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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Nova Brescia (São José dos Campos - SP) - 01/08/2017


Nem eu nem Chris nos lembravámos da última vez em que tínhamos ido a um rodízio de carnes. Claro que aqui não estamos contando os churrascos com amigos que, bem ou mal, funcionam como rodízios para nós, que não manobramos as carnes na churrasqueira. Mas aquela coisa de se sentar em um restaurante e ficar vendo os garçons passando com diversos cortes de carne era coisa que não fazíamos há muitos anos. Ao que nos consta, a Nova Brescia é a única churrascaria que ainda trabalha com esse sistema em São José dos Campos. Matutando agora, percebo que é notória a diminuição desse tipo de estabelecimento pelas estradas, onde eram muito comuns, ao menos aqui no Sudeste. Será uma tendência? Não sabemos, e não é objetivo deste texto elucidar tal problemática carnívora.

Chris oprimida pelo boizão intimidador

Quem passa pela Via Dutra pode avistar a enorme cara de boi estilizada que é símbolo da rede, emoldurada por um prédio em tons de amarelo, dentro do estacionamento do Vale Sul Shopping. Na parte de dentro o ambiente é o que se espera de uma churrascaria: salão amplo, muitíssimo bem iluminado, com mesas que podem facilmente se juntar para receber famílias inteiras, e muitos garçons passando pra lá e pra cá.  

Tudo claro e iluminado, menos esse cabeludo roqueiro

Assim que nos sentamos, já fomos informados do funcionamento da casa: rodízio a R$ 92,90 por pessoa, com direito às guarnições (arroz, polenta frita, farofa, batata frita, banana empanada e pastéis de carne) e a se servir à vontade no bufê. Os itens que compõem o bufê vão de frugais folhas verdes e queijos até salada de polvo, jamón ibérico, sushis, sashimis e diversos molhos. É de encher os olhos, e dá uma vontade doida de encher o prato. Mas a lombriga deve ser domada, já que o objetivo principal é comer o rodízio, né?

Nada de muito bom nem de muito ruim para falar sobre o bufê. Como já dito, não enchemos muito os pratos, mas gostamos de quase tudo que nele colocamos. Eu gostei da salada de polvo, Chris se deu bem com os sushis e com o peixe cru picado com pimentão e cebola roxa. Não gostei muito do tempero do mexilhão, que é servido na própria casca. Mas de resto foi tudo bem razoável. Na hora das notas ali abaixo, o bufê foi considerado como entrada.

Chris se serve não sei do quê

Para o Fê, também não sei o quê

O mesmo dito para o bufê vale para as guarnições, ou seja, nada de mais nem de menos. Mas a Chris comeu com muito gosto toda a polenta frita, e ambos gostamos da farofa.

A Chris tá com essa cara porque as polentas ainda não haviam chegado

Em relação ao rodízio, são vinte opções diferentes a desfilar pelos olhos dos carnívoros presentes. São elas: bolinho de bacalhau, pata de caranguejo, casquinha de siri, salmão, anchova negra, queijo coalho, pão de alho, frango, coração de galinha, linguiça, linguiça apimentada, paleta de cordeiro, leitão pururuca, costela, cupim, fraldinha, picanha, bife ancho, bife chorizo e costela premium de angus. Experimentamos doze desses itens, e há pontos positivos e negativos a serem salientados.

Pontos positivos: anchova negra muito bem temperada, no ponto certo, com dois molhos à disposição, tártaro e maracujá (entra como ponto negativo o fato de o molho tártaro ser muito líquido); picanha boa, bem temperada - mas também não tem muito como estragar uma boa picanha; cupim macio, embora não chegasse a desmanchar na boca; coração bem feitinho, sem problemas; pão de alho ok;  e o grande destaque para nós dois, a costela premium de angus, deliciosa e muito bem preparada. Pena que chegou quando já estávamos bem satisfeitos (ou insatisfeitos, dependendo do ponto de vista).

Pontos negativos: fraldinha dura; costela (aquela que não era premium de angus), muito dura, incomível; leitão pururuca com uma pururuca que não estava crocante, estava intransponível, e o que dava para ser comido estava sem sal; patinha de caranguejo bem da sem graça, poderia ter vindo com algum molho; os bifes ancho e chorizo vieram bem passados, o que é um pecado para essas carnes, que perdem toda a suculência. Então a Chris pediu para vir um pedaço mal passado. Foi atendida, veio no ponto certo, mas sem sal nenhum. 

Não sei se esse é o ancho ou o chorizo, mas não está correto, viu?

Costela (dura), leitão pururuca (intransponível) e cupim (macio)

O carrinho com as sobremesas veio até nós com algumas opções de tortas. Fomos informados de que também era possível pedir, da cozinha, os onipresentes petit gateau e papaya com cassis. Ficamos com as tortinhas mesmo, uma de limão e uma de ferrero rocher. Gostamos das massas, leves e fáceis de partir. A torta de limão estava boa, a de ferrero rocher estava deveras enjoativa. O tolinho aqui chegou a pensar que a sobremesa fazia parte do rodízio, mas qual o quê, custaram R$ 11 cada uma.

Apetitar, até apetita, mas depois não se sustenta

Chris parte as tortas fraternalmente

O serviço foi um tanto irregular. No começo os garçons quase que se enfileiravam diante de nossa mesa com as carnes, e tínhamos que passar mais tempo negando/aceitando do que efetivamente comendo/conversando. Depois de um tempo a lógica se inverteu e os espetos deram uma sumida. Mas os garçons estiveram sempre atentos com os nossos copos de cerveja, que eram prontamente preenchidos quando se esgotavam. Na saída notamos, pregado na porta, um cardápio com as opções a la carte, em que o cliente pode escolher um tipo de carne e comer com as guarnições. Essa opção, claro, é bem mais barata. Embora nossa intenção fosse mesmo participar do rodízio, óbvio que essa outra opção deveria nos ter sido informada, já que nossa intenção não estava em néon em nossas testas.

No fim das contas eu e Chris concordamos que não voltaríamos à churrascaria Nova Brescia. Apesar de alguns acertos, o preço alto não parece condizente com o que a casa apresenta. Lembrando do paradoxo de Tostines, ficamos sem saber se as churrascarias estão sumindo porque caíram de qualidade, ou se caíram de qualidade porque estão sumindo.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 7 e 6,5
Prato principal(3): 5 e 5,5
Sobremesa(2): 5 e 5,5
Custo-benefício(1): 4 e 5
Média: 5,58 e 6,04
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Shopping Vale Sul - Av. Andrômeda, 227 - Jardim Satélite - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3931-1277
Facebook: https://www.facebook.com/Churrascaria-Nova-Brescia-Vale-Sul-Shopping-136635969819808/?ref=br_rs

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cassiano (São José dos Campos - SP) - 28/06/2016


Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas


Este é um trecho do poema "Ficaram-me as penas", do poeta Cassiano Ricardo, nascido em São José dos Campos em 1894. Depois do volante Casemiro, que joga no Real Madrid, talvez ele seja a mais importante personalidade nascida na cidade (preciso avisar que é ironia, ou tá compreendido?). Em sua homenagem foi batizado o restaurante Cassiano, que fica no Hotel Golden Tulip, que por sua vez, como uma matriosca, fica dentro do Shopping Colinas. A homenagem está no nome e no slogan do restaurante: "um poema da culinária portuguesa". Todo o cardápio e o serviço do restaurante foram elaborados por Manoel Pires, conhecido como Manoelzinho, antigo e lendário maitre do restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro. Para conferir tanta poesia eu e Chris visitamos o lugar em uma terça feira bem fria.

O Cassiano que é dentro do Golde Tulip que é dentro do Colinas Shopping

Adentramos o hotel pensando que teríamos que pegar um elevador para nos dirigirmos ao restaurante. Mas olhando para cima já avistamos as mesinhas, e descobrimos que uma pequena escada lateral leva ao Cassiano, no mezanino do próprio salão de entrada. Ambiente amplo e sóbrio, mas com boa iluminação, e nas mesas pequenos candelabros com luzes tremulantes, imitando velas. Cadeiras estofadas e confortáveis, com boa distância entre as mesas. Algumas delas, encostadas na parede, contam com sofás. Mas nós escolhemos uma bem próxima à beira do mezanino, que é pra ter vista do hotel, seu menino!

A lâmpada tremula como se vela fosse

O cardápio acompanha a veia artística do lugar, e parece mais um livro de poesia concreta, uma das vertentes que Cassiano Ricardo abraçou ao longo da carreira. Nada é apresentado de maneira convencional, e os nomes dos pratos acabam formando figuras que se relacionam com aquela seção do menu, como o formato de um peixe na página de frutos do mar. Mas tudo na vida tem um porém, e neste caso o problema é que a descrição dos pratos não vem.

Os peixes que formam um peixe

O artístico cardápio começa com as tapas, que são os aperitivos, antepastos, entradas, enfim, aquelas comidinhas para abrir o apetite. O termo é mais comumente relacionado à culinária espanhola, mas é também usado em Portugal. Queríamos muito o paio caseiro assado na bagaceira (R$ 23), mas estava em falta. Entre as outras opções disponíveis, muitas apresentavam ingredientes que um de nós dois não é muito fã (caso da lula para a Chris e do bacalhau para mim), de modo que acabamos pedindo o trio de rissoles de camarão (R$ 14). Achamos bem feito, com recheio bem cremoso, um camarão inteiro em cada, mas né, no fim das contas são apenas rissoles. Por mais que sejam bons, e até vistosos, nunca serão maravilhosos.

Um trio de três para uma dupla de dois

Para acompanhar nossas tapas, pedimos um cerveja Theresópolis. Pedimos, mas ela não veio, porque estava em falta. Acabamos tomando, durante toda a noite, quatro long necks da Cerpa (R$ 9 cada), cervejaria do Pará (aliás, Cerpa é exatamente a junção das duas sílabas iniciais de "Cervejaria Paraense") pela qual criamos grande empatia em nossa duas viagens a Belém. Vieram acompanhadas de um balde de gelo, então nem é preciso dizer que estiveram sempre geladíssimas. Há uma carta de vinhos que é disponibilizada em um tablet, elaborada pelo Boni, aquele mesmo da Globo. Mas, em minha rápida olhadela, não me lembro de ver nenhum rótulo por menos de cem reais, então só quem pode comprar são Boni e seus iguais.

Embora o cardápio tenha uma página dedicada a "Ovos e Massas" e outra chamada "Nossas Tigelas", podemos dizer que os pratos principais estão divididos em "Especialidades Cassiano do Mar" e "Especialidades Cassiano da Terra". Os pratos são individuais, e nenhum custa menos de setenta reais. A parte dedicada ao mar traz quatorze opções, enquanto a terra traz quatro. Aí já fica explícita a verdadeira vocação do lugar, vocação esta à qual não podíamos nos esquivar.

Das quatorze opções de pratos "do mar", cinco são dedicadas ao bacalhau, astro inconteste da culinária portuguesa. Eu não sou fã do pescado, e Chris, que gosta, não estava afim dele naquela noite. Ela acabou escolhendo o brochete de camarão à moda de Moçambique (R$ 98). Brochete é um termo derivado do francês, e seria algo parecido com o nosso espetinho de churrasco, que muitas vezes traz a carne intercalada a legumes. Neste caso o prato trouxe quatro camarões VG (descobri agora que VG quer dizer "verdadeiramente grande",  nunca imaginei que era isso, gente) intercalados com pedaços de pimentão, cebola e tomate, mas sem trazer o espetinho propriamente dito, que, acho, não ficaria bem em um restaurante chique. Os acompanhamentos são arroz de amêndoas e couve crocante. Embora a Chris adore camarões, ela pediu o prato por conta do arroz de amêndoas, e este, infelizmente, veio sem tempero. Já os camarões estavam bem temperados e no ponto certo. Mas o que a Chris realmente adorou foi a couve crocante, que estava saborosíssima, além de brilhante.

Desculpe a nossa falha: problemas técnicos nos deixaram sem a foto do prato da Chris, então improvisamos com um zoom em uma foto mais de longe.

Eu também fiquei nas especialidades marítimas, e escolhi os - assim prosaicamente denominados no cardápio - frutos do mar grelhados (R$ 98). Acompanhando a simplicidade da denominação, o prato se consiste em vieira, lula, polvo, lagostim, camarão, salmão e abacaxi (que não é do mar!) grelhados, acompanhados de uma batata e arroz de brócolis. Sem muita invencionice, mas com cada ingrediente muito bem cozido e muito bem temperado. Exceto - para não deixar a Chris com inveja - o arroz, que também estava sem tempero. Mas tudo o mais vira poeira depois de saborear aquela vieira.

Um deleite para os olhos e papilas gustativas, ó pá!

Agora é só comer, ora pois

Junto com nossos pratos foi servido um delicioso molho moçambicano, à base de manteiga, ervas e pimenta, que deu uma levantada no sabor dos pratos. Embora ele por si só não resolva a falta de tempero dos nossos arrozes, é certo que ajudou a amenizar um pouco este defeito. Achei que o molho era acompanhamento do prato da Chris, que tem origem em Moçambique (o prato, e não a Chris!), mas o garçom nos disse que ele é servido junto com todos os pratos do mar. O molho é de fato uma delícia, e a pimentinha deixa na garganta como que uma carícia.

O cardápio também economiza nas explicações em relação a sobremesas. Lista apenas doces conventuais, frutas da época e sorvetes. Os dois últimos não precisam de muita explicação, por isso pedimos a ajuda do garçom para entender melhor os doces conventuais, que são os doces típicos de Portugal. Há quatro opções, e todas custam R$ 24. Chris pediu o estrogonofe de nozes e eu pedi o toucinho do céu. Explicando: o estrogonofe de nozes é um doce de leite misturado a nozes trituradas e o toucinho do céu é uma espécie de torta de amêndoas. O primeiro veio com o doce de leite bem delicado, com uma textura bem leve, mas que acabou ficando um pouco enjoativo depois de algumas colheradas. Já o segundo estava bem gostoso e equilibrado, mas um pouco seco. Resultado: misturamos os dois e ficou muito bom. Na hora da avaliação geral cada um fez uma média dos dois pratos para chegar à nota final.

Estrogonofe de nozes, é possível?

O Fê, os Beatles e o toucinho do céu

Escrevi mais acima que o cardápio não traz a descrição dos pratos. Ambos consideramos isto um defeito no serviço. Por mais que esteticamente o cardápio seja belíssimo, é mais importante que ele seja prático. Tivemos que perguntar tudo para o garçom, mas como eram muitos pratos, assim que ele ia embora a gente já tinha esquecido metade do que ele havia dito. Aí ficávamos ali nos perguntando "o que era isso mesmo?". E toca chamar de novo o Batista. Feita esta ressalva, vale dizer que o referido e nominado garçom nos atendeu muito bem, com cortesia e demonstrando extenso conhecimento do menu, com detalhes de ingredientes e até técnicas de preparo.  O tempo de espera dos pratos foi compatível com a dificuldade aparente em prepará-los. No começo da refeição um dos garçons nos colocou à mesa quatro garrafas d´água, que até pensamos serem cortesia, mas vieram cobradas ao final - vale dizer que ele não nos serviu antes de perguntar se aceitávamos. Outro pequeno problema que encontramos foi a falta de alguns itens (cerveja Therezópolis e paio caseiro), citados no decorrer do texto. Ao final, um mimo que nos surpreendeu: uma réplica do cardápio, com um autógrafo em fac-símile do citado Manoelzinho, ex-maitre do restaurante Antiquarius no Rio de Janeiro. Já ganhamos brindes antes, mas cardápio? Foi o primeiro.

Chris disse, antes mesmo de os pratos chegarem, que se o dela estivesse bom ela responderia sim à pergunta sobre se voltaria ou não ao restaurante. Isto porque ela ficou com vontade de comer outras opções do cardápio. O mesmo aconteceu comigo. E ambos acabamos concordando que valeria a pena um retorno ao Cassiano. Os preços não são baixos, e para piorar ambos escolhemos os pratos mais caros que haviam. Mas há um retorno evidente nos ingredientes de primeira, no serviço competente, e até na beleza do cardápio - malgrado sua falta de praticidade.

Para terminar, um belo poema escrito por Cassiano Ricardo:

A outra vida

Não espero outra vida, depois desta.
Se esta é má
Por que não bastará aos deuses, já,
A pena que sofri?
Se é boa a vida, deixará de o ser,
Repetida.


Ao que nós completamos: em relação à vida talvez não valha mesmo a pena repetir, mas quanto ao restaurante Cassiano, por que não voltar, quem sabe no próximo ano?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7,5 e 7
Serviço(2): 7,5 e 8,5
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 7,04 e 7,58
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Avenida Major Miguel Naked, 144 (Colinas Shopping) - Jardim das Colinas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cassianorestaurante.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cassianorestaurante/?fref=ts