Mostrando postagens com marcador romeu e julieta. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador romeu e julieta. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Auá Gastronomia (São José dos Campos - SP) - 04/09/2018


Auá significa "gente" em tupi-guarani. Eu não precisei pesquisar essa informação, porque ela está lá, na primeira página do cardápio do restaurante, em um texto assinado pelo chef Gabriel Spaziani. No texto ele também conta um pouco de seu currículo, com passagem por restaurantes importantes, e fala da proposta da casa: mesclar os alimentos de nossa terra com aqueles trazidos pelas outras "tribos" (leia-se imigrantes) que vieram ao Brasil. A proposta parecia bem promissora.

Proposta aceita!

Antes de sermos apresentados ao conceito da cozinha, fomos apresentados à beleza do salão do Auá. Espaçoso, com um bar charmoso na entrada, pé direito alto, muitas plantas, lustres, sofás nos cantos e belos móveis de madeira. Ficamos positivamente impressionados com o cuidado em cada detalhe da decoração. Há até uma salinha de espera para os dias cheios, uma espécie de mezanino, com algumas mesas e itens retrô. Chris só não gostou das cabeças de boi penduradas na parede ("será que não há outra maneira de representar o Nordeste?", ela me disse) e do fato de não haver do lado de fora algum cantinho para os fumantes, nem que seja só com uma cadeirinha e um cinzeiro, como existe em alguns lugares. De minha parte só achei um pecado que, com toda brasilidade citada no cardápio e refletida no nome e na decoração, só tenha tocado música estrangeira no alto falante. Falha de conceito.

"Faz um ar blasé enquanto eu tiro a foto"

Aconchego total

Meu, super hiper mega transada retrozada vintage e hypster essa sala de espera!

O cardápio é uma belezinha, cheio de desenhos, pequenos gracejos ("Engorda? Engorda sim e é bom demais!") e dicas do chef. Para a entrada são oito opções, como dadinho de tapioca (R$ 27) e linguiça recheada com queijo coalho (R$ 61). Escolhemos o Palmito do Norte (palmito pupunha gratinado, com queijo coalho e servido com melado de cana, R$ 27). A descrição já tinha nos interessado, mas o adendo "Único no Vale do Paraíba. Quer apostar ou experimentar logo?", um desafio até meio petulante, foi o que nos conquistou de vez. Mas marketing não é tudo. Faltava comer. E a verdade é uma só: o troço é muito bom. Primeiramente é bastante original, apesar de relativamente simples. E depois, todo o medo de o coalho ser muito forte, ou de o melado ser enjoativo se desfez à primeira garfada. Conjunto muito harmonioso, com todos os ingredientes se conversando sem ninguém se estressar com ninguém. Uma delícia. Nem precisa dizer mais nada: foi a primeira nota 10 da Chris para uma entrada.

"Mocidade Independente do Palmito do Norte, nota...dez!!"

Há muita variedade de opções no menu de pratos principais (humildemente até achamos que poderiam ser reduzidas). Os grelhados (bife ancho, bife chorizo, salmão, entre outros) tem preços variados (em torno de R$50) e quatro opções de acompanhamentos. Também é possível escolher um grelhado e um risoto ou massa da casa (nesses casos acrescenta-se mais R$ 7 ao valor). Também é possível escolher um grelhado e se servir no bufê de saladas e acepipes diversos que toma conta do centro do salão (nesse caso acrescenta-se R$ 19,90 ao valor). Fora isso há diversas opções de pratos com carnes, aves e peixes, além dos risotos e massas já citados. Para completar ainda é possível escolher o bufê de caldinhos, por R$ 32. Ufa! Uma coisa interessante é que quase todos os pratos podem ser para uma, duas ou três pessoas, com preços diferentes. Bom pra quem vai com família e quer gastar um pouco menos.

Chris fez uma opção esperta: comer um dos grelhados e ainda experimentar um risoto da casa. Por isso ela escolheu o filé mignon e como acompanhamento o risoto de alho poró (R$ 64 os dois). Ela não teve nada a reclamar da carne, que chegou no ponto solicitado (mal passado paca!) e muito bem temperada. Quanto ao risoto, infelizmente o arroz passou um pouco do ponto, não estava firme, e o sabor era apenas razoável. Quanto à telha de parmesão que acompanhava o prato, ela achou que tinha muito sabor de óleo, não curtiu. 

A Chris deixaria essa casa sem telha mesmo

Meu pedido foi um tanto arriscado. Escolhi a picanha mineira (picanha suína servida ao molho barbecue de goiaba, acompanhada de mandioca frita e arroz com castanha, R$ 54). O risco a que me referi é o uso de uma fruta tão marcante em um prato salgado. Mas pode relaxar porque deu tudo certo: o molho estava bem suave, com a dose exata de dulçor contrastando bem com o saborosa carne (que estava seca nas pontas, onde não há gordura), e o delicado arroz com castanhas trouxe frescor e crocância. Não citei as mandiocas, apesar de estarem boas e sequinhas, porque achei que elas não precisavam estar no prato. Também não vejo muito sentido em colocar um alecrim só pra enfeite (o da Chris também tinha).

O Fê deixaria essa casa sem mandioca mesmo

Embora a lista de sobremesas não exclua o quase onipresente petit gateau, é possível encontrar opções um pouco mais inusitadas, como o pudim de tapioca e o creme de manga com licor de menta (que a Chris ficou tentada a escolher). Mas não teve como não escolhermos o bolo cremoso de goiabada com sorvete romeu e julieta (R$ 24), que no cardápio vinha com uma caixa de diálogo, como numa história em quadrinhos, dizendo "o famoso petit gateau...só que brasileiro, claro!". Imaginamos um bolinho doce e cremoso, com uma calda de goiaba que escorreria ao primeiro corte, e um sorvete de queijo saboroso ao lado. Mas nossa imaginação, nesse caso, ganhou da realidade: o bolo estava com muito gosto de farinha, a calda não escorreu porque já estava no prato, e o sorvete não tinha muito gosto de queijo. Mas é preciso dizer que a calda "não escorrida" estava muito gostosa e acabou sendo a melhor coisa da sobremesa.

Faltou a calda escorrer, faltou sabor de queijo, sobrou farinha

Fomos muito bem atendidos por um rapaz e uma moça, que se alternavam e estava sempre atentos. Ela, muito simpática, nos explicou todo o funcionamento da casa, com as opções de bufê e caldinhos. Ele, sempre solícito, não parava de passar entre as mesas em vistoria, para saber se estava tudo certo. Sem falar nada nem invadir, apenas para mostrar que estava presente. Quando terminamos nossa entrada ele veio recolher os pratos e perguntou se queríamos outra cerveja (tínhamos tomado uma Cauim da Colorado). Eu disse que queria uma Indica, também da Colorado, mas só quando viessem os pratos principais. Honestamente não imaginei que ele fosse lembrar nem de trazer a cerveja, muito menos de qual exatamente queríamos, mas me surpreendi quando, cerca de vinte minutos depois, nossos pratos chegaram junto com a cerveja solicitada. Falando em tempo, também não há do que reclamar nem de demora nem de pressa na entrega dos pedidos.

Damos notas para vários quesitos mas o que nos faz decidir se voltaríamos ou não para um restaurante é, quase sempre, a qualidade da cozinha. Sendo assim, por mais que o espaço seja lindo e que o atendimento tenha sido ótimo, foi a maravilhosa entrada que fez com que ambos concordássemos que poderíamos voltar ao Auá - mesmo com os pratos principais tendo alguns problemas e a sobremesa tendo sido decepcionante. Nada mais justo, já que de certa maneira a entrada que escolhemos simboliza a proposta do Auá: palmito pupunha diretamente dos índios da Amazônia e gratinado à moda dos franceses, servido sobre queijo coalho dos sertanejos nordestinos, com melado de cana-de-açúcar, planta originária da Ásia. Nada mais "auá" do que isso.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8,5
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 10 e 8
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 5 e 6
Custo-benefício(1): 7 e 8
Média: 7,66 e 7,91
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Madre Paula de São José, 318 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3942-1197
Facebook: https://www.facebook.com/AuaGastronomia

sexta-feira, 31 de março de 2017

Santo Cerrado (Alto Paraíso de Goiás - GO) - 05/03/2017


A Vila de São Jorge, pertencente à cidade de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, tem basicamente duas ruas principais de comércio. Ficar fora dessas duas ruas pode significar uma sentença de morte para um restaurante ou uma loja de artesanato. Mas nada que um pouco de criatividade e muito zelo não possam resolver. Depois de já estarmos na vila por algumas noites, e termos comido em alguns restaurantes medíocres (no sentido de serem comuns), resolvemos seguir as lanternas. É assim que o Santo Cerrado mostra aos turistas sua localização: com um caminho de lanternas em uma pequena rua perpendicular a uma das ruas principais. E com pequenos cartazes espalhados em algumas lojas do centro, dizendo "Siga as lanternas". Pois bem, seguimos.

Uma mulher misteriosa caminha entre as lanternas

Ah não, a mulher misteriosa era a Chris mesmo...

As ruas escuras de São Jorge não permitem apreciar a fachada do restaurante à noite. Dá para ver que há plantas ornamentando a entrada, e lá dentro algumas luzes difusas, que fazem parte da iluminação minimalista da casa, quase toda à base de velas. Por falar em velas, o caminho feito delas prossegue nos levando para dentro do restaurante. São três ambientes disponíveis: um salão mais perto da cozinha (onde ficamos), uma varanda, muito concorrida no pôr-do-sol, e no quintal mesas e almofadas espalhadas ao lado de uma fogueira. Esse terceiro ambiente não fica ativo em dias mais vazios, como no domingo em que visitamos o lugar para fazer esse texto. Mas na noite anterior já tínhamos visitado a casa de maneira mais informal, e foi lá que nos instalamos, por isso a foto que pode ser vista aí abaixo. Comum a todos os ambientes é a decoração criativa, cheia de peças de artesanato, alguns artigos vintage e cristais. Para completar, todos os pratos do restaurante tem pinturas diferentes, e são lindos.

Ambiente número um: o salão!

Ambiente número dois: a varanda!

Ambiente número três: o quintal!

Óia os pratinhos, que bonitinhos

As opções de entrada estão divididas em "Para começar" e "Para beliscar". A primeira tem pães e similares, a segunda porções estilo boteco. Escolhemos a cesta de pães acompanhada de Camponata do Cerrado (berinjela, três tipos de pimentão, uva passa, cebola e castanha de baru, R$ 19,90). Antes de mais nada, deu dó ver tantos ingredientes espremidos em uma tigelinha tão pequena. No final faltou camponata e sobrou pão (que aliás era uma delícia). Falando da camponata, tinha um sabor muito bom, tempero equilibrado, mas a berinjela e pimentão estavam cortados de maneira grosseira, com pedaços muito grandes. Ademais, o serviço pecou ao não nos entregar pratos e nem uma faca para cortar o pão.

Corta o pão com a mão, oras

O Santo Cerrado se apresenta como uma risoteria, e no cardápio os risotos estão divididos em "Clássicos" e "Especiais da casa". Entre os clássicos alguns clássicos (dããããã) como o de açafrão e de camarão. Entre as criações da casa há risotos elaborados por chefs convidados e alguns nomes diferentes, como "Goiano do pé-rachado" (que tem pequi na composição) e "Garimpeiro" (de carne seca com abóbora que, convenhamos, é um clássico). Afora os risotos o cardápio tem algumas saladas e na seção "Se quiser acompanhar", três acompanhamentos possíveis para os risotos, com carne bovina, suína e "peixina" (deveria existir essa palavra, né?).

Escolhemos um risoto entre os "Especiais da casa", o de pera com gorgonzola (que também poderia estar na seção de "clássicos", R$ 63,90). Apresentação muito charmosa, em uma panelinha de ferro. A descrição do prato dizia "pedacinhos de pera que estouram na boca", e de fato a textura da fruta tinha algo de especial, não sei qual é o truque. Mas a descrição também dizia que o gorgonzola era "para deixar a festa ainda mais animada", e o fato é que ambos sentimos falta de uma pegada mais forte do queijo. Mas de maneira geral estava bem agradável. A porção dá e sobra para duas pessoas. Também pedimos, para acompanhar, os medalhões de filé mignon com pesto de manjericão (3 medalhões, R$ 31,90). Medalhões pequenos, mas que vieram no ponto certo, e pesto muito saboroso.

Só o queijinho que tá meio zuado

Ficamos preocupados com a escolha da sobremesa. A lista parecia muito básica, com brigadeiro de colher, Romeu & Julieta, sorvete do dia e creme de papaya com cassis. Acabamos optando pelo Romeu & Julieta (doce caseiro da casca da goiaba em calda com queijo coalho grelhado, creme de capim santo e farofa de doce de baru, R$ 22,90), justamente pela descrição do cardápio que você acabou de ler, que parecia fugir de um básico "goiabada com queijo". Não nos arrependemos. Além da apresentação bonita, provamos uma recriação sutil de um clássico, com o doce de baru trazendo crocância sem interferir tanto no sabor, e o toque ácido do creme (na verdade um molho) de capim santo. Uma delícia, que dividimos tentando não nos atracar pelo último pedaço.

"Tudo que é seu, meu bem, é meu, é meu, é meu!"

Ah, o serviço. Num domingo à noite, restaurante vazio, e os garçons quase o tempo todo de costas pra gente, convesando com os colegas na cozinha. Aí a gente pedia algo e um deles não sabia como servir, em dado momento teve que perguntar na cozinha, "é com garfo ou colher?". Demoravam para perceber que já tínhamos terminado alguma etapa da refeição, e consequentemente não levavam os pratos sujos embora. Em resumo, estavam dispersos. Mas, devemos dizer, quando finalmente percebiam nossa presença, eram atenciosos e simpáticos. Curioso notar que no dia anterior, com o restaurante cheio, o serviço estava muito mais esperto. Acho que os meninos deram uma relaxada por conta da escassez de gente, o que está longe de ser uma desculpa. Também tivemos o problema da falta de pratos e talheres adequados quando nos serviram a entrada. De modo que o serviço acabou sendo o ponto baixo da noite, embora os pratos não tenham demorado para chegar em nenhuma das etapas.

O custo-benefício da casa acaba sendo muito bom, já que os risotos servem duas pessoas. Tivemos entrada, prato principal e sobremesa, mais algumas long neck da Heineken (R$ 7,50), comemos muito bem, num ambiente charmoso, e gastamos menos de duzentos reais. Claro que existem opções mais baratas e fartas na Vila de São Jorge, mas nenhuma parece ter tanto cuidado com os detalhes e com a cozinha como o Santo Cerrado. Foi isso que nos fez ir lá por duas noites seguidas. E o que certamente nos faria voltar novamente caso voltássemos à cidade. "Siga as lanternas!", nos diria nossa saudosa memória.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 10
Serviço(2): 5 e 6
Entrada(2): 5 e 7
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 8 e 8
Custo-benefício(1): 8 e 8
Média: 7,08 e 7,70
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Viela C, Quadra 08, Lote 2, s/n - Vila de São Jorge - Alto Paraíso de Goiás - Goiás
Telefone: (61) 99974-1150
Site: http://santocerradorisoteria.blogspot.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantesantocerrado/?fref=ts