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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lilu (São Paulo - SP) - 14/09/2019

O chef André Mifano em frente ao Lilu (fonte: Facebook Restaurante Lilu)

Já é praxe: no aniversário de minha mãe eu a levo pra jantar em algum restaurante aqui de São José dos Campos (eu que pago, juro, o presente não é só a carona). Mas nesse ano resolvi fazer diferente, e levá-la ao restaurante de um chef que ela conhece dos programas de culinária que assistimos juntos. Escolhi o restaurante Lilu, do chef André Mifano, jurado do The Taste Brasil, do canal GNT. Além de mim, da Chris e de minha mãe, ainda tivemos a companhia de nossa amiga Edna além de meu irmão Carlos e sua esposa Tauana. Dia de festa, afinal de contas!

Localizado no charmoso bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Lilu tem uma fachada singela, mas com alguma criatividade podendo ser notada nos desenhos geométricos formados pelo vidro e pela madeira. Tal simplicidade aliada à certa invencionice, aliás, também se refletem no cardápio da casa. A dona do aniversário e a Chris adoraram os banquinhos e as mesinhas do lado de fora, um excelente lugar para elas darem suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição. 

"Cê pita? Elas pita, uai"

Água para cães. Não é fofo?

Na parte interna são cerca de dez mesas do lado direito do salão, dispostas uma em seguida da outra, com pouca distância entre elas. Ao final do corredor há uma área um pouco mais reservada, separada por um vidro. Do lado esquerdo fica o bar e logo depois a cozinha, totalmente aberta, com o trabalho dos cozinheiros podendo ser conferido pelos comensais em detalhes. Os aromas preenchem todo o salão. Claro que não é um ambiente silencioso, e esta é a proposta do lugar: fazer com que as pessoas se sintam em casa (uma casa barulhenta, no caso). Funciona. Um dos participantes de nossa mesa (que não fui eu, nem Chris, nem minha mãe, nem Edna e nem Tauana) chegou a lamber o prato, literalmente. Ponto negativo: há apenas um banheiro unissex para atender a todos.  

Era uma casa barulhenta, com certeza!

"Qual de vossas senhorias lambeu o prato?"

"Lilu: cozinha para partilhar". É assim que o restaurante se apresenta em seu site oficial. E o conceito é realmente levado a sério. Não há divisão entre entradas e pratos principais no cardápio. Todas as quatorze opções disponíveis são servidas da mesma maneira, expressa textualmente no menu: no centro da mesa, para que todos possam compartilhar. Isso aliado ao tipo de ambiente e ao fato de que há diversas opções de coquetéis originais levam a casa mais para um gastrobar do que para um restaurante. Nomenclaturas à parte, as opções de pratos trazem alguns petiscos típicos de boteco junto a opções mais robustas, com descrições que lembram pratos principais convencionais. Por falar em descrição, outra característica do menu é que os pratos não tem nome, apenas trazem a lista de ingredientes e algumas técnicas de preparo ("no vapor", "defumado", etc). Os preços variam de R$ 22 a R$ 67.

Nosso simpaticíssimo garçom sugeriu que pedíssemos algo em torno de dez a doze pratos no total. Segundo ele a média é de dois pratos por pessoa. Como o cardápio listava um total de quatorze opções, chegamos até a cogitar pedir todos eles, já que, né, iam acabar faltando só dois. Mas no final ficamos em doze mesmo. Pedimos uma primeira sequência de cinco pratos, depois mais cinco, e ao final mais dois só pra finalizar. Falarei brevemente sobre cada um dos pratos, iniciando pela sua descrição no cardápio, e me focando mais nas apreciações minhas e da Chris sobre eles - afinal somos os donos dessa bagaça aqui.

Pão de queijo frito e goiabada cremosa (R$ 24) - não seria uma de nossas escolhas, mas foi "contrabandeado" pelo Silas, nosso garçom, que meio que exigiu que pedíssemos. Surpreendeu a todos, agradável, pão de queijo cremoso por dentro e crocante por fora, contrastando agradavelmente com a goiabada.

Um produto de contrabando que agradou

Manjubinha frita e tártato de avocado (R$ 29) - de maneira geral um dos que menos agradou. As manjubinhas que eu peguei estavam um pouco murchas. O tártaro de avocado precisava de mais sabor, especialmente acidez, pra ser um tártaro.

Faltou avocado no fim, o rapaz não disse isso aí no texto

Dois tacos de feijoada refrita, couve, pururuca e pico de gallo (R$ 22) - uma delicinha de feijoada descontruída servida num taco, com o tal pico de gallo, uma espécie de vinagrete, trazendo acidez. Comidinha de boteco das boas.

É gostoso. Não é incrível. Mas é gostoso.

Língua, tomate agridoce e salada de ervas (R$ 53) - certamente um dos meus preferidos da noite. Língua macia, saborosa, combinando perfeitamente com as várias ervas e o tomate. Na foto as ervas podem parecer opressivas, mas trouxeram um frescor essencial ao prato.

Ah, essa língua macia, esse tomate agridoce, essas ervas opressivas...

Barriga de porco no vapor, caldo de shoyu e sake e espinafre na manteiga (R$ 51) - foi o preferido de alguns, e de fato estava gostoso. Mas o tempero oriental, embora muito bom, escondeu um pouco os prazeres que uma barriga de porco pode proporcionar sem nenhum subterfúgio. Me ressenti. Chris comeu só um pedacinho, que gordura não é com ela (por isso ela namora um cara com quase zero de gordura corporal).

Vou contratar meu irmão como fotógrafo oficial. Ficou bonito.

Arenque defumado, ovas, coalhada e panqueca de baunilha (R$ 37) - eu e Chris tínhamos comido arenque uma vez, e ficamos traumatizados com a ruindade. "Destraumatizamos" com essa "pizzinha" absolutamente adorável, de sabores delicados e agridoces.

Escorreu uma lágrima de lembrar. Adorável!

Tartar de wagyu (R$ 44) - os pedaços de carne vieram acompanhados de um tipo de "sucrilho" de milho, obviamente sem o açúcar. Em termos de proporção, poderia ter mais carne e menos milho. Em termos de sabor, poderia estar mais temperado. Não à toa o garçom sugeriu que fosse combinado com o prato seguinte, mais forte.

"Desperta o tigre em você! E em você também!"

Batata frita com ovo e botarga defumada (R$ 31) - simplão que só, não fosse a adição das ovas de peixe por cima. Como é impossível batata frita e ovo ficarem ruins, não é ruim. Mas é isso, batata frita e ovo. A botarga meio que desaparece no paladar.

E pronto, é isso

Baião de dois, arroz basmati, feijão fradinho, chistorra e provolone (R$ 57) - o nome "baião de dois" traz uma carga que o prato não foi capaz de entregar. Os temperos estavam muito neutros, a consistência estava muito úmida e a cor estava muito, como direi...verde. Para mim o pior da noite.

Se o cara disse que é o pior da noite as discussões se encerram e tá decidido. Oras.

Bife de angus, gratin de mandioquinha, repolho fermentado e chimichurri (R$ 67) - chegou vermelhão de sangue, do jeito que a Chris gosta. Carne macia, chimichurri agradável, repolho interessante, gratin de mandioquinha muito bom. Sei que angus é caro, mas achei o preço desse um pouco demais para a quantidade que vem.

É que o gratin de mandioquinha é banhado a ouro

Lula e morcilla (R$ 42) - a descrição não diz, mas vem um matagal por cima. Quase não pedimos esse prato, e seria uma pena se isso tivesse acontecido. A briga entre o sangue da morcilla e a força da lula só traz um vencedor: quem come. Baita combinação, e a salada agrega um bem vindo amargor.

Por baixo desse matagal mil delícias te esperam

Frango e "Ueifel" (R$ 46) - esse nome esquisito esconde um prato esquisito, mas delicioso: um waffle de baunilha por baixo, um frango bem crocante por cima, com um ovo mais por cima ainda. O caldo é mel. E ainda tem ovas de peixe. Loucura. Das boas.

Que coisa esquisita. Que coisa gostosa.

Como podem notar, comemos, e não foi pouco. Portanto para a sobremesa escolhemos "apenas" três opções (entre quatro disponíveis) para dividir entre todos. No caso das sobremesas o preço é único, R$ 29 cada. 

A primeira escolhida, e a única que a Chris experimentou, foi o crème brûlée de cachaça e sorbet de caju. Boa textura do brûlée, sabor de cachaça em equilíbrio, com o sorbet trazendo frescor.

Parece um ovo em cima do brûlée, não parece?

Também escolhemos a musse de chocolate branco, bolo de cacau e amarena. O bolo de cacau e a amarena (uma frutinha bem ácida, também conhecida como ginja) acabaram eclipsando a coitadinha da musse de chocolate branco. No entanto o bolo e a fruta fizeram uma bela dupla, amarga e ácida.

Não, não parece com nada disso que você tá pensando, seu escatológico

Nossa outra escolha foi o flan de doce de leite e chantily de café. Muito louco o chantily branquinho com sabor de café, porque o olho diz pro estômago que ali não vai ter gosto de café, mas ele vem. Não sou fã de café, mas a sobremesa esteve agradável, com o flan não muito doce fazendo um bom contraponto ao chantily cafezado.

Parece um flan com chantily

Não costumo citar nomes de funcionários que nos atendem, mas abrirei uma exceção hoje, por uma boa razão: o Silas é um dos melhores garçons que eu já vi em ação. Estabeleceu desde o princípio uma relação de intimidade natural, se mostrou disponível, esperto, conhecedor do cardápio e um excelente vendedor. Suas descrições dos pratos eram, não raras vezes, melhores do que os pratos em si. Silas à parte, com o salão lotado houve alguns problemas de demora pra limpar a mesa, e ocasiões em que solicitações demoravam a vir, como o momento em que pedimos cardápios para três garçons diferentes até que eles finalmente nos fossem trazidos. Já os pratos, esses chegavam com agilidade impressionante. Mesmo sabendo que o menu foi concebido para ser rápido, a eficiência é prodígiosa se considerarmos a quantidade de mesas e de pedidos simultâneos. Uma curiosidade é que os pratos são servidos pelos próprios cozinheiros, que os deixam no centro da mesa "cantando" sua descrição. 

O restaurante conta com uma carta de vinhos, que sequer foi olhada por nenhum de nós. Há cinco opções de coquetéis exclusivos (com preço único de R$ 33), além de drinks clássicos. Entre as cervejas, a decepção: apenas Heineken e uma opção de witbier (estilo que normalmente leva semente de coentro e raspas de laranja) da Cervejaria Praya. Uma boa carta de cervejas cairia como uma luva no clima descontraído da casa, mais afeito a breja do que a vinho (oi André Mifano, e aí, chique? Se você quiser eu posso elaborar uma carta pra você, baratinho!).

Como era dia de comemoração, não olhamos em nenhum momento para o lado direito do cardápio. Tomamos coquetéis, cervejas, sucos, comemos tudo que quisemos e mais um pouco. Por isso a conta acabou ficando um pouco salgada. Mas é possível duas pessoas escolherem três ou quatro pratos, tomarem um coquetel, beberem a água da casa (de graça!) e ainda racharem uma sobremesa gastando algo em torno de R$ 200, o que não é barato mas também não chega a ser um absurdo. Foi essa conta que fizemos para decidir a nota de custo-benefício aí abaixo. Ainda assim, Chris entendeu que a experiência, comemoração de aniversário da sogra à parte, não valeria um repeteco. Já eu acho que voltaria ao Lilu, especialmente se houvessem novidades no cardápio. Independente de um retorno, o Lilu cumpriu com sua parte: cozinha para partilhar. Não só boa comida, mas bons momentos. Para esses a nossa nota é sempre dez.  


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7,5
Média: 7,2 e 7,6
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Francisco Leitão, 269 – Pinheiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 99746-0269
Site: http://www.restaurantelilu.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/restaurantelilu/
Instagram: https://www.instagram.com/restaurantelilu/

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Fasano Al Mare (Rio de Janeiro - RJ) - 05/03/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de um bom tempo da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

Não chegava a ser um sonho, mas era um desejo: visitar um restaurante do grupo Fasano. E em que momento da vida dá pra fazer extravagâncias financeiras? Nas férias, claro. Então fiz a reserva no Fasano Al Mare, em Ipanema, com um bom tempo de antecedência, não sem antes convencer a Chris de que seria legal gastar uma fortuna num restaurante. Não consegui convencer, mas fiz a reserva assim mesmo, prometendo que pagaria a maior parte da conta, deixando para ela os outros quinhentos reais. 

Já estávamos em nosso 12º dia de viagem, tínhamos passado por Florianópolis e Petrópolis, e nos vestimos com o que de melhor havia em nossas já judiadas malas de roupas. Fomos recebidos pela hostess, que com aquele simpatia naturalíssima nos perguntou se tínhamos reserva. Em seguida nos direcionou ao lado de fora do restaurante. Calma, ela não nos enxotou, apenas nos levou a uma gostosa varanda. Antes disso passamos pelo chique, e cheio, salão principal, cujo design é do famoso Philippe Starck, onde as pessoas vão para ver e serem vistas. Não era nosso caso, o que foi sensivelmente percebido pela nossa simpática anfitriã. Ao chegarmos à varanda, Chris observou que não havia cobertura, apenas toldos sobre as mesas, e perguntou se poderia fumar ali. A moça respondeu que infelizmente seria impossível, por conta de "uma nova lei que saiu". "Mas tem um cinzeiro com cigarros naquela mesa", disse a Chris. Tinha mesmo. E aí, minha filha? "Só um minutinho que eu vou verificar". Alguns minutos depois veio a moça até nós, dizendo que havia se enganado, e que ali fora era permitido fumar, sim senhora. Então tá.

Nos instalamos em um confortável sofá, quase uma cama, cheio de almofadas, um grande espelho atrás de nós, alguns vasos com plantas nos separando das outras mesas, um pequeno toldo sob nossas cabeças, e o maravilhoso clima carioca. À nossa frente as paredes de vidro nos permitiam observar a fauna do salão principal. Inclusive assistimos a uma briga de casal (embora sem o áudio) que foi bem, digamos, interessante. Parecia que estávamos a sós, podíamos conversar tranquilamente, já que as mesas do lado de fora são bem espaçadas umas das outras.

O primeiro ato do garçom, depois do "boa noite", foi perguntar se queríamos o couvert. Me aliviei, porque sei que há restaurantes que simplesmente colocam as coisas na mesa, você come feliz, e depois paga por algo que não pediu. Gentilmente recusamos. Em seguida ele nos entregou um cardápio. De comida? De vinho? Não, de drinks. Acho que esse é o procedimento dos abastados: um cocktail pra aquecer a garganta enquanto escolhem seus pratos. Ficamos ali olhando praquilo, até que falei pro garçom que não queríamos drinks, pra ele trazer logo a porra do cardápio com a chepa. Mais ou menos nesses termos. Ou não.

"Vão rindo até eu trazer a conta"

Enquanto olhávamos o menu, nos foi oferecida água. Doze reais a unidade. Mandamos descer, estávamos na chuva, bora beber água. Nos trouxeram a água, e pouco depois duas cumbucas, uma pra cada um. Era um creme de couve-flor com alcaparra frita, servido como cortesia. Uma cumbuquinha "pitica" (como diz minha tia Lúcia) que só ela. E com UMA alcaparra frita. Nem sabia que a palavra "alcaparra" podia ser escrita no singular, já que elas sempre andam em bandos. O creme em si era meio sem graça, mas a alcaparra frita é uma idéia genial, que nunca tínhamos experimentado. Ponto para ela, e também para a gentileza de nos servir sopinha de graça.

Solitária alcaparra, sem "s" no fim

Queríamos pagar por uma entrada, que não somos casal de ficar comendo de graça. Então pedimos o steak tartare clássico (R$ 88,00), que veio acompanhado de torradinhas bem fininhas e salada de folhas verdes. Dividimos o prato entre nós dois, não por economia, mas pra não ficar com a barriga muito cheia, sabe? É deselegante sair de um restaurante todo estufado. O prato - que pra quem não sabe é carne bovina crua, picada e temperada - estava muito gostoso, com tempero equilibrado, com bastante sabor da carne, e uma pimentinha que ficava na boca por um tempinho depois de ingerida.

O tartare e, ao fundo, a fauna, com todo o respeito

Para os pratos principais, o restaurante tem duas características principais: a cozinha italiana e os frutos do mar, explícitos no nome do estabelecimento. Se bem me lembro, não há nenhum prato que tenha menos de três dígitos no preço. É assim que a banda toca, e já sabíamos que não teria como fugir. Na hora do prato principal não dá pra dividir, e a desculpa de não se empanturrar não iria colar.

Chris escolheu o namorado ao forno com azeitona, batata e cenouras (R$ 110,00). Sinceramente, não sei se foram os preços que a fizeram querer comer namorado ao forno, ou se ela estava brava comigo por alguma outra coisa. Enfim, deixando de lado o momento Zorra Total e voltando ao prato, era um filé de peixe bem alto, encimando os outros ingredientes. As batatinhas assadas, cortadas finamente, estavam ótimas, e Chris aprovou o tempero do peixe. E olha que não é fácil acertar o tempero pra esta mulher.

O namorado ao forno. Como vêem, escapei.

Minha escolha foram os raviólis recheados com carne de caranguejo, com creme de aspargos e concassê de tomate (R$ 128,00). Os raviólis vieram em cinco, uma boa turma, suficiente para formar um time de futebol de salão. Massa muito delicada, salientando bastante o gosto do ingrediente principal, que era a carne de caranguejo. No recheio do ravióli também percebi a presença de camarões. Os tomates deram um contraponto adocicado, e o creme de aspargos chegou e foi embora sem dizer nada. Não foi digno de gemer, mas estava bem gostoso e, claro, perfeitamente cozido.

Quatro na linha e um no gol

As sobremesas tem preço único de 46 reais. Na maioria das vezes eu e Chris chegamos nesta etapa já bastante saciados, e pedimos apenas uma sobremesa para dividir. Não foi o caso neste dia. Culpa da alcaparra no singular, do time de futsal dos raviólis, entre outras coisas. Então decidimos pedir uma sobremesa pra cada, até porque nossos pés já estavam enfiados num jaqueiro colossal, não seriam 46 reais que iriam nos quebrar.

Chris, que gosta tanto de café, nunca havia comido um tiramisù, e achou que seria um bom momento para experimentar. Achou um doce bastante delicado, o que significa dizer um doce não muito doce. Não encontrou muito sabor de café, e considerou isto um defeito. Ficou de provar outro em breve, pra ter base de comparação. Ah, a apresentação também não era lá grandes coisas.

Apesar das críticas, Chris não disse "TIRA-ME ISSO da frente". Quáquá.

Para escolher minha sobremesa contei com a ajuda de um dos garçons, que inclusive saiu um pouquinho do protocolo do funcionário formal de restaurante chique para se empolgar ao indicar o tortini de limão siciliano com chocolate branco e amêndoas e calda de frutas vermelhas. Além de ser delicioso, o doce tem um componente visual sensacional: o tal tortini de limão vem "nadando" no molho de frutas vermelhas, e quando é atingido pela colher seu "sangue" de chocolate branco escorre, se juntando ao caldo, formando uma mistura deliciosa.

Bonito e intacto

Lindo e destruído

Durante toda a nossa estadia os copos foram enchidos com água sempre que se esvaziavam. Meio assustador. Lembra que a água custava doze reais? Pois é. Mas para nosso alívio é um sistema de refil, estilo Burger King, e na conta final veio cobrada apenas uma água. Se soubéssemos teríamos tomado um caminhão pipa. Claro que não poderíamos acompanhar essa chiqueza toda só com água, então também pedimos um vinho, mais precisamente um Chardonnay Les Terrasses 2012 (R$ 135,00), um dos mais baratos da carta. Vinho bem ácido, combinou bem com nossos pratos principais. Como sempre faço nesses casos, antes de escrever o texto fui procurar na internet o valor do vinho que tomamos. Descobri que ele só é vendido para restaurantes, e pela quantia de...tcham tcham tcham tcham...35 reais! Sim, imagino a conversa dos donos: "Deixa ver, custou 35 mangos, ah, vamos botar mais cem conto em cima, e tá feito". Pra que ficar complicando, né gente? A título de curiosidade, o vinho mais caro da casa custava algo em torno de 18 mil reais. Ou o meu carro.

O serviço foi bastante atencioso, mas tivemos o problema com a hostess mal-informada logo no começo, e alguma demora para servir o vinho em alguns momentos da refeição. Em uma das vezes nossas taças ficaram vazias, e passaram uns três garçons por nós sem se darem conta do fato. Não é o que se espera em um lugar desses. Para evitar que você pensem coisas como "porque esses folgados não se serviram?", acrescento que o balde com o vinho não ficava ao alcance de nossas mãos. No mais, aquela formalidade típica de restaurantes refinados, com alguns momentos mais "descontraídos".  

Claro que lá no primeiro parágrafo, quando eu disse que pagaria a maior parte da conta e deixaria quinhentos reais pra Chris, eu estava exagerando. A conta chegou, e ficou em R$ 485,00. Fiquei muito feliz. Eu fui fazendo as contas durante a refeição, e tinha passado dos seiscentos. Como alegria de pobre dura pouco, descobri que o vinho não estava constando no valor total. Não sei da parte da Chris, mas eu confesso que tive uma dúvida ética, que durou alguns segundos. Mas acabamos avisando ao maitre. Não temos vocação pra Robin Hood.

Não preciso dizer o valor final. Mas vale acrescentar que a taxa de serviço é de 13%, ao invés dos tradicionais 10%. Deve ser por conta do tipo de perfume que os garçons usam. Obviamente que o custo-benefício de um restaurante desses sempre vai sair prejudicado, por mais que tenhamos dado notas boas ao restante dos quesitos. E este é o motivo principal que fez a Chris dizer que não voltaria ao Fasano Al Mare, mesmo tendo gostado de tudo que comeu. Eu, metido que sou, voltaria, porque fiquei com vontade de experimentar outras coisas do cardápio.

Tivemos uma belíssima refeição, e uma experiência interessantíssima, especialmente por termos podido observar um mundo que certamente não é o nosso. E, sinceramente, nem temos o desejo de que seja. Uma das graças de viajar é essa: contemplar realidades diferentes da nossa. Como curiosos que somos, temos prazer em "saber como é". Se este texto te fez "saber como é" sem precisar ir até lá, agradeça: acabamos de te fazer economizar R$ 638,45.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7,5
Entrada(2): 7,5 e 8
Prato principal(3): 8 e 8
Sobremesa(2): 8 e 9
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 7,83 e 8,08 
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Avenida Vieira Souto, 80 - Ipanema - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3202-4030
Site: http://www.fasano.com.br/gastronomia/restaurante/22
Facebook: https://www.facebook.com/fasanoalmare?fref=ts