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quarta-feira, 5 de junho de 2024

Osteria Limoncello (Vinhedo - SP) - 24/05/2024

 

    Fomos ao Osteria Limoncello em uma noite de sexta-feira razoavelmente fria para mim e muito fria para a Chris. No caminho até o restaurante, comentei "onde estão esses vinhedenses?". A cidade estava tranquila, com poucos carros nas ruas. Tínhamos passado o dia no Hopi Hari e estávamos bem cansados, por isso saímos um pouco mais tarde do que nosso normal. Ao chegarmos ao local, quase não conseguimos lugar, estava bem cheio. Então descobrimos: as pessoas já estavam instaladas em seus restaurantes/bares/lanchonetes. Nós é que estávamos meio atrasados.

"Opa, será que ainda dá pra gente rangar aí?"

    A Osteria fica em uma região bem tranquila, e a primeira coisa que gostamos foi da facilidade de parar o carro. Há um amplo estacionamento ao lado do restaurante, bem iluminado e sem burocracias como cancelas, portões, manobristas. É chegar e parar.

Chegar e parar, conforme foi escrito

    A fachada parece mais de uma residência, o que combina com o conceito de osteria, que originalmente eram restaurantes familiares na Itália (hoje o conceito mudou um pouco). Há uma mesinha do lado de fora, que seria nossa escolha óbvia, não fosse o razoável frio ("muito frio!", berra uma Chris imaginária no meu ouvido). Ao adentrar o salão principal o visitante se depara com um lindo fogão amarelo, com cara de vintage. As mesas disponíveis nesse primeiro salão estavam reservadas, por isso fomos para o segundo salão, mais nos fundos do restaurante. Ali a decoração não é tão caprichada, mas o lugar é assaz agradável. Como ele fica meio no alto, dá pra ver a cozinha em funcionamento lá embaixo, já que as paredes são todas de vidro. Outro ponto positivo é que a temperatura estava perfeita. 

"Muito frio!", berra a Chris de verdade

Lindo fogão amarelo com cara de vintage, não é?

"Assaz agradável", disse o escriba pernóstico

A cozinha está lá embaixo, nós aqui em cima

    As divisões do cardápio são bem italianas, como não poderia deixar de ser. Temos os antipasti e as entrati (pô, nem precisa traduzir, né?). Curiosamente, logo depois estão listados os dolci della tradizione, ou seja, as sobremesas, que normalmente ficam lá pro final do menu. Depois existem várias opções de pasta, risotti e gnocchi (massa, risoto e nhoque) e em seguida os piatti, que são considerados os pratos principais, que sempre trazem uma proteína animal (embora eu não entenda como é possível bater uma massa e depois ainda comer um outro prato). Finalizando ainda existem algumas "Sugestões da semana", que imagino serem pratos que não fazem parte do cardápio fixo.

    Como uma boa osteria, a carta de vinhos é bem fornida. Mas não estávamos com vontade de tomar vinho (tradução: estávamos pobres e não queríamos pagar os três dígitos que custavam cada vinho, no mínimo). Por sorte a casa oferecia uma boa gama de cervejas, algo não muito comum - geralmente é Heineken, Stella Artois e olhe lá. Eles tinham quase toda a linha da Cervejaria Leopoldina, com cervejas de diversos estilos. Tomamos uma Session IPA (R$ 28,00, 500ml) que combinou muito bem como nossos dois pratos - sugestão do sommelier esse mesmo aqui que vos escreve.

    De entrati escolhemos a bruschetta di carciofi (alcachofra, mostarda Dijon, rúcula no pão de azeite da casa, R$ 40). Apresentação farta, sem economizar no recheio. As folhas que vieram picadas não pareciam de rúcula, e sim de couve. De qualquer maneira, combinaram bem com o parmesão. O tempero estava mais neutro, o que não foi considerado um defeito, já que a alcachofra tem sabor delicado - e tinha alguns pedaços com um tostadinho agradável. O pão não estava tão crocante, mas também não estava molenga, o que facilitava na hora de cortar. Pena que nós dois encontramos alguns pedaços mais firmes da alcachofra, daqueles incomíveis mesmo, de ter que tirar da boca disfarçadamente pra não ficar feio.

De falta de recheio não dá pra reclamar

    Chris escolheu um prato da seção de massas, o ravioli de brie e camarões (massa fresca recheada de brie, servida na manteiga de sálvia, tâmara, castanha do Pará e camarões médios grelhados, R$ 103). Ela ficou com muita dúvida do que escolher, mas eu achei que esse prato era a cara dela, e dei uma forcinha para ela escolhê-lo. Mas eu não sabia que viria frio. Sim, essa foi a principal crítica da Chris: o prato estava frio. Mas a combinação de sabores era realmente interessante, com os pedacinhos de tâmara e a castanha entregando dulçor, contrastando com a picância e leve amargor do brie, com a manteiga de sálvia trazendo untuosidade. E camarão, né, que segunda a Chris "até gelado é bom". 

Se tivesse um microondas na mesa a Chris butava um minutinho

    Eu não resisti ao chamado da guancia veneziana (bochecha suína assada por seis horas em seu molho, servido com polenta bergamasca, R$ 99). Não entendi muito bem a apresentação, veio um prato com a guancia e molho e um outro prato com a polenta. Por que não servir empratado, meu Brasil? A guancia também veio morna-quase-fria, à semelhança do prato da Chris. O único elemento realmente quente era a polenta. Meu prato era o único que estava adjetivado no cardápio: "extremamento magra, macia e saborosa", dizia o texto, se referindo à guancia. De fato a carne estava "extremamente" desmanchando, de fato era "extremamente" magra, mas não sei se usaria o termo "extremamente" para me referir ao sabor, que era bom, sim, especialmente o molho, mas não extremamente bom. A polenta estava boa, com textura legal. Proporção errada, muita polenta pra pouco porco e pouco molho. 

Ajuda o pai, pô, emprata o trem

Fê fez o serviço, e ficou bonito, hein?

    Já que os pratos principais vieram frios, resolvemos pedir para a sobremesa o gelato de gorgonzola (sorvete de gorgonzola servido com figo Ramy da casa e nozes, R$ 42). A calda do figo Ramy se assemelha muito a melaço, e com o tempo pode se tornar um pouco enjoativa. Mas o fato é que eu pirei demais nos sabores inusitados da combinação do sorvete de gorgonzola, e a tradicional picância e salgado do queijo, com o figo e sua calda. As nozes tinham mais o propósito de trazer crocância às mordidas. Chris gostou menos que eu, e fui obrigado a comer boa parte da sobremesa sozinho. Tadinho de mim.

Quem vê mal sabe a loucura que é isso aí

    Quando fomos instalados nos fundos do restaurante já pensamos "xi, hoje vai ser daqueles dias em que o garçom dá umas sumidas". Mas que nada, não ficava nem um minuto sem aparecer alguém, e o serviço foi bem atencioso - até porque haviam outras mesas ocupadas junto com a gente. Só demoraram um pouco pra tirar nossos pratos da entrada. Não é daquele tipo de serviço muito "conversadeiro", mas os funcionários eram simpáticos na medida certa. Estranhamos um pouco a mesa sem toalha nem nada. Nossa mesa era de madeira e tava um pouquinho desgastada, quase uma mesa vintage - só que não.

    "O futuro importa, mas o presente deve ser saboreado". Essa bela frase está no site do Osteria Limoncello. Concordamos bastante com ela. E seria injusto dizer que não saboreamos boas coisas no restaurante. O que ocorreu, principalmente, foi frustração, porque nós adoramos o cardápio, e ficamos muito indecisos sobre o que pedir, justamente porque várias coisas nos chamaram a atenção. Mas algumas falhas em nossos pratos principais, somadas aos preços não muito convidativos, nos fizeram concluir que não voltaríamos ao Osteria Limoncello. O futuro importa e o presente deve ser saboreado na temperatura certa.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 7
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 8
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 6,25 e 6,87
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Av. Ana Lombardi Gasparini, 215 - Represa 1 - Vinhedo - São Paulo
Telefone:  (19) 4040-4514
Site: https://osterialimoncello.com/
Facebook: @osterialimoncello
Instagram: @osterialimoncello

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cantina da Nena (São José dos Campos - SP) - 31/05/2016

O que falar de um restaurante que é mais velho do que eu? A Cantina da Nena foi fundada em março de 1980, e eu fui fundado no mesmo ano, mas em setembro. No mercado dos restaurantes, chegar a esta marca é para pouquíssimos (no mercado dos homens não é tão raro). Não há joseense que não conheça a cantina, que é sinônimo de tradição em comida italiana na cidade - e tem uma filial em cada um dos três shoppings centers locais. Todos reconhecem de imediato sua logomarca, com a Gioconda em sua pose tradicional, mas com uma tacinha de vinho nas mãos. O termo cantina está ligado a estabelecimentos rústicos na Itália, que inicialmente serviam militares e marinheiros. Claro que hoje o uso da palavra mudou, e qualquer escola, por exemplo, tem sua cantina. De qualquer forma, em geral quando se aplica a um restaurante ele se refere a um lugar de comida simples e farta. Não deixa de ser a cara da Cantina da Nena.



Em uma terça-feira, chegamos por volta das 20h30, e o restaurante estava com duas mesas ocupadas. O salão é grande, e as mesas são bem próximas umas às outras. As toalhas vermelhas e as paredes brancas e verdes indicam bem que estamos em terreno italiano. Nas paredes há alguns quadros de arte abstrata, cujas molduras também são vermelhas, formando uma bonita composição. Como já dito, cantinas não são restaurantes sofisticados, de modo que as cadeiras e mesas são simples. O ambiente é climatizado, e as janelas tem vista para a Rua Luís Jacinto, uma das mais animadas de São José. 

Estamos chegando para mangiare

Antes mesmo de olharmos as entradas pedimos uma cerveja Budweiser (600ml, R$ 9,90). Vale dizer que o cardápio estava desatualizado nesse quesito, e o que constava lá não era o que estava disponível na cozinha. Mas o simpático garçom nos falou as opções, e trouxe a Bud bem geladinha - ou melhor, "as" Buds, já que acabamos tomando duas.

Para iniciarmos as conversas bem italianamente, e acompanhar nossa cervejinha, pedimos as brusquetas de muçarela de búfala (seis unidades, R$ 25,50). Seis unidades é unidade demais, e quando elas chegaram já sabíamos que não iríamos comer tudo, sob o risco de não aguentarmos chegar aos pratos principais (mas pedimos para embrulhar as duas que sobraram, que bobos não somos). A Chris já comentou de cara que podiam ter colocado umas folhinhas de manjericão por cima, para dar uma refrescada e uma cor. Concordei com ela, e ambos também concordamos que a torrada não estava crocante. Mas o sabor estava razoável, com o molho de tomate dando uma adocicada no gosto forte da muçarela de búfala.

Até hoje acho estanho escrever "muçarela"

Deixamos a cerveja de lado, e para acompanhar nossos pratos principais pedimos um vinho chileno Ventisquero Reserva Carménère 2013 (375ml, R$ 38). O preço está bastante justo, já que este vinho custa quase isso em adegas e lojas especializadas.

Para escolher o prato principal as opções são infinitas. Hipérbole à parte, vejamos: são seis tipos de sopa, quatro sabores de risoto, sete tipos de lasanha, três de rondeli e quatro de caneloni, além de várias opções com carne, frango e peixe. Mas isso não é nada perto da quantidade de combinações que podem ser feitas com as massas artesanais da casa. São dezesseis tipos de massa (!!!) e mais treze sabores de molho (!!) que você pode combinar do jeito que quiser. Uma calculadora simples resolve: só aí são 208 opções de prato principal. É ou não é quase infinito? Tá, não é. Mas vale a hipérbole.

De segunda à quarta, no jantar, a Nena tem a opção do Festival de Massas (R$ 43), que é uma espécie de rodízio, onde o cliente tem um cardápio pré-selecionado, da qual ele pode comer tudo, em pequenas porções. Os pratos só vem à mesa quando solicitados. Neste caso são seis tipos de massa e seis sabores de molho, que podem ser combinados à vontade, além de quatro opções de lasanha. Chris achou que era uma boa maneira de conhecer mais pratos da casa de uma vez, e fez esta opção.

Ela começou com um básico nhoque à bolonhesa. Quando chegou, eu achei que tinha muito nhoque para pouco molho. Chris achou que estava tudo meio sem graça, faltou mais tempero. Sentiu falta de novo do manjericão, que ela adora. E disse que a massa de nhoque feita pela minha mãe é melhor (e ela nem pode ser acusada de puxa-saco, porque minha mãe não estava presente, e eu juro que ela não me pediu para escrever isso).

Tá com cara de xoxinho, não tá?

Em seguida ela pediu o talharim à putanesca, que é um molho complicado por ter muitos ingredientes fortes (alcaparras, azeitonas, alho, aliche). Apesar disso, Chris também sentiu o mesmo problema do bolonhesa, e achou um pouco sem graça, embora tenha gostado mais do que o anterior (até porque este tinha manjericão!).

Seria ridículo ficar fazendo piadinhas com o nome do prato

Para finalizar a comilança a Chris pediu o ravióli de massa verde (recheado com ricota) e molho à moda da cantina (creme de leite, tomate e gorgonzola). Os raviólis vieram afogados no molho, quase como uma sopa. O problema é que o molho era um pouco enjoativo, o que estragou o prato. Eu também provei, e ambos ficamos com saudades do molho de gorgonzola da minha mãe (olha ela aí de novo). Mas a Chris comeu o ravióli em separado e achou bom.

Vai uma sopinha?

Eu resolvi não optar pelo festival de massas, e pedi a lasanha de berinjela, abobrinha e ricota (R$ 32). Por cima das camadas de berinjela e abobrinha há uma camada de massa artesanal da casa. Sabores muito bons, com a colherada bem suculenta e molhada, enchendo a boca. A escolha da ricota é adequada, por ser um queijo mais fraco, que não mascara o sabor dos legumes. Não é nada que mude o mundo, mas é uma excelente opção para vegetarianos ou simplesmente amantes de berinjela, como eu. A porção é bem servida, adequada para uma pessoa.

As berinjelas e seu amante

As opções de sobremesa são bem básicas, então resolvemos escolher a mais básica delas: creme de papaya com cassis (R$ 14,50). Esta é uma sobremesa tipicamente brasileira, e é praticamente onipresente nos cardápios dos restaurantes do país. Apesar disso, nem eu nem a Chris nunca tínhamos provado a danada. Achamos que era uma boa oportunidade. O creme vem servido num pote de sorvete, e o garçom trouxe a garrafa de licor de cassis à mesa, e colocou um pouquinho do líquido sobre o creme. Ambos gostamos, embora não tenhamos medida de comparação. Chris gostou mais do que eu, e até achou que o garçom poderia ter colocado um pouquinho mais de licor.

Chris e o papaya com cassis (sou muito bom de rima)

O serviço é conduzido por dois garçons (e ambos aparecem na foto aí acima), que parecem ser bem antigos de casa. Atendem com naturalidade e segurança, e não parecem engessados, tem liberdade de atuação. Por exemplo, eu e Chris sempre experimentamos os pratos um do outro, mas nesta ocasião ela estava fazendo parte do Festival de Massas, que é uma espécie de rodízio, então perguntei ao garçom se haveria problema de eu provar os pratos que ela receberia. Ele respondeu, bem-humorado: "pode ficar tranquilo, o garçom é cego e mudo". Mas o serviço não ficou livre de problemas. Houve uma confusão no pedido de nossa entrada, que não tinha sido anotado por um dos garçons. E a Chris recebeu o primeiro prato de seu Festival de Massas muito antes de minha lasanha chegar. A justificativa de que os pratos do festival saem mais rápidos não colou muito. Mas a simpatia do atendimento pesa mais do que estes pequenos problemas.

Ao final eu considerei que o custo-benefício da Cantina da Nena é bastante satisfatório. Dá para um casal se alimentar bem por menos de cem reais - sem pedir vinho, claro. Isso para mim significa que o lugar passa no "critério McDonald´s". Explica-se: para um casal comer no McDonald´s vai gastar no mínimo cinquenta reais, então quando um bom restaurante fica um pouco acima disso eu considero que tem bom custo-benefício. Portanto eu concluí que voltaria à cantina. Já a Chris teve muitos problemas com seu Festival de Massas, e acha que não valeria a pena um retorno. Ela se decepcionou com o fato de uma casa especializada em massas não tê-la satisfeito justamente neste quesito. Não posso culpá-la. Quando der vontade de comer massas, melhor chamá-la para um almoço de domingo com minha mãe.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 6,66 e 6,79
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Luís Jacinto, 260 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cantinadanena.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cantinadanena/?fref=ts




segunda-feira, 4 de maio de 2015

Fasano Al Mare (Rio de Janeiro - RJ) - 05/03/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de um bom tempo da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

Não chegava a ser um sonho, mas era um desejo: visitar um restaurante do grupo Fasano. E em que momento da vida dá pra fazer extravagâncias financeiras? Nas férias, claro. Então fiz a reserva no Fasano Al Mare, em Ipanema, com um bom tempo de antecedência, não sem antes convencer a Chris de que seria legal gastar uma fortuna num restaurante. Não consegui convencer, mas fiz a reserva assim mesmo, prometendo que pagaria a maior parte da conta, deixando para ela os outros quinhentos reais. 

Já estávamos em nosso 12º dia de viagem, tínhamos passado por Florianópolis e Petrópolis, e nos vestimos com o que de melhor havia em nossas já judiadas malas de roupas. Fomos recebidos pela hostess, que com aquele simpatia naturalíssima nos perguntou se tínhamos reserva. Em seguida nos direcionou ao lado de fora do restaurante. Calma, ela não nos enxotou, apenas nos levou a uma gostosa varanda. Antes disso passamos pelo chique, e cheio, salão principal, cujo design é do famoso Philippe Starck, onde as pessoas vão para ver e serem vistas. Não era nosso caso, o que foi sensivelmente percebido pela nossa simpática anfitriã. Ao chegarmos à varanda, Chris observou que não havia cobertura, apenas toldos sobre as mesas, e perguntou se poderia fumar ali. A moça respondeu que infelizmente seria impossível, por conta de "uma nova lei que saiu". "Mas tem um cinzeiro com cigarros naquela mesa", disse a Chris. Tinha mesmo. E aí, minha filha? "Só um minutinho que eu vou verificar". Alguns minutos depois veio a moça até nós, dizendo que havia se enganado, e que ali fora era permitido fumar, sim senhora. Então tá.

Nos instalamos em um confortável sofá, quase uma cama, cheio de almofadas, um grande espelho atrás de nós, alguns vasos com plantas nos separando das outras mesas, um pequeno toldo sob nossas cabeças, e o maravilhoso clima carioca. À nossa frente as paredes de vidro nos permitiam observar a fauna do salão principal. Inclusive assistimos a uma briga de casal (embora sem o áudio) que foi bem, digamos, interessante. Parecia que estávamos a sós, podíamos conversar tranquilamente, já que as mesas do lado de fora são bem espaçadas umas das outras.

O primeiro ato do garçom, depois do "boa noite", foi perguntar se queríamos o couvert. Me aliviei, porque sei que há restaurantes que simplesmente colocam as coisas na mesa, você come feliz, e depois paga por algo que não pediu. Gentilmente recusamos. Em seguida ele nos entregou um cardápio. De comida? De vinho? Não, de drinks. Acho que esse é o procedimento dos abastados: um cocktail pra aquecer a garganta enquanto escolhem seus pratos. Ficamos ali olhando praquilo, até que falei pro garçom que não queríamos drinks, pra ele trazer logo a porra do cardápio com a chepa. Mais ou menos nesses termos. Ou não.

"Vão rindo até eu trazer a conta"

Enquanto olhávamos o menu, nos foi oferecida água. Doze reais a unidade. Mandamos descer, estávamos na chuva, bora beber água. Nos trouxeram a água, e pouco depois duas cumbucas, uma pra cada um. Era um creme de couve-flor com alcaparra frita, servido como cortesia. Uma cumbuquinha "pitica" (como diz minha tia Lúcia) que só ela. E com UMA alcaparra frita. Nem sabia que a palavra "alcaparra" podia ser escrita no singular, já que elas sempre andam em bandos. O creme em si era meio sem graça, mas a alcaparra frita é uma idéia genial, que nunca tínhamos experimentado. Ponto para ela, e também para a gentileza de nos servir sopinha de graça.

Solitária alcaparra, sem "s" no fim

Queríamos pagar por uma entrada, que não somos casal de ficar comendo de graça. Então pedimos o steak tartare clássico (R$ 88,00), que veio acompanhado de torradinhas bem fininhas e salada de folhas verdes. Dividimos o prato entre nós dois, não por economia, mas pra não ficar com a barriga muito cheia, sabe? É deselegante sair de um restaurante todo estufado. O prato - que pra quem não sabe é carne bovina crua, picada e temperada - estava muito gostoso, com tempero equilibrado, com bastante sabor da carne, e uma pimentinha que ficava na boca por um tempinho depois de ingerida.

O tartare e, ao fundo, a fauna, com todo o respeito

Para os pratos principais, o restaurante tem duas características principais: a cozinha italiana e os frutos do mar, explícitos no nome do estabelecimento. Se bem me lembro, não há nenhum prato que tenha menos de três dígitos no preço. É assim que a banda toca, e já sabíamos que não teria como fugir. Na hora do prato principal não dá pra dividir, e a desculpa de não se empanturrar não iria colar.

Chris escolheu o namorado ao forno com azeitona, batata e cenouras (R$ 110,00). Sinceramente, não sei se foram os preços que a fizeram querer comer namorado ao forno, ou se ela estava brava comigo por alguma outra coisa. Enfim, deixando de lado o momento Zorra Total e voltando ao prato, era um filé de peixe bem alto, encimando os outros ingredientes. As batatinhas assadas, cortadas finamente, estavam ótimas, e Chris aprovou o tempero do peixe. E olha que não é fácil acertar o tempero pra esta mulher.

O namorado ao forno. Como vêem, escapei.

Minha escolha foram os raviólis recheados com carne de caranguejo, com creme de aspargos e concassê de tomate (R$ 128,00). Os raviólis vieram em cinco, uma boa turma, suficiente para formar um time de futebol de salão. Massa muito delicada, salientando bastante o gosto do ingrediente principal, que era a carne de caranguejo. No recheio do ravióli também percebi a presença de camarões. Os tomates deram um contraponto adocicado, e o creme de aspargos chegou e foi embora sem dizer nada. Não foi digno de gemer, mas estava bem gostoso e, claro, perfeitamente cozido.

Quatro na linha e um no gol

As sobremesas tem preço único de 46 reais. Na maioria das vezes eu e Chris chegamos nesta etapa já bastante saciados, e pedimos apenas uma sobremesa para dividir. Não foi o caso neste dia. Culpa da alcaparra no singular, do time de futsal dos raviólis, entre outras coisas. Então decidimos pedir uma sobremesa pra cada, até porque nossos pés já estavam enfiados num jaqueiro colossal, não seriam 46 reais que iriam nos quebrar.

Chris, que gosta tanto de café, nunca havia comido um tiramisù, e achou que seria um bom momento para experimentar. Achou um doce bastante delicado, o que significa dizer um doce não muito doce. Não encontrou muito sabor de café, e considerou isto um defeito. Ficou de provar outro em breve, pra ter base de comparação. Ah, a apresentação também não era lá grandes coisas.

Apesar das críticas, Chris não disse "TIRA-ME ISSO da frente". Quáquá.

Para escolher minha sobremesa contei com a ajuda de um dos garçons, que inclusive saiu um pouquinho do protocolo do funcionário formal de restaurante chique para se empolgar ao indicar o tortini de limão siciliano com chocolate branco e amêndoas e calda de frutas vermelhas. Além de ser delicioso, o doce tem um componente visual sensacional: o tal tortini de limão vem "nadando" no molho de frutas vermelhas, e quando é atingido pela colher seu "sangue" de chocolate branco escorre, se juntando ao caldo, formando uma mistura deliciosa.

Bonito e intacto

Lindo e destruído

Durante toda a nossa estadia os copos foram enchidos com água sempre que se esvaziavam. Meio assustador. Lembra que a água custava doze reais? Pois é. Mas para nosso alívio é um sistema de refil, estilo Burger King, e na conta final veio cobrada apenas uma água. Se soubéssemos teríamos tomado um caminhão pipa. Claro que não poderíamos acompanhar essa chiqueza toda só com água, então também pedimos um vinho, mais precisamente um Chardonnay Les Terrasses 2012 (R$ 135,00), um dos mais baratos da carta. Vinho bem ácido, combinou bem com nossos pratos principais. Como sempre faço nesses casos, antes de escrever o texto fui procurar na internet o valor do vinho que tomamos. Descobri que ele só é vendido para restaurantes, e pela quantia de...tcham tcham tcham tcham...35 reais! Sim, imagino a conversa dos donos: "Deixa ver, custou 35 mangos, ah, vamos botar mais cem conto em cima, e tá feito". Pra que ficar complicando, né gente? A título de curiosidade, o vinho mais caro da casa custava algo em torno de 18 mil reais. Ou o meu carro.

O serviço foi bastante atencioso, mas tivemos o problema com a hostess mal-informada logo no começo, e alguma demora para servir o vinho em alguns momentos da refeição. Em uma das vezes nossas taças ficaram vazias, e passaram uns três garçons por nós sem se darem conta do fato. Não é o que se espera em um lugar desses. Para evitar que você pensem coisas como "porque esses folgados não se serviram?", acrescento que o balde com o vinho não ficava ao alcance de nossas mãos. No mais, aquela formalidade típica de restaurantes refinados, com alguns momentos mais "descontraídos".  

Claro que lá no primeiro parágrafo, quando eu disse que pagaria a maior parte da conta e deixaria quinhentos reais pra Chris, eu estava exagerando. A conta chegou, e ficou em R$ 485,00. Fiquei muito feliz. Eu fui fazendo as contas durante a refeição, e tinha passado dos seiscentos. Como alegria de pobre dura pouco, descobri que o vinho não estava constando no valor total. Não sei da parte da Chris, mas eu confesso que tive uma dúvida ética, que durou alguns segundos. Mas acabamos avisando ao maitre. Não temos vocação pra Robin Hood.

Não preciso dizer o valor final. Mas vale acrescentar que a taxa de serviço é de 13%, ao invés dos tradicionais 10%. Deve ser por conta do tipo de perfume que os garçons usam. Obviamente que o custo-benefício de um restaurante desses sempre vai sair prejudicado, por mais que tenhamos dado notas boas ao restante dos quesitos. E este é o motivo principal que fez a Chris dizer que não voltaria ao Fasano Al Mare, mesmo tendo gostado de tudo que comeu. Eu, metido que sou, voltaria, porque fiquei com vontade de experimentar outras coisas do cardápio.

Tivemos uma belíssima refeição, e uma experiência interessantíssima, especialmente por termos podido observar um mundo que certamente não é o nosso. E, sinceramente, nem temos o desejo de que seja. Uma das graças de viajar é essa: contemplar realidades diferentes da nossa. Como curiosos que somos, temos prazer em "saber como é". Se este texto te fez "saber como é" sem precisar ir até lá, agradeça: acabamos de te fazer economizar R$ 638,45.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7,5
Entrada(2): 7,5 e 8
Prato principal(3): 8 e 8
Sobremesa(2): 8 e 9
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 7,83 e 8,08 
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Avenida Vieira Souto, 80 - Ipanema - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3202-4030
Site: http://www.fasano.com.br/gastronomia/restaurante/22
Facebook: https://www.facebook.com/fasanoalmare?fref=ts