamos uma segunda visita ao restaurante. Completando com mais um verso do Biquini, "me leve, mas não me faça voltar".


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal (3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 5,5
Média: 6,41 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Terceira Praia, s/n - Cairu - Povoado de Morro de São Paulo - Bahia
Telefone:  (75) 3652-1098
Site: https://www.minhaloucapaixao.com.br/#BaryRestaurantes
Instagram: @pousadaminhaloucapaixao

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mar del Plata (Santos - SP) - 25/08/2017



Estávamos hospedados na praia de José Menino, e rodamos oito quilômetros pela bela orla santista para chegar ao Mar del Plata, que fica na Ponta da Praia. Instalado em meio a prédios residenciais, o restaurante se destaca na paisagem com suas janelas de vidro que deixam entrever seu salão. Em frente, cargueiros gigantes passam pra lá e pra cá no movimentado Porto de Santos. A casa está no mesmo lugar desde 1992, e esses 25 anos serviram para torná-la uma das mais tradicionais mesas da cidade.

Eu adorei o salão, bem iluminado, com os móveis e objetos em tons claros, espelhos em todas as paredes, fazendo o lugar parecer maior do que é, mas sem perder a sensação de intimidade. Para realçar ainda mais essa característica, confortáveis sofás encostados às paredes - onde, claro, nos acomodamos. Chris também gostou, mas não tanto quanto eu. Acho que é tão raro encontrar um salão bem iluminado que me deixei levar pela empolgação. Segundo o site, houve uma grande reforma em 2010, e sete anos depois é incrível como tudo parece novo.

Incrível como parece novo (o lugar, não o rapaz)

Ói nóis lá no espelho lá lonjão, ó lá!

Quase todas as opções de entrada são aquelas porções típicas que se encontra em bons quiosques de praia: isca de peixe, camarão à paulista, marisco ao vinagrete, lula ao alho e óleo, entre outras. Como não tínhamos areia sob nossos pés nem sol sobre nossas cabeças, optamos por algo mais singelo: casquinhas.

Chris escolheu a casquinha de siri especial (R$ 19). Não sabemos o porquê do adjetivo "especial", já que não havia a casquinha "não-especial". Fato é que a Chris achou a casquinha gostosa, com bastante gosto de siri. Outro ponto positivo é que não foram encontrados aqueles pedacinhos da casca do siri, que são bem desagradáveis. Mas ela achou que faltou uma porradinha a mais no tempero.

Uma porradinha cairia bem

Para mim a pedida foi o coquilles del mar (R$ 21), assim meio afrancesado, meio espanholado, mas que nada mais era do que a casquinha com vários frutos do mar (polvo, lula e camarão). Estava bonita, cremosa, saborosa e com todos os ingredientes no ponto certo. Não há muito mais o que pedir de uma casquinha.

Não posso pedir nada mais de você, coquille del mar
  
Sempre critico cardápios muito extensos, porque acho muito difícil que um restaurante possa manter a qualidade e a excelência em uma quantidade muito grande de pratos. No Mar del Plata as opções passam de oitenta, sendo que a maioria, claro, é focada em frutos do mar. Ainda bem que não tivemos que escolher, pois já fomos ao lugar sabendo o que escolheríamos: a meca santista, o prato típico da cidade.

No ano de 2005 um concurso promovido pela prefeitura, em conjunto com a Unisantos (Universidade Católica de Santos), escolheu os ingredientes que mais representam Santos. Deu meca, banana e palmito pupunha na cabeça. A partir dessa eleição o chef Rodrigo Anunciato criou o prato, que traz dois filés de meca, risoto de palmito com cenoura ralada e farofa de banana com bacon. Claro que é mais legal quando um prato espontaneamente se torna a cara de uma cidade ou região, mas acho válida a iniciativa da prefeitura, que certamente é boa para o turismo. Hoje a meca de fato se tornou uma tradição da cidade, e é servida em vários restaurantes.

No restaurante Mar del Plata a versão "inteira" custa R$ 189. Segundo o garçom ela serve até três pessoas, por isso escolhemos a versão "meia" (R$ 158, numa matemática que não faz muito sentido, mesmo se levarmos em conta que restaurantes costumam cobrar 70% do valor nas versões "meia", o que daria R$ 132,30). A refeição vem em uma travessa, que é servida pelo garçom nos pratos dos clientes. Como pedimos a versão reduzida, ganhamos apenas uma camarãozão, que foi dividido em dois. Mesquinharia, né? O peixe estava gostoso, embora pudesse se valer de um pouco mais de sal. Tem consistência bem firme, e quando é cortado chega a parecer um peito de frango. O arroz estava soltinho e saboroso, com o palmito pupunha bem macio. A farofa estava agradável, molhadinha pela presença da banana e também pela gordura do bacon. Mas é inegável que o prato é seco. Falta umidade, que a farofa não é capaz de proporcionar - aliás, muito ao contrário. Talvez se o risoto fosse feito com arroz arbóreo o resultado seria melhor. Mas ao final eu gostei, achei que houve mais qualidades do que defeitos, ao contrário da Chris. 

Tudo tão farto e um camarãozão só, poxa

Dois ícones de Santos: a meca santista e ao fundo as muretas brancas

O ideal seria pularmos esse parágrafo referente às sobremesas, mas não podemos, em nome do bom jornalismo. Dentre as opções disponíveis, perguntamos ao garçom quais eram efetivamente feitas no restaurante. Apenas duas, ele nos disse: o manjar e o pudim de leite (esquecemos de anotar o preço, mas custam em torno de R$ 10 cada). Chris ficou com o manjar, que foi feito com cravo, o que a desagradou bastante. Embora seja até comum o manjar ser feito com cravo, ela achou que a calda estava com gosto excessivo da iguaria, o que atrapalhou a apreciação. Eu fiquei com o pudim de leite que estava, para ser direto, medíocre. Até que veio com bastante calda, mas o pudim em si carecia de doçura.

Não chegou a ser um manjar dos deuses

Como direi? Medíocre

Os garçons, aparentemente, tem bastante tempo de casa. Isso às vezes se reflete em conhecimento do cardápio, jogo de cintura e agilidade. Noutras em um certo relaxamento, como se o jogo já estivesse ganho, ou tivesse perdido a graça. Tanto as qualidades quanto os defeitos de uma brigada antiga estão presentes no serviço do Mar del Plata. O garçom que esteve conosco na maior parte do tempo parecia tão à vontade na sua função que chegava a parecer desinteressado em alguns momentos. Mas não tivemos problemas maiores em relação ao tempo de espera entre os pratos nem demora para sermos atendidos - até porque éramos os únicos comilões durante boa parte da noite.

Imagine pedir um prato unitário, composto de arroz com palmito e cenoura, farofa de banana e bacon, dois filés de peixe e meio camarão por R$ 78. Caro, né? Pois dividindo o valor do prato pra dois, esse é o preço que se paga pela meca santista no Mar del Plata. A relação custo-benefício sai bastante machucada, mesmo sendo a meca um peixe relativamente caro. Talvez estando em três, ou até quatro, e pedindo o prato completo por R$ 189, essa relação pode melhorar. Mas não foi nosso caso. Esse foi o principal motivo de ambos concordarmos que não voltaríamos ao Mar del Plata. Como bons turistas que somos, realizamos nossa "obrigação" de comer o prato símbolo da cidade, e não nos arrependemos. Foi bom enquanto durou, meca santista. Um dia, quem sabe, voltamos a nos encontrar. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6,5 e 8
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 6,5 e 8
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 4
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,33 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. Alm. Saldanha da Gama, 137 - Ponta da Praia - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3261-4253
Site: http://restaurantemardelplata.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantemardelplata/