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quinta-feira, 11 de abril de 2019

Cigalon (Armação dos Búzios - RJ) - 21/03/2019

Búzios. Brigitte Bardot. Não há como dissociar a primeira da segunda. Embora a própria musa francesa não goste do que a cidade se tornou, com a modernização e sofisticação (ela gostava do caráter "selvagem" da vila de pescadores), há uma estátua em sua homenagem na orla que leva seu nome, e sua miniatura é vendida como souvenir em todas as lojas de artesanato da cidade. Não há mais como fugir. Foi por essa associação que escolhemos jantar no restaurante Cigalon, que está instalado no prédio onde Brigitte se hospedou nos verões da década de 1960 em que esteve na cidade (hoje o local, além de restaurante, funciona como pousada, e é até possível ficar no quarto onde diz-se que ela ficava).

"O Urso e a Boneca"

Com uma entrada bem discreta, a ponto de quase termos passado batido, o Cigalon fica na Rua das Pedras, o ponto mais badalado do balneário, onde todos se encontram a partir do fim da tarde, quando as lojas e restaurantes começam a abrir. É até curioso que a casa não use de maneira mais ostensiva o fato de ter abrigado a atriz. Na parte interna há fotos de Bardot logo na entrada. O ambiente é formal, à meia luz (talvez escuro demais pro meu gosto), salão amplo e uma varandinha com duas mesas, com vista para a Praia da Armação. Quando chegamos a varanda estava ocupada, mas assim que desocupou nos mudamos para lá.

"E Deus...Criou a Mulher"

"O Desprezo"

"O Repouso do Guerreiro"

O cardápio é quadrilíngue: primeiro vem a descrição do prato em francês e logo abaixo em português, espanhol e inglês. Claro que o foco é na culinária francesa, mas há espaço para ingredientes estranhos àquela culinária, como palmito pupunha, abacate e banana-da-terra. Há cinco opções de entradas, e os pratos principais são dividos entre terra e mar, além de opções de massas. Há bastante variação no preço dos pratos individuais, com alguns podendo chegar aos três dígitos.

Para começar fomos de tartare de salmão com molho de abacate (R$ 39). Sabores bem delicados, tanto que parecia um sashimi, com pouca interferência do tempero. Corte bem feito, tudo do mesmo tamanho, apresentação elegante. O molhinho de abacate veio em "pingos", e tinha gosto de abacate puro. Gostamos, mas achamos que um molhinho que trouxesse um algo diferente cairia bem, talvez com alguma picância.  

"Brotinho do Outro Mundo"

Na hora de pedir os pratos principais, usamos um truque que costuma dar certo: pedir sem falar qual prato é de quem. Só assim pra trazerem a carne da Chris mal-passada como ela gosta. Ela escolheu mignon ao molho de gorgonzola com risoto de cogumelos (R$ 76). De fato a carne veio certinha, com dois bifes mal-passados (tá, um deles passou um cadinho). Molho gorgonzola bem equilibrado, risoto com arroz no ponto certo e bom sabor de cogumelos, e conjunto bastante harmonioso. Ela se divertiu bem.

"Vingança de Mulher"

Eu escolhi peito de pato no próprio molho, purê de banana-da-terra e abóbora caramelada (R$ 76). Pato veio em fatias, tava bem macio, no ponto certo, só um pedaço tinha um nervinho que não deu pra comer. Molho saboroso, intenso. Na descrição do prato eu já tinha achado que abóbora caramelada e purê de banana-da-terra poderiam ser redundantes na doçura, mas pedi assim mesmo, de teimoso que sou. De fato, um dos dois poderia ser deixado de lado. O purê também poderia ter consistência mais suave, tava meio "massudo". Mas no fim o dulçor da banana e abóbora com a intensidade do molho foi uma junção agradável.

"Mais Forte Que a Morte"

"A Noite de Núpcias"

Para finalizar dividimos os profiteroles com sorvete e calda quente de chocolate, em colchão de pralinê e creme de baunilha (R$ 32). Descrição longa, e ainda faltou falar que vem com pedacinhos de morango. Aliás, para mim eles poderiam vir em mais quantidade, para contrastar com a quantidade de chocolate que domina o prato. Não que chocolate seja ruim, longe disso, mas a sobremesa acabou ficando um pouco "monocromática" em sabores. Já em texturas há bastante riqueza, com os profiteroles fofinhos, creme cremoso (dããã) e pralinê crocante - aliás até um pouco duro demais. 

"Histórias Extraordinárias"

Gostamos bastante do serviço, garçom simpático, eficiente mas aberto a algumas brincadeiras (ao ver nosos pratos vazios: "se não esconderam embaixo da mesa, acho que gostaram"), o que é sempre positivo. Foram rápidos em nos transferirem para a varanda assim que uma mesa vagou. O tempo de espera entre os pratos foi perfeito. Só houve alguma demora para limpar a mesa em alguns momentos, mas nada grave. 

Claro que é gostoso comer no lugar onde Brigitte Bardot se hospedou, a alguns metros do quarto em que ela (supostamente) dormia. Mas não foi isso que nos fez decidir que voltaríamos ao Cigalon. A junção de bom serviço, ambiente agradável e boa comida é que foram determinantes. Mesmo que La Bardot hoje esteja frustrada com os rumos que a cidade tomou, achamos que ela aprovaria ao menos a discrição e qualidade do Cigalon. 

Nota: todas as legendas das fotos são nomes de filmes estrelados por Brigitte Bardot. Tá, em alguns não fez tanto sentido, mas outros ficaram perfeitos, não?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 8,5
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 6 e 7
Prato principal(3): 8,5 e 7,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 7,5 e 7
Média: 7,83 e 7,45  
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua das Pedras, 199 - Centro - Armação dos Búzios - Rio de Janeiro
Telefone: (22) 2623-0932
Site: https://www.cigalon.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cigalonrestaurant/

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Catalina (Santos - SP) - 24/08/2017



Era caso de ter perguntado pra algum funcionário. Agora estou aqui a começar a escrever o texto sobre o restaurante Catalina, sem saber porque ele tem esse nome. Descobri que é uma região do estado americano do Arizona. Também é o nome de um conjunto habitacional em Belém do Pará. E também pode ser nome de gente, como uma variação de Catarina. Como a chef e proprietária se chama Vera Corrêa de Castro, só se for homenagem pra alguém. Mas o fato importante para começar esse texto é que adoramos a fachada cheia de verde e as mesinhas dispostas na varanda. Localizado no gostoso bairro do Gonzaga, nada melhor do que ficar do lado de fora para ver a vida passando.


"Viver é afinar um instrumento/ De dentro pra fora...

...de fora pra dentro"

Antes mesmo de recebermos o cardápio já fomos mimados com duas taças de espumante - uma excelente maneira de dizer boa noite. Claro que nos instalamos nas mesas externas, mas fomos dar uma sapeada na parte de dentro, que embora pequena tem as mesas dispostas com boa distância entre elas. Paredes de tijolos à vista e na decoração algumas obras de arte amealhadas pela proprietária em suas viagens. Chama a atenção uma colombina em papel machê decorando uma das mesas internas, comprada de um artista em Ilhabela. A casa também conta com um salão no primeiro andar, com música ao vivo aos finais de semana. E as torneiras do banheiro são demais!

Mima qui nóis gama!

Parece uma casa, não é?

A torneira legal pacaceta

Há bastante tempo decidimos não pedir salada como entrada. Em geral elas são pouco inventivas e acabam não demonstrando nenhum predicado da cozinha do lugar. Nos sobraram, então, quatro opções de entrada: carpaccio de carne; tartar de salmão e abobrinhas; casquinha de abadejo;  polenta com shitake e gorgonzola ao gratin. Chris deixou a escolha nas minhas mãos e optei pela polenta (R$ 38), fã de gorgonzola que sou. Apresentação bonita, em um prato fundo, com o amarelo brilhante e os cogumelos queimadinhos contrastando. Gostamos do conjunto, mas sem a presença do queijo e do shitake a polenta estava sem sal. Já os cogumelos estavam deliciosos, dava pra sentir o gostinho de queimado da panela.

A polenta e seus amiguinhos

Para os pratos principais o cardápio se divide entre "Massas", "Cozinha do mar" e "Cozinha da terra". Havia também pratos extras, presos com um clip ao menu, com a alcunha de "Sugestão da chefa". Os pratos são individuais, e os preços variam dos 42 reais do mezza luna (massa recheada de gorgonzola e pera) até os 97 reais do carré Casablanca (carré de cordeiro com risoto de brie e damasco). As opções são fartas e variadas, abarcando boa parte da riqueza da cozinha mediterrânea.

Antes de nossos pratos principais recebemos mais um pequeno mimo da cozinha, uma salada de folhas verdes com um molhinho de mostarda. A mostarda do molho poderia ser mais sutil um bocadinho, mas gostamos do mimo.

"Mais mimo? Qui ceis tão querendo cum nóis, meu?"

Chris resolveu enfiar o pé na Itália (já que o país é uma bota...desculpe, foi inevitável!), e escolheu o risoto di zucca e gamberi (R$ 68). Se seu italiano não está em dia, este blog traduz pra você: risoto de abóbora e camarão. Não sabemos o que mais chamou a atenção de cara: a quantidade absurda de comida ou a beleza da apresentação. Acho que as duas coisas ao mesmo tempo. Uma boa quantidade de risoto, mais as duas metades de uma mini-moranga encimadas por mais risoto e mais camarão, apresentados sobre uma belíssima, e gigante, travessa azul. Aquela louça, estamos certos, não tinha uma etiqueta escrito "prato" quando foi comprada. A abóbora tinha um queimadinho gostoso por baixo, e uma textura agradável. Cada ingrediente, em separado, estava muito saboroso, e o conjunto harmonioso. Os camarões estavam no ponto certo, e o risoto cozinhou um pouco a mais. Mas o excesso acabou sendo um defeito, e Chris não conseguiu comer tudo. 

É pouco, qualquer coisa como as flores ali que são da mesma cor

Num dianta fazer charme que não vai dar conta

Eu escolhi o prato de que mais tinha tido referências em sites e blogs, enquanto pesquisava sobre o Catalina: o Cordeiro Imperial (cordeiro ao forno com grão de bico, feijão branco, ervilha torta e shitake, R$ 68 - a harmonia do casal é tanta que só agora percebi que escolhemos pratos com o mesmo preço). Quanto à apresentação e quantidade de comida, replique-se tudo que foi dito sobre o prato da Chris. Quanto às qualidades gastronômicas, o cordeiro estava macio, com a parte de fora trazendo um queimadinho delicioso (é o terceiro elogio que faço aos "queimadinhos", o que leva a crer que seja uma característica da chef). O molho tinha boa textura e sabor, e até poderia vir em mais quantidade. As ervilhas tortas estavam amargas, não me agradaram - embora tenham papel importante na apresentação. O grão de bico e o feijão eram saborizados pelo molho, e ajudavam a dar crocância ao prato. A junção de sabores me causou estranheza a princípio, mas depois me acostumei e me esbaldei. Até comi quase inteiro o gigantesco pedaço da perna do cordeiro.

Cordeirinho gordo esse!

"Vou fazer o possível"

Aí chegamos ao grande problema dos restaurantes brasileiros (como se conhecêssemos os de fora): as sobremesas. É quase sempre a mesma ladainha, sem inventividade alguma. Tentamos sempre escolher o que de mais diferente há, e no caso escolhemos o salaminho de chocolate à Catalina (com amêndoas e sorvete de creme, R$ 18). Acabo de ver a foto do cardápio, e notei que bobeamos em não reclamar do fato de que a descrição do prato trazia "calda de frutas vermelhas", mas o que recebemos foi cobertura de chocolate mesmo. Caldas à parte, a sobremesa não estava ruim, o salaminho é como se fosse um biscoito de chocolate recheado com amêndoas, e o sorvete de creme era um sorvete de creme, sabe? Então era bom, mas nada de mais.

"Cadê nossa calda de frutas vermelhas?"

O serviço talvez tenha sido o ponto alto da noite, juntamente com o ambiente - a começar pelo efusivo boa noite representado pelas duas tacinhas de espumante. Tentamos não nos deixar levar pelo afago, e manter a seriedade de nossa avaliação. Mas o fato é que o garçom que nos atendeu era simpático, prestativo e sabia aguardar nossas demoradas indefinições sem pressionar, mas também sem nos abandonar. Adoramos quando esse equilíbrio acontece. O tempo da cozinha para a entrega dos pratos também foi sempre perfeito, ajudado pelo fato de o restaurante estar bem tranquilo.

Ao fim da experiência, ambos concordamos que a mistura de bom atendimento, ambiente agradável e comida farta nos faria retornar ao Catalina. Provavelmente em uma segunda oportunidade nem pediríamos entrada, para dar conta de comer todo o prato principal. Também dispensaríamos a sobremesa. É isso: se aconchegar em uma mesinha na varanda, com um prato principal pra cada um. Se possível com uma garrafa inteira daquele espumante de cortesia...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 7
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 7 e 6,5
Média: 7,12 e 6,70
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua José Caballero, 36 - Gonzaga - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3284-3626
Site: http://www.restaurantecatalina.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/RestauranteCatalina/