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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Donna Pinha (Santo Antônio do Pinhal - SP) - 02/11/2018


O fim do Guia Quatro Rodas foi uma grande tristeza para mim, mas ainda guardo a edição de 2015 (a última que saiu) e a utilizo para muitas coisas. Uma delas é ajudar a escolher um restaurante quando viajamos. Em Santo Antônio do Pinhal me interessei pelo Santa Truta. Tristeza: descobri que ele fechou. Alegria: descobri que ele se juntou ao restaurante Donna Pinha, e eles agora são um só! Minha modesta opinião é que o nome a prevalecer deveria ter sido Santa Truta, mas quem sou eu pra opinar, né? Fato é que na sexta-feira, Dia de Finados, eu e Chris fomos ver o que essa Donna Pinha tinha para nos dar.

"Bora donnapinhar?"

A primeira coisa que ela nos deu foi um ambiente bem iluminado, com luminárias bonitas e uma luz agradável e aconchegante, sem ser aquela coisa cegante nem aquela coisa de não saber nem quem está na sua frente. Ponto positivo também para as cadeiras confortáveis e para o salão espaçoso, contando até com uma árvore na parte de baixo. Na noite de nossa visita havia um músico com violão, que fez um bom trabalho, não incomodou. Não gostamos do fato de o banheiro ficar do lado de fora, "quase em outra cidade", como eu brinquei com a Chris. Também achamos um pouco cafona encher a parede com matérias de jornal falando do próprio restaurante. E pra variar não há do lado de fora nenhum banquinho ou cinzeiro para os fumantes, coisa que a Chris sempre observa. 

Ali atrás a árvore, ao lado o bom músico, e aqui a Chris

O Fê observando o nada, e ao fundo os cabotinos recortes de jornal

O menu das entradas inclui várias receitas com truta (casquinha, linguiça, isca) além de algumas outras opções. Durante nossa visita tava rolando também um festival de alcachofra, que trazia algumas receitas com esse ingrediente. Nossa curiosidade nos levou às casquinhas de alcachofra (R$ 16,80 a unidade). Três opções de recheio disponíveis: truta, queijo de cabra e cogumelos. 

Chris escolheu o recheio de queijo de cabra. Quando o garçom foi anotar o pedido, perguntou "de cogumelos, né?". Então a gente corrigiu dizendo que era de queijo de cabra. Mas não adiantou muito, porque acabou vindo o de cogumelos mesmo. Eles queriam que a Chris comesse esse, e pronto. Daí ela comeu, né? Não que tenha desgostado, mas achou que faltou mais tempero nos cogumelos. E apesar de inicialmente querer o queijo de cabra, ela acabou foi não gostando da crosta de queijo parmesão que veio em cima dos cogumelos e atrapalhou o sabor delicado dos fungos. 

Eu escolhi o recheio de truta. Veio de truta mesmo, legal, menos mal. Gostei, consistência cremosa, bastante sabor do peixe, sem tanta ênfase em temperos - mas considerei isso um ponto positivo. Tive o mesmo problema com a crosta, virou uma massa única, não partia de jeito nenhum. A presença do queijo em cima do recheio deixou nossas casquinhas idênticas, por isso vou colocar apenas uma foto aí abaixo. Apresentação bem bonitinha por sinal, com uma physalis, um limãozinho cravo e uma erva que parecia tomilho. Muito bacana a ideia de servir dentro da alcachofra, pudemos comer a "carninha" das pétalas e o coração da flor ao final.  

"E ao final te arrancarei o coração"

No cardápio de pratos principais, uma página inteira é dedicada às trutas (ah, se eu soubesse então o que sei agora, certamente teria escolhido uma delas). Há também massas, risotos, carnes bovina, suína e ovina, além de opções com frango e avestruz. Muita coisa, o que não costuma ser bom sinal. Quase todos os pratos são individuais, e custam em torno de R$ 60.

Eu sou muito folgado e pedi pra Chris escolher alguma coisa com truta, especialidade do lugar. Chris é muito independente e mandou meu pedido às favas. Mas escolheu um prato com outro ingrediente típico da região: o pinhão. Foi de Medalhão Donna Pinha (mignon grelhado, molho de pinhão, com arroz negro e batata sautée, R$ 68,80). Ela pediu a carne mal passada, e o ponto veio perfeito. Além disso estava muito bem temperada. Pena que o molho veio por cima dela, então toda aquela crosta do grelhado desapareceu. O molho, aliás, estava bom, mas bastante neutro, sem muita personalidade. Chris ficou fula mesmo foi com o arroz negro, que ela adora. Além de ter passado demais do ponto, estava com pouco sabor e veio com a mesma infame crosta de queijo, que nesse caso virou um "massaroco" duro que não deu pra comer. 

O arroz negro ainda não se juntou pra atrapalhar
Agora ele chegou, trazendo seu amigo queijo pra zuar o bagulho


Eu resolvi inovar e escolher uma proteína que não é muito comum encontrar em restaurantes: carne de avestruz. Escolhi o avestruz ao parfum de framboesa (grelhado e flambado, com molho de amora, R$ 69,80). A tristeza começou na chegada: o molho encharcava tudo, inclusive a carne, como aconteceu no prato da Chris. Por cima da carne um pedaço de queijo, nem gratinado nem derretido, como uma massa amorfa. A descrição do prato dizia molho de amora, mas vieram outras frutas vermelhas (framboesa e morango) além de, pasmem, o que parecia ser cereja artificial, aquela mesma feita de chuchu (é sério). Os legumes estavam ligeiramente duros, e não tinham muito tempero. A carne estava seca. E o sabor do molho, que poderia salvar tudo, era terrível. Acidez extrema e até um pouco de amargor deixaram o prato difícil de digerir. Chris experimentou e disse "algo deu muito errado aqui". Para não dizer que nada se salvou, o arroz branco que acompanhava estava bom. Triste este parágrafo. Não colho nenhum prazer em falar mal dos lugares que visitamos. Mas devo dizer que nos 55 restaurantes que estão nesse blog até hoje, e nos tantos que visitamos antes de começarmos a escrever, esse foi o pior prato principal que já comi. Indubitavelmente.  

É...bem...então...como tá o tempo?

Essa cara é de quem não comeu e não gostou

Escolhemos uma das sobremesas do festival de alcachofra (embora não contivesse alcachofra). Foi o bolo de lavanda e limão siciliano com calda de papoula e sorvete de creme, R$ 22,80). A calda me pareceu ser de hibisco, que também é chamado de papoula em alguns lugares. Apresentação bem bacana, com uma colherzinha charmosa contendo a calda. Bolo macio, bem aromático, com um pouco de acidez do limão. Um pouco seco sozinho, mas combinado com o sorvete e com o molho ganhava novas texturas. O molho trazia um certo dulçor frutado interessante. O bolo poderia estar um pouco mais quentinho, pra trazer aquele contraste de temperatura de um petit gateau, inspiração óbvia para a sobremesa. 

Essa foto meio oblíqua, cês gostaram?

Uma das coisas mais positivas sobre o serviço certamente foi a grande quantidade de garçons sempre à vista com suas roupas vermelhas. Apesar disso, em alguns momentos era um pouco complicado conseguir a atenção de um deles. Houve o erro já citado em relação à entrada da Chris, que certamente pesou contra. Também estranhamos o fato de terminarmos nossa cerveja e não nos terem oferecido outra (não queríamos mesmo, tá?). Mas de maneira geral os jovens funcionários demonstraram atenção e cuidado. 

É possível alegar que não fizemos as melhores escolhas diante da quantidade de opções do cardápio. Mas ao mesmo tempo é difícil ser condescendente com isso, já que tudo que está disponível tem que ser bem feito. Por isso sempre preferimos menus mais enxutos - embora isso não seja uma garantia de qualidade, é um bom indicativo de que há critério para se colocar algo à disposição dos clientes. E o fato é que meu prato principal foi o principal responsável por ambos termos decidido que não retornaríamos ao Donna Pinha. Apesar de alguns acertos tanto nas entradas quanto no prato da Chris e na sobremesa, não é razoável que um restaurante sirva aquilo que me foi servido. Com o perdão pelo excesso de morbidez, no Dia de Finados esse prato representou a morte das expectativas que nós nutríamos com o restaurante indicado pelo falecido Guia Quatro Rodas.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 8
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada(2): 6 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 2
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 6,5 e 5
Média: 6,75 e 5,83
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida Antônio Joaquim de Oliveira, 647 – Centro - Santo Antônio do Pinhal - São Paulo
Telefone: (12) 3666-2669
Site: http://donnapinha.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/DonnaPinha/

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Quintal das Letras (Paraty - RJ) - 18/11/2016


Os mesmo donos do restaurante Quintal das Letras, em Paraty, possuem também a Pousada Literária e a Livraria das Marés, na mesma cidade e na mesma rua. Em um pedaço de Brasil tão poético como Paraty, associar o seu empreendimento à literatura parece ser uma escolha das mais acertadas. Em mais uma visita que fizemos à cidade, decidimos conhecer esse restaurante, que além do belo nome tinha também boas referências em guias e na internet.

Chris adicionando um verso à poesia de Paraty

Como não poderia deixar de ser - em se tratando de Paraty - o restaurante fica instalado em um casarão histórico. Deixar as três portas bem abertas é uma decisão inteligente dos proprietários, já que seria um desperdício um restaurante todo fechado em uma cidade tão charmosa. Nos instalamos bem pertinho da saída, para não perdermos a privilegiada visão das ruas de pedra. O restaurante aproveita bem o seu espaço, que não é tão grande, fazendo uso de um mezanino e de um pequeno corredor lateral - que só agora descobri que é ao ar livre. Desse modo as mesas não precisam ficar tão próximas umas das outras. Os tons de marrom predominam, já que a decoração é quase toda em madeira. O ambiente, se não chega a ser informal, também não tem nada de sisudo.

Para mim, a visão da Chris e de Paraty...

...para a Chris, a visão de mim e do restaurante. Me dei melhor!

Como um chamego é sempre bem vindo, ficamos felizes com o pequeno copo de gaspacho que cada um de nós recebeu de brinde enquanto ainda escolhíamos nossa entrada. Para quem não sabe, é uma sopa fria, normalmente feita de tomate. Pouco depois de nossa chegada entreouvi um cliente reclamando ao garçom da falta de sal no prato que ele havia comido. Não consegui descobrir qual era esse prato, mas a julgar pelo gaspacho a reclamação parecia improcedente. Estava bem temperado, até com alguma picância. Chris não gostou tanto, mas foi mais por causa da consistência da sopa fria.

Chameguinho bem-vindo

Não chega ao número de títulos brasileiros do Palmeiras (cinco, tá?) as vezes em que aceitamos o couvert em algum restaurante. Mas o deste aqui era irresistível. Confira: pães variados, pannacotta de palmito pupunha com cubinhos de tomate e alho negro, pastinha de cream cheese com jabuticaba e manteiga com flor de sal (R$ 28 para duas pessoas). Isso porque, na descrição do cardápio, não consta a telha de pão de queijo, que é como se fosse um pão de queijo na forma de uma torrada bem fina. Uma delícia, e muito prático para abdicar da faca e usá-lo para se servir. A pannacotta estava com uma textura agradável e bom tempero, suavizado pela presença do alho negro e do tomate, que dão uma adocicada no sabor. Nenhum de nós curtiu muito a manteiga com flor de sal, que acaba sendo tão somente uma manteiga bem salgada. Já o cream cheese de jabuticaba tinha um grande defeito de vir em pouquíssima quantidade. Ou seja: sobrou manteiga e faltou cream cheese em nossa experiência. Mas os pães eram gostosos e a apresentação, belíssima.

Fotos oblíquas denotam o talento do fotógrafo

Apesar de já termos comido o couvert, claro que não poderíamos abdicar de mais uma entradinha. Entre algumas opções interessantes - como a barriga de porco pururuca servida com caramelho de shoyu e laranja, farofa da Graúna e chantily de feijão (R$ 28) - acabamos escolhendo o crab cake Vale do Paraíba (bolinho de siri com arroz negro, coulis de açaí e degustação de pimentas, R$ 29). O que nos atraiu foi o bolo feito com carne de siri e arroz negro e, claro, a inusitada degustação de pimentas. São elas, por ordem de picância: biquinho, bodinho e cumari. A idéia é experimentar o bolinho junto com as pimentas, seguindo o grau de ardência. A idéia é muito boa, e o resultado é interessante, mas não pudemos deixar de notar que, sem as pimentas, o bolinho carecia de um pouco mais de tempero. Também fiquei curioso para experimentar o coulis de açaí, mas ele parecia uma sujeira no prato, e não algo para ser experimentado. Com consistência muito firme, e pouca quantidade, ele grudou na louça, e não conseguimos sentir seu sabor. Uma pena. No fim das contas gostamos mais da criatividade do que propriamente dos sabores da entrada.

Muita poesia e pouca prosa

Há duas seções no cardápio de pratos principais: "do mar para mesa" e "do campo para mesa". A primeira tem duas páginas, a segunda apenas uma. Nada mais justo em uma cidade litorânea. Os pratos são todos individuais, e poucos ficam abaixo dos R$ 70. Pratos com camarões são os mais caros, chegando perto dos R$ 100, enquanto o nhoque de batata baroa é listado por R$ 62. Talvez o cardápio pudesse ser mais criativo nos nomes das criações, usando de referências literárias para fazer jus ao nome do lugar. Mas há títulos curiosos, como "risoto de polvo malandrinho" (que eu quaaase pedi) e "bacalhau pensado na cama".

Por falar em nomes curiosos, Chris escolheu o peixe Maria Panela (peixe assado com ervas, cebolas, azeite e vinho branco, com batatas crocantes, alho negro, alecrim e flor de sal, R$ 88). O peixe que veio à mesa foi o robalete, que, como se pode supor, é uma versão menor do robalo. Apresentação bonita, com o peixe recheado, servido quase inteiro, sem cabeça (e supostamente sem espinhas) com as batatas ao lado. Como os parênteses ao lado entregam, a Chris encontrou uma malfadada espinha no peixe, o que é sempre reprovável. Outra coisa que ela reprovou foram os alecrins servidos frescos e inteiros, que ela inadvertidamente confundiu com espinhas em alguns momentos. Quanto ao sabor, a princípio ela até gostou, mas achou enjoativo com o tempo, com sabor de vinho muito intenso. Outro problema foi que, quando provado sozinho, o peixe estava sem sal - provavelmente foi esse o prato que o outro cliente pediu e encontrou o mesmo defeito. Mas se salvaram as batatas, que ela gostou bastante.

Assim assim...

De minha parte escolhi o mexidinho do mar (camarões, lulas e polvo com risoto de arroz negro, cubinhos de tomate e de palmito pupunha, R$ 96). A apresentação não tem muita sofisticação, como já indica o nome do prato. Achei que o molho tinha sabor forte demais, complicado de se comer em separado. Mas em conjunto com o arroz negro ficava mais harmonioso. A consistência do polvo e dos camarões estava perfeita, mas achei a lula um pouco borrachuda, além de cortada em pedaços irregulares, alguns muito grandes. Trata-se de um prato intenso, para fortes, o que talvez não fosse meu caso nessa noite.

Ai, quanta intensidade...

Para a sobremesa a Chris deixou a escolha em minhas mãos, e eu estava bem propenso a pedir o pot-pourri Frederic de Maeyer (torta de cupuaçu com aipim e coco, tarte tartin com especiarias e pannacotta de iogurte e chocolate branco, compota de banana e maracujá, R$ 34). Parecia um bom apanhado do que o chef Frederic (que comanda o restaurante Eça, no Rio de Janeiro) é capaz de fazer em termos de sobremesas. Mas, por conta de nossa refeição ter sido bem farta, com couvert, entrada e prato principal, achei que o pot-pourri seria demais para nós, e acabei escolhendo o trio de crème brûlée (chocolate, fava Tonka e frutas vermelhas, R$ 29). Apresentação simples mas bonita. O crème brûlée tem aquele açúcar queimado por cima, mas achamos que os de chocolate e de fava Tonka estavam com o açúcar queimado demais. Chris achou o sabor do de chocolate muito parecido com o do pudim que ela compra no supermercado. Ambos gostamos mais da opção com frutas vermelhas, que estava mais gostosa e equilibrada, com o açúcar menos queimado. Outro ponto positivo, dos três, é que o açúcar não estava muito duro, e era fácil de cortar, ao contrário do que já nos aconteceu até mesmo no Olympe, no Rio de Janeiro.

Um trio de três para uma dupla de dois

Começamos nossa refeição com uma cerveja de Paraty, a Caborê Pilsen (R$ 19). Já conhecíamos a cerveja de nossas outras visitas à Paraty, e não tínhamos gostado muito, mas resolvemos dar mais uma chance. Mas ela continua um pouco insossa. Terminamos nossa refeição com água, que essa não tem erro.

Os garçons se mostraram muito atenciosos, e conhecedores do cardápio. Aquele que nos atendeu recitava de cor os ingredientes dos pratos, sem precisar "colar", e demonstrava entusiasmo ao falar das opções da casa. Ao final ele perguntou o que tínhamos achado da refeição e Chris fez a mesma reclamação do outro cliente sobre a falta de sal. Sua resposta foi a mesma: "é que nosso chef não gosta de carregar muito no sal". Bem, na mesma noite o chef recebeu duas reclamações iguais, então talvez seja o caso de rever os preceitos. Senão, de que serve perguntar aos clientes o que acharam? Também sentimos uma pequena demora para a entrega dos pratos principais, mas nada que chegasse a incomodar muito. Para finalizar as queixas, bem que poderiam ter nos avisado que o corredor lateral é ao ar livre, já que do lado de dentro não dá para perceber esse diferencial da casa.

Começamos a refeição muito bem impressionados com o gaspacho de cortesia, com o couvert extremamente bem apresentado e com a entrada criativa. Também ficamos felizes com o atendimento atencioso, bem instruído e dedicado. Mas os pratos principais nos decepcionaram um pouco. Acho que foi por conta disso que chegamos à conclusão que não voltaríamos ao Quintal das Letras. Em nossas futuras visitas à Paraty - e elas acontecerão, porque amamos a cidade - daremos oportunidades a outros restaurantes. Mas, quem sabe um dia, quando estivermos visitando a Livraria das Marés, do mesmo dono, poderemos sentir o cheiro da comida ao lado e nos animarmos a voltar. Afinal, como diria Nietzsche, de quem a Chris não gosta mas com quem há de concordar, "não há fatos eternos como não há verdades absolutas".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8,5
Couvert(2): 7 e 8,5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 6,5
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,42 e 7,46
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua do Comércio, 58 - Centro Histórico - Paraty - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 3371-2616
Site: http://www.pousadaliteraria.com.br/gastronomia/quintal-das-letras1.htm















segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Risoteria Villa Lobos (São José dos Campos - SP) - 09/08/2016



"Vamos comer um arrozinho?". O singelo e simples convite ficaria muito mais ostentoso e sofisticado se fosse substituído por um "vamos comer um risoto?", não é mesmo? Mas é só impressão, já que risoto em italiano quer dizer literalmente "arrozinho". Até pouco tempo atrás, no mesmo local da Risoteria Villa Lobos, funcionava o Bistrô Espaço CDC, cujo nome nunca me chamou muito a atenção. A casa fica numa rua por onde passo quase todo dia, e quando notei a mudança de nome já fiquei bem mais animado. Chris, que também adora um "arrozinho", não se fez de difícil e me acompanhou com prazer. Como é possível ver na foto abaixo, ao lado do restaurante funciona uma boutique de vinhos que, segundo um dos garçons, vende vinhos com bons preços, já que os produtos são comprados diretamente dos produtores.

Felizes antes de comer

Ainda do lado de fora do restaurante, antes da entrada do salão principal, nos chamou a atenção o belo telhado verde, feito de plantas, com algumas mesinhas altas, que são usadas pelos clientes em espera quando o restaurante está cheio. Mas também nos serviu direitinho para sentarmos nos momentos em que a Chris precisava sair para fumar. Do lado de dentro, ambiente despojado, com cadeiras coloridas e confortáveis, e belos quadros nas paredes. Um deles, colado à nossa mesa, mostrava uma mulher meditando em meio a prédios em uma grande cidade. A imagem dá a dica: relaxe e aproveite a comida!

O despojado e colorido e a complicada e perfeitinha

Chris sob o telhado verde

De posse dos coloridos e bonitos cardápios, começamos a dar uma olhada nas entradas disponíveis. Para molhar a boca pedimos duas long neck da Stella Artois (R$ 7,90 cada, 275ml), que vieram em um baldinho com gelo. Acabamos tomando cinco, porque né, tava ali, geladinha, enfim. Entre as opções de entrada, algumas saladas, brusquetas e o palmito pupunha assado com vinagrete e alcaparras (R$ 39), que foi o que pedimos. Enfeitando o palmito vieram o que acreditamos serem mini-folhas de beterraba, que ficaram bem charmosas. Aliás, adoramos a apresentação, elegante e colorida (já usei o adjetivo algumas vezes neste texto). Uma pena que o vinagrete, que dava um contraste perfeito ao sabor forte do pupunha, veio em pouquíssima quantidade. Também poderiam ter caprichado mais nas alcaparras, vieram só umas duas ou três. Mas o palmito estava gostoso e bem macio, fácil de comer.

Quidê o vinagrete que era pra estar aqui?

Para os pratos principais a estrela é a feijoad...mentira, mentira, claro que tem risoto de monte para escolher. São doze no total, dividos entre "vegetarianos", "tradicionais" e "especiais". Em todos eles há a possibilidade de pedir arroz integral no lugar do arroz de risoto. Os preços, para porções individuais, começam em R$ 49 e vão até R$ 89. Há também uma seção do cardápio chamada "especialidades da casa", onde há cinco opções, sendo que três delas também envolvem risoto. Ou seja, tem "arrozinho" para todos os gostos. E é difícil escolher, porque as opções são todas muito apetitosas. Há, por exemplo, o risoto de paio, que é quase uma feijoada em forma de risoto. Acho que nunca nos demoramos tanto para decidir o que comer, e acabamos fazendo um sistema engenhoso de sorteio para chegar a uma decisão, depois que cada um de nós conseguiu reduzir a quatro as possibilidades de escolha.

Chris acabou ficando com um prato da seção "especialidades da casa". O sorteado foi o filé de robalo grelhado, servido com risoto de arroz negro, abobrinha, uvas passas douradas e espuma de capim santo (R$ 89). O cheiro e o sabor forte do robalo não a agradaram, e acabei concordando com ela que estavam mesmo um pouco desagradáveis. Algo deveria ter sido feito, provavelmente na hora de temperar o peixe, para retirar um pouco essa "maresia". Mas ela gostou tanto do risoto, com o agridoce dado pelas uvas passas douradas, e com a cremosidade conferida pela espuma de capim santo, que acabou relevando um pouco o defeito no item principal de seu prato. Para colorir de verde, algumas folhas (pareciam ser de baby agrião) que também serviram para dar alguma crocância ao prato.

Bom que a foto não tem o cheiro da maresia

Meu sorteio acabou resultando na escolha do clássico risoto caprese, com muçarela de búfala, tomate cereja, pesto de manjericão e farofa de nozes (R$ 59). Embora eu goste de pedir pratos diferentes quando vou a restaurantes, também é bom comer um clássico bem feito. Mas, antes de falar se ele estava mesmo bem feito, falemos do prato. Ou do vaso, para ser mais preciso. Sério, nunca vi um prato tão fundo assim. Confesso que dificultou um pouco para "montar" as garfadas, principalmente quando o risoto foi chegando ao fim. Também ficava difícil apoiar os talheres nos momentos em que eu ia dar uma bicada na bebida.

Prato fundo. Muito fundo. Mas fundo pracas.

Apesar deste pequeno (e profundo) problema, o risoto estava delicioso, além de muito bem apresentado, com uma grande "bola" de muçarela no centro do prato, que foi se derretendo aos poucos, a farofa de nozes dando crocância por cima, o pesto nos cantos e mini-folhas de beterraba (ou não) fazendo uma graça por cima. Algumas garfadas vinham com os tomates cerejas que estavam entremeados no arroz, e estas eram as melhores. A profundidade do prato causou outro problema: a porção veio grande demais. Foi difícil chegar ao fim, o que só foi possível porque estava muito bom. E porque eu sou um glutão.

Veja a foto anterior para saber o tanto de risoto que o rapaz comeu

Relaxados e prontos para comer

Embora o restaurante fique ao lado de uma boutique de vinhos, combinamos nossos pratos principais com uma cerveja do estilo witbier chamada Schloss, da Cervejaria Dortmund, de Serra Negra (SP). A garrafa de 500 ml custou R$ 29. Entre as cervejas especiais, a maioria das opções é da Cervejaria Invicta, de Ribeirão Preto.

Para finalizar a refeição o menu lista cinco opções de sobremesa, das quais escolhemos a panna cotta de baunilha fresca, servida ao coulis de caqui e canela com praliné de castanha do pará (R$ 24,90). Não gostamos muito do copo em que ela veio servida, não era muito próprio para compartilharmos. Também achamos que o coulis de caqui, que é um molho, veio em pouca quantidade. Se ele fosse ruim não sentiríamos falta, mas estava muito bom. As castanhas em praliné (cristalizadas com açúcar) também poderiam vir mais fartas. O que salvou foi que a panna cotta, por si só, foi a melhor que já comemos, com uma consistência perfeita e ótimo sabor.

Coulis, praliné, panna cotta, é frescura demais, né?

A brigada de garçons é bastante jovem, o que não significa que seja desinformada ou desinteressada. Não é preconceito, mas às vezes ambas as características são vistas em funcionários jovens de restaurantes. O salão estava relativamente vazio, o que facilitou o serviço em termos de atenção dispensada à nossa mesa. Mas é de se destacar, por exemplo, a solicitude demonstrada nas vezes em que saímos para a Chris fumar. Tínhamos sempre a companhia constante de um dos garçons, que nos deixava informado sobre a chegada de nossos pratos, e vinha verificar se estava tudo bem. Todos tinham boas informações sobre o cardápio, e se mostraram solidários e prestativos quando nos mostramos em dúvida sobre o que pedir. Outro dado interessante foi a presença do chef Tércio Raddatz em nossa mesa, para saber o que tínhamos achado de nossa comida.

O que se pede de uma churrascaria é boa carne, de uma pizzaria é boa pizza. Em uma risoteria, claro, esperamos bons risotos, de preferência melhores do que aqueles que fazemos em casa. Eu me aventuro nessa arte de vez em quando, e a Chris sempre me elogia muito (com sinceridade, espera-se). Mas meus esforços não chegam no mesmo patamar dos risotos feitos por quem é especializado no prato. A Risoteria Villa Lobos faz jus ao nome, e entrega o que promete. Os preços, como deu para perceber, não são dos mais baratos, mas a relação custo-benefício acaba sendo boa, por conta da qualidade da comida. Às quartas-feiras há uma promoção especial que oferece um menu completo com preço mais acessível, mas o próprio garçom não sabe até quando isso durará, porque a promoção depende de uma parceria com uma empresa que já avisou que não vai continuar no projeto. Mesmo sem promoção, eu e Chris concordamos que, devido aos vários risotos que ficamos com vontade de provar, voltaríamos ao restaurante em uma próxima oportunidade. Agora, todas as vezes que eu passar pela Avenida Heitor Villa Lobos vou olhar para o restaurante e pensar "hmmmm, que tal comer um arrozinho?".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 8
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 7 e 6,5
Prato principal(3): 8 e 8,5
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 8 e 7
Média: 8 e 7,62
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Avenida Heitor Villa Lobos, 841 - Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3922-0505
Site: http://www.vlobos.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/risoteriavlobos/?fref=ts





sábado, 28 de maio de 2016

Babel (Visconde de Mauá - Distrito de Resende - RJ) - 30/04/2016

A gente sabe que a coisa mais importante em um restaurante é a comida, mas é difícil falar do Babel - nome que vem da mistura de etnias do casal de chefs - sem falar da estradinha de terra que leva até lá. Estivemos ali para um jantar, e em dado momento falei pra Chris, "não é possível que vai ter um restaurante por aqui". Mas tinha. A estrada realmente não é das melhores, e de noite é um breu só, mas dá para chegar de carro de passeio, embora alguns pedaços do trecho de 4 km tragam dificuldades a neófitos na arte de dirigir na terra. O restaurante fica em uma região chamada Vale do Pavão, e pertence ao distrito de Mauá, que por sua vez pertence ao município de Resende (RJ).

No meio da estrada escura tinha um restaurante

Diz-se que a vista da serra que se descortina do restaurante é muito bonita, mas infelizmente à noite não deu para perceber. Fica a dica a quem quiser visitar, para ir de dia. O salão tem formato quadrado, e as paredes são todas de vidro, justamente para que não se perca o visual que perdemos por ser de noite ( eu já disse isso?). A cozinha também tem uma janela de vidro, e dá para ver os cozinheiros trabalhando. Apesar de o salão ser pequeno, há uma boa distância entre as mesas. O que perdemos em visual ganhamos em clima, já que a lareira estava acesa, amenizando um pouco o friozinho da região. Pena que as cadeiras não eram muito confortáveis. É importante fazer reserva, já que o lugar é pequeno, e mais importante ainda é comparecer depois de feita a reserva. Na noite em que lá estivemos havia uma mesa reservada para quatro pessoas, e elas não compareceram, o que, convenhamos, é uma puta sacanagem.

A lareira, a Chris, a cozinha à direita

O caixotinho de vidro

Sempre é gostoso começar a noite gastronômica com um mimo, e isso deveria ser praxe em restaurantes de alta gastronomia. Aí, mesmo que paguemos caro no final, a gente pensa "poxa, mas teve aquela cortesia". Tá, não funciona se o resto da noite for um desastre. No Babel a gente recebeu uma colherzinha cada (meio parecida com a do programa The Taste), com queijo, tomate e manjericão. Delicado e bem gostoso.

O mimo ao estilo The Taste

Para as entradas o cardápio lista opções para comer sozinho e opções para compartilhar. Escolhemos uma para compartilhar, mais precisamente o queijo brie à milanesa com molho picante de goiabada  (R$ 42). Embora não constasse na descrição, também vieram fatias de pão frito. Não gostamos muito da apresentação, pareceu que uma criança tinha montado o prato tentando deixar bonitinho - sem sucesso. O brie e o pão frito estavam bons, mas o tal molho picante de goiabada não picou a gente. Se o cardápio descreve o molho como "picante" e o sujeito pede assim mesmo, porque ter medo de o deixar picante de fato? Acabou ficando sem graça.

Exagerei, ou é meio amontoadinho?

Para os pratos principais o cardápio lista nove opções, todas elas com nomes que remetem a cenários e paisagens da região, como "Alcantilado", "Agulhas Negras" e "Vale do Pavão". Não sabemos se é uma regra, mas na noite em que lá estivemos também havia um prato adicional, que não constava no cardápio. Nenhum prato custa menos de sessenta reais. Há também opção de menu-degustação, por R$ 185 por pessoa.

Chris escolheu o Santa Clara (filé de truta salmonada com arroz negro e pupunha ao molho de limão siciliano e crisp de alho poró, R$ 68). Apresentação trivial, com o crisp de alho poró por cima do filé, este por cima do arroz, e o molho por baixo de tudo. Chris achou o molho de limão muito forte, mas quando dava uma garfada sem ele a comida ficava muito seca. Ela também experimentou o arroz sozinho, e achou meio sem graça. O crisp de alho poró estava bom e deu crocância ao prato, mas foi insuficiente para convencer a Chris.

Uma sombra (de dúvida) sobre o prato

Minha escolha foi o Alcantilado (stinco de cordeiro ao mel e especiarias com polenta trufada e lascas de cebola assadas, R$ 80). Apresentação bem pobrezinha, achei que faltou uma corzinha, para dar uma embelezadinha. As cebolas assadas estavam na descrição do prato, mas achei que houve um problema de proporção, já que vieram poucas, e acabaram muito rapidamente. A polenta e o cordeiro  ficaram sem esta companhia tão agradável em boa parte da refeição. Nunca tinha comido stinco, que vem a ser a canela do cordeiro. A carne estava macia, soltando do osso, e tinha bom sabor, com o molho de mel não o deixando muito adocicado (Chris provou e não concordou com esta afirmação). A polenta também estava gostosa. Mas achei que, além de mais cor e mais cebola, também faltou um pouco de molho, a comida acabou ficando seca. Mas, como dito, os sabores eram bons.

Mais cor e mais cebola, por favor

Para a sobremesa escolhemos o Mix de Sobremesas da Chef Dani Keiko (tiramissu, mousse de maracujá, torta de chocolate e creme brulê, R$ 33). Depois de três pratos com apresentações fracas, gostamos muito dessa aqui, especialmente por conta dos recipientes usados para acomodar os doces. O tiramissu, por exemplo, veio em uma canequinha de café. Quanto aos sabores, eu gostei da torta, do mousse e do brulê, e achei o tiramissu meio sem graça. Chris gostou do brulê, mas não se afeiçoou muito das outras.

Bonitinho demais da conta

Acompanhamos a refeição com cerveja. Tomamos uma Therezópolis Gold (600ml, R$ 19,70) e uma long neck de uma pilsen local, chamada Serra Gelada (R$ 16,50). Ambas vieram geladinhas, e no caso da Therezópolis o copo utilizado tinha a marca da cervejaria.

O serviço foi correto. O salão bem pequeno facilita a vida dos dois garçons, um homem e uma mulher, que se mantiveram atentos. Os pratos chegaram rápido, e até podemos dizer que, no caso do prato principal, chegaram rápido demais. A gente mal havia acabado de degustar a entrada. A retirada das louças e talheres sujos passou pelo "teste do cigarro", que se consiste na equipe retirar os pratos enquanto a gente sai pra Chris fumar. Um detalhe curioso é que não foi oferecido café ao final da refeição, o que é praxe em qualquer restaurante. Por outro lado, o banheiro tinha um sabonete de café. Deve ser pra compensar. Outro detalhe importante é que o restaurante não aceita nenhum cartão para pagamento. O cliente pode pagar com dinheiro, cheque ou fazer uma transferência bancária posterior, cujos dados já são entregues junto com a conta ao final.

Tivemos uma noite agradável, mas que não nos encantou gastronomicamente. Como deu para perceber, os preços também não são o que se pode chamar de amigáveis. O cardápio tem opções interessantes, e muitas delas nos chamaram a atenção antes de fazermos nosso pedido, mas a degustação em si se mostrou um pouco decepcionante. Ambos achamos que poderia ser interessante visitar o restaurante de dia, com a vista da serra, mas nossa experiência noturna nos levou à conclusão de que não voltaríamos ao Babel. E a estrada cheia de buracos é a menos culpada por essa decisão.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 7,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,25 e 6,91
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Estrada do Vale do Pavão, sem número - Distrito de Visconde de Mauá - Resende - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 99999-8121/99977-0152
Site: http://www.babelrestaurante.com/
Facebook: https://www.facebook.com/babelviscondedemaua/?fref=ts



domingo, 29 de novembro de 2015

Il Vicoletto (São José dos Campos - SP) - 25/11/2015

Ruela ou beco. Esta é a tradução em português para vicoletto, palavra italiana. A tranquila Rua Ipiranga, onde fica o restaurante Il Vicoletto, pode não ser exatamente um beco, mas é calma e pequena o suficiente para compreendermos o nome dado ao estabelecimento. Fica em um dos trechos mais arborizados e serenos do agitado bairro da Vila Ema. É bem escondidinho, como um tesouro bem guardado.

La facciata

Chegamos às 19h30 e já havia bastante gente por lá. Fizemos reserva, que não chega a ser imprescindível, mas é recomendável. No decorrer da noite o lugar ficou bem cheio. A fachada é bem discreta, assim como a decoração no interior. Mesas e cadeiras de madeira, estas últimas estofadas, proporcionando um bom conforto. Chama a atenção o enorme espelho em uma das paredes, dando uma sensação de profundidade. Para dar um ar rústico, a parede tem "falhas" para que os tijolinhos laranjas fiquem à vista. A cozinha fica atrás de uma parede envidraçada, então é possível aos curiosos observar a movimentação lá dentro. Não gostamos muito da aparência física do cardápio, que carecia de um pouquinho mais de charme e beleza. Era mais condizente com uma cantina, e não com alta gastronomia, como era o caso. Há também um certo problema em relação aos banheiros do restaurante. O espaço é exíguo e limitado a uma pessoa por gênero, e o lavatório é de uso comum, e bastante apertado.  

Chris e o espelhão

Fê e os tijolinhos à vista

Para iniciar os trabalhos, pedimos de entrada o carciofi toscana (R$ 34). Não sabe o que é? Explico. Alcachofra italiana, cogumelos frescos e crosta especial gratinada. A tal crosta especial parecia feita de pão de fôrma torrado, bem crocante. Seja lá do que fosse, estava tudo uma delícia. Acho que "matamos" tudo em uns cinco minutos, porque não conseguíamos parar de comer. Tudo era saboroso, mesmo quando experimentado em separado, coisa que fizemos com todos os ingredientes. Além de sabor, muita textura. Se dá para colocar um porém, é o fato de ser muito grande para uma entrada. Mas não nos fizemos de rogado e acabamos com tudo.

Il antipasto

Depois da maravilhosa entrada, já ficamos ressabiados. Já aconteceu algumas vezes a "maldição" da entrada, quando nos refestelamos com ela, e o prato principal fez "fóin fóin fóin fóin". Mas o prenúncio era bom: apenas oito opções de pratos principais. Gosto disso, significa que a cozinha não tenta abraçar o mundo, e se foca no que sabe fazer. Aliás, com bebidas, entradas, principais e sobremesa, todo o cardápio do restaurante se resume a uma página! Ah, se todos fossem assim. Há também uma lousa, dessas mesmo de escola, onde há algumas opções extras de pratos principais, provavelmente cambiáveis de acordo com o dia, onde os chefs se permitem alguns testes. Havia um gnocchi, por exemplo, que segundo o chef Adolfo Pierantoni tinha sido testado na noite anterior pela primeira vez, pelos próprio funcionários.

Agora é só mangiare

Chris escolheu uma das opções fixas do cardápio, o riso venere di mare (risoto de arroz negro com frutos do mar grelhados, R$ 94). Os frutos do mar eram lula, polvo, camarão e robalo, mas Chris pediu para tirar os dois primeiros, que não são de seu agrado. Seu pedido foi gentilmente aceito pelo chef, que para compensar caprichou nos camarões. Mas desconfio que se viesse só o arroz ela já ficaria satisfeita. Assim como na entrada, todos os itens estavam muito saborosos, de comer gemendo desde a primeira garfada (sim, ela fez isso!). Apresentação bem convencional, mas quantidades perfeitas, com os frutos do mar e o arroz "terminando" ao mesmo tempo. Eu sou famoso na família por ser o "encontrador" de espinhas, e não foi diferente mesmo em um restaurante tão chique. Chris me deu uma garfada, e claro que eu achei uma maledeta e pequenina, o que certamente não é o esperado, tampouco o desejado. Mas podemos dizer que eu salvei a Chris, e a experiência dela se manteve próxima à perfeição.

Nada de moluscos para a Chris, só crustáceos e peixe

Eu escolhi uma opção da lousa, estudioso que sou. Foi o cordeiro com cogumelos e risoto de açafrão (R$ 87). Já tinha comido risoto de açafrão em nossa visita ao Confraria do Sabor, em Campos do Jordão. Mas a impressão é que era a primeira vez que eu comia um risoto de açafrão, com todo o respeito ao Confraria - onde coincidentemente a combinação também era com cordeiro. Aqui no Il Vicoletto, muito sabor, além do cozimento perfeito do arroz. A carne de cordeiro também estava ótima em consistência e gosto, combinando muito bem com o risoto. Uma pena que a proporção não era perfeita, e o risoto acabou "sobrando" no prato depois de terminado o cordeiro. Mas as aspas no "sobrando" são merecidas, porque eu comi o risoto todinho, mesmo sem cordeiro para acompanhar. Uma delícia. Meu final de refeição foi até engraçado, porque a Chris tinha deixado um cadinho da comida dela no prato, e eu comecei a misturar os restos dela com os meus, ficando tudo uma zona. Mas uma zona das boas.

Tem um tomatinho querendo fugir

Se para os pratos principais as opções são enxutas, para as sobremesas o conceito é radicalizado: apenas três opções. São elas creme brulée, pannacotta e torre il vicoletto (bolachas crocantes de amêndoas com mousses de chocolate branco e amargo). Duas tradicionais (uma francesa e uma italiana) e uma mais inventiva. Fomos na tradição italiana e escolhemos a pannacotta Il Vicoletto (R$ 26). O cardápio acrescenta "com calda do dia" à descrição do prato. No nosso dia era calda de maracujá com frutas vermelhas. Embora a pannacotta estivesse muito melhor do que a outra que experimentamos lá no Barba Negra em Florianópolis, a calda acabou sobressaindo em demasia. Maracujá é sempre um problema sério para se trabalhar, por ser forte demais. Mas certamente não foi uma experiência desagradável. E serviu para descobrirmos a consistência perfeita de uma pannacotta, que não é a mesma de uma gelatina. É mais firme, e consegue ser macia sem derreter na boca ao primeiro toque.

Não era ruim, mas não acompanhou a excelência 

O restaurante tem uma carta de vinhos, que acabamos nem abrindo, porque resolvemos tomar cerveja mesmo. E foi apenas questão de gosto, não de economia, como será provado. A casa trabalha com a Cervejaria Dortmund, com sede na cidade de Serra Negra (SP). Combinando com a "enxutez" do resto do cardápio, há apenas três opções de estilos: IPA (que no dia de nossa visita estava substituída por uma red ale), pilsen e witbier. Acompanhamos a entrada com a pilsen Pils (R$ 28) e os pratos principais com a witbier Schloss (R$ 26). Ambas muito bem feitas e muito saborosas, com destaque para a deliciosa witbier.

O serviço é conduzido com propriedade (literalmente!) pelo sócio e chef Adolfo Pierantoni. Ele vem à mesa, fala alto e gesticula como bom italiano, e dá um ar genuíno à experiência. Por vezes pode ser que você esteja querendo conversar tranquilamente, e ele estará falando alto ao seu lado. Mas faz parte da imersão italiana. O garçom que nos atendeu também entedia tudo do cardápio, dando informações com segurança e se mostrando presente mesmo com o restaurante bem cheio. Tivemos problema com a entrada, que nos pareceu ter demorado mais do que deveria. E também com a retirada das louças e talheres da mesma entrada, quando saímos para a Chris fumar, voltamos, ainda fomos ao banheiro, voltamos à mesa, e eles permaneciam lá.

Ao final, tudo se resume ao sabor. Nos importamos com estéticas e belezas, com serviços e simpatias, com banheiros e milongas, mas o mais importante é o sabor. E o Il Vicoletto tem sabor de sobra. Ainda mais importante: tudo no Il Vicoletto é muito bem temperado, mas as individualidades de cada ingrediente não se perdem. Sabemos que estamos diante de uma alcachofra bem temperada, de um cordeiro bem temperado, de um arroz bem temperado. Isso é raro de se encontrar, esta perfeita harmonia entre um bom tempero e o gosto de cada elemento.

Por tudo isso, eu e Chris concordamos enfaticamente que voltaríamos ao Il Vicoletto. Eu cheguei até a sugerir que fôssemos uma vez por mês, até esgotarmos todos os pratos principais, e aí começarmos a repetí-los. Mas não temos cacife para tanto. Por enquanto nos contentamos com a memória de uma noite maravilhosa, e com a promessa de voltarmos assim que possível.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 8
Entrada(2): 9 e 9
Prato principal(3): 9 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7,5 e 7,5
Média: 7,87 e 8,12
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Ipiranga, 143 - Vila Ema - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3913-1408
Facebook: https://www.facebook.com/IlVicolettoBrasil/?fref=ts






terça-feira, 7 de julho de 2015

Quisoque Philosofy (São José dos Campos - SP) - 30/06/2015

Quando minha mãe me perguntou onde iríamos jantar, respondi "num restaurante vegetariano". Em verdade eu estava enganado: o Quiosque Philosofy é um restaurante de comida orgânica, o que é bem diferente. Aqui existem proteínas animais, a diferença é a forma como eles são criados, soltos, sem grande interferência humana, e se alimentando de pasto e não de ração. No caso dos vegetais, são cultivados sem uso de produtos químicos, controladores de praga ou coisa parecida.

A bela e rústica fachada

Do lado de fora, uma fachada rústica, com muito verde, tijolinhos à vista e lampiões. Lá dentro, ambiente charmoso, onde chamam a atenção alguns objetos vintage, como uma geladeirinha vermelha e um telefone verde daqueles bem antigos. Há também muitas plantas. O teto não tem forro, então vemos as telhas e a estrutura do telhado. A parede próxima de onde nos sentamos era feita de bambu. Em um quadro negro, a frase "O orgânico transcende o nada! Nada mais é que voltar às raízes. Simples assim!", dando uma boa, e poética, idéia da proposta do lugar. Como nem tudo é perfeito, achei as cadeiras um pouco desconfortáveis, e uma das paredes tinha algumas falhas na pintura.

Chris caminhando, com a geladeirinha vintage ao fundo

Há apenas três opções de entradas. Escolhemos o garlic bread, massa integral crocante assada ao alho e óleo (R$ 19,90). Para acompanhar há 6 opções de antepastos, das quais o cliente pode escolher três. Fomos de pesto, pasta de tahine e queijo branco. Pedimos duas long neck Stella Artois para fazer companhia. Depois de alguma demora, a entrada finalmente chegou, com um visual apetitoso e um cheiro delicioso. E o sabor correspondeu à estética. A massa estava torradinha e muito crocante, e nem precisava dos antepastos para ser ingerida com prazer. Mas para ajudar o pesto estava uma delícia, e o queijinho branco e a pasta de tahine também não fizeram feio. Chris estava no celular com a irmã, mas com sua mão livre não parou de comer. Fez bem, porque se bobeasse eu comeria tudo.

Bonita e gostosa

Entre os pratos principais, há poucas e simples opções no cardápio fixo (bife orgânico à cavalo, massa integral ao sugo, etc), além de algumas saladas, sanduíches e pizzas. Mas o restaurante oferece um menu variável, que muda toda semana, com outras opções mais inventivas, além do menu degustação (R$ 98,60) em que o cliente pode experimentar vários pratos em sequência. Eu e Chris acabamos escolhendo pratos que estavam neste menu variável.

Chris escolheu o Especial do Chef, que vinha com arroz negro, molho de maracujá e salmão, acompanhado de salada (R$ 51,90). A parte do "acompanhado de salada" não rolou muito, a não ser que se considerasse como salada os tufinhos de cenoura e beterraba que enfeitavam o prato. O arroz estava sem sal, e o salmão veio um pouco cru, quase um sashimi. O molho de maracujá era um pouco doce demais. Apesar de tantos defeitos, Chris achou que o todo, na hora em que se colocava tudo junto na boca, não estava tão ruim. A apresentação também era bonita, e a quantidade suficiente para satisfazer sem exagero.

Satisfez, com ressalvas

Eu escolhi o risoto de frutas vermelhas com filé de Saint Peter (R$ 49,90). Assim como em outros pratos do cardápio, neste aqui o grelhado é opcional, e pode ser escolhido entre carne, peixe e frango, com um acréscimo de dez reais no preço final. Em termos de quantidade achei um pouco exagerado, tanto que eu não consegui terminar de comer, enquanto a Chris comeu o dela todo. O peixe estava no ponto certo, mas talvez pudesse ter um pouco mais de sal, para compensar o risoto doce de frutas vermelhas. Este estava interessante, embora o arroz, sem as frutas vermelhas, não tivesse muito gosto. O queijo ralado que veio por cima não resolveu este problema da falta de sal. Aliás, poderia ser substituído por algum ingrediente com alguma crocância. O prato também veio com os tufinhos de cenoura e beterraba de enfeite, o que reforça a tese de que, de fato, esqueceram a salada da Chris. Aliás, pensando em retrospecto, deveríamos ter reclamado. Que dois bestas!

Eu e Woody Allen prontos pro rango

Para a sobremesa também escolhemos um opção que estava no cardápio variável. Um cheesecake de doce de leite e tâmara com calda de framboesa (R$ 11,90). Ainda bem que pedimos um só: o pedaço é gigante! Enfiei a primeira colher na boca achando que seria muito enjoativo, mas me surpreendi com o sabor. Chris no fim das contas acabou achando doce demais, embora tenha comido bastante. Eu, no fim das contas, acabei achando seco demais, acho que a calda de framboesa estava mais para uma geléia. Mas ambos gostamos do sabor, que, no fim das contas (e chega de repetir a expressão) é o que mais importa.

Comemos em dois e ainda sobrou

Falta falar de um item muito importante no cardápio do restaurante: os sucos. São muitas e muitas opções, separados por temas como hangover cures - ou seja, curas para ressaca -, detox, sucos vivos, entre outros. Deve ter pra mais de vinte opções de sucos, um mais diferente que o outro. Me lembro até de um que vinha com biomassa de banana verde! Claro que não poderíamos ir embora sem experimentar algum. Chris pediu o Mundaka (espinafre, maçã, beterraba e cenoura, R$ 10,90). Ela gostou, muito embora tenha achado que a beterraba dominou tudo. Mas ela gosta de beterraba, então valeu. Eu pedi o Kriyá (limão, mel e manjericão, R$ 9,90). Não consegui encontrar o sabor do mel, mas a mistura de manjericão e limão estava muito boa e bem equilibrada.

Nós dois, super naturebas

Durante o tempo que estivemos no local, apenas mais dois clientes entraram no estabelecimento. Deste modo, o serviço esteve quase todo voltado só para nós, e foi bastante satisfatório. Funcionários simpáticos na medida certa, sem demonstrarem enfado. Tiraram algumas dúvidas que tínhamos sobre o cardápio, sem escarnecer de nossa ignorância ao perguntarmos em uníssono "o que é bife orgânico?".

Ainda em relação ao serviço, tivemos um probleminha com o tempo de entrega dos pratos. A entrada demorou bastante para chegar, mesmo se tratando de algo simples - embora delicioso. Até aí tudo bem, já que não estávamos com pressa, e tomávamos nossa cervejinha. O problema foi que o prato principal, que já estava previamente solicitado, chegou muito rápido, quando ainda nem tínhamos terminado direito de comer a entrada. Isto acabou sendo um problema, já que ainda nem tínhamos escolhido o suco para acompanhar nossas refeições, coisa que iríamos fazer no tempo entre a entrada e o prato principal - e as opções eram muitas, como já foi dito.

Apesar de alguns problemas com os pratos principais e com o serviço, tanto eu como a Chris concordamos que o Quiosque Philosofy mereceria uma segunda visita. O custo benefício foi bastante razoável, e sentimos muito carinho e cuidado em todos os aspectos, do ambiente ao serviço. Chris ficou com vontade de experimentar outros itens do cardápio, especialmente alguns sucos, e eu gostei bastante da idéia do cardápio que varia semanalmente,  fornecenedo assim uma excelente desculpa para um retorno. Além do mais, ambos acabamos pedindo peixe, e ficamos sem saber qual a diferença, na prática, entre um bife orgânico e um comum. Pronto, já temos mais de uma desculpa para voltar. Agora é só escolher uma data.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada(2): 8 e 8,5
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 7,5
Custo-benefício(1): 7 e 8
Média: 7,16 e 7,66
Voltaria?: Sim e sim



Serviço:
Rua Fagundes Varela, 141 - Vila Betânia - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3921-9224
Site: http://www.quiosquephilosofy.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/qphilosofy?fref=ts