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quinta-feira, 26 de março de 2015

Ostradamus (Florianópolis - SC) - 25/02/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de algumas semanas da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço) 

Ribeirão da Ilha é um distrito de Florianópolis. Fundado por açorianos ainda no século XVIII, a região tem casas no estilo colonial português, muito charme e muitas...ostras! Sim, trata-se do maior produtor de ostras do Brasil, e muitos de seus restaurantes utilizam o ingrediente em seus cardápios, e até em seus nomes. É o caso do Ostradamus, visitado por nós depois de uma "viagem" de 45 minutos partindo da Barra da Lagoa, onde estávamos hospedados. O distrito é mesmo afastado pra quem está no norte da ilha, mas vale a pena ser visitado. Dureza mesmo é voltar com o bucho cheio...

Lateral do restaurante

Em uma noite de quarta-feira, a região não estava muito movimentada. O restaurante nos encantou de cara, já que logo na entrada há o busto de um casal apaixonado, um barril, um aquário de ostras vivas sendo depuradas, e duas cadeiras para os turistas que adoram tirar fotos. Claro que não é nosso caso, imagine. Nas mesas do salão principal, tampas de vidro emoldurando conchas dos mais variados tipos, com plaquinhas de identificação, como se fosse um museu. Mas o melhor ainda viria: um trapiche avançando sobre o mar, coberto e com janelas de vidro, e ao final da cobertura um pequeno trecho descoberto, mas sem mesas, com uma estátua de uma mulher com seus jarros, provavelmente emulando as primeiras moradoras da região. Claro que ficamos no trapiche, onde a Chris poderia levantar pra fumar tranquilamente, ouvindo o barulho das ondas, contando eventualmente com a companhia de alguns pássaros marítimos. Sentamos em cadeiras de vime, com mesas redondas de vidro. Para finalizar a imersão na vida marinha, cardápio em forma de pergaminho antigo e garçons vestidos de marinheiro.

Nós não queríamos, mas fomos forçados a tirar esta foto


O trapiche, a praia, as luzes e tudo o mais

O pergaminho cardapizado, ou o cardápio pergamizado

O garçom marinheirado, ou o marinheiro garçonizado

Se dependesse só do ambiente, já estaríamos conquistados. Mas claro que precisávamos comer. E é claro que ostras teriam que fazer parte da entrada, já que o prato principal já estava decidido e não continha ostras. Mas havia um problema: Chris não gosta de ostras. E as porções de ostras vinham com 12 unidades, o que seria um exagero, mesmo que eu fosse um glutão, o que está longe da verdade. Ficamos debatendo sobre o que fazer. O garçom, ao nosso lado, vendo nossa aflição, deu a solução: ele faria uma porção com apenas 3 ostras para mim, e a Chris escolheria a entrada que lhe agradasse. Genial.

Chris então escolheu pão de amêndoas com creme de aceto balsâmico (R$ 23,00), e adorou. Eu também experimentei, e de fato a combinação era muito boa, com um creme levemente azedinho. Eu pedi as ostras gratinadas ao molho bechamel (R$ 12,30 por 3 unidades), que também estavam muito boas. Antes de elas chegarem eu havia me arrependido de não ter pedido apenas as ostras ao bafo, mas o molho bechamel estava bem suave, assim como o queijo, e não comprometeram o sabor dos crustáceos. 


Chris feliz com seus pães de amêndoas

Fê e as gratinadas
Conforme eu disse, nosso prato principal já estava escolhido, porque o motivo principal de nossa ida ao Ostradamus era o fato de ele fazer parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que já citei neste blog, e que oferece um prato decorativo de brinde aos convivas que pedirem determinado prato. No caso, o prato era o Floripa (R$ 168,00), que já tínhamos visto ser para duas pessoas. Trata-se do peixe da estação grelhado (no caso era a pescada branca) com camarões grelhados e champignon, acompanhados de pirão e arroz de camarões com manga e banana.

Nós e um montão de comida

Close da travessa de Floripa

Detalhe interessante: quando terminamos de comer, o garçom perguntou se gostaríamos que ele embrulhasse a sobra. Nossa resposta automática foi "não", mas depois nos entreolhamos, nos lembramos de que nosso quarto tinha fogão e geladeira, e aceitamos. Na noite seguinte jantamos o mesmo rango no quarto. Ou seja, os 168 pilas nos renderam duas refeições, o que certamente melhora o nível do custo-benefício do lugar.

Fê com a "quentinha" em frente ao restaurante

A carta de sobremesas não era lá muito atrativa. Fomos no crème brulée com calda de chocolate (R$ 18,00). E veio bonito, num prato, com uma tigela com o creme no meio, e "desenhinhos" de chocolate ao lado. Lindo e sem graça. Consistência do creme muito "massuda", pouco sabor, e a crosta de açucar queimado se quebrando em pedaços gigantes. Decepção.

Insossa e bela (a sobremesa)

O serviço foi perfeito durante todo o tempo. Foi simpático na medida certa, nos ajudou com a questão das entradas, oferecendo uma solução que nem sequer foi solicitada, e ainda cobrando um preço justo pela porção reduzida de ostras. Esteve sempre atento, mas sem tirar nossa privacidade. Há ainda o cuidado com o uniforme dos garçons, que contribui para o clima pitoresco. Fechou com chave de outro ao nos oferecer a "quentinha" do que sobrou, coisa que do contrário não pediríamos, por esquecimento ou vergonha mesmo.

Por conta do ambiente e serviço perfeitos, eu e Chris concordamos que voltaríamos facilmente ao Ostradamus. Há algum probleminha de tempero na cozinha, talvez uma pitada a mais de sal, outra de ousadia. Mas no geral é uma experiência que vale muito a pena, e que certamente não será esquecida. E pensar que tudo começou com uma oficina mecânica, que depois se transformou em uma lanchonete, que posteriormente virou um restaurante. Nem Nostradamus poderia prever. 


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 10
Serviço(2): 10 e 10
Entrada(2): 8 e 8
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,83 e 7,95
Voltaria?: Sim e sim


Serviço:
Rodovia Baldicero Filomeno, 7640 - Ribeirão da Ilha - Florianópolis - SC
Telefone: (48) - 3337-5711
Site: http://www.ostradamus.com.br/ 
Facebook: Ostradamus

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Banana da Terra (Paraty-RJ) - 14/11/2014

Banana da Terra. O restaurante mais famoso de Paraty. Ana Bueno, a chef, é a curadora, organizadora e idealizadora do Festival Folia Gastronômica, que eu citei no texto anterior, e que estava acontecendo no fim de semana em que estivemos por lá. Talvez por conta disso, ela não estava no restaurante no dia de nossa visita. Caía uma chuva fina do lado de fora, e nos instalamos em uma mesa ao lado da cozinha envidraçada. Na mesa que escolhemos havia a opção de sentar no acolchoado ou em uma cadeira. Acabamos os dois no acolchoado, de costas pra cozinha, e ao lado um do outro. Na decoração, alguns vasos de flores pendurados na parede, quadros diversos, um pequeno jardim embaixo da escada que leva aos banheiros. Iluminação agradável, nem clara nem escura. No som me lembro de muitos covers de músicas internacionais, algo no estilo Emerson Nogueira. No banheiro, ao qual ambos fomos assim que chegamos, um cheiro forte de cravo. Interessante, embora um pouco exagerado.

Não teve foto da fachada, porque tava chovendo!


O serviço se mostrou prestativo desde a chegada, quando um funcionário pegou rapidamente o guarda-chuva molhado das mãos da Chris e colocou num porta-guarda-chuvas, se é que isso existe. Depois disso o garçom responsável por nossa mesa esteve sempre atento, prestativo, simpático na medida certa, sem grandes frescuras, o que não significa ser desleixado. Sempre que olhávamos buscando alguma ajuda, ele estava ali. Vale dizer que o restaurante estava vazio, mas ainda assim a postura foi invejável. Não sei se ele estava de fato feliz com o que estava fazendo naquela noite chuvosa, mas assim nos pareceu, e para o cliente é o que importa. Dá-se o mesmo com todas as profissões que lidam com público, a minha inclusa. Descobri já em casa, olhando o site do restaurante, que na verdade fomos atendidos pelo maitre Rodrigo Costa, ou seja, uma espécie de chefe entre os garçons. Talvez isso tenha feito a diferença.

Como entrada pedimos os inusitados bolinhos de queijo defumado com paçoca de banana com bacon e geléia de pimenta (R$ 25,00). Claro que pedimos uma cervejinha pra acompanhar. No caso foi a long neck da Cerpa (R$ 6,50), cervejaria paraense, que veio em um balde com gelo, do jeitinho que tem que ser. Ah, os bolinhos! Inusitados e deliciosos. Eu não pensaria em misturar banana com bacon, mas a idéia é felicíssima. Vieram oito bolinhos, com um pouco de geléia de pimenta na própria travessa, pra gente molhar os bichinhos. Ficava bom com ou sem geléia. Crocante por fora, cremoso por dentro, e muito saboroso, conforme já dito. Claro que comemos todos, divididos irmãmente.

Inusitados e felizes bolinhos


A coisa estava indo bem. Era hora da parte principal do acordo firmado entre cliente e restaurante: o prato principal. Eu já sabia que o Banana da Terra fazia parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança (que já citei no texto anterior), que sempre dá um prato de presente ao comensal que pedir uma refeição específica. Normalmente é uma comida criada especialmente para este fim, não fazendo parte do cardápio fixo do estabelecimento, e sendo mudada todo ano. Como faço coleção dos pratinhos, junto com minha mãe, normalmente é ele que peço. Foi o caso. Tratava-se do Caiçara Antenado (normalmente os pratos da boa lembrança recebem nomes espirituosos), que consistia em peixe em tiras com mariscos, molho agridoce, mini arroz, pó de limão e toque de coentro selvagem (R$ 82,00). Vale dizer que havia vagens também no prato, embora não constassem em sua descrição, tadinhas. Chris, que não dispensa uma carne, foi de filé mignon com molho de aceto e arroz de ovo, queijo, salsinha e feijão fradinho, banana frita e crocante de bacon e farinha Panco (R$ 75,00). Para acompanhar meu prato, fui de vinho em taça (R$ 21,00), um branco Torrontés, cuja vinícola não me lembro. Chris ficou na cerveja mesmo.

Casal com seus pratos, e a cozinha ao fundo


Ponto negativo: não acertaram no ponto da carne da Chris. Ela pediu mal passado, como de praxe, e como de praxe não acertaram. Com raras exceções, como o Vistah (que já recebeu texto aqui), é o que acontece. Além de não estar mal passada, ela teve também alguma dificuldade em cortar. Chegou a suar. Ok, essa parte é exegero, mas de fato ela teve que fazer algumas caretas pra cortar a carne. Na montagem do prato, achei que as bananas ficam meio de fora, embora tenham sua função de "agridoçar" a coisa toda. Estava saboroso, apesar dos problemas com a carne.

Close do prato da Chris, com as bananas eclipsadas


Outro ponto negativo: meu prato era muito oleoso. Talvez fosse mesmo esta a intenção, mas chegava ao ponto do desagradável. Apesar disto, a mistura de sabores era adorável. Os mariscos vieram com as conchas, o que não considero ruim, acho que dá um toque rústico ao prato. De mais a mais, era bem fácil tirar a carninha das conchas. As vagens, esquecidas na descrição, tinham a importante função de dar crocância ao prato, mais até do que o pó de limão. Não posso falar mal: comi tudinho, e ainda dei uma força pra Chris com o que restou de seu bife.

Um close do prato do Fê


Ainda faltava a famosa cereja do bolo, para tentar compensar algumas falhas dos pratos principais: a sobremesa. E essa função ela cumpriu com louvor. Pedimos a torta quente de banana, calda de vinho do Porto, farofa de castanha de caju e sorvete de canela (R$ 29,00). Santa Mãe, o troço era bom que só Jisuis! Se tivéssemos pedido um pra cada, teríamos comido tudinho. Vou escrever uma frase pedante, mas vá lá: ah, aquela redução de vinho do Porto! Veio num copinho ao lado da torta, e o garçom, ou maitre, jogou um pouquinho por cima, na nossa frente. Assim que demos a primeira colherada no conjunto da obra, tratamos de jogar mais da redução por cima. Cô de loko! O inusitado sorvete de canela, a deliciosa tortinha de banana, a farofinha de castanha de caju do lado, e a redução de vinho do porto por cima formaram aquela que deve ser a melhor sobremesa que já provei. Chris ainda prefere uma outra que comemos em Recife, no restaurante É (sim, este é o nome do restaurante. É. É sério). Tá ali, mas pra mim essa ganha, por uma cabeça. Ou uma redução de vinho do Porto...

A delícia! E, sim, a Chris anda com dois celulares, o outro é meu


Fizemos toda nossa refeição pertinho da cozinha. A todo momento nos virávamos pra ver o movimento lá dentro. Essa proximidade com o que nos será servido é instigante. Chris ainda arrematou com um café (R$ 6,00). Sempre desconfie quando um garçom lhe oferecer um café, fazendo parecer que é de graça. Quase nunca é. Não existe almoço grátis, tampouco café. Mas, se formos analisar o custo benefício da casa, poderíamos dizer que ele vale a pena. A junção de ambiente agradável, excelente serviço e cozinha criativa faz a experiência valer. É comida pensada pra agradar e surpreender. E isso faz a diferença. Mesmo com algumas derrapadas nos pratos principais, o conjunto da obra faz um retorno ao Banana da Terra ser desejado por nós dois. Ainda ficou muita coisa naquela cardápio que nós queremos comer...


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):


Ambiente(2): 8 e 7
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 8 e 9
Prato principal(3): 7,5 e 7,5
Sobemesa(2): 9 e 10
Custo benefício(1): 7 e 8
Média: 8,12 e 8,37
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Dr. Samuel Costa, 198 - Centro Histórico - Paraty - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 3371-1725
Site: http://www.restaurantebananadaterra.com.br/
Facebook: Banana da Terra