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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Clemenza (São José dos Campos - SP) - 29/11/2022

 

    Clemenza. Para mim, é impossível ouvir esse nome e não lembrar de cinema. Afinal, Clemenza é o nome de um dos funcionários mais antigos, e fiéis, da família Corleone, do filme "O Poderoso Chefão". Ao saber que São José dos Campos tinha um restaurante com esse nome, me perguntei se teria alguma coisa a ver com o filme. Para tirar essa dúvida, visitamos o restaurante em uma terça-feira meio chuvosa e sombria, torcendo para que o próprio Clemenza não estivesse nos esperando em alguma esquina do caminho. O restaurante fica em um dos trechos mais tranquilos da Avenida Rio Branco, no chiquetê bairro Jardim Esplanada II. A fachada é discreta, se assemelhando a uma residência. São vários ambientes, começando por um pequeno salão, com vista para a rua, depois um corredor com sofás e samambaias na parede, e ao final uma varanda espaçosa, com um bar. 
 
O Coringa também foi, caso Clemenza aparecesse

Eita corredorzão sem fim, sô

"Amor, vai ali e finge que é gente"
 
    Mas e aí, tem a ver com cinema ou não? Bem, eu diria que tem e não tem. No pequeno salão em que ficamos, há fotos de Michael Corleone (Al Pacino), Don Vito Corleone (Marlon Brando) e Clemenza (em sua versão jovem, vivido por Bruno Kirby). As fotos que simbolizam os banheiros masculino e feminino são de Clemenza (Bruno Kirby) e Connie Corleone (Talia Shire). Mas o restaurante não aposta muito no storytelling, não contextualiza, e fica uma coisa assim meio largada no ar. Quem não sabe quem é Clemenza, continuará sem saber. E não adianta perguntar aos funcionários. Para exemplificar: quando recebi a conta, vi que a razão social da empresa é "Santino Gastronomia LTDA". Santino é o nome de um dos filhos de Don Vito Corleone (aquele que morre fuzilado no pedágio, vivido por James Caan). Achei divertidíssimo, e comentei isso com a pessoa que nos atendia. Ela disse que não sabia disso, e que nem viu ao filme inteiro. Nem dá para colocar a culpa nela. O dono, ao fazer a seleção de funcionários, deveria exigir ao menos um conhecimento básico do filme que o restaurante homenageia. Convenhamos, não seria um sacrifício assim tão grande assistir a uma das maiores obras de arte que a humanidade já produziu.

Tome cuidado com esses quatro elementos perigosos

Pipi com a Connie ou com o Clemenza, eis a questão

    Chega de cinema, vamos falar de comida. O cardápio do Clemenza é bem enxuto, e chega às nossas mãos em apenas uma página com frente e verso. Na parte da frente, as opções de antipasto, primo piatto e secondo piatto (entrada, primeiro prato e segundo prato). No verso, as opções de dolce (sobremesas). Cabe aqui uma crítica ao fato de o cardápio exibido no site do restaurante ser completamente diferente daquele que é oferecido "ao vivo". Bora atualizar isso aí, senhor Clemenza? Com todo respeito, claro, por favor, não me enforque em um carro fechado me fazendo chutar o para-brisa enquanto morro sem ar.
 
    Para a entrada, ou antipasto, escolhemos o carpaccio rústico (angus selado, molho do Harry´s Bar Veneza, R$ 42). Já que ao restaurante falta contextualização, contextualizamos nós: Harry´s Bar é o nome do bar em Veneza onde foi criado o carpaccio (carne crua servida em fatias finíssimas). Nunca comemos o molho original, lá em Veneza, mas este aqui nos pareceu um molho de maionese com mostarda, gostosinho, mas nada de mais. A carne estava apenas selada, com uma crostinha agradável. Não achamos que a apresentação tenha sido das melhores. A carne é servida com um pãozinho torrado, levemente amanteigado, que estava uma delícia, e fez nossas notas aumentarem (especialmente a da Chris, que adorou).

Carne quase crua e o molho do bar do Réri

    Seguindo a sugestão da funcionária, resolvemos dividir entre nós um primo piatto, e depois um secondo piatto. Sempre que isso acontece, claro que o nobre casal tem que entrar em um consenso, o que nem sempre é fácil. Mas dessa vez, até que foi. Não precisamos tirar no par ou ímpar, nem nos engalfinharmos no meio do restaurante.

    Para o primo piatto, fomos de penne ala vodka (molho pomodoro, panna e vodka, R$ 72). Essa foi uma escolha da Chris, que ficou muito curiosa com o uso da vodka com o macarrão (eu ia chamá-la de pingaiada, mas creio que vodkaiada seja mais preciso). O "panna", que está na descrição do prato, é creme de leite, ou nata, que é usado no molho do macarrão. Falando no molho, é um dos mais gostosos que já provamos. Simples e altamente efetivo, levemente adocicado, levemente apimentado, consistência agradável. Eu raspei essa panelinha que vocês verão aí abaixo, e se estivesse em casa, provavelmente a teria lambiscado. O penne estava um pouquinho duro, talvez mais alguns segundos de cozimento caíssem bem. 
 
Assim, olhando, ninguém diz que tem vójica
 
    O secondo piatto escolhido foi a bistecca (300g de bife Angus, purê de abóbora cabotiá e crocante de castanhas, R$ 105). Além dos elementos que constam na descrição do prato, também acompanha uma salsa, tipo um chimichurri, por cima dos pedaços de carne. Eu gosto da carne ao ponto, Chris prefere mal passada. Como eu sou um ser magnânimo, aceitei que a carne viesse mal passada (e veio mesmo!). Estava boa, bem temperada (embora um pouco fria), com o chimichurri dando aquela acidez, contrastando com o adocicado do purê. As castanhas não fizeram muita diferença no sabor, apenas acrescentaram um pouco de crocância. A carne tinha alguns nervos bem nervosos, incomíveis.

Assim, olhando, ninguém diz que tem nervos incomíveis

Olha, mas que veio mal passada, isso veio. Muuuu....

    São quatro opções de sobremesa. Em uma casa com pegada italiana, é estranho não encontrar panna cotta e tiramisù. Por outra lado, o francês crème brûlée estava presente - mas não foi escolhido por nós. Resolvemos escolher duas sobremesas, e dividir novamente.

    Uma delas foi o pazzo di ciocolatto (bolacha de amêndoas da casa com creme de chocolates, R$ 38). Apresentação bem da bonitinha. Bolachinha crocante, cremes de chocolate gostosos, com boa consistência. Um dos cremes é de chocolate branco, que a Chris não gosta (diz até que não é chocolate). As mordidas que vinham com uma folhinha de hortelã ganhavam mais complexidade. 

Todo trabalhado no rabisco

    A outra foi a leave the gun, take the cannoli (massa crocante, creme de ricota, frutas cristalizadas e chocolate, R$ 34). Para quem não sabe, a frase que dá nome a essa sobremesa ("deixa a arma, pegue o cannoli") é uma das mais famosas do filme "O Poderoso Chefão", e é dita pelo personagem Clemenza, pouco depois de um assassinato (um dia de trabalho normal para ele). Mais uma apresentação belezinha de fofura. O creme de ricota estava bem suave, não muito doce, a massa estava crocante, e as frutas cristalizadas trouxeram frutado e acidez. Não deu pra detectar exatamente quais eram as frutas, mas uma delas parecia ser laranja, o que é um péssimo sinal no filme "O Poderoso Chefão" (pesquise aí no Google "laranja poderoso chefão" pra ver).

Ainda bem que Clemenza deixou a arma e nos trouxe o cannoli

    Em relação ao serviço, o começo foi bem promissor. Assim que chegamos já fomos tirar aquela selfie da fachada, pra entrar aqui no blog. Eis que vem lá de dentro um simpático rapaz, funcionário da casa, se oferecendo para bater a foto. Depois fomos atendidos, por uma moça, bastante simpática, embora não soubesse algumas coisas que perguntamos sobre o cardápio. Ela também cometeu o pecado de parar de ver "O Poderoso Chefão" no meio, o que me parece algo inexplicável - exceto tenha havido um tsunami em São José dos Campos e eu não fiquei sabendo. Não houve grandes demoras na entrega dos pratos, nem para retirar a louça suja da mesa.

    Embora eu compreenda as questões financeiras de se manter um restaurante em um bairro caro, ainda mais com o preço dos alimentos hoje em dia, entendo que há um pequeno problema com a relação custo-benefício do Clemenza. Por exemplo, embora nosso penne ao molho pomodoro estivesse delicioso, era macarrão com molho de tomate, e custou setenta e duas patacas. Não é barato. Chris foi mais condescendente nesse aspecto do que eu. Como não somos de família mafiosa, claro que não dá para ir sempre. Mas é uma ótima opção para levar a mama em um jantar especial. Por isso eu concluí que faria uma segunda visita ao Clemenza, enquanto a Chris achou que não valeria a pena. Ainda assim, acho que seria interessante explorar um pouco mais a relação com o filme, seja no treinamento dos funcionários, seja nos pratos servidos. Don Vito Corleone, onde quer que esteja, agradeceria - e não é bom contrariar esta família.

(para nossas notas de prato principal e sobremesa, fizemos um mix, um bem bolado, um blend, uma mistura, enfim, das nossas apreciações dos dois pratos e das duas sobremesas)

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada (2): 7 e 6
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 8 e 6,5
Média: 7,25 e 7,29
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Av. Barão do Rio Branco, 140 - Jardim Esplanada II, São José dos Campos - São Paulo
Telefone:  (12) 99603-7247 (Whatsapp)
Site: https://clemenza.com.br/
Facebook: @clemenzarestaurante
Instagram: @clemenzarestaurante

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Pasq Cucina (São José dos Campos - SP) - 05/06/2019


São José dos Campos é infestada de restaurantes japoneses, mas quando falamos em comida italiana não são tantas as opções. Por isso recebemos com alegria a notícia de que uma nova casa especializada no assunto havia sido aberta no chiquetê bairro Aquarius. Não perdemos muito tempo e fomos visitar o local numa quarta-feira fria, antecipando em uma semana o Dia dos Namorados, já que é quase impossível comer fora na data comemorativa sem gastar uma fortuna com "jantares fechados" caríssimos. Fica a dica.

O Pasq visto de fora, com a Chris iluminada pelas chamas

O Pasq Cucina fica em uma avenida tranquila e bem arborizada. Há algumas vagas para carros em frente, e também uma rua lateral onde é possível estacionar com segurança. Nos instalamos primeiro do lado de fora, já que o acanhado salão estava lotado. Mesmo com os aquecedores, a noite estava muito fria, e pedimos para sermos realocados para a parte interna assim que possível - o que não demorou muito. Nesse pouco tempo do lado de fora deu pra perceber que a iluminação deixa um pouco a desejar. Já do lado de dentro há luz de sobra e muito conforto térmico. Ufa! Além da pequenez do salão interno, com apenas sete mesas, chama a atenção a cozinha aberta e a decoração moderna, em nada lembrando as cantinas italianas. 

O Fê bebe uma água (junto com outros ingredientes)
Chris faz pose feliz, cheia de conforto térmico

Eu certamente já falei aqui que adoro cardápios enxutos, mas pode ser que você não tenha lido, então repito: eu adoro cardápios enxutos. Em apenas uma página o Pasq entrega tudo o que tem a oferecer. Aliás, nem tudo: as pizzas, que constam no menu, ainda não estão disponíveis. São seis opções de antipasti (entradas), seis opções de primi piatti (massas e risotos), seis opções de secondi piatti (carnes, aves e peixes) e mais cinco opções de dolce (sobremesa). Os pratos principais ficam quase todos na casinha dos cinquenta reais. 

Para a entrada escolhemos dividir o Crudo di Manzo Pasq (filé mignon fresco picado na ponta da faca com especiarias, R$ 34,90). Para quem não conhece, é uma espécie de versão italiana do francês steak tartare, e normalmente é feita com peixe (ao dizer "versão" não estou dizendo que é uma cópia, ok?). Na interpretação do Pasq o filé mignon vem com tempero bem delicado, ressaltando o sabor da carne, que estava macia e bem cortada. As fatias de pão combinaram bem, e a saladinha ao lado trouxe uma acidez vinda do tempero que em conjunto com a carne a deixou mais parecida com o prato francês, que tem mais acidez. Bem agradável.

"Crudo" é "cru", "manzo" é "vaca" e "di" é "de" mesmo

Antipasti, primi piatti, secondi piatti e dolce. Essa é a sequência tradicional das refeições à italiana. Mas diga-me, como mandar pra dentro uma paleta de cordeiro com polenta depois de comer um rigatoni à bolonhesa? Só se você tiver dois estômagos - ou o dia inteiro pra ficar comendo. Por isso resolvemos escolher apenas uma opção pra cada entre os primeiros e segundos pratos.

Chris escolheu o Risotto (tomates assados, cebolas caramelizadas e crostinis, R$ 48,90). O arroz estava no ponto, e ela adorou a presença crocante dos crostinis, que no entanto só estavam no meio do prato. Ela queria mais. Outra coisa que ela queria mais era a cebola caramelizada, que na verdade ela não conseguiu detectar. Ao experimentar o prato dela eu disse "os temperos estão bem delicados". Ela achou que isso era um eufemismo para "cadê o sal e a pimenta?". De fato, faltou um punch a mais no tempero. 

"Cebola caramelizada, cadê você, eu vim aqui pra te comer"

Eu escolhi o Carbonara (spaghetti, guanciale, ovo caipira e queijo pecorino romano, R$ 52,90), um prato tradicionalíssimo que eu nunca havia comido. O guanciale é um baconzinho feito com as bochechas do porco, que eu já tinha experimentado na Osteria Itália, mas que aqui estava muito mais saboroso, com uma consistência suave ainda que com leve crocância. Cada encontro com eles era de gemer. Mas mesmo sem eles havia muito sabor e equilíbrio nos temperos, sem nada muito agressivo. Talvez a mistura de queijo e ovo pudesse ser um pouco menos líquida e, por conseguinte, mais cremosa. Mas é um pormenor diante do prazer proporcionado.

"Pormenor diante do prazer proporcionado". Bonito isso.

As opções de sobremesa são bem tradicionais da Itália, e claro que minha cafezeira companheira não deixaria de escolher o Tiramissu (biscoito, café, zabaglione e cacau, R$ 25,90), que comemos juntos. Creme zabaglione agradável, nada enjoativo, sabor sutil de café e apresentação bonitinha. Chris disse que foi o melhor que ela já comeu - e olha que já comemos lá no Fasano do Rio. Adicionando ainda mais prazer ao dolce, tomamos um carajillo, drink espanhol feito com Licor 43® e café, seguindo sugestão do garçom.

Café com café é tipo lé com cré, não tem erro

O fechamento do Pasq provavelmente aumentaria o índice de desempregados de São José em um ponto percentual. Há funcionários de sobra, não houve economia nesse quesito. É difícil olhar pra algum lugar sem ver um deles, impecavelmente vestidos com suspensórios e gravatas borboletas. O palco da cozinha aberta também está repleto de artistas cozinheiros, acho que uns quatro ou cinco. Uma característica básica é que são todos muito novos, quase nenhum aparenta ter mais de 25 anos. Em consequência, o que lhes falta em traquejo sobra em boa vontade. Traquejo se aprende, boa vontade é mais difícil. Fomos muito bem atendidos, com simpatia e eficiência, apenas com uma leve demora na entrega dos pratos principais. 
  
Quem nos falou da existência do Pasq foi uma amiga, que acrescentou: "vocês precisam ir pra eu saber se eu vou também!". Com tanta fé depositada em nossas humildes pessoas, fazemos questão de dizer em uníssono: sim, nós recomendamos a ida ao Pasq, e ambos concordamos que faríamos uma nova visita à casa. Apesar de pequenos deslizes, especialmente no prato principal da Chris, o saldo foi bem positivo. Esperamos que o restaurante permaneça cheio como estava no dia de nossa visita. Afinal, haja cliente para manter a folha de pagamento de tanta gente...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 8 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 8,5
Sobremesa(2): 9 e 8
Custo-benefício(1): 7,5 e 8
Média: 7,58 e 8,04
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 355 – Jardim Aquarius - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3341-6537
Facebook: https://www.facebook.com/pasqcucina/

sábado, 15 de dezembro de 2018

Osteria Itália (São José dos Campos - SP) - 04/12/2018



É escondidinha. É pequenina. Parece a casa de alguém. É tão discreta que já passei pela rua algumas vezes e nunca tinha prestado atenção. Assim devem ser as osterias, estabelecimentos comerciais tipicamente italianos, e assim é a Osteria Itália, que visitamos em uma quente noite de terça feira. Outra característica das osterias é que normalmente são tocadas por famílias. No cardápio da Osteria Itália esse componente "familiar" é destacado, citando o nome da cozinheira e do sommelier que atende o salão, que são marido e mulher. 

Um salto no tempo, escureceu, uma casa, uma Chris

A impressão caseira que se tem do lado de fora é replicada do lado de dentro. Ali a gente tem a certeza de realmente se tratar de uma casa antiga, pela disposição dos cômodos. As mesas com toalhas tricolores se espalham pelos ambientes, que são todos bem pequenos. Inclusive há um aviso logo na entrada da casa, dizendo que pelo tamanho da cozinha e do lugar não é possível atender grandes grupos de uma só vez. O ambiente é intimista, mais voltado para casais. Um dos cômodos é climatizado, e se eu passei calor a culpa é exclusivamente de minha consagrada companheira, que não levou blusa e não queria ficar no ar-condicionado. Nós dois achamos a parte de fora uma "graxinha", mas infelizmente só havia uma mesa, que já estava ocupada. 

A toalha é mais pro tricolor dela do que dele
Uma casinha em que é proibido fumar, se fosse a dela tinha é placa nenhuma


O cardápio tem três opções de entrada e pouco mais de dez opções de prato principal. Sem frescura, apenas pratos clássicos da cozinha italiana. Há massas de fabricação caseira e outras importadas da Itália, que aparecem em seções diferentes do menu. Há também as opções diárias da chamada cucina del mercato, que aproveita o que há de mais fresco naquele dia. Todos os pratos são individuais e custam por volta de R$ 40.

Para a entrada escolhemos uma das opções sazonais, o crostini com dois queijos, presunto de parma e aspargo (4 unidades, R$ 25). O crostini, para quem não sabe, é bem parecido com a famosa bruschetta, só que cortado mais fino e feito normalmente no pão ciabatta. Apesar de contar com ingredientes de personalidade, a receita estava bem equilibrada, e o pão estava crocante. Gostamos, embora não fosse nada de gemer.

Nóis num gemeu, mas nóis curtiu

Chris escolheu um prato principal do cardápio fixo. Foi de agnolotti del plin (recheado de carne desfiada e salteado na manteiga de sálvia, R$ 47). O agnolotti, pra quem nunca viu, é essa massa que tá na foto aí embaixo, tipo uma trouxinha recheada. Chris achou que a massa podia ser um pouco mais fina, mas o ponto estava bom. E embora a manteiga de sálvia estivesse gostosa, ela gostaria de um pouco mais de tempero no recheio. A porção, como se pode ver, é bem farta, e Chris comeu quase tudo, devem ter sobrado umas duas ou três trouxinhas.

Transbordando de massa, meu!

Eu escolhi o prato da cucina del mercato, fora do cardápio fixo. Foi o caserecce con ragu de maiale (massa importada com ragu de pernil suíno com guanciale, alcaparras e azeitona siciliana, R$ 43). Caserecce é uma massa que eu nunca tinha visto, que parece um canudinho duplicado. Guanciale é um bacon artesanal, não defumado. Estava tudo bem gostoso, a massa bem cozida, a porção farta mas assim como a Chris senti falta daquele detalhezinho que transforma um prato bom em algo inesquecível. Faltou, por exemplo, mais frescor, talvez um manjericão cumprisse essa função. E o ragu era carne moída, quando o ideal seria que estivesse mais pedaçuda, desfiada depois de longo cozimento.

Mas azeitonas sicilianas frescas são o que há de bom, viu?

O menu fixo tem como opções de sobremesa dois sabores de panna cottas e um sorvete de avelã e chocolate de produção própria. No dia de nossa visita também estava disponível o tiramisù. Mas resolvemos optar pelas "natas cozidas". Chris escolheu a panna cotta al caffe (aromatizada com café e coberta por ganache de chocolate, R$ 17) e eu fui de panna cotta di vaniglia (aromatizada com baunilha em fava e coberta por ganache de chocolate, R$ 17). Ambas com consistência bem agradável, com aquela coisa meio "tremulante" quando tocada, mas com textura firme na boca. Ambos achamos que a frase "coberta por ganache de chocolate" deveria ser seguida mais ao pé da letra. Chris gostou do fato de o café estar presente, mas sem dominar completamente os sabores. Já a minha acabou ficando um pouco enjoativa.

Foto de apenas uma delas pra não redundar, a outra era um pouco mais escura e só

A Osteria Itália faz uma boa comida caseira, como é sua proposta. Se formos ver por esse lado, ela cumpre completamente o que promete. O lugar é aconchegante, o atendimento é atencioso e informal, os preços são justos e a comida é farta, como deve ser um bom almoço de domingo na casa da nona. Apesar dessas qualidades, faltou algo de especial que fizesse com que eu e Chris considerássemos um retorno ao lugar. Talvez se a área externa, charmosa e bem cuidada, fosse mais aproveitada, com mais mesas, e a gente passasse novamente por aquela tranquila rua, quem sabe assim ficaríamos tentados a nos sentar e tentar mais uma vez. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 6,5
Média: 6,75 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Gen. Osório, 63 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3308-0633
Facebook (não oficial): https://www.facebook.com/pages/Restaurante-Osteria-Italia/128494284009342

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cantina da Nena (São José dos Campos - SP) - 31/05/2016

O que falar de um restaurante que é mais velho do que eu? A Cantina da Nena foi fundada em março de 1980, e eu fui fundado no mesmo ano, mas em setembro. No mercado dos restaurantes, chegar a esta marca é para pouquíssimos (no mercado dos homens não é tão raro). Não há joseense que não conheça a cantina, que é sinônimo de tradição em comida italiana na cidade - e tem uma filial em cada um dos três shoppings centers locais. Todos reconhecem de imediato sua logomarca, com a Gioconda em sua pose tradicional, mas com uma tacinha de vinho nas mãos. O termo cantina está ligado a estabelecimentos rústicos na Itália, que inicialmente serviam militares e marinheiros. Claro que hoje o uso da palavra mudou, e qualquer escola, por exemplo, tem sua cantina. De qualquer forma, em geral quando se aplica a um restaurante ele se refere a um lugar de comida simples e farta. Não deixa de ser a cara da Cantina da Nena.



Em uma terça-feira, chegamos por volta das 20h30, e o restaurante estava com duas mesas ocupadas. O salão é grande, e as mesas são bem próximas umas às outras. As toalhas vermelhas e as paredes brancas e verdes indicam bem que estamos em terreno italiano. Nas paredes há alguns quadros de arte abstrata, cujas molduras também são vermelhas, formando uma bonita composição. Como já dito, cantinas não são restaurantes sofisticados, de modo que as cadeiras e mesas são simples. O ambiente é climatizado, e as janelas tem vista para a Rua Luís Jacinto, uma das mais animadas de São José. 

Estamos chegando para mangiare

Antes mesmo de olharmos as entradas pedimos uma cerveja Budweiser (600ml, R$ 9,90). Vale dizer que o cardápio estava desatualizado nesse quesito, e o que constava lá não era o que estava disponível na cozinha. Mas o simpático garçom nos falou as opções, e trouxe a Bud bem geladinha - ou melhor, "as" Buds, já que acabamos tomando duas.

Para iniciarmos as conversas bem italianamente, e acompanhar nossa cervejinha, pedimos as brusquetas de muçarela de búfala (seis unidades, R$ 25,50). Seis unidades é unidade demais, e quando elas chegaram já sabíamos que não iríamos comer tudo, sob o risco de não aguentarmos chegar aos pratos principais (mas pedimos para embrulhar as duas que sobraram, que bobos não somos). A Chris já comentou de cara que podiam ter colocado umas folhinhas de manjericão por cima, para dar uma refrescada e uma cor. Concordei com ela, e ambos também concordamos que a torrada não estava crocante. Mas o sabor estava razoável, com o molho de tomate dando uma adocicada no gosto forte da muçarela de búfala.

Até hoje acho estanho escrever "muçarela"

Deixamos a cerveja de lado, e para acompanhar nossos pratos principais pedimos um vinho chileno Ventisquero Reserva Carménère 2013 (375ml, R$ 38). O preço está bastante justo, já que este vinho custa quase isso em adegas e lojas especializadas.

Para escolher o prato principal as opções são infinitas. Hipérbole à parte, vejamos: são seis tipos de sopa, quatro sabores de risoto, sete tipos de lasanha, três de rondeli e quatro de caneloni, além de várias opções com carne, frango e peixe. Mas isso não é nada perto da quantidade de combinações que podem ser feitas com as massas artesanais da casa. São dezesseis tipos de massa (!!!) e mais treze sabores de molho (!!) que você pode combinar do jeito que quiser. Uma calculadora simples resolve: só aí são 208 opções de prato principal. É ou não é quase infinito? Tá, não é. Mas vale a hipérbole.

De segunda à quarta, no jantar, a Nena tem a opção do Festival de Massas (R$ 43), que é uma espécie de rodízio, onde o cliente tem um cardápio pré-selecionado, da qual ele pode comer tudo, em pequenas porções. Os pratos só vem à mesa quando solicitados. Neste caso são seis tipos de massa e seis sabores de molho, que podem ser combinados à vontade, além de quatro opções de lasanha. Chris achou que era uma boa maneira de conhecer mais pratos da casa de uma vez, e fez esta opção.

Ela começou com um básico nhoque à bolonhesa. Quando chegou, eu achei que tinha muito nhoque para pouco molho. Chris achou que estava tudo meio sem graça, faltou mais tempero. Sentiu falta de novo do manjericão, que ela adora. E disse que a massa de nhoque feita pela minha mãe é melhor (e ela nem pode ser acusada de puxa-saco, porque minha mãe não estava presente, e eu juro que ela não me pediu para escrever isso).

Tá com cara de xoxinho, não tá?

Em seguida ela pediu o talharim à putanesca, que é um molho complicado por ter muitos ingredientes fortes (alcaparras, azeitonas, alho, aliche). Apesar disso, Chris também sentiu o mesmo problema do bolonhesa, e achou um pouco sem graça, embora tenha gostado mais do que o anterior (até porque este tinha manjericão!).

Seria ridículo ficar fazendo piadinhas com o nome do prato

Para finalizar a comilança a Chris pediu o ravióli de massa verde (recheado com ricota) e molho à moda da cantina (creme de leite, tomate e gorgonzola). Os raviólis vieram afogados no molho, quase como uma sopa. O problema é que o molho era um pouco enjoativo, o que estragou o prato. Eu também provei, e ambos ficamos com saudades do molho de gorgonzola da minha mãe (olha ela aí de novo). Mas a Chris comeu o ravióli em separado e achou bom.

Vai uma sopinha?

Eu resolvi não optar pelo festival de massas, e pedi a lasanha de berinjela, abobrinha e ricota (R$ 32). Por cima das camadas de berinjela e abobrinha há uma camada de massa artesanal da casa. Sabores muito bons, com a colherada bem suculenta e molhada, enchendo a boca. A escolha da ricota é adequada, por ser um queijo mais fraco, que não mascara o sabor dos legumes. Não é nada que mude o mundo, mas é uma excelente opção para vegetarianos ou simplesmente amantes de berinjela, como eu. A porção é bem servida, adequada para uma pessoa.

As berinjelas e seu amante

As opções de sobremesa são bem básicas, então resolvemos escolher a mais básica delas: creme de papaya com cassis (R$ 14,50). Esta é uma sobremesa tipicamente brasileira, e é praticamente onipresente nos cardápios dos restaurantes do país. Apesar disso, nem eu nem a Chris nunca tínhamos provado a danada. Achamos que era uma boa oportunidade. O creme vem servido num pote de sorvete, e o garçom trouxe a garrafa de licor de cassis à mesa, e colocou um pouquinho do líquido sobre o creme. Ambos gostamos, embora não tenhamos medida de comparação. Chris gostou mais do que eu, e até achou que o garçom poderia ter colocado um pouquinho mais de licor.

Chris e o papaya com cassis (sou muito bom de rima)

O serviço é conduzido por dois garçons (e ambos aparecem na foto aí acima), que parecem ser bem antigos de casa. Atendem com naturalidade e segurança, e não parecem engessados, tem liberdade de atuação. Por exemplo, eu e Chris sempre experimentamos os pratos um do outro, mas nesta ocasião ela estava fazendo parte do Festival de Massas, que é uma espécie de rodízio, então perguntei ao garçom se haveria problema de eu provar os pratos que ela receberia. Ele respondeu, bem-humorado: "pode ficar tranquilo, o garçom é cego e mudo". Mas o serviço não ficou livre de problemas. Houve uma confusão no pedido de nossa entrada, que não tinha sido anotado por um dos garçons. E a Chris recebeu o primeiro prato de seu Festival de Massas muito antes de minha lasanha chegar. A justificativa de que os pratos do festival saem mais rápidos não colou muito. Mas a simpatia do atendimento pesa mais do que estes pequenos problemas.

Ao final eu considerei que o custo-benefício da Cantina da Nena é bastante satisfatório. Dá para um casal se alimentar bem por menos de cem reais - sem pedir vinho, claro. Isso para mim significa que o lugar passa no "critério McDonald´s". Explica-se: para um casal comer no McDonald´s vai gastar no mínimo cinquenta reais, então quando um bom restaurante fica um pouco acima disso eu considero que tem bom custo-benefício. Portanto eu concluí que voltaria à cantina. Já a Chris teve muitos problemas com seu Festival de Massas, e acha que não valeria a pena um retorno. Ela se decepcionou com o fato de uma casa especializada em massas não tê-la satisfeito justamente neste quesito. Não posso culpá-la. Quando der vontade de comer massas, melhor chamá-la para um almoço de domingo com minha mãe.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 6,66 e 6,79
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Luís Jacinto, 260 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
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domingo, 29 de novembro de 2015

Il Vicoletto (São José dos Campos - SP) - 25/11/2015

Ruela ou beco. Esta é a tradução em português para vicoletto, palavra italiana. A tranquila Rua Ipiranga, onde fica o restaurante Il Vicoletto, pode não ser exatamente um beco, mas é calma e pequena o suficiente para compreendermos o nome dado ao estabelecimento. Fica em um dos trechos mais arborizados e serenos do agitado bairro da Vila Ema. É bem escondidinho, como um tesouro bem guardado.

La facciata

Chegamos às 19h30 e já havia bastante gente por lá. Fizemos reserva, que não chega a ser imprescindível, mas é recomendável. No decorrer da noite o lugar ficou bem cheio. A fachada é bem discreta, assim como a decoração no interior. Mesas e cadeiras de madeira, estas últimas estofadas, proporcionando um bom conforto. Chama a atenção o enorme espelho em uma das paredes, dando uma sensação de profundidade. Para dar um ar rústico, a parede tem "falhas" para que os tijolinhos laranjas fiquem à vista. A cozinha fica atrás de uma parede envidraçada, então é possível aos curiosos observar a movimentação lá dentro. Não gostamos muito da aparência física do cardápio, que carecia de um pouquinho mais de charme e beleza. Era mais condizente com uma cantina, e não com alta gastronomia, como era o caso. Há também um certo problema em relação aos banheiros do restaurante. O espaço é exíguo e limitado a uma pessoa por gênero, e o lavatório é de uso comum, e bastante apertado.  

Chris e o espelhão

Fê e os tijolinhos à vista

Para iniciar os trabalhos, pedimos de entrada o carciofi toscana (R$ 34). Não sabe o que é? Explico. Alcachofra italiana, cogumelos frescos e crosta especial gratinada. A tal crosta especial parecia feita de pão de fôrma torrado, bem crocante. Seja lá do que fosse, estava tudo uma delícia. Acho que "matamos" tudo em uns cinco minutos, porque não conseguíamos parar de comer. Tudo era saboroso, mesmo quando experimentado em separado, coisa que fizemos com todos os ingredientes. Além de sabor, muita textura. Se dá para colocar um porém, é o fato de ser muito grande para uma entrada. Mas não nos fizemos de rogado e acabamos com tudo.

Il antipasto

Depois da maravilhosa entrada, já ficamos ressabiados. Já aconteceu algumas vezes a "maldição" da entrada, quando nos refestelamos com ela, e o prato principal fez "fóin fóin fóin fóin". Mas o prenúncio era bom: apenas oito opções de pratos principais. Gosto disso, significa que a cozinha não tenta abraçar o mundo, e se foca no que sabe fazer. Aliás, com bebidas, entradas, principais e sobremesa, todo o cardápio do restaurante se resume a uma página! Ah, se todos fossem assim. Há também uma lousa, dessas mesmo de escola, onde há algumas opções extras de pratos principais, provavelmente cambiáveis de acordo com o dia, onde os chefs se permitem alguns testes. Havia um gnocchi, por exemplo, que segundo o chef Adolfo Pierantoni tinha sido testado na noite anterior pela primeira vez, pelos próprio funcionários.

Agora é só mangiare

Chris escolheu uma das opções fixas do cardápio, o riso venere di mare (risoto de arroz negro com frutos do mar grelhados, R$ 94). Os frutos do mar eram lula, polvo, camarão e robalo, mas Chris pediu para tirar os dois primeiros, que não são de seu agrado. Seu pedido foi gentilmente aceito pelo chef, que para compensar caprichou nos camarões. Mas desconfio que se viesse só o arroz ela já ficaria satisfeita. Assim como na entrada, todos os itens estavam muito saborosos, de comer gemendo desde a primeira garfada (sim, ela fez isso!). Apresentação bem convencional, mas quantidades perfeitas, com os frutos do mar e o arroz "terminando" ao mesmo tempo. Eu sou famoso na família por ser o "encontrador" de espinhas, e não foi diferente mesmo em um restaurante tão chique. Chris me deu uma garfada, e claro que eu achei uma maledeta e pequenina, o que certamente não é o esperado, tampouco o desejado. Mas podemos dizer que eu salvei a Chris, e a experiência dela se manteve próxima à perfeição.

Nada de moluscos para a Chris, só crustáceos e peixe

Eu escolhi uma opção da lousa, estudioso que sou. Foi o cordeiro com cogumelos e risoto de açafrão (R$ 87). Já tinha comido risoto de açafrão em nossa visita ao Confraria do Sabor, em Campos do Jordão. Mas a impressão é que era a primeira vez que eu comia um risoto de açafrão, com todo o respeito ao Confraria - onde coincidentemente a combinação também era com cordeiro. Aqui no Il Vicoletto, muito sabor, além do cozimento perfeito do arroz. A carne de cordeiro também estava ótima em consistência e gosto, combinando muito bem com o risoto. Uma pena que a proporção não era perfeita, e o risoto acabou "sobrando" no prato depois de terminado o cordeiro. Mas as aspas no "sobrando" são merecidas, porque eu comi o risoto todinho, mesmo sem cordeiro para acompanhar. Uma delícia. Meu final de refeição foi até engraçado, porque a Chris tinha deixado um cadinho da comida dela no prato, e eu comecei a misturar os restos dela com os meus, ficando tudo uma zona. Mas uma zona das boas.

Tem um tomatinho querendo fugir

Se para os pratos principais as opções são enxutas, para as sobremesas o conceito é radicalizado: apenas três opções. São elas creme brulée, pannacotta e torre il vicoletto (bolachas crocantes de amêndoas com mousses de chocolate branco e amargo). Duas tradicionais (uma francesa e uma italiana) e uma mais inventiva. Fomos na tradição italiana e escolhemos a pannacotta Il Vicoletto (R$ 26). O cardápio acrescenta "com calda do dia" à descrição do prato. No nosso dia era calda de maracujá com frutas vermelhas. Embora a pannacotta estivesse muito melhor do que a outra que experimentamos lá no Barba Negra em Florianópolis, a calda acabou sobressaindo em demasia. Maracujá é sempre um problema sério para se trabalhar, por ser forte demais. Mas certamente não foi uma experiência desagradável. E serviu para descobrirmos a consistência perfeita de uma pannacotta, que não é a mesma de uma gelatina. É mais firme, e consegue ser macia sem derreter na boca ao primeiro toque.

Não era ruim, mas não acompanhou a excelência 

O restaurante tem uma carta de vinhos, que acabamos nem abrindo, porque resolvemos tomar cerveja mesmo. E foi apenas questão de gosto, não de economia, como será provado. A casa trabalha com a Cervejaria Dortmund, com sede na cidade de Serra Negra (SP). Combinando com a "enxutez" do resto do cardápio, há apenas três opções de estilos: IPA (que no dia de nossa visita estava substituída por uma red ale), pilsen e witbier. Acompanhamos a entrada com a pilsen Pils (R$ 28) e os pratos principais com a witbier Schloss (R$ 26). Ambas muito bem feitas e muito saborosas, com destaque para a deliciosa witbier.

O serviço é conduzido com propriedade (literalmente!) pelo sócio e chef Adolfo Pierantoni. Ele vem à mesa, fala alto e gesticula como bom italiano, e dá um ar genuíno à experiência. Por vezes pode ser que você esteja querendo conversar tranquilamente, e ele estará falando alto ao seu lado. Mas faz parte da imersão italiana. O garçom que nos atendeu também entedia tudo do cardápio, dando informações com segurança e se mostrando presente mesmo com o restaurante bem cheio. Tivemos problema com a entrada, que nos pareceu ter demorado mais do que deveria. E também com a retirada das louças e talheres da mesma entrada, quando saímos para a Chris fumar, voltamos, ainda fomos ao banheiro, voltamos à mesa, e eles permaneciam lá.

Ao final, tudo se resume ao sabor. Nos importamos com estéticas e belezas, com serviços e simpatias, com banheiros e milongas, mas o mais importante é o sabor. E o Il Vicoletto tem sabor de sobra. Ainda mais importante: tudo no Il Vicoletto é muito bem temperado, mas as individualidades de cada ingrediente não se perdem. Sabemos que estamos diante de uma alcachofra bem temperada, de um cordeiro bem temperado, de um arroz bem temperado. Isso é raro de se encontrar, esta perfeita harmonia entre um bom tempero e o gosto de cada elemento.

Por tudo isso, eu e Chris concordamos enfaticamente que voltaríamos ao Il Vicoletto. Eu cheguei até a sugerir que fôssemos uma vez por mês, até esgotarmos todos os pratos principais, e aí começarmos a repetí-los. Mas não temos cacife para tanto. Por enquanto nos contentamos com a memória de uma noite maravilhosa, e com a promessa de voltarmos assim que possível.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 8
Entrada(2): 9 e 9
Prato principal(3): 9 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7,5 e 7,5
Média: 7,87 e 8,12
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Ipiranga, 143 - Vila Ema - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3913-1408
Facebook: https://www.facebook.com/IlVicolettoBrasil/?fref=ts