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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lilu (São Paulo - SP) - 14/09/2019

O chef André Mifano em frente ao Lilu (fonte: Facebook Restaurante Lilu)

Já é praxe: no aniversário de minha mãe eu a levo pra jantar em algum restaurante aqui de São José dos Campos (eu que pago, juro, o presente não é só a carona). Mas nesse ano resolvi fazer diferente, e levá-la ao restaurante de um chef que ela conhece dos programas de culinária que assistimos juntos. Escolhi o restaurante Lilu, do chef André Mifano, jurado do The Taste Brasil, do canal GNT. Além de mim, da Chris e de minha mãe, ainda tivemos a companhia de nossa amiga Edna além de meu irmão Carlos e sua esposa Tauana. Dia de festa, afinal de contas!

Localizado no charmoso bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Lilu tem uma fachada singela, mas com alguma criatividade podendo ser notada nos desenhos geométricos formados pelo vidro e pela madeira. Tal simplicidade aliada à certa invencionice, aliás, também se refletem no cardápio da casa. A dona do aniversário e a Chris adoraram os banquinhos e as mesinhas do lado de fora, um excelente lugar para elas darem suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição. 

"Cê pita? Elas pita, uai"

Água para cães. Não é fofo?

Na parte interna são cerca de dez mesas do lado direito do salão, dispostas uma em seguida da outra, com pouca distância entre elas. Ao final do corredor há uma área um pouco mais reservada, separada por um vidro. Do lado esquerdo fica o bar e logo depois a cozinha, totalmente aberta, com o trabalho dos cozinheiros podendo ser conferido pelos comensais em detalhes. Os aromas preenchem todo o salão. Claro que não é um ambiente silencioso, e esta é a proposta do lugar: fazer com que as pessoas se sintam em casa (uma casa barulhenta, no caso). Funciona. Um dos participantes de nossa mesa (que não fui eu, nem Chris, nem minha mãe, nem Edna e nem Tauana) chegou a lamber o prato, literalmente. Ponto negativo: há apenas um banheiro unissex para atender a todos.  

Era uma casa barulhenta, com certeza!

"Qual de vossas senhorias lambeu o prato?"

"Lilu: cozinha para partilhar". É assim que o restaurante se apresenta em seu site oficial. E o conceito é realmente levado a sério. Não há divisão entre entradas e pratos principais no cardápio. Todas as quatorze opções disponíveis são servidas da mesma maneira, expressa textualmente no menu: no centro da mesa, para que todos possam compartilhar. Isso aliado ao tipo de ambiente e ao fato de que há diversas opções de coquetéis originais levam a casa mais para um gastrobar do que para um restaurante. Nomenclaturas à parte, as opções de pratos trazem alguns petiscos típicos de boteco junto a opções mais robustas, com descrições que lembram pratos principais convencionais. Por falar em descrição, outra característica do menu é que os pratos não tem nome, apenas trazem a lista de ingredientes e algumas técnicas de preparo ("no vapor", "defumado", etc). Os preços variam de R$ 22 a R$ 67.

Nosso simpaticíssimo garçom sugeriu que pedíssemos algo em torno de dez a doze pratos no total. Segundo ele a média é de dois pratos por pessoa. Como o cardápio listava um total de quatorze opções, chegamos até a cogitar pedir todos eles, já que, né, iam acabar faltando só dois. Mas no final ficamos em doze mesmo. Pedimos uma primeira sequência de cinco pratos, depois mais cinco, e ao final mais dois só pra finalizar. Falarei brevemente sobre cada um dos pratos, iniciando pela sua descrição no cardápio, e me focando mais nas apreciações minhas e da Chris sobre eles - afinal somos os donos dessa bagaça aqui.

Pão de queijo frito e goiabada cremosa (R$ 24) - não seria uma de nossas escolhas, mas foi "contrabandeado" pelo Silas, nosso garçom, que meio que exigiu que pedíssemos. Surpreendeu a todos, agradável, pão de queijo cremoso por dentro e crocante por fora, contrastando agradavelmente com a goiabada.

Um produto de contrabando que agradou

Manjubinha frita e tártato de avocado (R$ 29) - de maneira geral um dos que menos agradou. As manjubinhas que eu peguei estavam um pouco murchas. O tártaro de avocado precisava de mais sabor, especialmente acidez, pra ser um tártaro.

Faltou avocado no fim, o rapaz não disse isso aí no texto

Dois tacos de feijoada refrita, couve, pururuca e pico de gallo (R$ 22) - uma delicinha de feijoada descontruída servida num taco, com o tal pico de gallo, uma espécie de vinagrete, trazendo acidez. Comidinha de boteco das boas.

É gostoso. Não é incrível. Mas é gostoso.

Língua, tomate agridoce e salada de ervas (R$ 53) - certamente um dos meus preferidos da noite. Língua macia, saborosa, combinando perfeitamente com as várias ervas e o tomate. Na foto as ervas podem parecer opressivas, mas trouxeram um frescor essencial ao prato.

Ah, essa língua macia, esse tomate agridoce, essas ervas opressivas...

Barriga de porco no vapor, caldo de shoyu e sake e espinafre na manteiga (R$ 51) - foi o preferido de alguns, e de fato estava gostoso. Mas o tempero oriental, embora muito bom, escondeu um pouco os prazeres que uma barriga de porco pode proporcionar sem nenhum subterfúgio. Me ressenti. Chris comeu só um pedacinho, que gordura não é com ela (por isso ela namora um cara com quase zero de gordura corporal).

Vou contratar meu irmão como fotógrafo oficial. Ficou bonito.

Arenque defumado, ovas, coalhada e panqueca de baunilha (R$ 37) - eu e Chris tínhamos comido arenque uma vez, e ficamos traumatizados com a ruindade. "Destraumatizamos" com essa "pizzinha" absolutamente adorável, de sabores delicados e agridoces.

Escorreu uma lágrima de lembrar. Adorável!

Tartar de wagyu (R$ 44) - os pedaços de carne vieram acompanhados de um tipo de "sucrilho" de milho, obviamente sem o açúcar. Em termos de proporção, poderia ter mais carne e menos milho. Em termos de sabor, poderia estar mais temperado. Não à toa o garçom sugeriu que fosse combinado com o prato seguinte, mais forte.

"Desperta o tigre em você! E em você também!"

Batata frita com ovo e botarga defumada (R$ 31) - simplão que só, não fosse a adição das ovas de peixe por cima. Como é impossível batata frita e ovo ficarem ruins, não é ruim. Mas é isso, batata frita e ovo. A botarga meio que desaparece no paladar.

E pronto, é isso

Baião de dois, arroz basmati, feijão fradinho, chistorra e provolone (R$ 57) - o nome "baião de dois" traz uma carga que o prato não foi capaz de entregar. Os temperos estavam muito neutros, a consistência estava muito úmida e a cor estava muito, como direi...verde. Para mim o pior da noite.

Se o cara disse que é o pior da noite as discussões se encerram e tá decidido. Oras.

Bife de angus, gratin de mandioquinha, repolho fermentado e chimichurri (R$ 67) - chegou vermelhão de sangue, do jeito que a Chris gosta. Carne macia, chimichurri agradável, repolho interessante, gratin de mandioquinha muito bom. Sei que angus é caro, mas achei o preço desse um pouco demais para a quantidade que vem.

É que o gratin de mandioquinha é banhado a ouro

Lula e morcilla (R$ 42) - a descrição não diz, mas vem um matagal por cima. Quase não pedimos esse prato, e seria uma pena se isso tivesse acontecido. A briga entre o sangue da morcilla e a força da lula só traz um vencedor: quem come. Baita combinação, e a salada agrega um bem vindo amargor.

Por baixo desse matagal mil delícias te esperam

Frango e "Ueifel" (R$ 46) - esse nome esquisito esconde um prato esquisito, mas delicioso: um waffle de baunilha por baixo, um frango bem crocante por cima, com um ovo mais por cima ainda. O caldo é mel. E ainda tem ovas de peixe. Loucura. Das boas.

Que coisa esquisita. Que coisa gostosa.

Como podem notar, comemos, e não foi pouco. Portanto para a sobremesa escolhemos "apenas" três opções (entre quatro disponíveis) para dividir entre todos. No caso das sobremesas o preço é único, R$ 29 cada. 

A primeira escolhida, e a única que a Chris experimentou, foi o crème brûlée de cachaça e sorbet de caju. Boa textura do brûlée, sabor de cachaça em equilíbrio, com o sorbet trazendo frescor.

Parece um ovo em cima do brûlée, não parece?

Também escolhemos a musse de chocolate branco, bolo de cacau e amarena. O bolo de cacau e a amarena (uma frutinha bem ácida, também conhecida como ginja) acabaram eclipsando a coitadinha da musse de chocolate branco. No entanto o bolo e a fruta fizeram uma bela dupla, amarga e ácida.

Não, não parece com nada disso que você tá pensando, seu escatológico

Nossa outra escolha foi o flan de doce de leite e chantily de café. Muito louco o chantily branquinho com sabor de café, porque o olho diz pro estômago que ali não vai ter gosto de café, mas ele vem. Não sou fã de café, mas a sobremesa esteve agradável, com o flan não muito doce fazendo um bom contraponto ao chantily cafezado.

Parece um flan com chantily

Não costumo citar nomes de funcionários que nos atendem, mas abrirei uma exceção hoje, por uma boa razão: o Silas é um dos melhores garçons que eu já vi em ação. Estabeleceu desde o princípio uma relação de intimidade natural, se mostrou disponível, esperto, conhecedor do cardápio e um excelente vendedor. Suas descrições dos pratos eram, não raras vezes, melhores do que os pratos em si. Silas à parte, com o salão lotado houve alguns problemas de demora pra limpar a mesa, e ocasiões em que solicitações demoravam a vir, como o momento em que pedimos cardápios para três garçons diferentes até que eles finalmente nos fossem trazidos. Já os pratos, esses chegavam com agilidade impressionante. Mesmo sabendo que o menu foi concebido para ser rápido, a eficiência é prodígiosa se considerarmos a quantidade de mesas e de pedidos simultâneos. Uma curiosidade é que os pratos são servidos pelos próprios cozinheiros, que os deixam no centro da mesa "cantando" sua descrição. 

O restaurante conta com uma carta de vinhos, que sequer foi olhada por nenhum de nós. Há cinco opções de coquetéis exclusivos (com preço único de R$ 33), além de drinks clássicos. Entre as cervejas, a decepção: apenas Heineken e uma opção de witbier (estilo que normalmente leva semente de coentro e raspas de laranja) da Cervejaria Praya. Uma boa carta de cervejas cairia como uma luva no clima descontraído da casa, mais afeito a breja do que a vinho (oi André Mifano, e aí, chique? Se você quiser eu posso elaborar uma carta pra você, baratinho!).

Como era dia de comemoração, não olhamos em nenhum momento para o lado direito do cardápio. Tomamos coquetéis, cervejas, sucos, comemos tudo que quisemos e mais um pouco. Por isso a conta acabou ficando um pouco salgada. Mas é possível duas pessoas escolherem três ou quatro pratos, tomarem um coquetel, beberem a água da casa (de graça!) e ainda racharem uma sobremesa gastando algo em torno de R$ 200, o que não é barato mas também não chega a ser um absurdo. Foi essa conta que fizemos para decidir a nota de custo-benefício aí abaixo. Ainda assim, Chris entendeu que a experiência, comemoração de aniversário da sogra à parte, não valeria um repeteco. Já eu acho que voltaria ao Lilu, especialmente se houvessem novidades no cardápio. Independente de um retorno, o Lilu cumpriu com sua parte: cozinha para partilhar. Não só boa comida, mas bons momentos. Para esses a nossa nota é sempre dez.  


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7,5
Média: 7,2 e 7,6
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Francisco Leitão, 269 – Pinheiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 99746-0269
Site: http://www.restaurantelilu.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/restaurantelilu/
Instagram: https://www.instagram.com/restaurantelilu/

terça-feira, 10 de julho de 2018

Bendito Bistrô (São José dos Campos - SP) - 03/07/2018


Bendito Bistrô. Nome legal. Mas carrega consigo um estereótipo que no Brasil é difícil de apagar: o de restaurante caro. Culpa do "bistrô" que vem junto ao nome. Antes, no mesmo local, funcionava o "Il Tartufo", restaurante em que fomos certa vez para um evento, e que era bastante sofisticado. Pela bonita fachada que foi mantida, esperávamos o mesmo do Bendito Bistrô.

A dona com seu cachorro acrescentou casualidade ao registro

Do lado de fora, à esquerda, já é possível entrever pelas janelas a grande e bela cozinha aberta. Perto dela há um espaço que pode ser reservado para eventos. À direita fica o salão principal, com cerca de dez mesas, onde os comensais são recebidos. De cara o que mais nos chamou a atenção foram as bolas. Sim, aproveitando o clima de Copa do Mundo as mesas são decoradas com bolas de futebol. Chris foi um pouco mais condescendente, mas eu não achei nada bonito. Combinaria mais com um ambiente de cantina, ou mais informal. Aliás, de maneira geral a decoração do ambiente carece de personalidade. A impressão que me deu foi uma coisa meio "olha, esse quadro é bonitinho, vamos colocar lá no restaurante?". Falta um foco, talvez uma ajuda profissional mesmo, não um conselho de alguém que escreve um bloguezinho mequetrefe sobre suas experiências gastronômicas com a namorada (auto-depreciação é uma das minhas maiores virtudes).

Contrariando a lógica dominante, o garçom só tirou uma, e ficou tremida

Apresento-lhes a bola

Eu sou um pouco chato, confesso. Gosto de padrões. De coerência. Mas vê se eu tô muito errado. Chega o cardápio, com diversas divisões por tipo de comida. Escrito do jeito mais trivial possível: "Entradas e saladas", "Veganos", "Risotos", "Massas", "Peixes", "Frutos do mar" e "Carnes". Aí, na sessão das sobremesas, vem escrito "Ah!! A sobremesa...". Ou faz graça em tudo ou faz tudo certinho, não é? Tá, talvez eu seja muito chato mesmo. Enfim. Afora isso, visualmente o cardápio deixa a desejar. Um pouco mais de requinte, acompanhando o "requinte" dos preços na casa dos 70 reais para pratos individuais, seria bem-vindo. 

O couvert parecia bem interessante, cheio de pães, com terrine de salmão, diversos queijos, entre outras coisas (R$ 58 para duas pessoas). Pela quantidade de coisas, teríamos que optar entre ele ou uma entrada, e esta última acabou vencendo (eu venci a Chris, no caso). Pedimos os frutos do mar cozidos no vapor com folhas de peixinho a milanês, servido com molho de maracujá e sorbet de limão (R$ 65). Apresentação meio amontoada, mas não tava feia. Entre os frutos do mar vieram lulas, camarões, mexilhões e polvo. Peixinho é uma PANC (plantas alimentícias não convencionais), e foi ela que me fez bater o pé pra pedirmos a entrada ao invés do couvert, já que nunca tínhamos comido e eu tinha curiosidade de experimentar. Provavelmente foi a melhor coisa do prato, que de resto estava bem sem tempero. O tal molho de maracujá veio em pouco quantidade, e os frutos do mar, embora bem cozidos, estavam sem gosto. O sorbet de limão foi bem interessante, trazendo uma acidez e frescor que o molho de maracujá escasso não proporcionou.

Os frutos do mar, o peixinho que é folha e as folhas que são folhas mesmo

Entre os pratos principais o menu soma 23 opções - o que considero um exagero para um restaurante pequeno. Chris optou pela truta recheada com salmão assado, servido com molho de uvas verdes e arroz de amêndoas (R$ 69). Apresentação bem normalzinha, mas correta, embora ela preferisse que a pele viesse virada para baixo. Ela achou bem saborosa a junção dos dois peixes, com um recheando o outro. Estava bem temperado e com bom ponto. O arroz estava saboros e soltinho. Mas o molho de uvas verdes se resumia a uvas verdes cortadas pela metade e colocadas sobre o peixe. Detalhe: a ideia é ótima, já que as uvas trazem uma acidez diferente daquela que estamos acostumados com molhos de limão ou laranja. Mas como não era um molho, o peixe acabou ficando seco, e consequentemente difícil de comer. Uma pena, já que a ideia poderia ter rendido um ótimo prato se bem executada.

"Cadê meu molho?"

O peixe foi "uvacionado" ao final do espetáculo (ai, essa doeu)

Eu ainda não estava contente com os polvos ingeridos na entrada, e resolvi pedir polvos grelhados com alcaparras, azeitonas pretas, tomates cereja e salsão, puxados no azeite e aromatizados com páprica picante, com tortilhas de batata e camarão (R$ 70). Antes de mais nada é bom dizer que isso que escrevi é a descrição do prato no cardápio, por isso escrevi a palavra "camarão", embora os camarões não tenham vindo à mesa. Mais uma vez apresentação apenas correta, sem grandes invenções. O polvo estava bem macio, agradável, mas o refogadinho tinha um problema de amargor detectado logo na primeira mordida. Depois de experimentar os ingredientes em separado, descobri que a culpada era a azeitona. Provavelmente foi comprada fresca, e não foi tirado o amargor, que ficou excessivo. A tortilha de batata estava boa, e até acho que poderia vir um pouquinho a mais, já que tinha bastante polvo.

"Pô, vô comê um polvo meu povo!"

Octopus´s Garden

Ah!! A sobremesa...a única sessão do cardápio com um diferencial no título trazia algumas opções interessantes, como o bolo torta de milho ao creme de queijo e mousse de capim limão (R$ 25). Quase pedimos esse, mas fomos convencidos pelo garçom a pedir a taça "UAU!!! Premium", especial de Dia dos Namorados, que não está no cardápio, mas se manteve como opção após a passagem da data comemorativa dos apaixonados. Para duas pessoas, é uma taça envolta em brigadeiro, com bolinhas de chocolate, frutas vermelhas, raspas de chocolate branco e mais brigadeiro por dentro (R$ 49). Pode-se acusar a apresentação de ser cafona, mas é bem bonita, e né, o amor é cafona mesmo. Claro que misturar brigadeiro com frutas vermelhas é covardia, então é óbvio que estava gostoso, com o brigadeiro da parte interna bem quentinho e cremoso, e o da parte de fora mais firme e em temperatura ambiente. Vieram morangos, mirtilos e framboesas, além de duas belíssimas phisalys por cima, uma pra cada.

Cafona como o amor

A demora para servir alguns pratos foi abissal, com o perdão do adjetivo exagerado. A entrada, por exemplo, deve ter levado uns 40 minutos para chegar. Isso com o restaurante bem vazio em uma terça à noite. Depois, observando a enorme cozinha aberta, notamos haver lá dentro um solitário ser. Provavelmente o motivo da demora era a solidão do homem (filosófico isso). Nosso atendimento foi feito pelo jovem e prestativo Eric. Bastante esforçado, ele conseguiu ser educado sem perder a espontaneidade, o que para nós é sempre o melhor dos mundos. É novo, mas interessado em aprender. Por exemplo, quando nos explicava quais frutos do mar faziam parte da entrada, se esqueceu do nome de um deles e nos perguntou "como é mesmo aquele bichinho que vem na concha?". Esse atendimento que não é engessado é o que mais gostamos de encontrar em nossas saídas. Além disso ele sabia se manter à distância, sem ser invaviso, mas estando sempre atento. Portanto nossas notas de serviço foram diminuídas por conta da demora na entrega dos pratos, e não do atendimento pessoal.

De maneira geral, me ficou a impressão de que o Bendito Bistrô precisa se decidir. Ou ele quer ser um restaurante que cobra quase cem reais em cada prato, e aí ele tem que melhorar muito em diversos aspectos tangenciais à comida, ou ele vai ser um lugar de comida bem feita, mas mais informal, e nesse caso ele tem que baixar os preços. Em ambos os casos, é preciso também, e isso é essencial, atentar para o sabor e tempero dos alimentos e para inconsistências entre o que está descrito no menu e o que aparece à mesa. Por tudo isso, eu e Chris decidimos que não faríamos uma segunda visita ao Bendito Bistrô - embora também não tenhamos chegado ao extremo de lhe mudar o nome para Maldito Bistrô.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 6,5
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6,5 e 6,5
Sobremesa(2): 7,5 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 6,62 e 6,62
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Serimbura, 264 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3911-1460
Site: https://www.benditobistro.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/benditobistrovilaema/

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cassiano (São José dos Campos - SP) - 28/06/2016


Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas


Este é um trecho do poema "Ficaram-me as penas", do poeta Cassiano Ricardo, nascido em São José dos Campos em 1894. Depois do volante Casemiro, que joga no Real Madrid, talvez ele seja a mais importante personalidade nascida na cidade (preciso avisar que é ironia, ou tá compreendido?). Em sua homenagem foi batizado o restaurante Cassiano, que fica no Hotel Golden Tulip, que por sua vez, como uma matriosca, fica dentro do Shopping Colinas. A homenagem está no nome e no slogan do restaurante: "um poema da culinária portuguesa". Todo o cardápio e o serviço do restaurante foram elaborados por Manoel Pires, conhecido como Manoelzinho, antigo e lendário maitre do restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro. Para conferir tanta poesia eu e Chris visitamos o lugar em uma terça feira bem fria.

O Cassiano que é dentro do Golde Tulip que é dentro do Colinas Shopping

Adentramos o hotel pensando que teríamos que pegar um elevador para nos dirigirmos ao restaurante. Mas olhando para cima já avistamos as mesinhas, e descobrimos que uma pequena escada lateral leva ao Cassiano, no mezanino do próprio salão de entrada. Ambiente amplo e sóbrio, mas com boa iluminação, e nas mesas pequenos candelabros com luzes tremulantes, imitando velas. Cadeiras estofadas e confortáveis, com boa distância entre as mesas. Algumas delas, encostadas na parede, contam com sofás. Mas nós escolhemos uma bem próxima à beira do mezanino, que é pra ter vista do hotel, seu menino!

A lâmpada tremula como se vela fosse

O cardápio acompanha a veia artística do lugar, e parece mais um livro de poesia concreta, uma das vertentes que Cassiano Ricardo abraçou ao longo da carreira. Nada é apresentado de maneira convencional, e os nomes dos pratos acabam formando figuras que se relacionam com aquela seção do menu, como o formato de um peixe na página de frutos do mar. Mas tudo na vida tem um porém, e neste caso o problema é que a descrição dos pratos não vem.

Os peixes que formam um peixe

O artístico cardápio começa com as tapas, que são os aperitivos, antepastos, entradas, enfim, aquelas comidinhas para abrir o apetite. O termo é mais comumente relacionado à culinária espanhola, mas é também usado em Portugal. Queríamos muito o paio caseiro assado na bagaceira (R$ 23), mas estava em falta. Entre as outras opções disponíveis, muitas apresentavam ingredientes que um de nós dois não é muito fã (caso da lula para a Chris e do bacalhau para mim), de modo que acabamos pedindo o trio de rissoles de camarão (R$ 14). Achamos bem feito, com recheio bem cremoso, um camarão inteiro em cada, mas né, no fim das contas são apenas rissoles. Por mais que sejam bons, e até vistosos, nunca serão maravilhosos.

Um trio de três para uma dupla de dois

Para acompanhar nossas tapas, pedimos um cerveja Theresópolis. Pedimos, mas ela não veio, porque estava em falta. Acabamos tomando, durante toda a noite, quatro long necks da Cerpa (R$ 9 cada), cervejaria do Pará (aliás, Cerpa é exatamente a junção das duas sílabas iniciais de "Cervejaria Paraense") pela qual criamos grande empatia em nossa duas viagens a Belém. Vieram acompanhadas de um balde de gelo, então nem é preciso dizer que estiveram sempre geladíssimas. Há uma carta de vinhos que é disponibilizada em um tablet, elaborada pelo Boni, aquele mesmo da Globo. Mas, em minha rápida olhadela, não me lembro de ver nenhum rótulo por menos de cem reais, então só quem pode comprar são Boni e seus iguais.

Embora o cardápio tenha uma página dedicada a "Ovos e Massas" e outra chamada "Nossas Tigelas", podemos dizer que os pratos principais estão divididos em "Especialidades Cassiano do Mar" e "Especialidades Cassiano da Terra". Os pratos são individuais, e nenhum custa menos de setenta reais. A parte dedicada ao mar traz quatorze opções, enquanto a terra traz quatro. Aí já fica explícita a verdadeira vocação do lugar, vocação esta à qual não podíamos nos esquivar.

Das quatorze opções de pratos "do mar", cinco são dedicadas ao bacalhau, astro inconteste da culinária portuguesa. Eu não sou fã do pescado, e Chris, que gosta, não estava afim dele naquela noite. Ela acabou escolhendo o brochete de camarão à moda de Moçambique (R$ 98). Brochete é um termo derivado do francês, e seria algo parecido com o nosso espetinho de churrasco, que muitas vezes traz a carne intercalada a legumes. Neste caso o prato trouxe quatro camarões VG (descobri agora que VG quer dizer "verdadeiramente grande",  nunca imaginei que era isso, gente) intercalados com pedaços de pimentão, cebola e tomate, mas sem trazer o espetinho propriamente dito, que, acho, não ficaria bem em um restaurante chique. Os acompanhamentos são arroz de amêndoas e couve crocante. Embora a Chris adore camarões, ela pediu o prato por conta do arroz de amêndoas, e este, infelizmente, veio sem tempero. Já os camarões estavam bem temperados e no ponto certo. Mas o que a Chris realmente adorou foi a couve crocante, que estava saborosíssima, além de brilhante.

Desculpe a nossa falha: problemas técnicos nos deixaram sem a foto do prato da Chris, então improvisamos com um zoom em uma foto mais de longe.

Eu também fiquei nas especialidades marítimas, e escolhi os - assim prosaicamente denominados no cardápio - frutos do mar grelhados (R$ 98). Acompanhando a simplicidade da denominação, o prato se consiste em vieira, lula, polvo, lagostim, camarão, salmão e abacaxi (que não é do mar!) grelhados, acompanhados de uma batata e arroz de brócolis. Sem muita invencionice, mas com cada ingrediente muito bem cozido e muito bem temperado. Exceto - para não deixar a Chris com inveja - o arroz, que também estava sem tempero. Mas tudo o mais vira poeira depois de saborear aquela vieira.

Um deleite para os olhos e papilas gustativas, ó pá!

Agora é só comer, ora pois

Junto com nossos pratos foi servido um delicioso molho moçambicano, à base de manteiga, ervas e pimenta, que deu uma levantada no sabor dos pratos. Embora ele por si só não resolva a falta de tempero dos nossos arrozes, é certo que ajudou a amenizar um pouco este defeito. Achei que o molho era acompanhamento do prato da Chris, que tem origem em Moçambique (o prato, e não a Chris!), mas o garçom nos disse que ele é servido junto com todos os pratos do mar. O molho é de fato uma delícia, e a pimentinha deixa na garganta como que uma carícia.

O cardápio também economiza nas explicações em relação a sobremesas. Lista apenas doces conventuais, frutas da época e sorvetes. Os dois últimos não precisam de muita explicação, por isso pedimos a ajuda do garçom para entender melhor os doces conventuais, que são os doces típicos de Portugal. Há quatro opções, e todas custam R$ 24. Chris pediu o estrogonofe de nozes e eu pedi o toucinho do céu. Explicando: o estrogonofe de nozes é um doce de leite misturado a nozes trituradas e o toucinho do céu é uma espécie de torta de amêndoas. O primeiro veio com o doce de leite bem delicado, com uma textura bem leve, mas que acabou ficando um pouco enjoativo depois de algumas colheradas. Já o segundo estava bem gostoso e equilibrado, mas um pouco seco. Resultado: misturamos os dois e ficou muito bom. Na hora da avaliação geral cada um fez uma média dos dois pratos para chegar à nota final.

Estrogonofe de nozes, é possível?

O Fê, os Beatles e o toucinho do céu

Escrevi mais acima que o cardápio não traz a descrição dos pratos. Ambos consideramos isto um defeito no serviço. Por mais que esteticamente o cardápio seja belíssimo, é mais importante que ele seja prático. Tivemos que perguntar tudo para o garçom, mas como eram muitos pratos, assim que ele ia embora a gente já tinha esquecido metade do que ele havia dito. Aí ficávamos ali nos perguntando "o que era isso mesmo?". E toca chamar de novo o Batista. Feita esta ressalva, vale dizer que o referido e nominado garçom nos atendeu muito bem, com cortesia e demonstrando extenso conhecimento do menu, com detalhes de ingredientes e até técnicas de preparo.  O tempo de espera dos pratos foi compatível com a dificuldade aparente em prepará-los. No começo da refeição um dos garçons nos colocou à mesa quatro garrafas d´água, que até pensamos serem cortesia, mas vieram cobradas ao final - vale dizer que ele não nos serviu antes de perguntar se aceitávamos. Outro pequeno problema que encontramos foi a falta de alguns itens (cerveja Therezópolis e paio caseiro), citados no decorrer do texto. Ao final, um mimo que nos surpreendeu: uma réplica do cardápio, com um autógrafo em fac-símile do citado Manoelzinho, ex-maitre do restaurante Antiquarius no Rio de Janeiro. Já ganhamos brindes antes, mas cardápio? Foi o primeiro.

Chris disse, antes mesmo de os pratos chegarem, que se o dela estivesse bom ela responderia sim à pergunta sobre se voltaria ou não ao restaurante. Isto porque ela ficou com vontade de comer outras opções do cardápio. O mesmo aconteceu comigo. E ambos acabamos concordando que valeria a pena um retorno ao Cassiano. Os preços não são baixos, e para piorar ambos escolhemos os pratos mais caros que haviam. Mas há um retorno evidente nos ingredientes de primeira, no serviço competente, e até na beleza do cardápio - malgrado sua falta de praticidade.

Para terminar, um belo poema escrito por Cassiano Ricardo:

A outra vida

Não espero outra vida, depois desta.
Se esta é má
Por que não bastará aos deuses, já,
A pena que sofri?
Se é boa a vida, deixará de o ser,
Repetida.


Ao que nós completamos: em relação à vida talvez não valha mesmo a pena repetir, mas quanto ao restaurante Cassiano, por que não voltar, quem sabe no próximo ano?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 7
Serviço(2): 7,5 e 8,5
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,04 e 7,58
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Avenida Major Miguel Naked, 144 (Colinas Shopping) - Jardim das Colinas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cassianorestaurante.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cassianorestaurante/?fref=ts











quarta-feira, 10 de junho de 2015

La DOC Gastronomia (Sorocaba - SP) - 30/05/2015

DOC. Denominazione di origine controllata. A sigla italiana é usada para certificar produtos agrícolas diversos. É como um atestado de qualidade. O restaurante sorocabano de cozinha italiana La DOC Gastronomia, ao usar  tal sigla em seu nome, está nos dizendo, provavelmente,  que só usa ingredientes de qualidade em suas receitas. Em nossa viagem para Sorocaba teríamos apenas uma noite para jantar fora, por isso escolhemos o único estabelecimento da cidade que tem uma estrela no Guia 4 rodas, publicação que sempre usamos para nos guiar em nossas andanças pelo Brasil.

Quando se entra no lugar, a primeira coisa que chama a atenção é o pé direito alto, bem acima dos padrões normais. A impressão é a melhor possível, claustrofobia zero. Outro diferencial é uma pequena árvore no meio do salão. Restaurantes chiques adoram um lusco-fusco, mas aqui a iluminação, embora suave, é bastante farta, o que muito me agrada. Em uma das laterais, parede com tijolinhos à vista, completando o agradável ambiente. Mas uma coisa desagradou: a sinalização que indica qual banheiro é masculino e qual é feminino é discreta demais, ficando difícil de se verificar de longe qual é qual. Ou seja, para quem não enxerga muito bem, só dá para saber chegando bem pertinho, e neste momento você tem cinquenta por cento de chances de estar na porta do lugar errado.

Isso sim é um pé direito!

Escolhemos uma entrada bem italiana, as bruschettas com presunto, queijo e folhas verdes (R$ 39,00). Devo dizer que já comemos bruschettas melhores feitas em casa por minha mãe. Mas aí é covardia. Vou melhorar (ou piorar): eu mesmo já fiz bruschettas melhores. O pão estava bem crocante, e o todo não estava ruim, mas não era nada mais do que presunto, queijo e folhas verdes por cima de uma torrada. Esperava algo mais elaborado, pelo preço e pelo local em que estávamos.

Não conquistou

No quesito "prato principal", claro que o forte do cardápio são as receitas italianas. Aliás, todos os pratos vem com o nome em italiano, e logo abaixo a "tradução" em português. Muitas opções de massas diversas, mas também carnes e frutos do mar. E também massas misturadas com carnes ou com frutos do mar. Várias alternativas que aguçam o paladar, portanto foi daqueles dias em que demoramos um pouquinho a escolher nossas refeições. Os pratos são todos individuais, e custam em média sessenta reais.

Nosso pratos, depois de muita escolha

Chris não queria ficar longe de seu amado filé mignon, mas também queria algo tradicionalmente italiano. Por isso foi de mignon envolto com presunto cru grelhado e risoto de alcachoras (R$ 64). Quando ela experimentou os dois juntos, achou muito bom. Mas individualmente o risoto estava com excesso de sal. A carne não veio exatamente mal passada como a Chris desejava, mas chegou perto. Um pouco de alho poró frito veio por cima da carne, e deu crocância ao prato. Apresentação apenas razoável.

Chris gostou, ma non troppo

Eu, que sempre gosto de experimentar algo que nunca comi, fui de massa fina com tinta de lula, lula, polvo, camarão, rúcula e tomate cereja (R$ 66). No caso o que eu nunca tinha comido era a tal tinta de lula, que dá um sabor bem forte ao prato. Por falar em força, a comida veio quente demais, e quase queimei minha boca, que foi salva por um providencial gole de água. Se estivesse em casa eu teria cuspido de volta no prato. Mas os frutos do mar estavam no ponto certo, o tomate deu uma adocidada interessante, e o sabor estava bom. Só a rúcula que eu achei que sumiu um pouco no meio de tudo, não senti sua presença, embora tenha visto que ela estava ali.

Buono, ma ben caldo

Na hora da sobremesa, Chris queria uma à base de café (que eu não gosto) e eu queria uma que envolvia figos (que ela não gosta). A solução, claro, foi cada um pedir a sua.

Chris então escolheu a ganache de chocolate com avelãs e calda de café (R$ 24). Ela adorou os grãozinhos de café que vieram junto com o doce. Estavam bem crocantes, e eu até fui forçado a comer um. Também gostou da calda e do recheio de avelãs, mas achou a ganache, que era o principal, um pouco sem graça.

Bem da bonitinha, não?

Minha escolha foi o merengue feito em casa com figos e morango na calda de vinho (R$ 25). Não sei na casa de quem o merengue é feito, mas estava um pouco duro, deu um certo trabalho para quebrar. Mas achei a mistura muito harmoniosa, sem excesso de açúcar, e visualmente tentadora, embora um pouco bagunçada. Mas doce é para dar água na boca, não necessariamente para ser lindo. Já comi belos cupcakes que deveriam ser apenas artigo de decoração.

O "massaroco" gostoso

O serviço nos incomodou um pouco no começo, quando o restaurante estava vazio e uma turma grande de clientes foi acomodada bem ao nosso lado, tirando um pouco da nossa privacidade sem necessidade. Mas, depois que o lugar encheu um pouco, havia quase um funcionário por mesa, e sempre atentos, embora evidentemente houvesse alguns mais atentos que outros. Quando eu precisei da conta, por exemplo, apenas tive que levantar a cabeça, e um deles bem ao longe percebeu meu gesto característico de solicitação da dolorosa. Quanto esta chegou, veio com um carimbo bem grande, dizendo "Não cobramos taxa de serviço". Mas quando o garçom veio com a maquininha de cartão, soltou um "Senhor, o serviço não é obrigatório, o senhor deseja incluir?". Tá de sacanagem, né parceiro? Quero ver um cristo dizer que não. Então, quer dizer, não cobra...mas cobra.

Como eu gostei de quase tudo que comi, e também do serviço e do ambiente, achei o custo-benefício aceitável. Já a Chris, que foi mais infeliz em algumas de suas escolhas, claro que não gostou tanto assim. Também por essa mesma lógica nós divergimos sobre uma possível volta ao local. Chris não voltaria, eu sim. Mas o restaurante pode tranquilamente continuar usando o "DOC" em seu nome. Não dá para reclamar da qualidade dos ingredientes. O uso deles, aqui ou ali, é que pode ser um pouco melhorado.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 9
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 7,5 e 8
Sobremesa(2): 7 e 8,5
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 7,45 e 8,12
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Francisco Moron Fernandes - Parque Campolim - Sorocaba - SP
Telefone: (15) 3224-4747
Site: http://www.ladocgastronomia.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/LaDocGastronomia




sexta-feira, 10 de abril de 2015

Parador Valencia (Petrópolis - RJ) - 28/02/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de algumas semanas da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

"Rua Celita de Oliveira Amaral". Foi isso que dissemos à Amélia quando queríamos chegar ao restaurante Parador Valência, em Petrópolis. Explica-se: Amélia foi o nome que eu e Chris demos ao nosso GPS, que já tinha nos ajudado por tantas vezes nesta viagem. Mas nesta noite ela resolveu sacanear. Nos mandou pra um fim de mundo, um lugar onde eu acho que poucos petropolitanos já foram. Demos com a cara em uma chácara, e Amélia disse "você chegou ao seu destino". Não Amélia, não chegamos. Quase desistimos de ir ao restaurante, mas depois descobrimos que já tínhamos até passado bem pertinho dele. Fica de fato em uma ruazinha bem complicada, e inclinada, com acesso pela Estrada União e Indústria. Melhor ir sem GPS, na base do "perguntômetro".

A primeira coisa que notamos ao entrar no restaurante foi uma certa confusão visual. A decoração tem de tudo, desde um bilhete do Museu Picasso até um quadro que mostra índios assando seres humanos para o almoço, o que não nos pareceu muito adequado, sem entrar nos méritos artísticos do quadro. Há também vários pratos da Boa Lembrança pelas paredes (já falei da Associação dos Pratos da Boa Lembrança algumas vezes neste blog), e também quadros com as estrelas que o restaurante costumava receber do Guia 4 Rodas no início dos anos 2000, coisa que não acontece mais. Fomos bem recebidos pela Fernanda, que se apresentou pelo nome e se colocou à disposição. Durante toda a noite apenas mais uma mesa se manteve ocupada, e isto em pleno sábado.


Uma certa "bugunça"

Para a entrada pedimos pães diversos com alho (R$ 14,00). O alho vem inteiro, mergulhado no azeite, como se fosse em conserva, e sem muito gosto de alho. Mas não podemos dizer que Fernanda não nos avisou, já que ela disse que o alho não vinha com gosto muito forte. Veio uma boa variedade de pães e torradas. Mas como o alho estava inteiro, ficava meio difícil juntar um com o outro. Mas isso não seria problema se estivesse muuuuito gostoso. Não estava. E veio feinho, feinho.


O melhor aí foi essa Bohemia

No cardápio há uma seção dedicada apenas às paellas, outra à carnes e outra aos frutos do mar. Chama a atenção também o cochinillo segoviano, que deve ser encomendado na véspera, e se consiste no leitão assado com duas semanas de vida. Serve 4 pessoas e custa R$ 500,00. Em seu aspecto físico o cardápio acompanha um pouco a confusão do restaurante, já que há até correções feitas à caneta, sem muito cuidado. Além disso, pesa contra o fato de ele ser um pouco desleixado, parece feito por alguma amador.



Bem xumbrega

Chris não estava afim de frutos do mar, e escolheu para seu jantar a costelinha de carneiro com cuscuz marroquino e geléia de manga com gengibre (R$ 82,00). Vontade de comer não dava muito não. As costelinhas meio mal-ajambradas, um cadinho de cuscuz, e um cadinho menor ainda de geléia. Geléia esta que a Chris julgou ser a melhor coisa do prato, disse que combinou bem com o carneiro, carneiro este que não estava muito temperado. Bem, se a geléia foi o melhor do prato, alguma coisa certamente estava errada.

Costelinhas assim meio jogadas

Meu prato foi lula em tiras ao açafrão e alho, acompanhada de purê de favas com chouriço e especiarias (R$ 82,00). Apresentação mais apetitosa que a da Chris, embora também não tenha sido uma beleza. Já o sabor estava bem melhor. Jamais pensaria em juntar lula com purê de favas e chouriço, mas não é que ficou bem interessante? Algumas pimentas biquinhos ajudaram a dar um saborzinho a mais, e uma agradável piscininha de azeite se formou por baixo, rendendo garfadas untuosas, mas muito saborosas.


A lula bem amarela por causa do açafrão

Para a sobremesa, solicitamos ajuda da Fernanda para saber o que era o crema catalana (R$ 18,00). Ela disse que era uma espécie de crème bruleé espanhol, mas cuja camada de açúcar caramelizado não era feita com maçarico. Bem, resolvemos experimentar. Não foi sucesso. Havia algum amargor  na camada de açúcar, e o creme em si era bem sem graça. Totalmente esquecível.



"Hmmm, deve estar uma delícia". Só que não.

O que nos pareceu é que o Parador Valencia é um restaurante em decadência. Já viveu seus dias áureos, foi estrelado pelo Guia 4 Rodas, e hoje vive da fama que conquistou. É certo que muito da fama vem de suas paellas, que acabamos não experimentando, mas tudo que pedimos estava no cardápio, então supõe-se que sejam receitas testadas e aprovadas. Fernanda, que nos atendeu, sumia de vez em quando, e não entendíamos bem o porque, sendo o restaurante tão pequeno e com tão poucos clientes. Lendo a história do estabelecimento em sua página na internet, descobri que ela é a chef de cozinha do lugar. Estão explicados seus sumiços. E escancarada a decadência: em um sábado à noite, nenhum funcionário foi escalado para ser garçom, ficando a chef, que é casada com Vicente Más (fundador e dono do restaurante), encarregada de atender o salão.

Por conta de todos os problemas citados, e os erros em quase tudo que foi apresentado, claro que eu e Chris chegamos à conclusão de que não valeria a pena uma volta ao Parador Valencia. Se a paella é o carro-chefe da casa, ou os frutos do mar em geral, que ele se assuma como tal, e deixe de servir outras coisas no cardápio. Ah, e dar uma melhorada no aspecto físico do mesmo também não faria mal algum...



AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 6
Serviço(2): 7 e 8
Entrada(2): 5 e 5
Prato principal(3): 5 e 7,5
Sobremesa(2): 5 e 4
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,41 e 6,20
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Celita de Oliveira Amaral, 189 (acesso pelo número 11.300 da Estrada União e Indústria) - Itaipava - Petrópolis - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 2222-1250/2222-4767
Site: http://www.valencia.com.br/

Facebook: Parador Valencia