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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lilu (São Paulo - SP) - 14/09/2019

O chef André Mifano em frente ao Lilu (fonte: Facebook Restaurante Lilu)

Já é praxe: no aniversário de minha mãe eu a levo pra jantar em algum restaurante aqui de São José dos Campos (eu que pago, juro, o presente não é só a carona). Mas nesse ano resolvi fazer diferente, e levá-la ao restaurante de um chef que ela conhece dos programas de culinária que assistimos juntos. Escolhi o restaurante Lilu, do chef André Mifano, jurado do The Taste Brasil, do canal GNT. Além de mim, da Chris e de minha mãe, ainda tivemos a companhia de nossa amiga Edna além de meu irmão Carlos e sua esposa Tauana. Dia de festa, afinal de contas!

Localizado no charmoso bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Lilu tem uma fachada singela, mas com alguma criatividade podendo ser notada nos desenhos geométricos formados pelo vidro e pela madeira. Tal simplicidade aliada à certa invencionice, aliás, também se refletem no cardápio da casa. A dona do aniversário e a Chris adoraram os banquinhos e as mesinhas do lado de fora, um excelente lugar para elas darem suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição. 

"Cê pita? Elas pita, uai"

Água para cães. Não é fofo?

Na parte interna são cerca de dez mesas do lado direito do salão, dispostas uma em seguida da outra, com pouca distância entre elas. Ao final do corredor há uma área um pouco mais reservada, separada por um vidro. Do lado esquerdo fica o bar e logo depois a cozinha, totalmente aberta, com o trabalho dos cozinheiros podendo ser conferido pelos comensais em detalhes. Os aromas preenchem todo o salão. Claro que não é um ambiente silencioso, e esta é a proposta do lugar: fazer com que as pessoas se sintam em casa (uma casa barulhenta, no caso). Funciona. Um dos participantes de nossa mesa (que não fui eu, nem Chris, nem minha mãe, nem Edna e nem Tauana) chegou a lamber o prato, literalmente. Ponto negativo: há apenas um banheiro unissex para atender a todos.  

Era uma casa barulhenta, com certeza!

"Qual de vossas senhorias lambeu o prato?"

"Lilu: cozinha para partilhar". É assim que o restaurante se apresenta em seu site oficial. E o conceito é realmente levado a sério. Não há divisão entre entradas e pratos principais no cardápio. Todas as quatorze opções disponíveis são servidas da mesma maneira, expressa textualmente no menu: no centro da mesa, para que todos possam compartilhar. Isso aliado ao tipo de ambiente e ao fato de que há diversas opções de coquetéis originais levam a casa mais para um gastrobar do que para um restaurante. Nomenclaturas à parte, as opções de pratos trazem alguns petiscos típicos de boteco junto a opções mais robustas, com descrições que lembram pratos principais convencionais. Por falar em descrição, outra característica do menu é que os pratos não tem nome, apenas trazem a lista de ingredientes e algumas técnicas de preparo ("no vapor", "defumado", etc). Os preços variam de R$ 22 a R$ 67.

Nosso simpaticíssimo garçom sugeriu que pedíssemos algo em torno de dez a doze pratos no total. Segundo ele a média é de dois pratos por pessoa. Como o cardápio listava um total de quatorze opções, chegamos até a cogitar pedir todos eles, já que, né, iam acabar faltando só dois. Mas no final ficamos em doze mesmo. Pedimos uma primeira sequência de cinco pratos, depois mais cinco, e ao final mais dois só pra finalizar. Falarei brevemente sobre cada um dos pratos, iniciando pela sua descrição no cardápio, e me focando mais nas apreciações minhas e da Chris sobre eles - afinal somos os donos dessa bagaça aqui.

Pão de queijo frito e goiabada cremosa (R$ 24) - não seria uma de nossas escolhas, mas foi "contrabandeado" pelo Silas, nosso garçom, que meio que exigiu que pedíssemos. Surpreendeu a todos, agradável, pão de queijo cremoso por dentro e crocante por fora, contrastando agradavelmente com a goiabada.

Um produto de contrabando que agradou

Manjubinha frita e tártato de avocado (R$ 29) - de maneira geral um dos que menos agradou. As manjubinhas que eu peguei estavam um pouco murchas. O tártaro de avocado precisava de mais sabor, especialmente acidez, pra ser um tártaro.

Faltou avocado no fim, o rapaz não disse isso aí no texto

Dois tacos de feijoada refrita, couve, pururuca e pico de gallo (R$ 22) - uma delicinha de feijoada descontruída servida num taco, com o tal pico de gallo, uma espécie de vinagrete, trazendo acidez. Comidinha de boteco das boas.

É gostoso. Não é incrível. Mas é gostoso.

Língua, tomate agridoce e salada de ervas (R$ 53) - certamente um dos meus preferidos da noite. Língua macia, saborosa, combinando perfeitamente com as várias ervas e o tomate. Na foto as ervas podem parecer opressivas, mas trouxeram um frescor essencial ao prato.

Ah, essa língua macia, esse tomate agridoce, essas ervas opressivas...

Barriga de porco no vapor, caldo de shoyu e sake e espinafre na manteiga (R$ 51) - foi o preferido de alguns, e de fato estava gostoso. Mas o tempero oriental, embora muito bom, escondeu um pouco os prazeres que uma barriga de porco pode proporcionar sem nenhum subterfúgio. Me ressenti. Chris comeu só um pedacinho, que gordura não é com ela (por isso ela namora um cara com quase zero de gordura corporal).

Vou contratar meu irmão como fotógrafo oficial. Ficou bonito.

Arenque defumado, ovas, coalhada e panqueca de baunilha (R$ 37) - eu e Chris tínhamos comido arenque uma vez, e ficamos traumatizados com a ruindade. "Destraumatizamos" com essa "pizzinha" absolutamente adorável, de sabores delicados e agridoces.

Escorreu uma lágrima de lembrar. Adorável!

Tartar de wagyu (R$ 44) - os pedaços de carne vieram acompanhados de um tipo de "sucrilho" de milho, obviamente sem o açúcar. Em termos de proporção, poderia ter mais carne e menos milho. Em termos de sabor, poderia estar mais temperado. Não à toa o garçom sugeriu que fosse combinado com o prato seguinte, mais forte.

"Desperta o tigre em você! E em você também!"

Batata frita com ovo e botarga defumada (R$ 31) - simplão que só, não fosse a adição das ovas de peixe por cima. Como é impossível batata frita e ovo ficarem ruins, não é ruim. Mas é isso, batata frita e ovo. A botarga meio que desaparece no paladar.

E pronto, é isso

Baião de dois, arroz basmati, feijão fradinho, chistorra e provolone (R$ 57) - o nome "baião de dois" traz uma carga que o prato não foi capaz de entregar. Os temperos estavam muito neutros, a consistência estava muito úmida e a cor estava muito, como direi...verde. Para mim o pior da noite.

Se o cara disse que é o pior da noite as discussões se encerram e tá decidido. Oras.

Bife de angus, gratin de mandioquinha, repolho fermentado e chimichurri (R$ 67) - chegou vermelhão de sangue, do jeito que a Chris gosta. Carne macia, chimichurri agradável, repolho interessante, gratin de mandioquinha muito bom. Sei que angus é caro, mas achei o preço desse um pouco demais para a quantidade que vem.

É que o gratin de mandioquinha é banhado a ouro

Lula e morcilla (R$ 42) - a descrição não diz, mas vem um matagal por cima. Quase não pedimos esse prato, e seria uma pena se isso tivesse acontecido. A briga entre o sangue da morcilla e a força da lula só traz um vencedor: quem come. Baita combinação, e a salada agrega um bem vindo amargor.

Por baixo desse matagal mil delícias te esperam

Frango e "Ueifel" (R$ 46) - esse nome esquisito esconde um prato esquisito, mas delicioso: um waffle de baunilha por baixo, um frango bem crocante por cima, com um ovo mais por cima ainda. O caldo é mel. E ainda tem ovas de peixe. Loucura. Das boas.

Que coisa esquisita. Que coisa gostosa.

Como podem notar, comemos, e não foi pouco. Portanto para a sobremesa escolhemos "apenas" três opções (entre quatro disponíveis) para dividir entre todos. No caso das sobremesas o preço é único, R$ 29 cada. 

A primeira escolhida, e a única que a Chris experimentou, foi o crème brûlée de cachaça e sorbet de caju. Boa textura do brûlée, sabor de cachaça em equilíbrio, com o sorbet trazendo frescor.

Parece um ovo em cima do brûlée, não parece?

Também escolhemos a musse de chocolate branco, bolo de cacau e amarena. O bolo de cacau e a amarena (uma frutinha bem ácida, também conhecida como ginja) acabaram eclipsando a coitadinha da musse de chocolate branco. No entanto o bolo e a fruta fizeram uma bela dupla, amarga e ácida.

Não, não parece com nada disso que você tá pensando, seu escatológico

Nossa outra escolha foi o flan de doce de leite e chantily de café. Muito louco o chantily branquinho com sabor de café, porque o olho diz pro estômago que ali não vai ter gosto de café, mas ele vem. Não sou fã de café, mas a sobremesa esteve agradável, com o flan não muito doce fazendo um bom contraponto ao chantily cafezado.

Parece um flan com chantily

Não costumo citar nomes de funcionários que nos atendem, mas abrirei uma exceção hoje, por uma boa razão: o Silas é um dos melhores garçons que eu já vi em ação. Estabeleceu desde o princípio uma relação de intimidade natural, se mostrou disponível, esperto, conhecedor do cardápio e um excelente vendedor. Suas descrições dos pratos eram, não raras vezes, melhores do que os pratos em si. Silas à parte, com o salão lotado houve alguns problemas de demora pra limpar a mesa, e ocasiões em que solicitações demoravam a vir, como o momento em que pedimos cardápios para três garçons diferentes até que eles finalmente nos fossem trazidos. Já os pratos, esses chegavam com agilidade impressionante. Mesmo sabendo que o menu foi concebido para ser rápido, a eficiência é prodígiosa se considerarmos a quantidade de mesas e de pedidos simultâneos. Uma curiosidade é que os pratos são servidos pelos próprios cozinheiros, que os deixam no centro da mesa "cantando" sua descrição. 

O restaurante conta com uma carta de vinhos, que sequer foi olhada por nenhum de nós. Há cinco opções de coquetéis exclusivos (com preço único de R$ 33), além de drinks clássicos. Entre as cervejas, a decepção: apenas Heineken e uma opção de witbier (estilo que normalmente leva semente de coentro e raspas de laranja) da Cervejaria Praya. Uma boa carta de cervejas cairia como uma luva no clima descontraído da casa, mais afeito a breja do que a vinho (oi André Mifano, e aí, chique? Se você quiser eu posso elaborar uma carta pra você, baratinho!).

Como era dia de comemoração, não olhamos em nenhum momento para o lado direito do cardápio. Tomamos coquetéis, cervejas, sucos, comemos tudo que quisemos e mais um pouco. Por isso a conta acabou ficando um pouco salgada. Mas é possível duas pessoas escolherem três ou quatro pratos, tomarem um coquetel, beberem a água da casa (de graça!) e ainda racharem uma sobremesa gastando algo em torno de R$ 200, o que não é barato mas também não chega a ser um absurdo. Foi essa conta que fizemos para decidir a nota de custo-benefício aí abaixo. Ainda assim, Chris entendeu que a experiência, comemoração de aniversário da sogra à parte, não valeria um repeteco. Já eu acho que voltaria ao Lilu, especialmente se houvessem novidades no cardápio. Independente de um retorno, o Lilu cumpriu com sua parte: cozinha para partilhar. Não só boa comida, mas bons momentos. Para esses a nossa nota é sempre dez.  


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7,5
Média: 7,2 e 7,6
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Francisco Leitão, 269 – Pinheiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 99746-0269
Site: http://www.restaurantelilu.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/restaurantelilu/
Instagram: https://www.instagram.com/restaurantelilu/

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quintal das Letras (Paraty - RJ) - 18/11/2016


Os mesmo donos do restaurante Quintal das Letras, em Paraty, possuem também a Pousada Literária e a Livraria das Marés, na mesma cidade e na mesma rua. Em um pedaço de Brasil tão poético como Paraty, associar o seu empreendimento à literatura parece ser uma escolha das mais acertadas. Em mais uma visita que fizemos à cidade, decidimos conhecer esse restaurante, que além do belo nome tinha também boas referências em guias e na internet.

Chris adicionando um verso à poesia de Paraty

Como não poderia deixar de ser - em se tratando de Paraty - o restaurante fica instalado em um casarão histórico. Deixar as três portas bem abertas é uma decisão inteligente dos proprietários, já que seria um desperdício um restaurante todo fechado em uma cidade tão charmosa. Nos instalamos bem pertinho da saída, para não perdermos a privilegiada visão das ruas de pedra. O restaurante aproveita bem o seu espaço, que não é tão grande, fazendo uso de um mezanino e de um pequeno corredor lateral - que só agora descobri que é ao ar livre. Desse modo as mesas não precisam ficar tão próximas umas das outras. Os tons de marrom predominam, já que a decoração é quase toda em madeira. O ambiente, se não chega a ser informal, também não tem nada de sisudo.

Para mim, a visão da Chris e de Paraty...

...para a Chris, a visão de mim e do restaurante. Me dei melhor!

Como um chamego é sempre bem vindo, ficamos felizes com o pequeno copo de gaspacho que cada um de nós recebeu de brinde enquanto ainda escolhíamos nossa entrada. Para quem não sabe, é uma sopa fria, normalmente feita de tomate. Pouco depois de nossa chegada entreouvi um cliente reclamando ao garçom da falta de sal no prato que ele havia comido. Não consegui descobrir qual era esse prato, mas a julgar pelo gaspacho a reclamação parecia improcedente. Estava bem temperado, até com alguma picância. Chris não gostou tanto, mas foi mais por causa da consistência da sopa fria.

Chameguinho bem-vindo

Não chega ao número de títulos brasileiros do Palmeiras (cinco, tá?) as vezes em que aceitamos o couvert em algum restaurante. Mas o deste aqui era irresistível. Confira: pães variados, pannacotta de palmito pupunha com cubinhos de tomate e alho negro, pastinha de cream cheese com jabuticaba e manteiga com flor de sal (R$ 28 para duas pessoas). Isso porque, na descrição do cardápio, não consta a telha de pão de queijo, que é como se fosse um pão de queijo na forma de uma torrada bem fina. Uma delícia, e muito prático para abdicar da faca e usá-lo para se servir. A pannacotta estava com uma textura agradável e bom tempero, suavizado pela presença do alho negro e do tomate, que dão uma adocicada no sabor. Nenhum de nós curtiu muito a manteiga com flor de sal, que acaba sendo tão somente uma manteiga bem salgada. Já o cream cheese de jabuticaba tinha um grande defeito de vir em pouquíssima quantidade. Ou seja: sobrou manteiga e faltou cream cheese em nossa experiência. Mas os pães eram gostosos e a apresentação, belíssima.

Fotos oblíquas denotam o talento do fotógrafo

Apesar de já termos comido o couvert, claro que não poderíamos abdicar de mais uma entradinha. Entre algumas opções interessantes - como a barriga de porco pururuca servida com caramelho de shoyu e laranja, farofa da Graúna e chantily de feijão (R$ 28) - acabamos escolhendo o crab cake Vale do Paraíba (bolinho de siri com arroz negro, coulis de açaí e degustação de pimentas, R$ 29). O que nos atraiu foi o bolo feito com carne de siri e arroz negro e, claro, a inusitada degustação de pimentas. São elas, por ordem de picância: biquinho, bodinho e cumari. A idéia é experimentar o bolinho junto com as pimentas, seguindo o grau de ardência. A idéia é muito boa, e o resultado é interessante, mas não pudemos deixar de notar que, sem as pimentas, o bolinho carecia de um pouco mais de tempero. Também fiquei curioso para experimentar o coulis de açaí, mas ele parecia uma sujeira no prato, e não algo para ser experimentado. Com consistência muito firme, e pouca quantidade, ele grudou na louça, e não conseguimos sentir seu sabor. Uma pena. No fim das contas gostamos mais da criatividade do que propriamente dos sabores da entrada.

Muita poesia e pouca prosa

Há duas seções no cardápio de pratos principais: "do mar para mesa" e "do campo para mesa". A primeira tem duas páginas, a segunda apenas uma. Nada mais justo em uma cidade litorânea. Os pratos são todos individuais, e poucos ficam abaixo dos R$ 70. Pratos com camarões são os mais caros, chegando perto dos R$ 100, enquanto o nhoque de batata baroa é listado por R$ 62. Talvez o cardápio pudesse ser mais criativo nos nomes das criações, usando de referências literárias para fazer jus ao nome do lugar. Mas há títulos curiosos, como "risoto de polvo malandrinho" (que eu quaaase pedi) e "bacalhau pensado na cama".

Por falar em nomes curiosos, Chris escolheu o peixe Maria Panela (peixe assado com ervas, cebolas, azeite e vinho branco, com batatas crocantes, alho negro, alecrim e flor de sal, R$ 88). O peixe que veio à mesa foi o robalete, que, como se pode supor, é uma versão menor do robalo. Apresentação bonita, com o peixe recheado, servido quase inteiro, sem cabeça (e supostamente sem espinhas) com as batatas ao lado. Como os parênteses ao lado entregam, a Chris encontrou uma malfadada espinha no peixe, o que é sempre reprovável. Outra coisa que ela reprovou foram os alecrins servidos frescos e inteiros, que ela inadvertidamente confundiu com espinhas em alguns momentos. Quanto ao sabor, a princípio ela até gostou, mas achou enjoativo com o tempo, com sabor de vinho muito intenso. Outro problema foi que, quando provado sozinho, o peixe estava sem sal - provavelmente foi esse o prato que o outro cliente pediu e encontrou o mesmo defeito. Mas se salvaram as batatas, que ela gostou bastante.

Assim assim...

De minha parte escolhi o mexidinho do mar (camarões, lulas e polvo com risoto de arroz negro, cubinhos de tomate e de palmito pupunha, R$ 96). A apresentação não tem muita sofisticação, como já indica o nome do prato. Achei que o molho tinha sabor forte demais, complicado de se comer em separado. Mas em conjunto com o arroz negro ficava mais harmonioso. A consistência do polvo e dos camarões estava perfeita, mas achei a lula um pouco borrachuda, além de cortada em pedaços irregulares, alguns muito grandes. Trata-se de um prato intenso, para fortes, o que talvez não fosse meu caso nessa noite.

Ai, quanta intensidade...

Para a sobremesa a Chris deixou a escolha em minhas mãos, e eu estava bem propenso a pedir o pot-pourri Frederic de Maeyer (torta de cupuaçu com aipim e coco, tarte tartin com especiarias e pannacotta de iogurte e chocolate branco, compota de banana e maracujá, R$ 34). Parecia um bom apanhado do que o chef Frederic (que comanda o restaurante Eça, no Rio de Janeiro) é capaz de fazer em termos de sobremesas. Mas, por conta de nossa refeição ter sido bem farta, com couvert, entrada e prato principal, achei que o pot-pourri seria demais para nós, e acabei escolhendo o trio de crème brûlée (chocolate, fava Tonka e frutas vermelhas, R$ 29). Apresentação simples mas bonita. O crème brûlée tem aquele açúcar queimado por cima, mas achamos que os de chocolate e de fava Tonka estavam com o açúcar queimado demais. Chris achou o sabor do de chocolate muito parecido com o do pudim que ela compra no supermercado. Ambos gostamos mais da opção com frutas vermelhas, que estava mais gostosa e equilibrada, com o açúcar menos queimado. Outro ponto positivo, dos três, é que o açúcar não estava muito duro, e era fácil de cortar, ao contrário do que já nos aconteceu até mesmo no Olympe, no Rio de Janeiro.

Um trio de três para uma dupla de dois

Começamos nossa refeição com uma cerveja de Paraty, a Caborê Pilsen (R$ 19). Já conhecíamos a cerveja de nossas outras visitas à Paraty, e não tínhamos gostado muito, mas resolvemos dar mais uma chance. Mas ela continua um pouco insossa. Terminamos nossa refeição com água, que essa não tem erro.

Os garçons se mostraram muito atenciosos, e conhecedores do cardápio. Aquele que nos atendeu recitava de cor os ingredientes dos pratos, sem precisar "colar", e demonstrava entusiasmo ao falar das opções da casa. Ao final ele perguntou o que tínhamos achado da refeição e Chris fez a mesma reclamação do outro cliente sobre a falta de sal. Sua resposta foi a mesma: "é que nosso chef não gosta de carregar muito no sal". Bem, na mesma noite o chef recebeu duas reclamações iguais, então talvez seja o caso de rever os preceitos. Senão, de que serve perguntar aos clientes o que acharam? Também sentimos uma pequena demora para a entrega dos pratos principais, mas nada que chegasse a incomodar muito. Para finalizar as queixas, bem que poderiam ter nos avisado que o corredor lateral é ao ar livre, já que do lado de dentro não dá para perceber esse diferencial da casa.

Começamos a refeição muito bem impressionados com o gaspacho de cortesia, com o couvert extremamente bem apresentado e com a entrada criativa. Também ficamos felizes com o atendimento atencioso, bem instruído e dedicado. Mas os pratos principais nos decepcionaram um pouco. Acho que foi por conta disso que chegamos à conclusão que não voltaríamos ao Quintal das Letras. Em nossas futuras visitas à Paraty - e elas acontecerão, porque amamos a cidade - daremos oportunidades a outros restaurantes. Mas, quem sabe um dia, quando estivermos visitando a Livraria das Marés, do mesmo dono, poderemos sentir o cheiro da comida ao lado e nos animarmos a voltar. Afinal, como diria Nietzsche, de quem a Chris não gosta mas com quem há de concordar, "não há fatos eternos como não há verdades absolutas".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8,5
Couvert(2): 7 e 8,5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,42 e 7,46
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua do Comércio, 58 - Centro Histórico - Paraty - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 3371-2616
Site: http://www.pousadaliteraria.com.br/gastronomia/quintal-das-letras1.htm















sábado, 28 de maio de 2016

Babel (Visconde de Mauá - Distrito de Resende - RJ) - 30/04/2016

A gente sabe que a coisa mais importante em um restaurante é a comida, mas é difícil falar do Babel - nome que vem da mistura de etnias do casal de chefs - sem falar da estradinha de terra que leva até lá. Estivemos ali para um jantar, e em dado momento falei pra Chris, "não é possível que vai ter um restaurante por aqui". Mas tinha. A estrada realmente não é das melhores, e de noite é um breu só, mas dá para chegar de carro de passeio, embora alguns pedaços do trecho de 4 km tragam dificuldades a neófitos na arte de dirigir na terra. O restaurante fica em uma região chamada Vale do Pavão, e pertence ao distrito de Mauá, que por sua vez pertence ao município de Resende (RJ).

No meio da estrada escura tinha um restaurante

Diz-se que a vista da serra que se descortina do restaurante é muito bonita, mas infelizmente à noite não deu para perceber. Fica a dica a quem quiser visitar, para ir de dia. O salão tem formato quadrado, e as paredes são todas de vidro, justamente para que não se perca o visual que perdemos por ser de noite ( eu já disse isso?). A cozinha também tem uma janela de vidro, e dá para ver os cozinheiros trabalhando. Apesar de o salão ser pequeno, há uma boa distância entre as mesas. O que perdemos em visual ganhamos em clima, já que a lareira estava acesa, amenizando um pouco o friozinho da região. Pena que as cadeiras não eram muito confortáveis. É importante fazer reserva, já que o lugar é pequeno, e mais importante ainda é comparecer depois de feita a reserva. Na noite em que lá estivemos havia uma mesa reservada para quatro pessoas, e elas não compareceram, o que, convenhamos, é uma puta sacanagem.

A lareira, a Chris, a cozinha à direita

O caixotinho de vidro

Sempre é gostoso começar a noite gastronômica com um mimo, e isso deveria ser praxe em restaurantes de alta gastronomia. Aí, mesmo que paguemos caro no final, a gente pensa "poxa, mas teve aquela cortesia". Tá, não funciona se o resto da noite for um desastre. No Babel a gente recebeu uma colherzinha cada (meio parecida com a do programa The Taste), com queijo, tomate e manjericão. Delicado e bem gostoso.

O mimo ao estilo The Taste

Para as entradas o cardápio lista opções para comer sozinho e opções para compartilhar. Escolhemos uma para compartilhar, mais precisamente o queijo brie à milanesa com molho picante de goiabada  (R$ 42). Embora não constasse na descrição, também vieram fatias de pão frito. Não gostamos muito da apresentação, pareceu que uma criança tinha montado o prato tentando deixar bonitinho - sem sucesso. O brie e o pão frito estavam bons, mas o tal molho picante de goiabada não picou a gente. Se o cardápio descreve o molho como "picante" e o sujeito pede assim mesmo, porque ter medo de o deixar picante de fato? Acabou ficando sem graça.

Exagerei, ou é meio amontoadinho?

Para os pratos principais o cardápio lista nove opções, todas elas com nomes que remetem a cenários e paisagens da região, como "Alcantilado", "Agulhas Negras" e "Vale do Pavão". Não sabemos se é uma regra, mas na noite em que lá estivemos também havia um prato adicional, que não constava no cardápio. Nenhum prato custa menos de sessenta reais. Há também opção de menu-degustação, por R$ 185 por pessoa.

Chris escolheu o Santa Clara (filé de truta salmonada com arroz negro e pupunha ao molho de limão siciliano e crisp de alho poró, R$ 68). Apresentação trivial, com o crisp de alho poró por cima do filé, este por cima do arroz, e o molho por baixo de tudo. Chris achou o molho de limão muito forte, mas quando dava uma garfada sem ele a comida ficava muito seca. Ela também experimentou o arroz sozinho, e achou meio sem graça. O crisp de alho poró estava bom e deu crocância ao prato, mas foi insuficiente para convencer a Chris.

Uma sombra (de dúvida) sobre o prato

Minha escolha foi o Alcantilado (stinco de cordeiro ao mel e especiarias com polenta trufada e lascas de cebola assadas, R$ 80). Apresentação bem pobrezinha, achei que faltou uma corzinha, para dar uma embelezadinha. As cebolas assadas estavam na descrição do prato, mas achei que houve um problema de proporção, já que vieram poucas, e acabaram muito rapidamente. A polenta e o cordeiro  ficaram sem esta companhia tão agradável em boa parte da refeição. Nunca tinha comido stinco, que vem a ser a canela do cordeiro. A carne estava macia, soltando do osso, e tinha bom sabor, com o molho de mel não o deixando muito adocicado (Chris provou e não concordou com esta afirmação). A polenta também estava gostosa. Mas achei que, além de mais cor e mais cebola, também faltou um pouco de molho, a comida acabou ficando seca. Mas, como dito, os sabores eram bons.

Mais cor e mais cebola, por favor

Para a sobremesa escolhemos o Mix de Sobremesas da Chef Dani Keiko (tiramissu, mousse de maracujá, torta de chocolate e creme brulê, R$ 33). Depois de três pratos com apresentações fracas, gostamos muito dessa aqui, especialmente por conta dos recipientes usados para acomodar os doces. O tiramissu, por exemplo, veio em uma canequinha de café. Quanto aos sabores, eu gostei da torta, do mousse e do brulê, e achei o tiramissu meio sem graça. Chris gostou do brulê, mas não se afeiçoou muito das outras.

Bonitinho demais da conta

Acompanhamos a refeição com cerveja. Tomamos uma Therezópolis Gold (600ml, R$ 19,70) e uma long neck de uma pilsen local, chamada Serra Gelada (R$ 16,50). Ambas vieram geladinhas, e no caso da Therezópolis o copo utilizado tinha a marca da cervejaria.

O serviço foi correto. O salão bem pequeno facilita a vida dos dois garçons, um homem e uma mulher, que se mantiveram atentos. Os pratos chegaram rápido, e até podemos dizer que, no caso do prato principal, chegaram rápido demais. A gente mal havia acabado de degustar a entrada. A retirada das louças e talheres sujos passou pelo "teste do cigarro", que se consiste na equipe retirar os pratos enquanto a gente sai pra Chris fumar. Um detalhe curioso é que não foi oferecido café ao final da refeição, o que é praxe em qualquer restaurante. Por outro lado, o banheiro tinha um sabonete de café. Deve ser pra compensar. Outro detalhe importante é que o restaurante não aceita nenhum cartão para pagamento. O cliente pode pagar com dinheiro, cheque ou fazer uma transferência bancária posterior, cujos dados já são entregues junto com a conta ao final.

Tivemos uma noite agradável, mas que não nos encantou gastronomicamente. Como deu para perceber, os preços também não são o que se pode chamar de amigáveis. O cardápio tem opções interessantes, e muitas delas nos chamaram a atenção antes de fazermos nosso pedido, mas a degustação em si se mostrou um pouco decepcionante. Ambos achamos que poderia ser interessante visitar o restaurante de dia, com a vista da serra, mas nossa experiência noturna nos levou à conclusão de que não voltaríamos ao Babel. E a estrada cheia de buracos é a menos culpada por essa decisão.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 7,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,25 e 6,91
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Estrada do Vale do Pavão, sem número - Distrito de Visconde de Mauá - Resende - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 99999-8121/99977-0152
Site: http://www.babelrestaurante.com/
Facebook: https://www.facebook.com/babelviscondedemaua/?fref=ts



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Olympe (Rio de Janeiro - RJ) - 10/03/2015

(Fonte: Site da GNT)

Uma das coisas que mais gosto de fazer junto com minha mãe é assistir a programas de culinária. Entre as várias opções disponíveis hoje em dia, acho que os que mais gostamos são os do chef francês Claude Troisgros. Imagino que todo mundo que tem o canal GNT em casa já deve ter visto a cara dele, que quase sempre está rindo como na foto acima. Por isso, quando minha mãe me deu de presente de Natal um vale-compras da Mastercard® (olha o merchan!) no valor de 350 reais, eu pensei na hora: vou gastar no Claude! Já estávamos com viagem marcada ao Rio de Janeiro, portanto fiz nossa reserva no Olympe, o principal restaurante comandado pelo francês. Fica na esquina de uma rua tranquila no bairro Jardim Botânico. A fachada é bem discreta, com tijolinhos à vista, uma portinha e logo acima uma placa em marrom grafada "Olympe", indicando que você chegou ao lugar certo.

Belezinha de fachada, e com lugarzinho pra belezinha da fumante

Claude não chega a ser um ídolo, título que dedico apenas aos quatro Beatles e alguns poucos outros, mas é um cara que admiro bastante. Portanto, não foi sem emoção que adentrei aquele recinto ao lado da Chris. Fomos acomodados em uma mesa bem pertinho da porta. Ambiente pequeno, à meia-luz. Sem grandes invenções ou arroubos criativos na decoração. Sóbrio e clássico. Quem fica encostado na parede se acomoda em um sofá, e quem fica do lado oposto fica na cadeira, que também é confortável. Pena que havia uma mesa muito próxima da nossa, e quando ela foi ocupada esta proximidade chegou a incomodar um pouco. Também chama a atenção a cozinha envidraçada, possibilitando aos convivas observarem toda a movimentação dos cozinheiros.

Isso é chique demais procê, menino

Assim como no Fasano - o outro "chiquetê" que visitamos no Rio - o Olympe também nos mimou com uma entradinha não solicitada e não cobrada. Assim como no outro caso, era entradinha com ênfase no "inha". E bastante inusitada: sorvete de abóbora com carne seca. E não é que estava gostoso? Quem imaginaria...

Não vá se empanturrar, menina

Para a entrada propriamente dita dividimos um crepaze (R$ 58,00), mousse de agrião recheada com queijo gorgonzola enrolada em panqueca crocante, encimada com folhas de baby rúcula. A tal crosta de panqueca se assemelhou mais a um suflê para mim, e Chris se lembrou de omelete. De qualquer forma, nós dois gostamos muito. Eu adorei o amarguinho que a rúcula deu ao prato, deixando-o bem equilibrado, uma vez que o agrião perdeu seu sabor forte quando transformado em mousse.

Nosso matinho

Para os pratos principais o menu é dividido em duas partes: "A tradição" e "A criação". O primeiro deles traz pratos que fazem sucesso no Olympe há muitos anos, e o outro traz invenções mais recentes de Claude e de seu filho Thomas Troisgrois. "A criação" só está disponível no Menu Degustação, em que a pessoa escolhe 4 pratos e mais uma sobremesa, e paga um valor fixo de 350 reais por pessoa. Existe também a opção chamada de Menu Confiance que, como o nome indica, exige que o visitante confie no chef, que vai usar os melhores produtos do dia para montar uma refeição completa. Esta opção custa 380 reais. Embora eu já soubesse que iríamos exceder o valor do vale-presente dado por minha mãe, não dava pra exceder tanto assim. Por isso ficamos com "A tradição", que traz pratos à la carte, com preços mais acessíveis, embora dos oito disponíveis apenas três apresentassem preços com menos de três dígitos.

Chris pediu o Boeuf (R$ 108,00), filé mignon em crosta de alecrim e pimenta verde, galette de batata Anna e molho bordelaise. A tal galette de batata Anna é algo semelhante a uma pequena torta de batata. Simples assim. A apreciação da Chris passou por momentos diferentes. Quando chegou o prato, ela achou que seria pouco. Quando ela começou a comer e adorou, achou que seria muito pouco. Mas quando o molho bordelaise se tornou enjoativo, ela começou a achar que era muito. Mas isso não a impediu de ter amado a crosta do bife, e de ter elogiado seu ponto mal passado, do jeito que ela gosta. Também gostou das batatinhas com seu nome, embora tenha achado que algumas ficaram um pouco cruas.

"Tira logo a foto que eu quero comer!"

Eu escolhi a Caille (R$ 115,00), codorna recheada com farofa de cebola e passas, acelga confit, acompanhada de molho agridoce. Uma coisa de gemer até o fim dos dias. Três codorninhas, com o crocante da pele contrastando com o cremoso recheio, e o molho agridoce dando um toque...como dizer...agridoce à coisa toda. Um prato perfeitamente equilibrado. Eu estava comendo e já pensando que seria a primeira nota dez em prato principal desde que iniciamos o blog. Até que, na terceira codorna, que eu devorava vorazmente, um ossinho chato deu uma atrapalhada na experiência. Mordi-o com força. Claro que o dez se foi pelo ralo. Ainda assim fiquei bem triste quando terminei de comer. Poderia continuar comendo aquilo por mais alguns dias.

É tão bom que vai com osso e tudo

Quando o garçom veio recolher os pratos, perguntou se estava tudo bem, e se tínhamos gostado. Falei sobre o ossinho, e ele se retirou, voltando pouco depois dizendo ter relatado o caso ao chef. Este disse ser normal encontrar ossos nas patas da codorna. Eu disse que tudo bem, que não tinha atrapalhado a experiência. Não quis criar caso por causa daquilo. Mas é claro que não era pra ter osso nenhum na codorna de 115 reais.

Para a sobremesa existem oito opções, todas pelo preço fixo de 32 reais. Decidimos que cada um de nós iria comer uma, ao invés de dividir como normalmente fazemos.

Chris escolheu o brulée e chocolat, que veio com creme brulée, mousse de chocolate apimentada e palito de doce de leite. Apresentação bem pobrezinha, com uma cumbuca para a mousse, outra para o creme, e o palito no meio. Chris achou o palito bem gostoso. Não sentiu a tal pimenta na mousse, que também veio com muito chantilly. Quanto ao creme brulée, estava com a casca muito dura, e quando a Chris forçava a colher para quebrá-la, esta batia na louça, fazendo um barulho não muito agradável em um ambiente silencioso de um restaurante chique. Mas o sabor, que mais importava, estava bom.

Né? Podia ser melhor.

Eu escolhi o crepe passion, sobremesa que tem o epíteto "Especialidade desde 1982" escrito no cardápio. Ou seja, existe desde que o restaurante foi inaugurado. Trata-se de uma panqueca suflê caramelizada, acompanhada de calda de maracujá. A panqueca estava bem delicada e cremosa, com sabor suave. A calda de maracujá acabou dominando a receita, no fim das contas. Achei que faltou um pouco de equilíbrio.

La passion

Acompanhamos tudo com um vinho da família Troisgros, chamado Sérol, da uva gamay, safra de 2013 (R$ 114,00). O engraçado foi que eu chamei o sommelier pra ele nos dizer se o vinho combinaria com os dois pratos, mas o fiz já decidido a comprar aquela garrafa, já que coleciono rótulos e aquele cairia muito bem na minha coleção. O sommelier disse que o vinho só harmonizaria bem com o meu prato, e não com o da Chris, mas eu pedi assim mesmo! Que grande pateta. Pra que perguntar se já sabia que ia pedir? Chris me perdoou, boazinha que é.

Difícil reclamar de algo sobre o serviço. Sempre atento, solícito, mas sem exagerar nas formalidades. Nos foi explicado como funciona o cardápio antes de fazermos nossos pedidos e houve celeridade (até excessiva) em preencher nossas taças de vinho quando estas se esvaziavam. Os garçons se permitem alguma brincadeira, são simpáticos na medida certa. Tá certo que eles puxam sua cadeira quando você volta do banheiro, o que me deixa um pouco desconfortável, confesso. Mas faz parte do jogo. A água foi reposta o tempo todo, e ao final não veio nada cobrado, ao contrário do Fasano Al Mare, que nos cobrou uma unidade (mesquinhos!).

Além de tudo já dito sobre o serviço, tivemos dois mimos: o já citado sorvete de abóbora na chegada, e uma travessa com quatro pares de pequenos docinhos ao final. É muito chamego. Observamos outras mesas fechando a conta e não notamos a tal travessa, o que nos fez desconfiar que ela veio como um pedido de desculpas por conta do maledeto ossinho na codorna. Se foi por isso, ótimo. Se não foi, melhor ainda. Já estávamos bem satisfeitos, mas comemos todos os docinhos, que eram bem gostosinhos.


Seria um pedido de desculpas? Aceitamos!

O preço é caro. Não precisa de calculadora para saber que tivemos que desembolsar uma parte da conta, já que o presente de mamãe não cobriu o valor total. Sem o vale-presente certamente teríamos que escolher entre o Fasano ou o Olympe para irmos, já que nosso orçamento não comportaria as duas refeições. Apesar disso, tivemos momentos de intensa alegria e prazer durante a refeição, o que fez ambos pensarem que valeria a pena uma segunda visita ao restaurante do chef Claude. Embora ele não estivesse no restaurante na noite de nossa visita, na próxima vez que o virmos na TV podemos dizer que já provamos de sua comida. E, olhando pra tela, dizer bem metidos: "Claude, presta atenção no ossinho!".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 9 e 10
Entrada(2): 9 e 8
Prato principal(3): 8 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7,5
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,75 e 8,25
Voltaria?: Sim e sim


Serviço:
Rua Custódio Serrão, 62 - Jardim Botânico - Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2539-4542
Site: http://olympe.com.br/


quinta-feira, 26 de março de 2015

Ostradamus (Florianópolis - SC) - 25/02/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de algumas semanas da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço) 

Ribeirão da Ilha é um distrito de Florianópolis. Fundado por açorianos ainda no século XVIII, a região tem casas no estilo colonial português, muito charme e muitas...ostras! Sim, trata-se do maior produtor de ostras do Brasil, e muitos de seus restaurantes utilizam o ingrediente em seus cardápios, e até em seus nomes. É o caso do Ostradamus, visitado por nós depois de uma "viagem" de 45 minutos partindo da Barra da Lagoa, onde estávamos hospedados. O distrito é mesmo afastado pra quem está no norte da ilha, mas vale a pena ser visitado. Dureza mesmo é voltar com o bucho cheio...

Lateral do restaurante

Em uma noite de quarta-feira, a região não estava muito movimentada. O restaurante nos encantou de cara, já que logo na entrada há o busto de um casal apaixonado, um barril, um aquário de ostras vivas sendo depuradas, e duas cadeiras para os turistas que adoram tirar fotos. Claro que não é nosso caso, imagine. Nas mesas do salão principal, tampas de vidro emoldurando conchas dos mais variados tipos, com plaquinhas de identificação, como se fosse um museu. Mas o melhor ainda viria: um trapiche avançando sobre o mar, coberto e com janelas de vidro, e ao final da cobertura um pequeno trecho descoberto, mas sem mesas, com uma estátua de uma mulher com seus jarros, provavelmente emulando as primeiras moradoras da região. Claro que ficamos no trapiche, onde a Chris poderia levantar pra fumar tranquilamente, ouvindo o barulho das ondas, contando eventualmente com a companhia de alguns pássaros marítimos. Sentamos em cadeiras de vime, com mesas redondas de vidro. Para finalizar a imersão na vida marinha, cardápio em forma de pergaminho antigo e garçons vestidos de marinheiro.

Nós não queríamos, mas fomos forçados a tirar esta foto


O trapiche, a praia, as luzes e tudo o mais

O pergaminho cardapizado, ou o cardápio pergamizado

O garçom marinheirado, ou o marinheiro garçonizado

Se dependesse só do ambiente, já estaríamos conquistados. Mas claro que precisávamos comer. E é claro que ostras teriam que fazer parte da entrada, já que o prato principal já estava decidido e não continha ostras. Mas havia um problema: Chris não gosta de ostras. E as porções de ostras vinham com 12 unidades, o que seria um exagero, mesmo que eu fosse um glutão, o que está longe da verdade. Ficamos debatendo sobre o que fazer. O garçom, ao nosso lado, vendo nossa aflição, deu a solução: ele faria uma porção com apenas 3 ostras para mim, e a Chris escolheria a entrada que lhe agradasse. Genial.

Chris então escolheu pão de amêndoas com creme de aceto balsâmico (R$ 23,00), e adorou. Eu também experimentei, e de fato a combinação era muito boa, com um creme levemente azedinho. Eu pedi as ostras gratinadas ao molho bechamel (R$ 12,30 por 3 unidades), que também estavam muito boas. Antes de elas chegarem eu havia me arrependido de não ter pedido apenas as ostras ao bafo, mas o molho bechamel estava bem suave, assim como o queijo, e não comprometeram o sabor dos crustáceos. 


Chris feliz com seus pães de amêndoas

Fê e as gratinadas
Conforme eu disse, nosso prato principal já estava escolhido, porque o motivo principal de nossa ida ao Ostradamus era o fato de ele fazer parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que já citei neste blog, e que oferece um prato decorativo de brinde aos convivas que pedirem determinado prato. No caso, o prato era o Floripa (R$ 168,00), que já tínhamos visto ser para duas pessoas. Trata-se do peixe da estação grelhado (no caso era a pescada branca) com camarões grelhados e champignon, acompanhados de pirão e arroz de camarões com manga e banana.

Nós e um montão de comida

Close da travessa de Floripa

Detalhe interessante: quando terminamos de comer, o garçom perguntou se gostaríamos que ele embrulhasse a sobra. Nossa resposta automática foi "não", mas depois nos entreolhamos, nos lembramos de que nosso quarto tinha fogão e geladeira, e aceitamos. Na noite seguinte jantamos o mesmo rango no quarto. Ou seja, os 168 pilas nos renderam duas refeições, o que certamente melhora o nível do custo-benefício do lugar.

Fê com a "quentinha" em frente ao restaurante

A carta de sobremesas não era lá muito atrativa. Fomos no crème brulée com calda de chocolate (R$ 18,00). E veio bonito, num prato, com uma tigela com o creme no meio, e "desenhinhos" de chocolate ao lado. Lindo e sem graça. Consistência do creme muito "massuda", pouco sabor, e a crosta de açucar queimado se quebrando em pedaços gigantes. Decepção.

Insossa e bela (a sobremesa)

O serviço foi perfeito durante todo o tempo. Foi simpático na medida certa, nos ajudou com a questão das entradas, oferecendo uma solução que nem sequer foi solicitada, e ainda cobrando um preço justo pela porção reduzida de ostras. Esteve sempre atento, mas sem tirar nossa privacidade. Há ainda o cuidado com o uniforme dos garçons, que contribui para o clima pitoresco. Fechou com chave de outro ao nos oferecer a "quentinha" do que sobrou, coisa que do contrário não pediríamos, por esquecimento ou vergonha mesmo.

Por conta do ambiente e serviço perfeitos, eu e Chris concordamos que voltaríamos facilmente ao Ostradamus. Há algum probleminha de tempero na cozinha, talvez uma pitada a mais de sal, outra de ousadia. Mas no geral é uma experiência que vale muito a pena, e que certamente não será esquecida. E pensar que tudo começou com uma oficina mecânica, que depois se transformou em uma lanchonete, que posteriormente virou um restaurante. Nem Nostradamus poderia prever. 


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 10
Serviço(2): 10 e 10
Entrada(2): 8 e 8
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,83 e 7,95
Voltaria?: Sim e sim


Serviço:
Rodovia Baldicero Filomeno, 7640 - Ribeirão da Ilha - Florianópolis - SC
Telefone: (48) - 3337-5711
Site: http://www.ostradamus.com.br/ 
Facebook: Ostradamus