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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Cantina Masseria (Campo Grande - MS) - 22/04/2025

 

    Sempre que estamos em uma cidade, procuramos um restaurante que seja associado à Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, que presenteia os clientes com um prato em cerâmica, mediante o pedido de um determinado prato. Em Campo Grande o Cantina Masseria é o único associado, por isso não tivemos dúvida em fazer um jantar por lá. Mas infelizmente eles estavam na transição entre o prato de 2024 e o de 2025 (em pleno abril, minha gente?), e por isso não havia o prato disponível. Mas só descobrimos isso quando já estávamos por lá, então claro que resolvemos fazer a refeição completa assim mesmo. Vai que alguma boa lembrança estava reservada, mesmo sem prato?
 
Boa lembrança pode ser, mas boa foto não, né?

Ah, essa tá melhor, saiu o bobão e dá pra ler o nome do restaurante

    Salão amplo, todo envidraçado, luminosidade agradável, boa distância entre as mesas. Temperatura perfeita. Nos sentamos em uma mesa que estava embaixo de um ar-condicionado e já estávamos prontos para nos mudar, quando o garçom nos disse que desligaria o ar, para nos poupar o trabalho de trocar de mesa. Achamos simpático. Levamos um vinho da África do Sul, que tínhamos comprado no hotel de Aquidauana, e o Cantina Masseria nos cobrou a taxa de rolha de R$30. Um preço aceitável, mas ao telefone nos disseram que era R$25. Não choramingamos esses cinco reais, mas fiz a anotação mental pra não esquecer e colocar aqui no blog, que eu sou desses.
 
Faltou citar no texto o jardim vertical ao fundo, senhor escritor

Será que essa careta é pra fazer a anotação mental?

Feliz como quem vai tomar um vinho

    Quando se vai a um lugar chamado Cantina Masseria, o que se espera é muita culinária italiana no menu. E o Masseria não decepciona nesse quesito. Começando pelas entradas, com opções de arancini, brusquetas e carpaccio. Nos principais são seis opções individuais (como a lasanha de cordeiro por R$ 73,70) e depois várias seções com pratos para dois: risotos (ao funghi por R$ 129,70), massas (espaguete carbonara por R$ 97,70), carnes (ossobuco milanês por R$ 139,90) e peixes (pintado ao urucum por R$ 142,90). É possível pedir porções individuais dos pratos para dois. Nesse caso os pratos de massa saem por 60% do valor indicado e os outros saem por 70% do valor indicado.

    Escolhemos como entrada o carpaccio (fatias de filé mignon cru, parmesão, alcaparras ao molho de maionese e mostarda, acompanhado de pão ciabatta, R$53,70 - não sei que mandinga é essa do Masseria com esses preços quebrados). Achamos que veio muito queijo por cima do carpaccio, e que as alcaparras poderiam fazer parte de um molho, e não apenas virem assim perdidas no meio do queijo. O molho de maionese e mostarda era basicamente os dois ingredientes unidos, nada de muito elaborado. A ciabatta estava boa e bem crocante. E o carpaccio estava cortado finissimamente. O limão, que veio à parte, dava uma boa levantada no prato, por conta da acidez. 

Finississississimamente

Não se abata (leia em voz alta e chore)

    "Fala pra Chris não pedir um filé mignon mal passado, por favor". Foi assim que meu irmão respondeu quando mandei mensagem no grupo da família dizendo que estávamos saindo pra jantar em Campo Grande. Tudo porque a Chris gosta muito de pedir filé mignon mal passado, e os restaurantes em geral gostam muito de errar o ponto. Então ela ficou com isso na cabeça, e não quis contrariar o cunhado: pediu como prato principal o penne com camarão (ao molho branco com camarão flambado, R$83,82 o valor individual, que corresponde a 60% do preço indicado no cardápio). Olha, teria sido melhor pedir um filé no ponto errado. Molho branco muito, muito sem graça (nível macarrão congelado da Sadia), com gosto de leite, basicamente. Camarão xoxo, gosto de água (não salgada). O que pode ser dito de bom é que o macarrão estava no ponto certo. Já em São José, meu irmão disse a ela "também, foi pedir camarão no lugar mais longe do mar". Pois é, agora é tarde pra voltar atrás.

Ufa, ao menos não é um filé no ponto errado...

    Eu não poderia deixar de homenagear minha tia Minga, e pedi a Costela Minga Desossada (assada lentamente em baixa temperatura, com cebolinha glacê, bacon caramelizado e molho demi-glace, acompanhada de nhoque dourado, R$89,90). O molho estava delicioso, com textura incrível e excelente equilíbrio entre dulçor e salgado. O nhoque sozinho era meio bobo, gosto de batata e só. A cebola parecia ser daquelas em conserva, tinha uma acidez bem típica desse tipo de preparo. Eu até gosto, mas não era o sabor esperado. Alguns pedaços de bacon estavam um pouco duros. A carne estava muito macia, derretendo mesmo, e muito saborosa, claro, com a gordura entremeada. O grande refestelo do prato era mesmo o molho, tanto que a Chris ficava molhando os camarões dela nele. Eu deixava, porque sou magnânimo - e porque experimentei o prato dela e fiquei com dó. 
 
Costela Maria Silvia Pereira (minha tia, pô)

    Petit Gateau, Crème Brûlée, Cheesecake de Frutas Vermelhas. É por aí, pelas onipresenças, que caminham as opções de sobremesa do Cantina Masseria. Nada contra, mas já cansamos de comer essas opções. Então fomos na única que era um pouco diferente, o Mil Folhas Com Dois Cremes (massa folhada com creme parisiense de baunilha e de chocolate, com avelãs torradas, R$36,90). Apresentação muito bonita. Mil folhas bem crocante, se quebrando no croc-croc. O chocolate também estava crocante. Creme de baunilha ok, mas textura um pouco pastosa. Faltou mais contraste, que vinha quando comíamos uma colherada junto com o morango. Talvez essa acidez pudesse ser incorporada de alguma forma ao mil folhas. Ou poderia ser servido com uma calda à parte que trouxesse acidez.
 
Bonito tá

    O restaurante estava bem vazio nesta noite de terça-feira, e tivemos os funcionários praticamente só para nós. O garçom principal era bem espontâneo, sem muito gesso, o que sempre agrada. Os garçons em geral mantinham boa distância da mesa, conseguindo estar presentes sem serem invasivos. Gostamos também da maneira que resolveram a situação do ar-condicionado, sem termos que nos mudar de mesa. Houve uma cobrança errada no prato da Chris, que deveria vir com 60% do valor indicado no cardápio, por ser porção individual, mas veio 70%. Mas foi corrigido rapidamente. Também houve a informação errada sobre o valor da taxa de rolha. E ao final solicitamos uma cópia da comanda com nosso consumo, pra guardar de lembrança, e ficamos vários e vários minutos esperando, até que fomos à recepção para pegar. Foram pequenas coisas que acabaram minando nossa nota final de serviço.

    Nossa ida ao Cantinha Masseria foi em busca do Prato da Boa Lembrança. Voltamos sem ele. Mas não significa que voltamos sem boas lembranças. Talvez aquela que mais vá permanecer em nossas mentes seja o molho demi-glace que acompanhava meu prato. Chris usufruiu dele quase tanto quanto eu, e ambos concordamos que foi um dos melhores molhos que já comemos em nossas visitas a restaurantes pelo Brasil afora. Mas infelizmente o restante da experiência gastronômica não acompanhou essa excelência, e definimos que não faríamos uma segunda visita ao Masseria. Não tem problema. Às vezes uma única boa lembrança pode compensar uma vida inteira de tristezas. Ou um penne completamente sem graça...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada (2): 5 e 5
Prato principal(3): 4 e 8
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5 e 6,5
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Afonso Pena, 4311 - Jardim dos Estados, Campo Grande - Mato Grosso do Sul
Telefone:  (67) 3325-7722
Site: https://www.cantinamasseria.com.br/
Instagram: @cantinamasseria

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Paraguassu (Mucugê - BA) - 17/09/2023

 

    A decisão de ir ao Paragaussu foi tomada ainda em casa, quando fazia as pesquisas da viagem, e me deparei com o cardápio que o restaurante disponibiliza em seu site. Havia muitas coisas apetitosas por ali. Fomos visitar o local em nossa primeira noite em Mucugê. A cidade é uma base de visitação à Chapada Diamantina, mas é muito mais tranquila do que sua vizinha Lençóis, de onde tínhamos acabado de vir. Em Mucugê o que reina é a paz e a tranquilidade, o que foi constatado em nossa caminhada até lá em uma noite de domingo, com a cidade bem vazia.

Um anjo caminha pelas ruas vazias de Mucugê

Fachada do Hotel Refúgio na Serra, onde fica o Paraguassu

    O Paraguassu fica dentro de um hotel chamado Refúgio na Serra, com diárias de quatro dígitos. Chegamos à recepção, eu de chinelo, bermuda e minha camiseta de Cabaceiras (PB), e Chris, linda como sempre, com um vestido bonito, mas simples, e de sandália. Me refiro à vestimenta, porque não sei se foi ela o motivo de a moça ter falado pra gente esperar na recepção, porque alguém do restaurante viria nos buscar. Recepção bonita, com sofás confortáveis, belos quadros na parede. Legal, daria pra ficar ali por um ou dois minutos. Mas ficamos por uns dez. E o mais curioso é que a gente via o restaurante ali ao lado, coisa de dez metros da gente. Passados os dez minutos ou coisa que o valha, veio o maitre nos levar pela mão (ok, exagero, mas foi quase isso) até o restaurante, que estava vazio. São coisas do mundo dos ricos que a gente tem dificuldade de compreender.

Todo achando que pertence ao mundo dos ricos

    O restaurante tem um ambiente interno, mais formal e bem iluminado, e uma área externa, em que, segundo o maitre, a proposta é um contato maior com a natureza. Há uma grande árvore, e belas luminárias baloiçando ao vento. Foi ali que nos instalamos, mesmo com a ressalva de que não seria permitido fumar. Para isso a Chris teria que sair do hotel, já que todo ele é restrito para a prática do "eu pito, cê não pita não?". Mas é preciso dizer que o hotel disponibiliza um banquinho charmoso com cinzeiro bem na entrada.   

Chris e as luminárias baloiçantes. Baita palavra essa, hein?

Ele realmente tá se achando o próprio João Dória

Pelo menos não mandam os fumantes pra sarjeta

    O cardápio é bem variado, com diversas opções de proteínas. As entradas vão de R$ 49 (queijo coalho do Mucugê) até R$ 94 (vinagrete de polvo). Aliás, achei as entradas pouco criativas, pra um restaurante desse nível, com opções de pastéis, brusquetas e croquetas, nada muito inventivo. Nos pratos principais a divisão fica em carnes, peixes & mariscos, risotos e massas, além das opções vegetarianas e veganas. Os valores partem de R$ 64 (ravioli aos cinco queijos) e podem chegar até R$ 220 (bacalhau confit), sempre para pratos individuais. Já nas sobremesas estão os onipresentes petit gateau (R$ 37) e tiramissu (R$ 42), com poucas opções mais criativas.

    Nossa escolha de entrada foi a croqueta de carne de panela (bolinho recheado com carne de panela e gorgonzola, acompanhada de molho lambão e maionese artesanal, R$ 56). A croqueta estava uma delícia, muito crocante por fora, e bem cremosa por dentro (embora a Chris tenha insistido que a croqueta feita pelo meu irmão é melhor). O gorgonzola aparece pouco, e quando reli a descrição do prato para a Chris ela disse "ué, tem gorgonzola?". Maionese bem delicada e com boa textura. Veio também um molhinho de pimenta, que não constava na descrição, mas combinou muito bem. Aliás, as duas Heineken que pedimos (R$ 15 cada, long neck) também combinaram muito bem. Comida de boteco das boas - com a ressalva de que não estávamos em um boteco.

Gostoso, sim, mas combina mais com um boteco bão de BH

    Depois de muita confabulação, inclusive com o maitre, Chris acabou decidindo escolher, como prato principal, o Bife Ancho (bife angus grelhado, acompanhado de nhoque frito de mandioca ao molho de gorgonzola e geleia de pimenta biquinho, R$ 116). A Chris gosta do bife mal passado. Depois de muitas experiências em que, mesmo pedindo mal passado, ela recebeu o bife ao ponto ou bem passado, nós começamos a enfatizar ao garçom que "é mal passado mesmo, viu?". Mas acho que precisamos mudar novamente nossa tática. O bife chegou bem próximo ao cru, bastante frio por dentro. E não tava nem bonito por fora, não havia aquela crostinha, tava branquelo. Uma tristezinha. Sim, provavelmente eles teriam feito de novo se tivéssemos falado, mas aí a experiência iria ficar ainda mais prejudicada, com os dois comendo sozinhos. Aí deixamos assim mesmo. Ela gostou bastante do nhoque, saboroso e crocante, com o molho também gostoso, e dessa vez com sabor de gorgonzola. Proporção errada, o bife era muito grande para a quantidade de nhoque. Mas como ela não comeu todo o bife, deu certinho.😡
 
O bife era tão grande que não coube na foto

    Eu também demorei um pouco para fazer minha escolha, e optei pelo Cordeiro do Garimpo (preparado em cocção lenta, acompanhado de baião de dois cremoso de arroz vermelho e feijão regional, finalizado com molho demi-glace, farofa de castanha, crisp de cebola e geleia de pimenta artesanal, R$ 92). A carne veio literalmente derretendo, com o demi-glace aprofundando ainda mais o sabor do cordeiro. O baião de dois estava bem cremoso, até demais, deixando de lado qualquer impressão de um baião de dois - ficou difícil detectar os sabores do arroz vermelho e do tal feijão regional. Mas trazia um adocicado que contrastava bem com o cordeiro. O crisp de cebola estava bem crocante, e saboroso, claro, méritos à cebola. Eu aceitaria um pouco mais da geleia picante, que trazia outra dimensão às garfadas.


Veja como o baião de dois parece uma maionese

    A sobremesa talvez tenha sido a melhor parte da refeição. Escolhemos a Experiência Diamantina (massa crocante, recheada com doce de leite artesanal, zabaione italiano de queijo, finalizado com geleia de frutas vermelhas, R$ 44). Massa bem crocante, e conjunto muito equilibrado. Zabaione delicado, com o toque de limão bem presente. Doce de leite era o elemento mais doce, mas veio na quantidade certa. Geleia de frutas vermelhas (na verdade parecia ser só de amora) nas bordas, muito agradável, sem estar muito doce, e trazendo acidez. E para coroar, uma framboesa, uma amora e um mirtilo sobre o zabaione, junto a uma telha que parecia uma colmeia. Bonitinho.

Finalizou bem, não podemos negar

    O serviço é formal demais para nosso gosto. Dá para ver que o maitre é bem experiente, sabe o jeito que as pessoas que frequentam esses restaurantes gostam de ser atendidas. Mas não é muito nosso jeito. Inclusive ele enxotou um gato do local, e a Chris ficou bem braba. Afinal, cadê o tal "maior contato com a natureza?". Havia um garçom um pouco mais novo, e também um pouco mais espontâneo. Outra coisa inescapável nesse tipo de restaurante é a quantidade de vezes em que os funcionários vem perguntar se está tudo bem. Mais uma formalidade inócua, porque nós não vamos responder "não, meu amigo, tô com uma unha encravada terrível, além do mais, o bife está cru". Sei lá. Daí a gente acaba mentindo. Mas é preciso dizer que o maitre foi bem atencioso e flexível quando a Chris estava em dúvida sobre o que pedir, e até disse que seria possível alterar algum acompanhamento dos pratos, caso ela quisesse. E também devemos dizer que o tempo de espera entre os pratos foi perfeito.

    Pelo que pudemos apurar, os mesmos donos do hotel e do restaurante também são donos de uma vinícola, a UVVA, a primeira a fazer vinhos finos na Chapada Diamantina. Finos e caros. Mas férias são o momento de enfiar o pé na jaca, ou na uva, então pedimos o Microlote Syrah UVVA (R$ 228). Não somos especialistas em vinhos, mas foi certamente um dos melhores que já tomamos. A vinícola fica a 25km do centro de Mucugê, mas não fizemos visitação, porque a mais simples custava R$ 160 por pessoa, com valor revertido em compras. Pelo preço do vinho, não ia dar pra reverter muita coisa.

    Tivemos alguns bons momentos em nossa experiência no Paraguassu. A entrada estava boa - embora combinasse mais com um boteco dos bons -, meu principal tinha boas ideias, a sobremesa estava muito bem feita e o vinho era delicioso. Mas o preço alto aliado ao erro feio no elemento principal do prato da Chris nos fizeram decidir que não faríamos uma segunda visita ao restaurante. Mesmo que nessa segunda visita a gente não precisasse esperar por dez minutos para sermos levados pelas mãos por um longo caminho de vinte passos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7,5
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada (2): 6 e 7,5
Prato principal (3): 5,5 e 7
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 5,83 e 7,16
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Caetité, 40A - Centro Histórico - Mucugê - Bahia
Telefone: (71) 98136-5626
Site: https://www.refugionaserra.com.br/restaurante-paraguassu/
Instagram: @restaurante_paraguassu

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cantina da Nena (São José dos Campos - SP) - 31/05/2016

O que falar de um restaurante que é mais velho do que eu? A Cantina da Nena foi fundada em março de 1980, e eu fui fundado no mesmo ano, mas em setembro. No mercado dos restaurantes, chegar a esta marca é para pouquíssimos (no mercado dos homens não é tão raro). Não há joseense que não conheça a cantina, que é sinônimo de tradição em comida italiana na cidade - e tem uma filial em cada um dos três shoppings centers locais. Todos reconhecem de imediato sua logomarca, com a Gioconda em sua pose tradicional, mas com uma tacinha de vinho nas mãos. O termo cantina está ligado a estabelecimentos rústicos na Itália, que inicialmente serviam militares e marinheiros. Claro que hoje o uso da palavra mudou, e qualquer escola, por exemplo, tem sua cantina. De qualquer forma, em geral quando se aplica a um restaurante ele se refere a um lugar de comida simples e farta. Não deixa de ser a cara da Cantina da Nena.



Em uma terça-feira, chegamos por volta das 20h30, e o restaurante estava com duas mesas ocupadas. O salão é grande, e as mesas são bem próximas umas às outras. As toalhas vermelhas e as paredes brancas e verdes indicam bem que estamos em terreno italiano. Nas paredes há alguns quadros de arte abstrata, cujas molduras também são vermelhas, formando uma bonita composição. Como já dito, cantinas não são restaurantes sofisticados, de modo que as cadeiras e mesas são simples. O ambiente é climatizado, e as janelas tem vista para a Rua Luís Jacinto, uma das mais animadas de São José. 

Estamos chegando para mangiare

Antes mesmo de olharmos as entradas pedimos uma cerveja Budweiser (600ml, R$ 9,90). Vale dizer que o cardápio estava desatualizado nesse quesito, e o que constava lá não era o que estava disponível na cozinha. Mas o simpático garçom nos falou as opções, e trouxe a Bud bem geladinha - ou melhor, "as" Buds, já que acabamos tomando duas.

Para iniciarmos as conversas bem italianamente, e acompanhar nossa cervejinha, pedimos as brusquetas de muçarela de búfala (seis unidades, R$ 25,50). Seis unidades é unidade demais, e quando elas chegaram já sabíamos que não iríamos comer tudo, sob o risco de não aguentarmos chegar aos pratos principais (mas pedimos para embrulhar as duas que sobraram, que bobos não somos). A Chris já comentou de cara que podiam ter colocado umas folhinhas de manjericão por cima, para dar uma refrescada e uma cor. Concordei com ela, e ambos também concordamos que a torrada não estava crocante. Mas o sabor estava razoável, com o molho de tomate dando uma adocicada no gosto forte da muçarela de búfala.

Até hoje acho estanho escrever "muçarela"

Deixamos a cerveja de lado, e para acompanhar nossos pratos principais pedimos um vinho chileno Ventisquero Reserva Carménère 2013 (375ml, R$ 38). O preço está bastante justo, já que este vinho custa quase isso em adegas e lojas especializadas.

Para escolher o prato principal as opções são infinitas. Hipérbole à parte, vejamos: são seis tipos de sopa, quatro sabores de risoto, sete tipos de lasanha, três de rondeli e quatro de caneloni, além de várias opções com carne, frango e peixe. Mas isso não é nada perto da quantidade de combinações que podem ser feitas com as massas artesanais da casa. São dezesseis tipos de massa (!!!) e mais treze sabores de molho (!!) que você pode combinar do jeito que quiser. Uma calculadora simples resolve: só aí são 208 opções de prato principal. É ou não é quase infinito? Tá, não é. Mas vale a hipérbole.

De segunda à quarta, no jantar, a Nena tem a opção do Festival de Massas (R$ 43), que é uma espécie de rodízio, onde o cliente tem um cardápio pré-selecionado, da qual ele pode comer tudo, em pequenas porções. Os pratos só vem à mesa quando solicitados. Neste caso são seis tipos de massa e seis sabores de molho, que podem ser combinados à vontade, além de quatro opções de lasanha. Chris achou que era uma boa maneira de conhecer mais pratos da casa de uma vez, e fez esta opção.

Ela começou com um básico nhoque à bolonhesa. Quando chegou, eu achei que tinha muito nhoque para pouco molho. Chris achou que estava tudo meio sem graça, faltou mais tempero. Sentiu falta de novo do manjericão, que ela adora. E disse que a massa de nhoque feita pela minha mãe é melhor (e ela nem pode ser acusada de puxa-saco, porque minha mãe não estava presente, e eu juro que ela não me pediu para escrever isso).

Tá com cara de xoxinho, não tá?

Em seguida ela pediu o talharim à putanesca, que é um molho complicado por ter muitos ingredientes fortes (alcaparras, azeitonas, alho, aliche). Apesar disso, Chris também sentiu o mesmo problema do bolonhesa, e achou um pouco sem graça, embora tenha gostado mais do que o anterior (até porque este tinha manjericão!).

Seria ridículo ficar fazendo piadinhas com o nome do prato

Para finalizar a comilança a Chris pediu o ravióli de massa verde (recheado com ricota) e molho à moda da cantina (creme de leite, tomate e gorgonzola). Os raviólis vieram afogados no molho, quase como uma sopa. O problema é que o molho era um pouco enjoativo, o que estragou o prato. Eu também provei, e ambos ficamos com saudades do molho de gorgonzola da minha mãe (olha ela aí de novo). Mas a Chris comeu o ravióli em separado e achou bom.

Vai uma sopinha?

Eu resolvi não optar pelo festival de massas, e pedi a lasanha de berinjela, abobrinha e ricota (R$ 32). Por cima das camadas de berinjela e abobrinha há uma camada de massa artesanal da casa. Sabores muito bons, com a colherada bem suculenta e molhada, enchendo a boca. A escolha da ricota é adequada, por ser um queijo mais fraco, que não mascara o sabor dos legumes. Não é nada que mude o mundo, mas é uma excelente opção para vegetarianos ou simplesmente amantes de berinjela, como eu. A porção é bem servida, adequada para uma pessoa.

As berinjelas e seu amante

As opções de sobremesa são bem básicas, então resolvemos escolher a mais básica delas: creme de papaya com cassis (R$ 14,50). Esta é uma sobremesa tipicamente brasileira, e é praticamente onipresente nos cardápios dos restaurantes do país. Apesar disso, nem eu nem a Chris nunca tínhamos provado a danada. Achamos que era uma boa oportunidade. O creme vem servido num pote de sorvete, e o garçom trouxe a garrafa de licor de cassis à mesa, e colocou um pouquinho do líquido sobre o creme. Ambos gostamos, embora não tenhamos medida de comparação. Chris gostou mais do que eu, e até achou que o garçom poderia ter colocado um pouquinho mais de licor.

Chris e o papaya com cassis (sou muito bom de rima)

O serviço é conduzido por dois garçons (e ambos aparecem na foto aí acima), que parecem ser bem antigos de casa. Atendem com naturalidade e segurança, e não parecem engessados, tem liberdade de atuação. Por exemplo, eu e Chris sempre experimentamos os pratos um do outro, mas nesta ocasião ela estava fazendo parte do Festival de Massas, que é uma espécie de rodízio, então perguntei ao garçom se haveria problema de eu provar os pratos que ela receberia. Ele respondeu, bem-humorado: "pode ficar tranquilo, o garçom é cego e mudo". Mas o serviço não ficou livre de problemas. Houve uma confusão no pedido de nossa entrada, que não tinha sido anotado por um dos garçons. E a Chris recebeu o primeiro prato de seu Festival de Massas muito antes de minha lasanha chegar. A justificativa de que os pratos do festival saem mais rápidos não colou muito. Mas a simpatia do atendimento pesa mais do que estes pequenos problemas.

Ao final eu considerei que o custo-benefício da Cantina da Nena é bastante satisfatório. Dá para um casal se alimentar bem por menos de cem reais - sem pedir vinho, claro. Isso para mim significa que o lugar passa no "critério McDonald´s". Explica-se: para um casal comer no McDonald´s vai gastar no mínimo cinquenta reais, então quando um bom restaurante fica um pouco acima disso eu considero que tem bom custo-benefício. Portanto eu concluí que voltaria à cantina. Já a Chris teve muitos problemas com seu Festival de Massas, e acha que não valeria a pena um retorno. Ela se decepcionou com o fato de uma casa especializada em massas não tê-la satisfeito justamente neste quesito. Não posso culpá-la. Quando der vontade de comer massas, melhor chamá-la para um almoço de domingo com minha mãe.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 6,66 e 6,79
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Luís Jacinto, 260 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cantinadanena.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cantinadanena/?fref=ts




quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Confraria do Sabor (Campos do Jordão - SP) - 22/08/2015

"Se fosse para me indicar um restaurante em Campos do Jordão, sem ser o seu, qual você indicaria?". Foi isso que perguntei ao Jorge, proprietário do Libertango, quando saíamos de seu restaurante. Ele respondeu sem pestanejar: "Confraria do sabor". Eu já tinha uma boa referência do lugar por conta dos relatos de minha mãe, que já havia estado ali. De modo que fizemos nossa reserva para o sábado à noite, e lá chegamos às oito em ponto.

Chegando às oito em ponto

Do lado de fora o lugar se assemelha a uma residência, com paredes pintadas de amarelo, algumas árvores e um portão. Por dentro, não é que o lugar seja desagradável. Longe disso. Mas o ambiente não tem nenhum charme especial. Há uma lareira, ao lado da qual fomos instalados em uma mesinha redonda, e grandes espelhos nas paredes. Meia luz, mesas de diversos tamanhos, e uma boa distância entre elas, proporcionando privacidade. Tivemos um problema que atrapalhou um pouco nossa apreciação do ambiente: uma confraternização de alguma empresa, com direito a discurso em pé e tudo. Sorte que não tinha microfone. Mas as palmas rolaram, especialmente quando o chefe falou. Em seu discurso, me lembro bem, constavam as expressões "vai vim" e "nova novidade". Atrapalhou um pouco, mas não podemos dizer que é culpa do restaurante.

Chris lê o cardápio antes da galerinha da "nova novidade" chegar

Para a entrada escolhemos o souflet de alcachofra (R$ 34,10). Pedimos um para dividir, e gostei do fato de eles terem trazido em duas porções separadas. Até fiquei com medo de cobrarem duas no final, mas isto não aconteceu. Pena que o cuidado ao servir não se refletiu na qualidade do prato. Em primeiro lugar, elas não estavam padronizadas. A da Chris estava mais "cheinha" e tostadinha por cima, e a minha veio mais murcha e branquela. Ambas grudaram um pouco na forminha. A alcachofra, como bem disse a Chris, ficou passeando por Campos do Jordão, porque seu sabor não foi muito sentido. O souflet até estava saboroso, mas o gosto do queijo prevalecia. Quanto ao molho shoyu, que acompanhava o prato, não era diferente daqueles que compramos em qualquer mercado.

Muchiba

Há cerca de quinze opções de pratos principais, e ficamos com vontade de pedir quase todos eles. Isso é um excelente sinal. A descrição dos pratos era apetitosa e criativa, como por exemplo a costeleta suína com risoto de damasco e gorgonzola e molho de mel (R$ 74,60) ou o filé mignon grelhado com lâmina de foie gras, vinho Marsala, risoto de cogumelo Paris e cebolinha grelhada (R$ 97,10). Este último quase foi pedido pela Chris, que acabou fazendo sorteio para decidir qual prato pediria.

Prontinhos pro cime

Sorteio efetuado, Chris pediu a truta em vinho chardonnay, nhoque de mandioquinha na manteiga com folha de mostarda e molho de gengibre (R$ 72,80). Apresentação bem simples, com o nhoque meio amontoado ao lado do peixe. Ela deu a primeira garfada na truta e achou boa. Depois experimentou o nhoque. Acho que antes mesmo de fazer qualquer comentário ela me ofereceu um pouco deste último. Dizer que não tinha gosto seria mentira, porque tinha sim: era gosto de mandioquinha com farinha. Faltou uma boa dose de sal, e mais capricho no tempero de um modo geral. Comentamos depois que quem precisava brilhar ali era mesmo o nhoque, porque é difícil errar numa truta. Infelizmente o nhoque não brilhou e o peixe ficou sozinho pra carregar o prato. Um mano da quebrada diria "firmeza, truta!".

Faltou. Ah, faltou. Faltou mesmo.

Depois de muito pensar no que pedir, acabei escolhendo o ossobuco de cordeiro no seu molho, com risoto de açafrão, cebola caramelada e anchova (R$ 75,50). Você não leu errado, e eu não escrevi errado: anchova junto com cordeiro. Foi justamente esta ousadia que acabou me fazendo escolher este prato. Nunca tinha visto a combinação em cardápio nenhum. Por anchova entenda-se aliche, aquele peixe que normalmente é feito na salmoura, muito utilizado para pizzas. A apresentação veio bacana, com o ossobuco por sobre o risoto e o molho por baixo. Demorei para encontrar o pedacinho de anchova em cima do cordeiro. O garçom sugeriu que eu comesse os dois juntos para harmonizar. Experimentei, mas achei que não fez muito sentido. Chris achou o mesmo. Comentei com ela que se eles confiassem mesmo na combinação teriam colocado pelo menos dois filezinhos. O pedacinho que veio só deu pra duas garfadas, uma pra mim outra pra Chris. Mas o sabor geral estava bom, e a carne do cordeiro estava soltando do osso, e bastante macia.

Bem mais bonito e gostoso que o da Chris

Na hora de adoçar a boca, o problema de sempre. Quase nunca os restaurantes investem em opções criativas para esta parte do cardápio. Basta notar que aqui no blog é este momento que normalmente derruba a média dos restaurantes. Como aqui a média já não estava muito alta, este risco foi minimizado. No meio dos indefectíveis petit gateau, sorvete e frutas da estação, resolvemos pedir a tarte Tartin de maçã com sorvete de gengibre (R$ 18,80). Tarte Tartin é uma torta famosa na França, criada pelas irmãs Tartin. Dizem que nasceu de um erro, quando uma das irmãs colocou as maçãs no forno sem a massa, e acabou acrescentado-a depois que as maçãs já estavam caramelizadas, invertendo o ritual normal de um torta. Ou seja, é uma torta ao contrário, mas que tem as frutas e a massa em união umbilical. Não era o caso da nossa, que era uma cestinha de massa folhada com as maças caramelizadas dentro. Mas a massa estava leve e crocante, e as maçãs saborosas.

Cestinha de massa folhada com maça caramelizada e sorvete. Este é o nome.

Não há muito o que dizer sobre o serviço. Esteve correto o tempo todo, mas não encantou em momento algum. Um homem, que parecia ser o dono ou gerente, vinha a toda hora perguntar se estava tudo bem (tá, "toda hora" quer dizer umas três vezes), e eu não vejo muito sentido nisso. É o mesmo que cumprimentar alguém na rua, perguntar se está tudo bem e querer que a pessoa seja sincera: "Olha, pra falar a verdade não tá tudo bem não, minha vó tá com a unha encravada, meu gato tá soltando pelo e minha esposa tá de chico". O tempo de espera entre os pratos foi perfeito, e a prontidão para perceber que queríamos algo também foi de se elogiar.

Infelizmente tivemos problemas com a entrada, e o prato principal não agradou totalmente a nenhum dos dois. Foi uma pena, porque ficamos apaixonados pelas sugestões apresentadas no cardápio, conforme já explanei. Por conta dos defeitos encontrados, nós dois concordamos que não voltaríamos ao Confraria do Sabor. A relação custo-benefício também acabou destruída pelas inconsistências nos pratos, já que os preços não são dos mais baratos. Lembrando da reunião da empresa que tivemos que presenciar, eu diria: menos confraria e mais sabor, por favor!


AAVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 6
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 5 e 5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,41 e 6,33
Voltaria?: Não e não



Serviço:
Avenida Doutor Vitor Godinho, 191 - Vila Capivari - Campos do Jordão - SP
Telefone: (12) 3663-6550
Site: http://www.confrariadosabor.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/AmicciDalVino/info