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sábado, 21 de março de 2020

Fim da Trilha (Ilha do Mel, Paranaguá - PR) - 02/03/2020


Era nosso primeiro dia de caminhadas pelas trilhas da Ilha do Mel, e de repente nos deparamos com uma entrada bonita. Era o Fim da Trilha, uma pousada e restaurante sobre o qual eu tinha ouvido falar, e no qual queria fazer uma refeição. Ainda era dia, não estávamos com fome, entramos pra dar uma olhada no cardápio e ver se abriria naquela segundona. Fomos muito bem recepcionados, e avisados de que, sim, o restaurante abriria naquela noite. Pra completar o Marcelo (que não sabemos se é dono ou funcionário) nos levou até uma foto gigante da ilha para fazer umas fotos da gente na frente dela, como se estivéssemos pairando sobre a paisagem. O resultado é bem legal, dá um bizu aí:

Poderosos

Evidente que, com tudo isso, voltamos à noite para uma refeição. O restaurante não tava muito cheio. Tinha, deixa eu lembrar...acho que éramos nós dois e quem mais mesmo? Ah, sim, os funcionários. Era isso. Em uma noite chuvosa de segunda-feira (aliás, a essa altura já estávamos enferrujados no Paraná), fizemos a refeição romanticamente sozinhos. Ambiente agradável, todo envidraçado, uma inteligente decisão que permite que a paisagem ao redor faça parte da decoração - não é à beira-mar, mas é à beira-mato. As cadeiras não são muito confortáveis. Até combinam com o clima de praia, mas pelos preços cobrados, não exorbitantes mas acima da média da ilha, deveria haver um cadinho mais de conforto. Só há um banheiro, unissex. 

A mesinha ali atrás provavelmente seria a escolha, chuva não houvesse

Esse cidadão chato reclamou de conforto, o esnobe

Estamos em uma ilha, então por óbvio boa parte do cardápio é focada em frutos do mar. Para começar, escolhemos o siri gratinado (R$ 30). É complicado trabalhar com siri, porque o sabor dele é muito delicado, então não dá pra forçar no tempero. Há que se ter um equilíbrio, que infelizmente o Fim da Trilha não alcançou. Quando voltamos pra casa e tentamos nos lembrar do gosto, só nos veio a palavra "água" à mente. Por sorte havia um limãozinho (só um quarto!), que cai muitíssimo bem com siri. Quanto às casquinhas, não tem jeito, siri sempre vem com elas, faz parte do pacote.

Faltam três quartos de limão pra formar um limão, né?

São seis divisões no menu, para os pratos principais: paellas, moquecas, camarões, peixes, mignons e "risoto e massas", que estão juntos. Chris, como quase não gosta de risoto, e menos ainda de camarão, pediu risoto de camarão (R$ 70). Era mentira que ela não gostava, só pra constar. Então, ela pediu, e veio, mas não veio legal. O arroz tinha passado do ponto, havia galhos de tomilho (ou outra erva natural que não pode te prejudicar, mas às vezes prejudica) aos montes, faltou um pouco de tempero e poderiam ter vindo mais alguns camarõezinhos. Uau, com tudo isso acabo achando que a nota final dela foi bem condescendente. 

Mas quanta condescendência, menina!

De minha parte fui de paella valenciana (R$ 65). Chegou bonita, brilhante, colorida, e com um camarãozão por cima - o que, convenhamos, seria capaz de embelezar qualquer coisa. A paella valenciana traz, além dos frutos do mar, carne de porco e de frango. Servida na panelinha, bonitinha. Com os frutos do mar tava tudo ok, maravilha. Já o porco e o frango ou vieram secos ou vieram com pedaços de cartilagem incomíveis. Sim, vá lá, originalmente a paella era um prato de camponeses, e se colocava no arroz o que se tinha à mão. Mas isso não deve significar que no meu prato no ano da graça de 2020 devem vir pedaços incomíveis de carne. De resto, estava úmida e bem temperada, embora eu aceitasse uma porradinha a mais de picância.

Achei os outros três quartos do limão!

Desconsiderando "sorvete com calda" como sobremesa, são apenas duas opções: brownie e flambê (bananas salteadas na manteiga, canela e açúcar, flambadas na cachaça, servida com sorvete, R$ 25). Escolhemos essa última. No que tem de óbvio e pouco imaginativo, a nota seria zero. Mas como sorvete e banana são duas coisas que combinam muito bem, e como a cachaça estava bem inserida, sem aparecer demais, mas anunciando sua presença, não fomos tão cruéis. Mas é impressionante a incapacidade dos restaurantes - e aqui não é privilégio do Fim da Trilha - de pensarem em sobremesas um pouco mais criativas. 

Não tem erro, mas também não tem muito acerto

Conforme já dito, estávamos só nós dois no restaurante, o que facilitou o serviço. De maneira geral fomos bem atendidos, mas poderia nos ter sido informado que havia uma opção fora do cardápio, que só depois vimos escrita em uma lousa. E olha que haveria a chance de a Chris pedir o prato, já que unia risoto e peixe grelhado. Os tempos de espera para a entrada e sobremesa foram curtos, só demorando um pouco mais na entrega do principal - mas uma demora já prevista no menu, portanto não dá pra reclamar.

Acho que meu texto transparece a decepção que tivemos com o restaurante. Animados com nossa recepção durante a tarde, criamos uma expectativa que a cozinha não foi capaz de corresponder. Pratos com problemas no tempero (o que, vá lá, é gosto pessoal) e ponto (aí não tem muito o que dizer), além de uma falta de criatividade aliada a preços não tão amigáveis nos fizeram concordar que não faríamos uma nova visita ao Fim da Trilha - e parece que o próprio nome do restaurante já estava querendo nos avisar disso. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 7 e 6,5
Entrada (2): 6 e 5,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 5,5 e 5
Média: 6,12 e 6,20
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Trilha da Gruta (Vila de Encantadas) – Ilha do Mel - Paranaguá - Paraná
Telefone: (41) - 3426-9017/3426-9106
Site: https://fimdatrilha.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/pousadafimdatrilha/
Instagram: @fimdatrilha

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mar del Plata (Santos - SP) - 25/08/2017



Estávamos hospedados na praia de José Menino, e rodamos oito quilômetros pela bela orla santista para chegar ao Mar del Plata, que fica na Ponta da Praia. Instalado em meio a prédios residenciais, o restaurante se destaca na paisagem com suas janelas de vidro que deixam entrever seu salão. Em frente, cargueiros gigantes passam pra lá e pra cá no movimentado Porto de Santos. A casa está no mesmo lugar desde 1992, e esses 25 anos serviram para torná-la uma das mais tradicionais mesas da cidade.

Eu adorei o salão, bem iluminado, com os móveis e objetos em tons claros, espelhos em todas as paredes, fazendo o lugar parecer maior do que é, mas sem perder a sensação de intimidade. Para realçar ainda mais essa característica, confortáveis sofás encostados às paredes - onde, claro, nos acomodamos. Chris também gostou, mas não tanto quanto eu. Acho que é tão raro encontrar um salão bem iluminado que me deixei levar pela empolgação. Segundo o site, houve uma grande reforma em 2010, e sete anos depois é incrível como tudo parece novo.

Incrível como parece novo (o lugar, não o rapaz)

Ói nóis lá no espelho lá lonjão, ó lá!

Quase todas as opções de entrada são aquelas porções típicas que se encontra em bons quiosques de praia: isca de peixe, camarão à paulista, marisco ao vinagrete, lula ao alho e óleo, entre outras. Como não tínhamos areia sob nossos pés nem sol sobre nossas cabeças, optamos por algo mais singelo: casquinhas.

Chris escolheu a casquinha de siri especial (R$ 19). Não sabemos o porquê do adjetivo "especial", já que não havia a casquinha "não-especial". Fato é que a Chris achou a casquinha gostosa, com bastante gosto de siri. Outro ponto positivo é que não foram encontrados aqueles pedacinhos da casca do siri, que são bem desagradáveis. Mas ela achou que faltou uma porradinha a mais no tempero.

Uma porradinha cairia bem

Para mim a pedida foi o coquilles del mar (R$ 21), assim meio afrancesado, meio espanholado, mas que nada mais era do que a casquinha com vários frutos do mar (polvo, lula e camarão). Estava bonita, cremosa, saborosa e com todos os ingredientes no ponto certo. Não há muito mais o que pedir de uma casquinha.

Não posso pedir nada mais de você, coquille del mar
  
Sempre critico cardápios muito extensos, porque acho muito difícil que um restaurante possa manter a qualidade e a excelência em uma quantidade muito grande de pratos. No Mar del Plata as opções passam de oitenta, sendo que a maioria, claro, é focada em frutos do mar. Ainda bem que não tivemos que escolher, pois já fomos ao lugar sabendo o que escolheríamos: a meca santista, o prato típico da cidade.

No ano de 2005 um concurso promovido pela prefeitura, em conjunto com a Unisantos (Universidade Católica de Santos), escolheu os ingredientes que mais representam Santos. Deu meca, banana e palmito pupunha na cabeça. A partir dessa eleição o chef Rodrigo Anunciato criou o prato, que traz dois filés de meca, risoto de palmito com cenoura ralada e farofa de banana com bacon. Claro que é mais legal quando um prato espontaneamente se torna a cara de uma cidade ou região, mas acho válida a iniciativa da prefeitura, que certamente é boa para o turismo. Hoje a meca de fato se tornou uma tradição da cidade, e é servida em vários restaurantes.

No restaurante Mar del Plata a versão "inteira" custa R$ 189. Segundo o garçom ela serve até três pessoas, por isso escolhemos a versão "meia" (R$ 158, numa matemática que não faz muito sentido, mesmo se levarmos em conta que restaurantes costumam cobrar 70% do valor nas versões "meia", o que daria R$ 132,30). A refeição vem em uma travessa, que é servida pelo garçom nos pratos dos clientes. Como pedimos a versão reduzida, ganhamos apenas uma camarãozão, que foi dividido em dois. Mesquinharia, né? O peixe estava gostoso, embora pudesse se valer de um pouco mais de sal. Tem consistência bem firme, e quando é cortado chega a parecer um peito de frango. O arroz estava soltinho e saboroso, com o palmito pupunha bem macio. A farofa estava agradável, molhadinha pela presença da banana e também pela gordura do bacon. Mas é inegável que o prato é seco. Falta umidade, que a farofa não é capaz de proporcionar - aliás, muito ao contrário. Talvez se o risoto fosse feito com arroz arbóreo o resultado seria melhor. Mas ao final eu gostei, achei que houve mais qualidades do que defeitos, ao contrário da Chris. 

Tudo tão farto e um camarãozão só, poxa

Dois ícones de Santos: a meca santista e ao fundo as muretas brancas

O ideal seria pularmos esse parágrafo referente às sobremesas, mas não podemos, em nome do bom jornalismo. Dentre as opções disponíveis, perguntamos ao garçom quais eram efetivamente feitas no restaurante. Apenas duas, ele nos disse: o manjar e o pudim de leite (esquecemos de anotar o preço, mas custam em torno de R$ 10 cada). Chris ficou com o manjar, que foi feito com cravo, o que a desagradou bastante. Embora seja até comum o manjar ser feito com cravo, ela achou que a calda estava com gosto excessivo da iguaria, o que atrapalhou a apreciação. Eu fiquei com o pudim de leite que estava, para ser direto, medíocre. Até que veio com bastante calda, mas o pudim em si carecia de doçura.

Não chegou a ser um manjar dos deuses

Como direi? Medíocre

Os garçons, aparentemente, tem bastante tempo de casa. Isso às vezes se reflete em conhecimento do cardápio, jogo de cintura e agilidade. Noutras em um certo relaxamento, como se o jogo já estivesse ganho, ou tivesse perdido a graça. Tanto as qualidades quanto os defeitos de uma brigada antiga estão presentes no serviço do Mar del Plata. O garçom que esteve conosco na maior parte do tempo parecia tão à vontade na sua função que chegava a parecer desinteressado em alguns momentos. Mas não tivemos problemas maiores em relação ao tempo de espera entre os pratos nem demora para sermos atendidos - até porque éramos os únicos comilões durante boa parte da noite.

Imagine pedir um prato unitário, composto de arroz com palmito e cenoura, farofa de banana e bacon, dois filés de peixe e meio camarão por R$ 78. Caro, né? Pois dividindo o valor do prato pra dois, esse é o preço que se paga pela meca santista no Mar del Plata. A relação custo-benefício sai bastante machucada, mesmo sendo a meca um peixe relativamente caro. Talvez estando em três, ou até quatro, e pedindo o prato completo por R$ 189, essa relação pode melhorar. Mas não foi nosso caso. Esse foi o principal motivo de ambos concordarmos que não voltaríamos ao Mar del Plata. Como bons turistas que somos, realizamos nossa "obrigação" de comer o prato símbolo da cidade, e não nos arrependemos. Foi bom enquanto durou, meca santista. Um dia, quem sabe, voltamos a nos encontrar. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6,5 e 8
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 6,5 e 8
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 4
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,33 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. Alm. Saldanha da Gama, 137 - Ponta da Praia - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3261-4253
Site: http://restaurantemardelplata.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantemardelplata/

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quintal das Letras (Paraty - RJ) - 18/11/2016


Os mesmo donos do restaurante Quintal das Letras, em Paraty, possuem também a Pousada Literária e a Livraria das Marés, na mesma cidade e na mesma rua. Em um pedaço de Brasil tão poético como Paraty, associar o seu empreendimento à literatura parece ser uma escolha das mais acertadas. Em mais uma visita que fizemos à cidade, decidimos conhecer esse restaurante, que além do belo nome tinha também boas referências em guias e na internet.

Chris adicionando um verso à poesia de Paraty

Como não poderia deixar de ser - em se tratando de Paraty - o restaurante fica instalado em um casarão histórico. Deixar as três portas bem abertas é uma decisão inteligente dos proprietários, já que seria um desperdício um restaurante todo fechado em uma cidade tão charmosa. Nos instalamos bem pertinho da saída, para não perdermos a privilegiada visão das ruas de pedra. O restaurante aproveita bem o seu espaço, que não é tão grande, fazendo uso de um mezanino e de um pequeno corredor lateral - que só agora descobri que é ao ar livre. Desse modo as mesas não precisam ficar tão próximas umas das outras. Os tons de marrom predominam, já que a decoração é quase toda em madeira. O ambiente, se não chega a ser informal, também não tem nada de sisudo.

Para mim, a visão da Chris e de Paraty...

...para a Chris, a visão de mim e do restaurante. Me dei melhor!

Como um chamego é sempre bem vindo, ficamos felizes com o pequeno copo de gaspacho que cada um de nós recebeu de brinde enquanto ainda escolhíamos nossa entrada. Para quem não sabe, é uma sopa fria, normalmente feita de tomate. Pouco depois de nossa chegada entreouvi um cliente reclamando ao garçom da falta de sal no prato que ele havia comido. Não consegui descobrir qual era esse prato, mas a julgar pelo gaspacho a reclamação parecia improcedente. Estava bem temperado, até com alguma picância. Chris não gostou tanto, mas foi mais por causa da consistência da sopa fria.

Chameguinho bem-vindo

Não chega ao número de títulos brasileiros do Palmeiras (cinco, tá?) as vezes em que aceitamos o couvert em algum restaurante. Mas o deste aqui era irresistível. Confira: pães variados, pannacotta de palmito pupunha com cubinhos de tomate e alho negro, pastinha de cream cheese com jabuticaba e manteiga com flor de sal (R$ 28 para duas pessoas). Isso porque, na descrição do cardápio, não consta a telha de pão de queijo, que é como se fosse um pão de queijo na forma de uma torrada bem fina. Uma delícia, e muito prático para abdicar da faca e usá-lo para se servir. A pannacotta estava com uma textura agradável e bom tempero, suavizado pela presença do alho negro e do tomate, que dão uma adocicada no sabor. Nenhum de nós curtiu muito a manteiga com flor de sal, que acaba sendo tão somente uma manteiga bem salgada. Já o cream cheese de jabuticaba tinha um grande defeito de vir em pouquíssima quantidade. Ou seja: sobrou manteiga e faltou cream cheese em nossa experiência. Mas os pães eram gostosos e a apresentação, belíssima.

Fotos oblíquas denotam o talento do fotógrafo

Apesar de já termos comido o couvert, claro que não poderíamos abdicar de mais uma entradinha. Entre algumas opções interessantes - como a barriga de porco pururuca servida com caramelho de shoyu e laranja, farofa da Graúna e chantily de feijão (R$ 28) - acabamos escolhendo o crab cake Vale do Paraíba (bolinho de siri com arroz negro, coulis de açaí e degustação de pimentas, R$ 29). O que nos atraiu foi o bolo feito com carne de siri e arroz negro e, claro, a inusitada degustação de pimentas. São elas, por ordem de picância: biquinho, bodinho e cumari. A idéia é experimentar o bolinho junto com as pimentas, seguindo o grau de ardência. A idéia é muito boa, e o resultado é interessante, mas não pudemos deixar de notar que, sem as pimentas, o bolinho carecia de um pouco mais de tempero. Também fiquei curioso para experimentar o coulis de açaí, mas ele parecia uma sujeira no prato, e não algo para ser experimentado. Com consistência muito firme, e pouca quantidade, ele grudou na louça, e não conseguimos sentir seu sabor. Uma pena. No fim das contas gostamos mais da criatividade do que propriamente dos sabores da entrada.

Muita poesia e pouca prosa

Há duas seções no cardápio de pratos principais: "do mar para mesa" e "do campo para mesa". A primeira tem duas páginas, a segunda apenas uma. Nada mais justo em uma cidade litorânea. Os pratos são todos individuais, e poucos ficam abaixo dos R$ 70. Pratos com camarões são os mais caros, chegando perto dos R$ 100, enquanto o nhoque de batata baroa é listado por R$ 62. Talvez o cardápio pudesse ser mais criativo nos nomes das criações, usando de referências literárias para fazer jus ao nome do lugar. Mas há títulos curiosos, como "risoto de polvo malandrinho" (que eu quaaase pedi) e "bacalhau pensado na cama".

Por falar em nomes curiosos, Chris escolheu o peixe Maria Panela (peixe assado com ervas, cebolas, azeite e vinho branco, com batatas crocantes, alho negro, alecrim e flor de sal, R$ 88). O peixe que veio à mesa foi o robalete, que, como se pode supor, é uma versão menor do robalo. Apresentação bonita, com o peixe recheado, servido quase inteiro, sem cabeça (e supostamente sem espinhas) com as batatas ao lado. Como os parênteses ao lado entregam, a Chris encontrou uma malfadada espinha no peixe, o que é sempre reprovável. Outra coisa que ela reprovou foram os alecrins servidos frescos e inteiros, que ela inadvertidamente confundiu com espinhas em alguns momentos. Quanto ao sabor, a princípio ela até gostou, mas achou enjoativo com o tempo, com sabor de vinho muito intenso. Outro problema foi que, quando provado sozinho, o peixe estava sem sal - provavelmente foi esse o prato que o outro cliente pediu e encontrou o mesmo defeito. Mas se salvaram as batatas, que ela gostou bastante.

Assim assim...

De minha parte escolhi o mexidinho do mar (camarões, lulas e polvo com risoto de arroz negro, cubinhos de tomate e de palmito pupunha, R$ 96). A apresentação não tem muita sofisticação, como já indica o nome do prato. Achei que o molho tinha sabor forte demais, complicado de se comer em separado. Mas em conjunto com o arroz negro ficava mais harmonioso. A consistência do polvo e dos camarões estava perfeita, mas achei a lula um pouco borrachuda, além de cortada em pedaços irregulares, alguns muito grandes. Trata-se de um prato intenso, para fortes, o que talvez não fosse meu caso nessa noite.

Ai, quanta intensidade...

Para a sobremesa a Chris deixou a escolha em minhas mãos, e eu estava bem propenso a pedir o pot-pourri Frederic de Maeyer (torta de cupuaçu com aipim e coco, tarte tartin com especiarias e pannacotta de iogurte e chocolate branco, compota de banana e maracujá, R$ 34). Parecia um bom apanhado do que o chef Frederic (que comanda o restaurante Eça, no Rio de Janeiro) é capaz de fazer em termos de sobremesas. Mas, por conta de nossa refeição ter sido bem farta, com couvert, entrada e prato principal, achei que o pot-pourri seria demais para nós, e acabei escolhendo o trio de crème brûlée (chocolate, fava Tonka e frutas vermelhas, R$ 29). Apresentação simples mas bonita. O crème brûlée tem aquele açúcar queimado por cima, mas achamos que os de chocolate e de fava Tonka estavam com o açúcar queimado demais. Chris achou o sabor do de chocolate muito parecido com o do pudim que ela compra no supermercado. Ambos gostamos mais da opção com frutas vermelhas, que estava mais gostosa e equilibrada, com o açúcar menos queimado. Outro ponto positivo, dos três, é que o açúcar não estava muito duro, e era fácil de cortar, ao contrário do que já nos aconteceu até mesmo no Olympe, no Rio de Janeiro.

Um trio de três para uma dupla de dois

Começamos nossa refeição com uma cerveja de Paraty, a Caborê Pilsen (R$ 19). Já conhecíamos a cerveja de nossas outras visitas à Paraty, e não tínhamos gostado muito, mas resolvemos dar mais uma chance. Mas ela continua um pouco insossa. Terminamos nossa refeição com água, que essa não tem erro.

Os garçons se mostraram muito atenciosos, e conhecedores do cardápio. Aquele que nos atendeu recitava de cor os ingredientes dos pratos, sem precisar "colar", e demonstrava entusiasmo ao falar das opções da casa. Ao final ele perguntou o que tínhamos achado da refeição e Chris fez a mesma reclamação do outro cliente sobre a falta de sal. Sua resposta foi a mesma: "é que nosso chef não gosta de carregar muito no sal". Bem, na mesma noite o chef recebeu duas reclamações iguais, então talvez seja o caso de rever os preceitos. Senão, de que serve perguntar aos clientes o que acharam? Também sentimos uma pequena demora para a entrega dos pratos principais, mas nada que chegasse a incomodar muito. Para finalizar as queixas, bem que poderiam ter nos avisado que o corredor lateral é ao ar livre, já que do lado de dentro não dá para perceber esse diferencial da casa.

Começamos a refeição muito bem impressionados com o gaspacho de cortesia, com o couvert extremamente bem apresentado e com a entrada criativa. Também ficamos felizes com o atendimento atencioso, bem instruído e dedicado. Mas os pratos principais nos decepcionaram um pouco. Acho que foi por conta disso que chegamos à conclusão que não voltaríamos ao Quintal das Letras. Em nossas futuras visitas à Paraty - e elas acontecerão, porque amamos a cidade - daremos oportunidades a outros restaurantes. Mas, quem sabe um dia, quando estivermos visitando a Livraria das Marés, do mesmo dono, poderemos sentir o cheiro da comida ao lado e nos animarmos a voltar. Afinal, como diria Nietzsche, de quem a Chris não gosta mas com quem há de concordar, "não há fatos eternos como não há verdades absolutas".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8,5
Couvert(2): 7 e 8,5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,42 e 7,46
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua do Comércio, 58 - Centro Histórico - Paraty - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 3371-2616
Site: http://www.pousadaliteraria.com.br/gastronomia/quintal-das-letras1.htm















segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cassiano (São José dos Campos - SP) - 28/06/2016


Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas


Este é um trecho do poema "Ficaram-me as penas", do poeta Cassiano Ricardo, nascido em São José dos Campos em 1894. Depois do volante Casemiro, que joga no Real Madrid, talvez ele seja a mais importante personalidade nascida na cidade (preciso avisar que é ironia, ou tá compreendido?). Em sua homenagem foi batizado o restaurante Cassiano, que fica no Hotel Golden Tulip, que por sua vez, como uma matriosca, fica dentro do Shopping Colinas. A homenagem está no nome e no slogan do restaurante: "um poema da culinária portuguesa". Todo o cardápio e o serviço do restaurante foram elaborados por Manoel Pires, conhecido como Manoelzinho, antigo e lendário maitre do restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro. Para conferir tanta poesia eu e Chris visitamos o lugar em uma terça feira bem fria.

O Cassiano que é dentro do Golde Tulip que é dentro do Colinas Shopping

Adentramos o hotel pensando que teríamos que pegar um elevador para nos dirigirmos ao restaurante. Mas olhando para cima já avistamos as mesinhas, e descobrimos que uma pequena escada lateral leva ao Cassiano, no mezanino do próprio salão de entrada. Ambiente amplo e sóbrio, mas com boa iluminação, e nas mesas pequenos candelabros com luzes tremulantes, imitando velas. Cadeiras estofadas e confortáveis, com boa distância entre as mesas. Algumas delas, encostadas na parede, contam com sofás. Mas nós escolhemos uma bem próxima à beira do mezanino, que é pra ter vista do hotel, seu menino!

A lâmpada tremula como se vela fosse

O cardápio acompanha a veia artística do lugar, e parece mais um livro de poesia concreta, uma das vertentes que Cassiano Ricardo abraçou ao longo da carreira. Nada é apresentado de maneira convencional, e os nomes dos pratos acabam formando figuras que se relacionam com aquela seção do menu, como o formato de um peixe na página de frutos do mar. Mas tudo na vida tem um porém, e neste caso o problema é que a descrição dos pratos não vem.

Os peixes que formam um peixe

O artístico cardápio começa com as tapas, que são os aperitivos, antepastos, entradas, enfim, aquelas comidinhas para abrir o apetite. O termo é mais comumente relacionado à culinária espanhola, mas é também usado em Portugal. Queríamos muito o paio caseiro assado na bagaceira (R$ 23), mas estava em falta. Entre as outras opções disponíveis, muitas apresentavam ingredientes que um de nós dois não é muito fã (caso da lula para a Chris e do bacalhau para mim), de modo que acabamos pedindo o trio de rissoles de camarão (R$ 14). Achamos bem feito, com recheio bem cremoso, um camarão inteiro em cada, mas né, no fim das contas são apenas rissoles. Por mais que sejam bons, e até vistosos, nunca serão maravilhosos.

Um trio de três para uma dupla de dois

Para acompanhar nossas tapas, pedimos um cerveja Theresópolis. Pedimos, mas ela não veio, porque estava em falta. Acabamos tomando, durante toda a noite, quatro long necks da Cerpa (R$ 9 cada), cervejaria do Pará (aliás, Cerpa é exatamente a junção das duas sílabas iniciais de "Cervejaria Paraense") pela qual criamos grande empatia em nossa duas viagens a Belém. Vieram acompanhadas de um balde de gelo, então nem é preciso dizer que estiveram sempre geladíssimas. Há uma carta de vinhos que é disponibilizada em um tablet, elaborada pelo Boni, aquele mesmo da Globo. Mas, em minha rápida olhadela, não me lembro de ver nenhum rótulo por menos de cem reais, então só quem pode comprar são Boni e seus iguais.

Embora o cardápio tenha uma página dedicada a "Ovos e Massas" e outra chamada "Nossas Tigelas", podemos dizer que os pratos principais estão divididos em "Especialidades Cassiano do Mar" e "Especialidades Cassiano da Terra". Os pratos são individuais, e nenhum custa menos de setenta reais. A parte dedicada ao mar traz quatorze opções, enquanto a terra traz quatro. Aí já fica explícita a verdadeira vocação do lugar, vocação esta à qual não podíamos nos esquivar.

Das quatorze opções de pratos "do mar", cinco são dedicadas ao bacalhau, astro inconteste da culinária portuguesa. Eu não sou fã do pescado, e Chris, que gosta, não estava afim dele naquela noite. Ela acabou escolhendo o brochete de camarão à moda de Moçambique (R$ 98). Brochete é um termo derivado do francês, e seria algo parecido com o nosso espetinho de churrasco, que muitas vezes traz a carne intercalada a legumes. Neste caso o prato trouxe quatro camarões VG (descobri agora que VG quer dizer "verdadeiramente grande",  nunca imaginei que era isso, gente) intercalados com pedaços de pimentão, cebola e tomate, mas sem trazer o espetinho propriamente dito, que, acho, não ficaria bem em um restaurante chique. Os acompanhamentos são arroz de amêndoas e couve crocante. Embora a Chris adore camarões, ela pediu o prato por conta do arroz de amêndoas, e este, infelizmente, veio sem tempero. Já os camarões estavam bem temperados e no ponto certo. Mas o que a Chris realmente adorou foi a couve crocante, que estava saborosíssima, além de brilhante.

Desculpe a nossa falha: problemas técnicos nos deixaram sem a foto do prato da Chris, então improvisamos com um zoom em uma foto mais de longe.

Eu também fiquei nas especialidades marítimas, e escolhi os - assim prosaicamente denominados no cardápio - frutos do mar grelhados (R$ 98). Acompanhando a simplicidade da denominação, o prato se consiste em vieira, lula, polvo, lagostim, camarão, salmão e abacaxi (que não é do mar!) grelhados, acompanhados de uma batata e arroz de brócolis. Sem muita invencionice, mas com cada ingrediente muito bem cozido e muito bem temperado. Exceto - para não deixar a Chris com inveja - o arroz, que também estava sem tempero. Mas tudo o mais vira poeira depois de saborear aquela vieira.

Um deleite para os olhos e papilas gustativas, ó pá!

Agora é só comer, ora pois

Junto com nossos pratos foi servido um delicioso molho moçambicano, à base de manteiga, ervas e pimenta, que deu uma levantada no sabor dos pratos. Embora ele por si só não resolva a falta de tempero dos nossos arrozes, é certo que ajudou a amenizar um pouco este defeito. Achei que o molho era acompanhamento do prato da Chris, que tem origem em Moçambique (o prato, e não a Chris!), mas o garçom nos disse que ele é servido junto com todos os pratos do mar. O molho é de fato uma delícia, e a pimentinha deixa na garganta como que uma carícia.

O cardápio também economiza nas explicações em relação a sobremesas. Lista apenas doces conventuais, frutas da época e sorvetes. Os dois últimos não precisam de muita explicação, por isso pedimos a ajuda do garçom para entender melhor os doces conventuais, que são os doces típicos de Portugal. Há quatro opções, e todas custam R$ 24. Chris pediu o estrogonofe de nozes e eu pedi o toucinho do céu. Explicando: o estrogonofe de nozes é um doce de leite misturado a nozes trituradas e o toucinho do céu é uma espécie de torta de amêndoas. O primeiro veio com o doce de leite bem delicado, com uma textura bem leve, mas que acabou ficando um pouco enjoativo depois de algumas colheradas. Já o segundo estava bem gostoso e equilibrado, mas um pouco seco. Resultado: misturamos os dois e ficou muito bom. Na hora da avaliação geral cada um fez uma média dos dois pratos para chegar à nota final.

Estrogonofe de nozes, é possível?

O Fê, os Beatles e o toucinho do céu

Escrevi mais acima que o cardápio não traz a descrição dos pratos. Ambos consideramos isto um defeito no serviço. Por mais que esteticamente o cardápio seja belíssimo, é mais importante que ele seja prático. Tivemos que perguntar tudo para o garçom, mas como eram muitos pratos, assim que ele ia embora a gente já tinha esquecido metade do que ele havia dito. Aí ficávamos ali nos perguntando "o que era isso mesmo?". E toca chamar de novo o Batista. Feita esta ressalva, vale dizer que o referido e nominado garçom nos atendeu muito bem, com cortesia e demonstrando extenso conhecimento do menu, com detalhes de ingredientes e até técnicas de preparo.  O tempo de espera dos pratos foi compatível com a dificuldade aparente em prepará-los. No começo da refeição um dos garçons nos colocou à mesa quatro garrafas d´água, que até pensamos serem cortesia, mas vieram cobradas ao final - vale dizer que ele não nos serviu antes de perguntar se aceitávamos. Outro pequeno problema que encontramos foi a falta de alguns itens (cerveja Therezópolis e paio caseiro), citados no decorrer do texto. Ao final, um mimo que nos surpreendeu: uma réplica do cardápio, com um autógrafo em fac-símile do citado Manoelzinho, ex-maitre do restaurante Antiquarius no Rio de Janeiro. Já ganhamos brindes antes, mas cardápio? Foi o primeiro.

Chris disse, antes mesmo de os pratos chegarem, que se o dela estivesse bom ela responderia sim à pergunta sobre se voltaria ou não ao restaurante. Isto porque ela ficou com vontade de comer outras opções do cardápio. O mesmo aconteceu comigo. E ambos acabamos concordando que valeria a pena um retorno ao Cassiano. Os preços não são baixos, e para piorar ambos escolhemos os pratos mais caros que haviam. Mas há um retorno evidente nos ingredientes de primeira, no serviço competente, e até na beleza do cardápio - malgrado sua falta de praticidade.

Para terminar, um belo poema escrito por Cassiano Ricardo:

A outra vida

Não espero outra vida, depois desta.
Se esta é má
Por que não bastará aos deuses, já,
A pena que sofri?
Se é boa a vida, deixará de o ser,
Repetida.


Ao que nós completamos: em relação à vida talvez não valha mesmo a pena repetir, mas quanto ao restaurante Cassiano, por que não voltar, quem sabe no próximo ano?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 7
Serviço(2): 7,5 e 8,5
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,04 e 7,58
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Avenida Major Miguel Naked, 144 (Colinas Shopping) - Jardim das Colinas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cassianorestaurante.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cassianorestaurante/?fref=ts











domingo, 29 de novembro de 2015

Il Vicoletto (São José dos Campos - SP) - 25/11/2015

Ruela ou beco. Esta é a tradução em português para vicoletto, palavra italiana. A tranquila Rua Ipiranga, onde fica o restaurante Il Vicoletto, pode não ser exatamente um beco, mas é calma e pequena o suficiente para compreendermos o nome dado ao estabelecimento. Fica em um dos trechos mais arborizados e serenos do agitado bairro da Vila Ema. É bem escondidinho, como um tesouro bem guardado.

La facciata

Chegamos às 19h30 e já havia bastante gente por lá. Fizemos reserva, que não chega a ser imprescindível, mas é recomendável. No decorrer da noite o lugar ficou bem cheio. A fachada é bem discreta, assim como a decoração no interior. Mesas e cadeiras de madeira, estas últimas estofadas, proporcionando um bom conforto. Chama a atenção o enorme espelho em uma das paredes, dando uma sensação de profundidade. Para dar um ar rústico, a parede tem "falhas" para que os tijolinhos laranjas fiquem à vista. A cozinha fica atrás de uma parede envidraçada, então é possível aos curiosos observar a movimentação lá dentro. Não gostamos muito da aparência física do cardápio, que carecia de um pouquinho mais de charme e beleza. Era mais condizente com uma cantina, e não com alta gastronomia, como era o caso. Há também um certo problema em relação aos banheiros do restaurante. O espaço é exíguo e limitado a uma pessoa por gênero, e o lavatório é de uso comum, e bastante apertado.  

Chris e o espelhão

Fê e os tijolinhos à vista

Para iniciar os trabalhos, pedimos de entrada o carciofi toscana (R$ 34). Não sabe o que é? Explico. Alcachofra italiana, cogumelos frescos e crosta especial gratinada. A tal crosta especial parecia feita de pão de fôrma torrado, bem crocante. Seja lá do que fosse, estava tudo uma delícia. Acho que "matamos" tudo em uns cinco minutos, porque não conseguíamos parar de comer. Tudo era saboroso, mesmo quando experimentado em separado, coisa que fizemos com todos os ingredientes. Além de sabor, muita textura. Se dá para colocar um porém, é o fato de ser muito grande para uma entrada. Mas não nos fizemos de rogado e acabamos com tudo.

Il antipasto

Depois da maravilhosa entrada, já ficamos ressabiados. Já aconteceu algumas vezes a "maldição" da entrada, quando nos refestelamos com ela, e o prato principal fez "fóin fóin fóin fóin". Mas o prenúncio era bom: apenas oito opções de pratos principais. Gosto disso, significa que a cozinha não tenta abraçar o mundo, e se foca no que sabe fazer. Aliás, com bebidas, entradas, principais e sobremesa, todo o cardápio do restaurante se resume a uma página! Ah, se todos fossem assim. Há também uma lousa, dessas mesmo de escola, onde há algumas opções extras de pratos principais, provavelmente cambiáveis de acordo com o dia, onde os chefs se permitem alguns testes. Havia um gnocchi, por exemplo, que segundo o chef Adolfo Pierantoni tinha sido testado na noite anterior pela primeira vez, pelos próprio funcionários.

Agora é só mangiare

Chris escolheu uma das opções fixas do cardápio, o riso venere di mare (risoto de arroz negro com frutos do mar grelhados, R$ 94). Os frutos do mar eram lula, polvo, camarão e robalo, mas Chris pediu para tirar os dois primeiros, que não são de seu agrado. Seu pedido foi gentilmente aceito pelo chef, que para compensar caprichou nos camarões. Mas desconfio que se viesse só o arroz ela já ficaria satisfeita. Assim como na entrada, todos os itens estavam muito saborosos, de comer gemendo desde a primeira garfada (sim, ela fez isso!). Apresentação bem convencional, mas quantidades perfeitas, com os frutos do mar e o arroz "terminando" ao mesmo tempo. Eu sou famoso na família por ser o "encontrador" de espinhas, e não foi diferente mesmo em um restaurante tão chique. Chris me deu uma garfada, e claro que eu achei uma maledeta e pequenina, o que certamente não é o esperado, tampouco o desejado. Mas podemos dizer que eu salvei a Chris, e a experiência dela se manteve próxima à perfeição.

Nada de moluscos para a Chris, só crustáceos e peixe

Eu escolhi uma opção da lousa, estudioso que sou. Foi o cordeiro com cogumelos e risoto de açafrão (R$ 87). Já tinha comido risoto de açafrão em nossa visita ao Confraria do Sabor, em Campos do Jordão. Mas a impressão é que era a primeira vez que eu comia um risoto de açafrão, com todo o respeito ao Confraria - onde coincidentemente a combinação também era com cordeiro. Aqui no Il Vicoletto, muito sabor, além do cozimento perfeito do arroz. A carne de cordeiro também estava ótima em consistência e gosto, combinando muito bem com o risoto. Uma pena que a proporção não era perfeita, e o risoto acabou "sobrando" no prato depois de terminado o cordeiro. Mas as aspas no "sobrando" são merecidas, porque eu comi o risoto todinho, mesmo sem cordeiro para acompanhar. Uma delícia. Meu final de refeição foi até engraçado, porque a Chris tinha deixado um cadinho da comida dela no prato, e eu comecei a misturar os restos dela com os meus, ficando tudo uma zona. Mas uma zona das boas.

Tem um tomatinho querendo fugir

Se para os pratos principais as opções são enxutas, para as sobremesas o conceito é radicalizado: apenas três opções. São elas creme brulée, pannacotta e torre il vicoletto (bolachas crocantes de amêndoas com mousses de chocolate branco e amargo). Duas tradicionais (uma francesa e uma italiana) e uma mais inventiva. Fomos na tradição italiana e escolhemos a pannacotta Il Vicoletto (R$ 26). O cardápio acrescenta "com calda do dia" à descrição do prato. No nosso dia era calda de maracujá com frutas vermelhas. Embora a pannacotta estivesse muito melhor do que a outra que experimentamos lá no Barba Negra em Florianópolis, a calda acabou sobressaindo em demasia. Maracujá é sempre um problema sério para se trabalhar, por ser forte demais. Mas certamente não foi uma experiência desagradável. E serviu para descobrirmos a consistência perfeita de uma pannacotta, que não é a mesma de uma gelatina. É mais firme, e consegue ser macia sem derreter na boca ao primeiro toque.

Não era ruim, mas não acompanhou a excelência 

O restaurante tem uma carta de vinhos, que acabamos nem abrindo, porque resolvemos tomar cerveja mesmo. E foi apenas questão de gosto, não de economia, como será provado. A casa trabalha com a Cervejaria Dortmund, com sede na cidade de Serra Negra (SP). Combinando com a "enxutez" do resto do cardápio, há apenas três opções de estilos: IPA (que no dia de nossa visita estava substituída por uma red ale), pilsen e witbier. Acompanhamos a entrada com a pilsen Pils (R$ 28) e os pratos principais com a witbier Schloss (R$ 26). Ambas muito bem feitas e muito saborosas, com destaque para a deliciosa witbier.

O serviço é conduzido com propriedade (literalmente!) pelo sócio e chef Adolfo Pierantoni. Ele vem à mesa, fala alto e gesticula como bom italiano, e dá um ar genuíno à experiência. Por vezes pode ser que você esteja querendo conversar tranquilamente, e ele estará falando alto ao seu lado. Mas faz parte da imersão italiana. O garçom que nos atendeu também entedia tudo do cardápio, dando informações com segurança e se mostrando presente mesmo com o restaurante bem cheio. Tivemos problema com a entrada, que nos pareceu ter demorado mais do que deveria. E também com a retirada das louças e talheres da mesma entrada, quando saímos para a Chris fumar, voltamos, ainda fomos ao banheiro, voltamos à mesa, e eles permaneciam lá.

Ao final, tudo se resume ao sabor. Nos importamos com estéticas e belezas, com serviços e simpatias, com banheiros e milongas, mas o mais importante é o sabor. E o Il Vicoletto tem sabor de sobra. Ainda mais importante: tudo no Il Vicoletto é muito bem temperado, mas as individualidades de cada ingrediente não se perdem. Sabemos que estamos diante de uma alcachofra bem temperada, de um cordeiro bem temperado, de um arroz bem temperado. Isso é raro de se encontrar, esta perfeita harmonia entre um bom tempero e o gosto de cada elemento.

Por tudo isso, eu e Chris concordamos enfaticamente que voltaríamos ao Il Vicoletto. Eu cheguei até a sugerir que fôssemos uma vez por mês, até esgotarmos todos os pratos principais, e aí começarmos a repetí-los. Mas não temos cacife para tanto. Por enquanto nos contentamos com a memória de uma noite maravilhosa, e com a promessa de voltarmos assim que possível.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 8
Entrada(2): 9 e 9
Prato principal(3): 9 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7,5 e 7,5
Média: 7,87 e 8,12
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Ipiranga, 143 - Vila Ema - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3913-1408
Facebook: https://www.facebook.com/IlVicolettoBrasil/?fref=ts






quarta-feira, 10 de junho de 2015

La DOC Gastronomia (Sorocaba - SP) - 30/05/2015

DOC. Denominazione di origine controllata. A sigla italiana é usada para certificar produtos agrícolas diversos. É como um atestado de qualidade. O restaurante sorocabano de cozinha italiana La DOC Gastronomia, ao usar  tal sigla em seu nome, está nos dizendo, provavelmente,  que só usa ingredientes de qualidade em suas receitas. Em nossa viagem para Sorocaba teríamos apenas uma noite para jantar fora, por isso escolhemos o único estabelecimento da cidade que tem uma estrela no Guia 4 rodas, publicação que sempre usamos para nos guiar em nossas andanças pelo Brasil.

Quando se entra no lugar, a primeira coisa que chama a atenção é o pé direito alto, bem acima dos padrões normais. A impressão é a melhor possível, claustrofobia zero. Outro diferencial é uma pequena árvore no meio do salão. Restaurantes chiques adoram um lusco-fusco, mas aqui a iluminação, embora suave, é bastante farta, o que muito me agrada. Em uma das laterais, parede com tijolinhos à vista, completando o agradável ambiente. Mas uma coisa desagradou: a sinalização que indica qual banheiro é masculino e qual é feminino é discreta demais, ficando difícil de se verificar de longe qual é qual. Ou seja, para quem não enxerga muito bem, só dá para saber chegando bem pertinho, e neste momento você tem cinquenta por cento de chances de estar na porta do lugar errado.

Isso sim é um pé direito!

Escolhemos uma entrada bem italiana, as bruschettas com presunto, queijo e folhas verdes (R$ 39,00). Devo dizer que já comemos bruschettas melhores feitas em casa por minha mãe. Mas aí é covardia. Vou melhorar (ou piorar): eu mesmo já fiz bruschettas melhores. O pão estava bem crocante, e o todo não estava ruim, mas não era nada mais do que presunto, queijo e folhas verdes por cima de uma torrada. Esperava algo mais elaborado, pelo preço e pelo local em que estávamos.

Não conquistou

No quesito "prato principal", claro que o forte do cardápio são as receitas italianas. Aliás, todos os pratos vem com o nome em italiano, e logo abaixo a "tradução" em português. Muitas opções de massas diversas, mas também carnes e frutos do mar. E também massas misturadas com carnes ou com frutos do mar. Várias alternativas que aguçam o paladar, portanto foi daqueles dias em que demoramos um pouquinho a escolher nossas refeições. Os pratos são todos individuais, e custam em média sessenta reais.

Nosso pratos, depois de muita escolha

Chris não queria ficar longe de seu amado filé mignon, mas também queria algo tradicionalmente italiano. Por isso foi de mignon envolto com presunto cru grelhado e risoto de alcachoras (R$ 64). Quando ela experimentou os dois juntos, achou muito bom. Mas individualmente o risoto estava com excesso de sal. A carne não veio exatamente mal passada como a Chris desejava, mas chegou perto. Um pouco de alho poró frito veio por cima da carne, e deu crocância ao prato. Apresentação apenas razoável.

Chris gostou, ma non troppo

Eu, que sempre gosto de experimentar algo que nunca comi, fui de massa fina com tinta de lula, lula, polvo, camarão, rúcula e tomate cereja (R$ 66). No caso o que eu nunca tinha comido era a tal tinta de lula, que dá um sabor bem forte ao prato. Por falar em força, a comida veio quente demais, e quase queimei minha boca, que foi salva por um providencial gole de água. Se estivesse em casa eu teria cuspido de volta no prato. Mas os frutos do mar estavam no ponto certo, o tomate deu uma adocidada interessante, e o sabor estava bom. Só a rúcula que eu achei que sumiu um pouco no meio de tudo, não senti sua presença, embora tenha visto que ela estava ali.

Buono, ma ben caldo

Na hora da sobremesa, Chris queria uma à base de café (que eu não gosto) e eu queria uma que envolvia figos (que ela não gosta). A solução, claro, foi cada um pedir a sua.

Chris então escolheu a ganache de chocolate com avelãs e calda de café (R$ 24). Ela adorou os grãozinhos de café que vieram junto com o doce. Estavam bem crocantes, e eu até fui forçado a comer um. Também gostou da calda e do recheio de avelãs, mas achou a ganache, que era o principal, um pouco sem graça.

Bem da bonitinha, não?

Minha escolha foi o merengue feito em casa com figos e morango na calda de vinho (R$ 25). Não sei na casa de quem o merengue é feito, mas estava um pouco duro, deu um certo trabalho para quebrar. Mas achei a mistura muito harmoniosa, sem excesso de açúcar, e visualmente tentadora, embora um pouco bagunçada. Mas doce é para dar água na boca, não necessariamente para ser lindo. Já comi belos cupcakes que deveriam ser apenas artigo de decoração.

O "massaroco" gostoso

O serviço nos incomodou um pouco no começo, quando o restaurante estava vazio e uma turma grande de clientes foi acomodada bem ao nosso lado, tirando um pouco da nossa privacidade sem necessidade. Mas, depois que o lugar encheu um pouco, havia quase um funcionário por mesa, e sempre atentos, embora evidentemente houvesse alguns mais atentos que outros. Quando eu precisei da conta, por exemplo, apenas tive que levantar a cabeça, e um deles bem ao longe percebeu meu gesto característico de solicitação da dolorosa. Quanto esta chegou, veio com um carimbo bem grande, dizendo "Não cobramos taxa de serviço". Mas quando o garçom veio com a maquininha de cartão, soltou um "Senhor, o serviço não é obrigatório, o senhor deseja incluir?". Tá de sacanagem, né parceiro? Quero ver um cristo dizer que não. Então, quer dizer, não cobra...mas cobra.

Como eu gostei de quase tudo que comi, e também do serviço e do ambiente, achei o custo-benefício aceitável. Já a Chris, que foi mais infeliz em algumas de suas escolhas, claro que não gostou tanto assim. Também por essa mesma lógica nós divergimos sobre uma possível volta ao local. Chris não voltaria, eu sim. Mas o restaurante pode tranquilamente continuar usando o "DOC" em seu nome. Não dá para reclamar da qualidade dos ingredientes. O uso deles, aqui ou ali, é que pode ser um pouco melhorado.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 9
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 7,5 e 8
Sobremesa(2): 7 e 8,5
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 7,45 e 8,12
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Francisco Moron Fernandes - Parque Campolim - Sorocaba - SP
Telefone: (15) 3224-4747
Site: http://www.ladocgastronomia.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/LaDocGastronomia