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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Cascudo (São Roque - SP) - 23/03/2019


Como se pode ver aí acima, o símbolo do Cascudo é um jabuti. Mas a verdadeira inspiração para o nome é o grande estudioso da cultura brasileira, Câmara Cascudo. A busca, expressa no cardápio e no site do restaurante, é por uma gastronomia artesanal brasileira, por isso a inspiração no escritor potiguar. Se o objetivo foi alcançado é coisa que fica para o resto do texto.

Estávamos hospedados no centro de São Roque, e em cerca de quinze minutos chegamos ao Cascudo, alcançado por uma estrada de asfalto em boas condições, mas um tanto quanto "morta" num sábado à noite. Chegamos a imaginar que o caminho estava errado. Mas, de repente, lá estava ele, a placa na fachada não deixava dúvidas. No entanto, algo estava errado. Silêncio e portão fechado não pareciam condizer com um restaurante num sábado à noite. Eram 19h40. Lá dentro dava pra ver alguma movimentação de funcionários. "Ué, será que tá fechado?". Após alguns instantes por ali, começou a chover. "Dá umas buzinadas", me disse a Chris. Obedeci. Pouco depois surge o simpático manobrista. Sim, a casa abriria somente às 20h, ou seja, dali a vinte minutos. Quem mandou não pesquisar antes? Para nossa sorte o rapaz disse que poderíamos entrar antes da hora, e não havia nenhuma réstia de má vontade em seu convite.

"Boa noite, tudo bem? Xô fala, precisa caprichar mais nas fotos, viu?"

Felizmente há muito para ver no Cascudo antes mesmo de se adentrar o salão de serviço. Uma enorme ante-sala, ou ante-salão, serve de boas vindas, repleta de obras de arte, muitas delas de autoria da proprietária do lugar. Essa parte é bem iluminada, tem sofás e mesinhas, que devem ser muito úteis em dias em que o restaurante está cheio. Logo depois está o salão, este já com meia-luz - confesso que "meia" demais pro meu gosto. Mas é um ambiente também bastante agradável, com algumas esculturas, mesas de vários tamanhos e cadeiras estofadas muito confortáveis. O salão é todo envidraçado, e tal escolha não é à toa: a casa está localizada em um ponto privilegiado, com bela vista para as montanhas da região. Estar ali durante o dia deve ser uma bela experiência. Há uma mesa do lado de fora, sob um gazebo, que deve ser disputada a tapa. Foi ali que a Chris deu suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição.

A Chris e aquele bocado de coisas pra ver 
Meia-luz demais pro gosto desse chato aí que escreve. Hmpf...

"Puta que pariu, cadê essa mulher?"

Disputada à tapa de dia, mas de noite é só da Chris

O cardápio é repleto de explanações poéticas sobre o conceito e a proposta da casa, além de explicar sobre técnicas de cozimento usadas (como a brasa de lenha no buraco). Todos os pratos tem nomes de artistas, pensadores e personalidades brasileiras (exceto as sobremesas e as opções do menu "Sugestão Sabor Brasil", que veio separado do cardápio principal). Apenas faço uma pequena crítica ao fato de a propalada ideia de uma cozinha artesanal brasileira não se refletir tanto nos ingredientes e pratos. Acabei de reler todo o cardápio e, de maneira geral, não há uma brasilidade escancarada, a não ser alguns elementos aqui e ali. Mas a variedade é grande, entre carnes, peixes, aves e massas, além de pratos infantis.

Escolhemos como entrada a salada de alcachofra com bacalhau (R$ 34), que não tem nome de artista porque estava no cardápio separado. Escolhemos esse prato porque a alcachofra é bastante cultivada na região de São Roque, e queríamos comer algo com ela. Ficamos com medo do bacalhau engolir a alcachofra (figurativamente, claro), mas estava bem equilibrado, suave e muito refrescante. Um molhinho pesto que se escondeu pelas fendas do prato poderia vir em mais quantidade. Mas foi bem satisfatório o começo da comilança.

O bacalhau que não engoliu a alcachofra

Chris escolheu para prato principal a Carolina Maria de Jesus (Escritora 1914-1977, escalope de filé mignon com talharim ao molho de tomate, R$ 64 - assim aparecem todas as descrições do cardápio, com o ofício do homenageado e suas datas de nascimento e morte). A carne da Chris só deu uma relada na frigideira e já veio pro prato - ou seja, do jeito que ela pediu e gosta. Tava bem temperada e macia. O talharim estava no ponto certo, mas o molho que o acompanhava poderia ter um pouco mais de força no tempero. Mas não dá pra dizer que a Chris ficou com "Pedaços de Fome"*.  

Não é lindo, mas satisfaz

Minha escolha foi Machado de Assis (Escritor 1839-1908, pernil de cordeiro ao molho de vinho, arroz, brócolis, batata sautê, banana dorê, R$ 86). Esta é uma das quatro opções do menu com a carne feita na técnica da brasa de lenha no buraco - que segundo a descrição é uma prática que se origina do povo Tupi. Se o objetivo era alcançar maciez, nota dez com louvor: a carne estava desmanchando, literalmente. Textura agradável, molho saboroso, mas que deixava a carne brilhar. Em relação aos acompanhamentos, talvez um certo excesso de elementos, mas estava tudo muito bem feito. Até o brócolis, que costuma vir com gosto de água em restaurantes, estava saboroso e firme. Confesso que estava satisfeitíssimo, mas ainda não era hora de pegar "O Caminho da Porta"*.

A partir de agora, carne só na brasa de lenha no buraco. Se vira.

Comemos nossos pratos todinhos, mas ainda havia espaço para os doces. E nada de compartilhar um só, como fazemos normalmente. Estávamos igual ao Joey de "Friends", sem nenhuma vontade de dividir comida. Eram dez opções de sobremesas, mais três no menu à parte.

Chris estava numa pegada meio Eva, e escolheu a Maçã do Pecado (cozida na calda de laranja e vinho do porto, com calda de chocolate, nozes e sorvete de creme, R$ 25). Chris pecou com gosto: adorou desde a primeira colherada. Curtiu a textura da maçã, a perfeita sintonia entre o chocolate, o vinho e as nozes, e o fato de o nível de açúcar estar perfeito. 

Chris comeu a maçã e não foi expulsa do paraíso

Eu escolhi o pequeno bolo de laranja e chocolate branco com calda de chocolate branco e sorvete de limão (R$ 25). Deveria ter escolhido a Cobra do Adão (mentira, não tinha esse prato). Achei monocromático demais, pra começar, depois achei que faltou acidez (me diz, com educação, o que fazer com as três fatias de laranja que vieram no prato?), e por fim achei que a calda que veio no meio do bolinho tava muito mixa. Nada explodiu na boca, e acabei achando bem mais ou menos.

Afinal, o que fazer com as laranjas?

Desde o simpático manobrista, que nos abriu os portões antes da hora, passando pelos garçons atenciosos e chegando ao músico que tocou boas canções (teve até Beatles!), não há o que reclamar do serviço. Em relação ao tempo de espera entre os pratos, foi tudo bem rápido, mesmo o cardápio dizendo que o restaurante adota a filosofia do Slow Food. Não chegou a ser fast food, mas não teve aquela coisa de acabar o assunto do casal e nada de virem os pratos. Claro, é bom dizer que tivemos atendimento VIP, já que chegamos antes de todo mundo. Mas só podemos julgar nossa experiência, e como não pegamos o restaurante cheio, a impressão foi boa.

Apreciamos quem tenta fazer coisas diferentes. Além de tudo que o cardápio descreve em termos de filosofia, o Cascudo também participa de um projeto social que busca, segundo o site, "dar oportunidade para quem não tem", através de oficinas culturais, artísticas, esportivas e profissionalizantes. Ou seja, não ficam só na palavra, partem para a ação. E além de tudo isso, fazem excelente comida. Ao final da refeição recebemos um folheto para colocarmos nossas sugestões. Escrevi que o principal eles já tem, que é uma cozinha muito bem feita, com bom tempero e técnica. Falta um pouco mais de ousadia e de usar ainda mais ingredientes e técnicas brasileiras. Mas mesmo com o que falta, tudo o que sobra nos fez concordar que voltaríamos ao Cascudo para mais uma experiência. 

* "Pedaços de Fome" e "O Caminho da Porta" são nomes de livros de Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis, respectivamente.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 9
Serviço(2): 9 e 9
Entrada (2): 7 e 7
Prato principal(3): 7 e 8 
Sobremesa(2): 9 e 6,5
Custo-benefício(1): 8,5 e 8
Média: 8,29 e 7,91
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

Estrada Municipal Darcy Penteado, 3301 – Vila Darcy Penteado - São Roque - São Paulo
Telefone: (11) - 4713-5582
Site: https://restaurantecascudo.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/RestauranteCascudo/
Instagram: @restaurantecascudo

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Montserrat (Pirenópolis - GO) - 11/03/2017


Cento e sessenta e oito quilômetros. Essa foi a distância percorrida para podermos almoçar no Montserrat, em Pirenópolis. A explicação: estivemos hospedados na cidade durante a semana, quando o restaurante não abre. Nossa visita se deu quando já estávamos instalados na cidade de Goiás, e portanto tivemos que fazer o percurso de volta, em um sábado. Mas por que tanto esforço para apreciar a gastronomia do chef catalão Juan Pratginestós? Resposta: a sanha de colecionador deste que vos escreve. O Montserrat é o único restaurante em todo o estado de Goiás que faz parte da Associação dos Pratos da Boa Lembrança, confraria cujos associados entregam pratos decorativos de brinde aos clientes que pedem um determinado item do cardápio.

Chegamos ao restaurante por volta de uma da tarde de um dia ensolarado. Não fosse a logomarca do restaurante e as mesas na varanda, daria para confundir o lugar com uma bela casa, com seu muro de pedras, algumas pequenas árvores e até uma caixa de correio. Sua localização é privilegiada, à beira do Rio das Almas, que cruza o centro de Pirenópolis, e em frente a um bambuzal. Há um ambiente interno, pequeno e climatizado, mas claro que escolhemos uma mesa na varanda, onde, raridade das raridades, era até permitido fumar. Destaque negativo para as cadeiras, bastante desconfortáveis para quem vai passar cerca de duas horas sobre elas. 

Donde nóis num fiquemo

Donde nóis fiquemo

"Quer me ver feliz, me dê um cinzeiro"

Há três entradas frias e cinco entradas quentes no cardápio. Parte delas tem influência espanhola, como a Tortilha de Dona Montse (mãe do chef Juan, e inspiração para o nome do restaurante), que traz uma prato clássico da culinária do país, uma espécie de omelete. Para não fugirmos da terra natal do chef, ficamos com as iscas de filé ao Jerez (filé salteado com alho e cebola, com molho do fundo da carne e vinho Jerez, servido com pão da casa, R$ 30). Pão muito gostoso, macio, mas sem aquela consistência murcha. Carne também macia, cortada em tamanhos adequados. Molho delicioso, com o vinho Jerez presente, mas não de forma agressiva. Como disse a Chris, se eu estivesse em casa certamente teria lambido o prato. Mas mantive a urbanidade.

"Eu nego que vá lamber esse prato"

Antes de falar dos pratos principais, vale um registro sobre o aspecto físico do menu. São folhas de papel pardo impressas, listando os pratos, suas descrições e preços. Mas aqueles que couberam a nós estavam um pouco apagados, e às vezes isso dificultava um pouco a leitura de alguns itens. Quantas às opções, são muitas, mais de vinte, com influências diversas, desde a já citada espanhola, até italiana, portuguesa e húngara. Os pratos são individuais e, à exceção da seção de frutos do mar que é um pouco mais cara, ficam numa média de R$ 47. Entre aqueles que quase pedimos estavam o risoto de rabada e o frango "al chilindrón", uma preparação à base de molho de tomate e pimenta, tipicamente espanhola.

Chris não teve muita escolha em relação ao seu prato principal. Como já dito anteriormente, o Prato da Boa Lembrança só é entregue mediante o pedido de um determinado prato, que no caso do Montserrat envolvia bacalhau, pescado de que não sou fã. Então a Chris ficou com o Bacalhau com samfaina e batatas em salsa verde (R$ 95). Eu falei antes sobre o preço dos pratos, mas faltou dizer que existe uma "inflação", à qual já estamos acostumados, no caso dos pratos da Boa Lembrança. Explicando, a samfaina, que não conhecíamos, é uma preparação feita com vários legumes (abobrinha, berinjela, pimentão, tomate e cebola), também conhecida como "ratatouille catalão".

Aos sabores, pois. A samfaina estava gostosa, com sabor bem picante. Chris adorou as batatas, que são puxadas na manteiga e vinho branco. Ela conseguia sentir o sabor do vinho de maneira sutil, como deve ser. O bacalhau também estava bom, mas ela achou o todo muito molhado, faltou algo para reter tanto caldo. Mas o pior defeito do prato foi mesmo a proporção. Uma quantidade muito grande de comida, que transformou o que era gostoso em algo enjoativo ao final da refeição. Se a samfaina e as batatas viessem na proporção do pedaço de bacalhau, seria perfeito. Chris deve ter comido, no máximo, dois terços do que havia, e claro que isso prejudicou sua apreciação final.


Menos, bem menos, Sr. Juan!

Resolvi fazer um pedido fora da culinária ibérica, e escolhi o goulash com fettuccine (carne guisada com cebola, tomate, caldo de legumes, vinho branco e páprica, com fettuccine puxado na manteiga e salsinha, R$ 46). Trata-se de uma receita húngara, aqui acompanhada de macarrão na manteiga. A carne estava bem macia. Quando experimentado sozinho, o macarrão estava um pouco sem graça. Sorte que o molho do goulash estava bem gostoso, o que salvou algumas garfadas. Eu digo algumas porque o molho não foi suficiente para dar sabor a todo o macarrão. E aí entra o mesmo problema do prato da Chris: erro na proporção. Basta ver a foto para saber que é muito macarrão para pouco goulash - e é bom deixar claro que, para mim, deveria vir menos macarrão, e não mais goulash, para vocês não acharem que eu sou um ogro.

Sr. Juan, eu já não disse pra colocar menos?

O cardápio ostenta com orgulho o fato de os sorvetes da casa serem feitos em uma sorveteira (SORVETEIRA, e não SORVETERIA) italiana Carpegiani dos anos 50. É a moda do vintage como agregador de valor. Por conta disso,  três das quatro opções de sobremesa tem sorvete na composição - nada contra, diga-se. O mais comum é dividirmos essa etapa da refeição, mas decidimos fazer pedidos separados. Ao final aconteceu algo curioso, já que, ao experimentarmos o prato um do outro, resolvemos trocar, mais ou menos quando já estávamos na metade deles. Mas as notas ao final são dadas para os nossos pedidos originais. 

Chris pediu a ganache de café (com chocolate meio amargo e café, servido com calda de morango, R$ 16). Como ela adora café, achou esse ingrediente muito sutil na receita, que acabou ficando muito doce. Ela imaginou que uma calda, talvez com algo alcoólico, poderia dar uma quebrada nisso. Mas ela gostou bastante. Eu, que comi metade, achei uma delícia, até porque não sou mesmo muito fã de café. E morango com chocolate é covardia, né?

Covardia!

Apesar de minha afirmação acima de que não gosto de café, também não sou chegado em coerência, e pedi as mantecadas com sorvete de café (antigo biscoito catalão feito com farinha de amêndoa, trigo e banha de porco, com sorvete de café e cardamomo, R$ 16). Eu simplesmente não resisti à descrição do que são as tais mantecadas. Apresentação muito bonita, com os biscoitos vindo bem quentinhos, e com sabor bem intenso. Mas o sorvete de café tinha muito gosto de café (se eu estivesse falando, e não escrevendo, seria o momento de eu ser xingado pelos meus interlocutores pela obviedade da declaração). Ok, xingamentos à parte, o fato é que o sabor forte da mantecada com o sabor forte do café foi uma briga dura demais, em que os dois saíram perdendo.

Ninguém ganhou com tanta violência

A garçonete que nos atendeu parecia nova na função, mas era muito esforçada. Com o restaurante relativamente cheio na parte de dentro, havia entre nós a preocupação de sermos esquecidos na varanda, coisa que aconteceu raríssimas vezes, e por pouco tempo. Outro funcionário, que parecia ser o maitre, vinha a todo momento perguntar se estava tudo certo, parecia estar supervisionando o trabalho da colega.

Chegamos a tomar um susto no começo do atendimento, quando a garçonete nos disse que o Prato da Boa Lembrança só era servido no jantar. Ao ver a cara de decepção da Chris ela se compadeceu genuinamente, e voltou à cozinha para ver se era possível dar um jeito. O jeito foi dado, mas talvez isso explique porque demorou quase uma hora para que os pratos principais fossem servidos. No restante do serviço o tempo de espera foi dentro da normalidade.

Os preços do Montserrat não são nada absurdos, o atendimento é bom e o ambiente, apesar das cadeiras duras, é agradável. O sabor dos pratos, se não foi inesquecível, ficou longe de ser ruim. O maior problema que encontramos foi uma falta de sutileza e de cuidado no porcionamento. Como isso aconteceu com os dois, parece algo crônico. Por conta disso, depois de termos dirigido quase 350 quilômetros, entre a ida e a volta, para almoçarmos ali, chegamos à conclusão de que não faríamos isso de novo. O que não significa, de maneira nenhuma, que tenhamos nos arrependido de fazê-lo. Afinal, o mais importante é que o colecionador obsessivo tem mais um Prato da Boa Lembrança. E o Montserrat será, no final das contas, uma boa lembrança.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 6,5
Serviço(2): 8 e 7
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 6,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 7 e 6,5
Média: 6,87 e 6,75
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Ramalhuda, 11 - Beira-rio - Pirenópolis - Goiás
Telefone: (62) 3331-2628
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Montserrat-Gastronomia/288690241331893







quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Casa do Azeite (São José dos Campos - SP) - 13/01/2015

Avenida Anchieta. Provavelmente o pedaço mais bonito de toda a área urbana de São José dos Campos. Com uma belíssima vista para o banhado, a avenida conta com diversos bares, restaurantes e cafés em sua extensão. Há pouco tempo, passando por lá, me chamou a atenção um restaurante chamado Casa do Azeite (descobri depois que ali antes funcionava a Pizzaria Santiagos). Não seria uma má idéia jantar ali, apreciando a paisagem, e aproveitando o horário de verão para pegar um pouquinho do sol se pondo. Foi o que fizemos, Chris e eu, nesta terça-feira quente, mas em que as costumeiras pancadas de chuva não apareceram, para nossa sorte.

Fachada do restaurante, que é grande pracas

Na chegada ao local, a primeira boa impressão é o tamanho do restaurante, com opções diversas de ambientes para se acomodar. Claro que nos acomodamos no espaçoso deck, com vista para o banhado, e onde a Chris poderia pitar os seus cigarros sem problema nenhum. Cadeiras de palha entrelaçada, mesas com tampão de mármore (ou seria imitação?), muitos garçons só pra nós, já que o lugar estava vazio. Na parte de dentro, um grande salão ao lado do imenso forno à lenha, e uma decoração bonita, com alguns instrumentos musicais pendurados na parede, a maioria de sopro, e até mesmo uma antiga caixa registradora de enfeite. Só achei um pouco estranho ver na porta dos banheiros uma imagem de Marylin Monroe e uma de Marlon Brando, para diferenciar meninos de meninas. Porque não algo relacionado à música, já que a decoração é toda baseada nisso? Meio esquizofrênico. Outro problema é que, embora haja instrumentos de sopro pendurados, e até um violino, o que tocava no som ambiente era música de balada. "Putz putz" mesmo, sabe? Nada a ver. Mas o lugar é tão bonito que a gente até releva esses pequenos problemas. Só não deu pra ver tão bem o pôr do sol, porque algumas árvores não permitem uma visão mais completa do banhado.

O grande salão com o grande forno à lenha



Os instrumentos pendurados, e ao fundo o deck onde ficamos


Como primeira providência, com aquele calor, pedimos uma Brahmma em garrafa de 600 ml (R$ 8,00). Vieram duas num baldinho com gelo. Mas a temperatura da breja não estava como a temperatura ambiente pedia. Tomável, apenas. Mais pra frente pedimos uma terceira garrafa, e veio queimando a língua de tão quente. Literalmente. Mentira, não era literalmente, mas tivemos que falar pro garçom. Ele se ofereceu pra trocar na hora, e acabou trazendo uma Original (R$ 9,00), que estava bem melhor. Seria mais bonito se ao final eles cobrassem pela Original o preço da Brahma, mas pagamos o um realzinho a mais sem bufar.

Chris e nosso baldinho de cerveja quase boa

Já tínhamos dado uma boa olhada no cardápio, enquanto tomávamos cerveja. Aliás, uma olhada noS cardápioS, já que são dois, um pra pizza e um pra comida. Não que pizza não seja comida, mas, ah, deu pra entender, né? O cardápio de comida priorizava receitas com bacalhau, além de algumas opções de risoto, carne e frango. Não queríamos a pizza como prato principal, então pedimos duas piccolas (mini-pizzas fechadas) como entrada. Os sabores foram "Estação São Roque" (molho de tomate especial, cream cheese, baby alcachofra, gruyere, azeitonas, tomate sweet grape, parmesão gratinado e pasta de alcachofra...ufa!). Bastante ingrediente, mas a verdade é que deve funcionar na pizza grande, porque na pequena fica difícil identificar os sabores. A alcachora, coitadinha, mal foi notada na língua, embora pudesse ser avistada com os olhos. A outra escolhida foi a "do Nonno" (tomates assados na brasa e temperados com alcaparras, alho e especiarias, sobre camada de mussarela). Esta funcionou melhor, embora a alcaparra seja um ingrediente muito forte. Mas estava equilibrado com o tomate seco, que veio em boa quantidade. Cada uma custou R$ 12,90. A pizza vem fechadinha, no formato de um pão de batata, como o próprio garçom comparou. Faltou só trazer um azeite pra mesa, em plena residência do dito cujo. Ele só veio na hora do prato principal.

Nossas entradinhas na mesa, e uma visão melhor da paisagem

Para o prato principal, claro que um de nós dois precisava pedir um bacalhau, cujas receitas aparecem no cardápio precedidas da palavra "Especialidades", ou seja, são os carros-chefes do lugar. E claro que esse um de nós seria a Chris, já que eu não sou grande fã do peixe em questão. Dentre as cerca de dez receitas com o ingrediente - bacalhau à Brás, bacalhau à lagareiro -  Chris escolheu o bacalhau em crosta de azeitona, com risoto de palmito (R$ 52,00). Eu fui de medalhão au poivre vert, que é o filé mignon com molho de pimentas verdes e risoto de alho poró (R$ 39,90). No cardápio há também algumas opções de pratos para duas pessoas, mas acabamos pedindo pratos individuais. A curiosidade foi que trocamos nossos risotos, a Chris ficou com o de alho poró e eu com o de palmito. Ela não é muito fã do branquelo. E isso não se refere ao seu namorado. Quanto aos risotos, acho que ambos estavam satisfatórios, dentro do esperado. Não encantaram, mas não comprometeram. Chris se pegou mesmo foi com a falta de potência no tempero do bacalhau. Eu experimentei e estava com gosto de bacalhau, o que pra mim não é lá muito bom. Quanto ao meu medalhão, veio ao ponto, como eu solicitei, mas o tal molho de pimentas verdes não disse muito a que veio, e a carne estava um pouco dura, difícil de cortar. Ficamos satisfeitos, limpamos nossos pratos, mas não houve grandes interjeições durante a comida, o que indica que ela não superou expectativas.

O medalhão com risoto de alho poró


O bacalhau em crosta de azeitona com risoto de palmito


Entre as sobremesas, poucas opções, a maioria delas bastante óbvias, como o onipresente petit gateau. Mas havia uma chamada La Sensation (R$ 19,90), que vinha sem mais explicações no cardápio. Acho que é pra despertar a curiosidade mesmo. O garçom explicou se tratar de massa de pizza recheada com Nutella acompanhada de sorvete de creme e cobertura de caramelo. Optamos por essa, que ao menos nunca tínhamos visto antes. A apresentação não era bonita. Perdoe a imprecisão: a apresentação era muito feia, como pode ser notado na foto abaixo. Chris também reclamou que veio muito caramelo, mas ela é suspeita, porque não gosta de caramelo. Aliás, começo a notar que comemos muita coisa de que não gostamos no restaurante! Isso não vai ajudá-lo na avaliação, porque eu já comi e gostei de bacalhau em outras receitas, e o mesmo já aconteceu com a Chris em relação ao palmito. Surpreenda-nos, porra! Eu gostei bastante da sobremesa, só achei que a massa de pizza poderia vir quentinha, daria um "tchans" a mais. Ah, chris também achou a massa borrachuda. De fato era um pouco.

A feiosa sobremesa

A experiência geral foi agradável. Ficamos quase três horas no restaurante. O serviço foi beneficiado pelo fato de o lugar estar muito vazio, mas o fato é que foi atencioso na maior parte do tempo, e trocou prontamente a cerveja que estava quente. Chris só reclamou de uma demora em lhe arrumar um cinzeiro em dado momento. Alguns garçons ficavam no celular algumas vezes. Aliás, às vezes penso que o celular é uma praga que deveria ser eliminada da Terra. Vale dizer que também há alguns pernilongos, o que é natural por ser ao ar livre, e por conta da época do ano. Mas é claro que enche o saco um pouquinho.

Uma pena que aquele belo deck tenha ficado vazio em uma noite de terça-feira tão quente. O lugar é bom para se tomar uma cerveja, jogar conversa fora, enquanto se come uma pizzinha. Mas, além da gente, apenas outras duas mesas estiveram ocupadas, das sete até perto das dez da noite. Certamente, pelo tamanho do lugar, e quantidade de funcionários, a casa deu prejuízo. Ali perto o Capital da Vila, que é mais bar que restaurante, estava lotado. Li na internet que a Casa do Azeite tem música ao vivo, provavelmente aos finais de semana, quando deve encher um pouco mais. Eu e Chris concordamos que poderíamos voltar ali, talvez não para jantar, mas para tomar um chopp ou uma cerveja com aquela bela vista. De preferência numa terça-feira, longe da muvuca. Quem sabe aquela pizza com 527 ingredientes não fique bem melhor em sua versão em tamanho normal? A Casa do Azeite merece mais prestígio, nem que seja só pela localização e pelas boas intenções.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 7 e 7
Prato principal(3): 6 e 6
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 7 e 7,16
Voltaria?: Sim e sim


Serviço:
Avenida Anchieta, 313 - Vila Santa Rita - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12)  3302-5300
Facebook: Casa do Azeite