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terça-feira, 28 de março de 2017

Mediterranium (Formosa - GO) - 28/02/2017


Não pense mal de nós, adoramos arroz com feijão. Mesmo. Mas quando estamos em alguma cidade e buscamos um restaurante para entrar aqui no blog, tentamos achar algo diferenciado, com uma proposta que saia um pouco do lugar comum. Ninguém iria aguentar ficar lendo aqui só sobre arroz e feijão. Estávamos em Formosa, no estado de Goiás, e esse restaurante diferenciado não parecia existir na cidade, que é bem simples e pacata. Mas pesquisando na internet descobrimos o Mediterranium, que parecia ser o que procurávamos.

"Ei, amor, parece ser o que procuramos!"

De fato, a própria chegada ao restaurante já impressiona pelo contraste com o restante das casas da cidade. Uma entrada para carros, um estacionamento grande, um prédio moderno e alto, com jardins ao redor. Do lado de dentro não é diferente: salão amplo, cozinha envidraçada, cadeiras confortáveis (apesar de pesadas demais) e um bar. Tudo decorado com bom gosto, embora deva confessar que a TV ligada em um canal de esportes destoava um pouco do ambiente. Também achamos estranho, embora ecologicamente correto, que os guardanapos fossem de papel. E, me perdoem, mas não posso deixar de falar do banheiro: em frente à pia uma parede envidraçada com vistas para um jardim. Até foto eu tirei, que nunca tinha visto coisa assim, rapaz.

Nossa cervejinha, as cadeiras que exigem guindaste e o belo salão

Porque se eu tivesse falado que tirei foto e não mostrasse vocês ficariam brabos

Entre brusquetas, bolinhos de bacalhau e pranchas de frios, resolvemos comer carne crua de entrada, e pedimos o Carpaccio Mediterranium (com molho de mostarda de Dijon, coberto com parmesão e rúcula, acompanhado de cesta de pães, R$ 42). Gostamos da apresentação, e gostamos mais ainda das torradas cortadas finamente e bem temperadas. O tempero da carne, com o molho de mostarda Dijon (de gosto bem acentuado), estava equilibrado e agradável, embora a Chris tenha sentido um gosto um pouco mais forte de vinagre. Mas agradou bastante.

Rodelas de carne crua para carnívoros empedernidos

Empedernidos e famintos

Outra coisa que não condiz muito com o ambiente mais sofisticado do restaurante são as fotos dos pratos no cardápio. É fast-food demais da conta, além do incontornável fator "ei, na foto tava mais bonito!". As divisões também são um tanto insólitas. Primeiro, escrito em bom (?) italiano, "Le paste e risotti". Depois em bom português, "Direto do mar" e "Da fazenda". Parece um conflito de personalidade. E, sendo chato pracas, se é "Direto do mar" tinha que ser "Direto da fazenda", e não apenas "Da fazenda". Até porque, sendo mais chato ainda, o mar está a 1.300 quilômetros de Formosa.

Chatices à parte, Chris escolheu um risoto (ou "risotti"?) de limão siciliano, com camarões e lagostim (R$ 58). Infelizmente o ponto do arroz passou bastante. Além de os grãos estarem murchos, o risoto veio envolvido em caldo, parecendo uma canjica. Ou, nas palavras da Chris, uma papa. Para piorar, os camarões e o lagostim não tinham tempero algum. Ela me deu um camarão para provar, e parecia saído, realmente, direto do mar, sem contato com sal, pimenta e coisas assim. Uma pena, porque a apresentação estava boa, e o sabor do risoto aceitável.

Canjiquinha, vai?

Eu achei mais seguro pedir alguma coisa "Da fazenda", que deve ficar pertinho do restaurante. Escolhi o Chorizo Black, um corte de Black Angus com molho chimichurri, acompanhado de risoto de tomate seco (R$ 66). Apresentação sem invencionices, e carne no ponto solicitado. Molho chimichurri um pouco forte. O arroz também passou um pouco, embora bem menos do que o da Chris. Mas o sabor do risoto estava ótimo. A proporção também estava correta, e se eu não comi tudo foi mais para deixar espaço para a sobremesa. Não obstante, é forçoso notar que quando algo está inesquecivelmente gostoso a gente nem pensa nessas coisas. Não era o caso.


Não é inesquecivelmente gostoso, mas é gostoso

A seção de sobremesas do cardápio vem com o título "Dolces & gelatos", em italiano, mostrando mais uma vez uma indecisão linguística que precisa ser resolvida. Talvez num analista. As opções não fogem muito do óbvio, e escolhemos o Red Berry (in english!), que são frutas vermelhas flambadas e servidas com sorvete de creme e castanhas (R$ 16). Embora a taça tenha vindo bonita, basta olhar a foto para saber que, assim que enfiamos a colher, tudo transbordou. A questão da taça também fez com que comêssemos toda a calda antes de o sorvete acabar. As castanhas estavam um pouco murchas. De ponto positivo podemos dizer que a calda tinha muitos pedaços de fruta, e estava saborosa.

Se cair mais uma castanha, transborda

O serviço foi o ponto alto da noite. Garçons jovens e atenciosos, dois adjetivos que nem sempre caminham juntos. Estávamos ao lado da janela, que estava entreaberta, e foi só chuviscar um pouquinho que um deles já se preocupou em verificar se estávamos nos molhando. O tempo de espera entre cada pedido foi perfeito. Tomamos cervejas da marca Schornstein (de Pomerode em Santa Catarina) e elas estava geladinhas, e servidas no copo com o logo da marca. Pequenos detalhes que fazem a diferença. Algo que pode ser considerado uma falha foi o fato de não terem perguntado se havia algo errado com os pratos, já que ambos deixamos sobrar comida. Mas como é muito chato ser sincero, e mais chato ainda mentir, preferimos assim.

Existe potencial no Mediterranium. Ambiente e bom serviço já são grandes passos para um grande restaurante. Faltam alguns acertos na cozinha, e um cardápio mais sóbrio, que converse com o requinte da casa. Em termos estéticos e, principalmente, de proposta. Embora eu tenha gostado de quase tudo (ao contrário da Chris), o fato é que nada no cardápio me fez pensar em voltar. Então ambos concordamos que, caso voltemos à Formosa, vamos ficar mesmo no arroz com feijão e bife acebolado. Direto da fazenda.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 7,5 e 7,5
Prato principal(3): 4 e 7
Sobremesa(2): 5 e 6
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,33 e 7,25
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida Brasília, 1800 - Formosinha - Formosa - Goiás
Telefone: (61) 3718-1700
Site: http://www.mediterranium.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/mediterraniumgastronomia/?fref=ts

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cassiano (São José dos Campos - SP) - 28/06/2016


Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas


Este é um trecho do poema "Ficaram-me as penas", do poeta Cassiano Ricardo, nascido em São José dos Campos em 1894. Depois do volante Casemiro, que joga no Real Madrid, talvez ele seja a mais importante personalidade nascida na cidade (preciso avisar que é ironia, ou tá compreendido?). Em sua homenagem foi batizado o restaurante Cassiano, que fica no Hotel Golden Tulip, que por sua vez, como uma matriosca, fica dentro do Shopping Colinas. A homenagem está no nome e no slogan do restaurante: "um poema da culinária portuguesa". Todo o cardápio e o serviço do restaurante foram elaborados por Manoel Pires, conhecido como Manoelzinho, antigo e lendário maitre do restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro. Para conferir tanta poesia eu e Chris visitamos o lugar em uma terça feira bem fria.

O Cassiano que é dentro do Golde Tulip que é dentro do Colinas Shopping

Adentramos o hotel pensando que teríamos que pegar um elevador para nos dirigirmos ao restaurante. Mas olhando para cima já avistamos as mesinhas, e descobrimos que uma pequena escada lateral leva ao Cassiano, no mezanino do próprio salão de entrada. Ambiente amplo e sóbrio, mas com boa iluminação, e nas mesas pequenos candelabros com luzes tremulantes, imitando velas. Cadeiras estofadas e confortáveis, com boa distância entre as mesas. Algumas delas, encostadas na parede, contam com sofás. Mas nós escolhemos uma bem próxima à beira do mezanino, que é pra ter vista do hotel, seu menino!

A lâmpada tremula como se vela fosse

O cardápio acompanha a veia artística do lugar, e parece mais um livro de poesia concreta, uma das vertentes que Cassiano Ricardo abraçou ao longo da carreira. Nada é apresentado de maneira convencional, e os nomes dos pratos acabam formando figuras que se relacionam com aquela seção do menu, como o formato de um peixe na página de frutos do mar. Mas tudo na vida tem um porém, e neste caso o problema é que a descrição dos pratos não vem.

Os peixes que formam um peixe

O artístico cardápio começa com as tapas, que são os aperitivos, antepastos, entradas, enfim, aquelas comidinhas para abrir o apetite. O termo é mais comumente relacionado à culinária espanhola, mas é também usado em Portugal. Queríamos muito o paio caseiro assado na bagaceira (R$ 23), mas estava em falta. Entre as outras opções disponíveis, muitas apresentavam ingredientes que um de nós dois não é muito fã (caso da lula para a Chris e do bacalhau para mim), de modo que acabamos pedindo o trio de rissoles de camarão (R$ 14). Achamos bem feito, com recheio bem cremoso, um camarão inteiro em cada, mas né, no fim das contas são apenas rissoles. Por mais que sejam bons, e até vistosos, nunca serão maravilhosos.

Um trio de três para uma dupla de dois

Para acompanhar nossas tapas, pedimos um cerveja Theresópolis. Pedimos, mas ela não veio, porque estava em falta. Acabamos tomando, durante toda a noite, quatro long necks da Cerpa (R$ 9 cada), cervejaria do Pará (aliás, Cerpa é exatamente a junção das duas sílabas iniciais de "Cervejaria Paraense") pela qual criamos grande empatia em nossa duas viagens a Belém. Vieram acompanhadas de um balde de gelo, então nem é preciso dizer que estiveram sempre geladíssimas. Há uma carta de vinhos que é disponibilizada em um tablet, elaborada pelo Boni, aquele mesmo da Globo. Mas, em minha rápida olhadela, não me lembro de ver nenhum rótulo por menos de cem reais, então só quem pode comprar são Boni e seus iguais.

Embora o cardápio tenha uma página dedicada a "Ovos e Massas" e outra chamada "Nossas Tigelas", podemos dizer que os pratos principais estão divididos em "Especialidades Cassiano do Mar" e "Especialidades Cassiano da Terra". Os pratos são individuais, e nenhum custa menos de setenta reais. A parte dedicada ao mar traz quatorze opções, enquanto a terra traz quatro. Aí já fica explícita a verdadeira vocação do lugar, vocação esta à qual não podíamos nos esquivar.

Das quatorze opções de pratos "do mar", cinco são dedicadas ao bacalhau, astro inconteste da culinária portuguesa. Eu não sou fã do pescado, e Chris, que gosta, não estava afim dele naquela noite. Ela acabou escolhendo o brochete de camarão à moda de Moçambique (R$ 98). Brochete é um termo derivado do francês, e seria algo parecido com o nosso espetinho de churrasco, que muitas vezes traz a carne intercalada a legumes. Neste caso o prato trouxe quatro camarões VG (descobri agora que VG quer dizer "verdadeiramente grande",  nunca imaginei que era isso, gente) intercalados com pedaços de pimentão, cebola e tomate, mas sem trazer o espetinho propriamente dito, que, acho, não ficaria bem em um restaurante chique. Os acompanhamentos são arroz de amêndoas e couve crocante. Embora a Chris adore camarões, ela pediu o prato por conta do arroz de amêndoas, e este, infelizmente, veio sem tempero. Já os camarões estavam bem temperados e no ponto certo. Mas o que a Chris realmente adorou foi a couve crocante, que estava saborosíssima, além de brilhante.

Desculpe a nossa falha: problemas técnicos nos deixaram sem a foto do prato da Chris, então improvisamos com um zoom em uma foto mais de longe.

Eu também fiquei nas especialidades marítimas, e escolhi os - assim prosaicamente denominados no cardápio - frutos do mar grelhados (R$ 98). Acompanhando a simplicidade da denominação, o prato se consiste em vieira, lula, polvo, lagostim, camarão, salmão e abacaxi (que não é do mar!) grelhados, acompanhados de uma batata e arroz de brócolis. Sem muita invencionice, mas com cada ingrediente muito bem cozido e muito bem temperado. Exceto - para não deixar a Chris com inveja - o arroz, que também estava sem tempero. Mas tudo o mais vira poeira depois de saborear aquela vieira.

Um deleite para os olhos e papilas gustativas, ó pá!

Agora é só comer, ora pois

Junto com nossos pratos foi servido um delicioso molho moçambicano, à base de manteiga, ervas e pimenta, que deu uma levantada no sabor dos pratos. Embora ele por si só não resolva a falta de tempero dos nossos arrozes, é certo que ajudou a amenizar um pouco este defeito. Achei que o molho era acompanhamento do prato da Chris, que tem origem em Moçambique (o prato, e não a Chris!), mas o garçom nos disse que ele é servido junto com todos os pratos do mar. O molho é de fato uma delícia, e a pimentinha deixa na garganta como que uma carícia.

O cardápio também economiza nas explicações em relação a sobremesas. Lista apenas doces conventuais, frutas da época e sorvetes. Os dois últimos não precisam de muita explicação, por isso pedimos a ajuda do garçom para entender melhor os doces conventuais, que são os doces típicos de Portugal. Há quatro opções, e todas custam R$ 24. Chris pediu o estrogonofe de nozes e eu pedi o toucinho do céu. Explicando: o estrogonofe de nozes é um doce de leite misturado a nozes trituradas e o toucinho do céu é uma espécie de torta de amêndoas. O primeiro veio com o doce de leite bem delicado, com uma textura bem leve, mas que acabou ficando um pouco enjoativo depois de algumas colheradas. Já o segundo estava bem gostoso e equilibrado, mas um pouco seco. Resultado: misturamos os dois e ficou muito bom. Na hora da avaliação geral cada um fez uma média dos dois pratos para chegar à nota final.

Estrogonofe de nozes, é possível?

O Fê, os Beatles e o toucinho do céu

Escrevi mais acima que o cardápio não traz a descrição dos pratos. Ambos consideramos isto um defeito no serviço. Por mais que esteticamente o cardápio seja belíssimo, é mais importante que ele seja prático. Tivemos que perguntar tudo para o garçom, mas como eram muitos pratos, assim que ele ia embora a gente já tinha esquecido metade do que ele havia dito. Aí ficávamos ali nos perguntando "o que era isso mesmo?". E toca chamar de novo o Batista. Feita esta ressalva, vale dizer que o referido e nominado garçom nos atendeu muito bem, com cortesia e demonstrando extenso conhecimento do menu, com detalhes de ingredientes e até técnicas de preparo.  O tempo de espera dos pratos foi compatível com a dificuldade aparente em prepará-los. No começo da refeição um dos garçons nos colocou à mesa quatro garrafas d´água, que até pensamos serem cortesia, mas vieram cobradas ao final - vale dizer que ele não nos serviu antes de perguntar se aceitávamos. Outro pequeno problema que encontramos foi a falta de alguns itens (cerveja Therezópolis e paio caseiro), citados no decorrer do texto. Ao final, um mimo que nos surpreendeu: uma réplica do cardápio, com um autógrafo em fac-símile do citado Manoelzinho, ex-maitre do restaurante Antiquarius no Rio de Janeiro. Já ganhamos brindes antes, mas cardápio? Foi o primeiro.

Chris disse, antes mesmo de os pratos chegarem, que se o dela estivesse bom ela responderia sim à pergunta sobre se voltaria ou não ao restaurante. Isto porque ela ficou com vontade de comer outras opções do cardápio. O mesmo aconteceu comigo. E ambos acabamos concordando que valeria a pena um retorno ao Cassiano. Os preços não são baixos, e para piorar ambos escolhemos os pratos mais caros que haviam. Mas há um retorno evidente nos ingredientes de primeira, no serviço competente, e até na beleza do cardápio - malgrado sua falta de praticidade.

Para terminar, um belo poema escrito por Cassiano Ricardo:

A outra vida

Não espero outra vida, depois desta.
Se esta é má
Por que não bastará aos deuses, já,
A pena que sofri?
Se é boa a vida, deixará de o ser,
Repetida.


Ao que nós completamos: em relação à vida talvez não valha mesmo a pena repetir, mas quanto ao restaurante Cassiano, por que não voltar, quem sabe no próximo ano?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 7
Serviço(2): 7,5 e 8,5
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,04 e 7,58
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Avenida Major Miguel Naked, 144 (Colinas Shopping) - Jardim das Colinas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cassianorestaurante.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cassianorestaurante/?fref=ts