quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cantina da Nena (São José dos Campos - SP) - 31/05/2016

O que falar de um restaurante que é mais velho do que eu? A Cantina da Nena foi fundada em março de 1980, e eu fui fundado no mesmo ano, mas em setembro. No mercado dos restaurantes, chegar a esta marca é para pouquíssimos (no mercado dos homens não é tão raro). Não há joseense que não conheça a cantina, que é sinônimo de tradição em comida italiana na cidade - e tem uma filial em cada um dos três shoppings centers locais. Todos reconhecem de imediato sua logomarca, com a Gioconda em sua pose tradicional, mas com uma tacinha de vinho nas mãos. O termo cantina está ligado a estabelecimentos rústicos na Itália, que inicialmente serviam militares e marinheiros. Claro que hoje o uso da palavra mudou, e qualquer escola, por exemplo, tem sua cantina. De qualquer forma, em geral quando se aplica a um restaurante ele se refere a um lugar de comida simples e farta. Não deixa de ser a cara da Cantina da Nena.



Em uma terça-feira, chegamos por volta das 20h30, e o restaurante estava com duas mesas ocupadas. O salão é grande, e as mesas são bem próximas umas às outras. As toalhas vermelhas e as paredes brancas e verdes indicam bem que estamos em terreno italiano. Nas paredes há alguns quadros de arte abstrata, cujas molduras também são vermelhas, formando uma bonita composição. Como já dito, cantinas não são restaurantes sofisticados, de modo que as cadeiras e mesas são simples. O ambiente é climatizado, e as janelas tem vista para a Rua Luís Jacinto, uma das mais animadas de São José. 

Estamos chegando para mangiare

Antes mesmo de olharmos as entradas pedimos uma cerveja Budweiser (600ml, R$ 9,90). Vale dizer que o cardápio estava desatualizado nesse quesito, e o que constava lá não era o que estava disponível na cozinha. Mas o simpático garçom nos falou as opções, e trouxe a Bud bem geladinha - ou melhor, "as" Buds, já que acabamos tomando duas.

Para iniciarmos as conversas bem italianamente, e acompanhar nossa cervejinha, pedimos as brusquetas de muçarela de búfala (seis unidades, R$ 25,50). Seis unidades é unidade demais, e quando elas chegaram já sabíamos que não iríamos comer tudo, sob o risco de não aguentarmos chegar aos pratos principais (mas pedimos para embrulhar as duas que sobraram, que bobos não somos). A Chris já comentou de cara que podiam ter colocado umas folhinhas de manjericão por cima, para dar uma refrescada e uma cor. Concordei com ela, e ambos também concordamos que a torrada não estava crocante. Mas o sabor estava razoável, com o molho de tomate dando uma adocicada no gosto forte da muçarela de búfala.

Até hoje acho estanho escrever "muçarela"

Deixamos a cerveja de lado, e para acompanhar nossos pratos principais pedimos um vinho chileno Ventisquero Reserva Carménère 2013 (375ml, R$ 38). O preço está bastante justo, já que este vinho custa quase isso em adegas e lojas especializadas.

Para escolher o prato principal as opções são infinitas. Hipérbole à parte, vejamos: são seis tipos de sopa, quatro sabores de risoto, sete tipos de lasanha, três de rondeli e quatro de caneloni, além de várias opções com carne, frango e peixe. Mas isso não é nada perto da quantidade de combinações que podem ser feitas com as massas artesanais da casa. São dezesseis tipos de massa (!!!) e mais treze sabores de molho (!!) que você pode combinar do jeito que quiser. Uma calculadora simples resolve: só aí são 208 opções de prato principal. É ou não é quase infinito? Tá, não é. Mas vale a hipérbole.

De segunda à quarta, no jantar, a Nena tem a opção do Festival de Massas (R$ 43), que é uma espécie de rodízio, onde o cliente tem um cardápio pré-selecionado, da qual ele pode comer tudo, em pequenas porções. Os pratos só vem à mesa quando solicitados. Neste caso são seis tipos de massa e seis sabores de molho, que podem ser combinados à vontade, além de quatro opções de lasanha. Chris achou que era uma boa maneira de conhecer mais pratos da casa de uma vez, e fez esta opção.

Ela começou com um básico nhoque à bolonhesa. Quando chegou, eu achei que tinha muito nhoque para pouco molho. Chris achou que estava tudo meio sem graça, faltou mais tempero. Sentiu falta de novo do manjericão, que ela adora. E disse que a massa de nhoque feita pela minha mãe é melhor (e ela nem pode ser acusada de puxa-saco, porque minha mãe não estava presente, e eu juro que ela não me pediu para escrever isso).

Tá com cara de xoxinho, não tá?

Em seguida ela pediu o talharim à putanesca, que é um molho complicado por ter muitos ingredientes fortes (alcaparras, azeitonas, alho, aliche). Apesar disso, Chris também sentiu o mesmo problema do bolonhesa, e achou um pouco sem graça, embora tenha gostado mais do que o anterior (até porque este tinha manjericão!).

Seria ridículo ficar fazendo piadinhas com o nome do prato

Para finalizar a comilança a Chris pediu o ravióli de massa verde (recheado com ricota) e molho à moda da cantina (creme de leite, tomate e gorgonzola). Os raviólis vieram afogados no molho, quase como uma sopa. O problema é que o molho era um pouco enjoativo, o que estragou o prato. Eu também provei, e ambos ficamos com saudades do molho de gorgonzola da minha mãe (olha ela aí de novo). Mas a Chris comeu o ravióli em separado e achou bom.

Vai uma sopinha?

Eu resolvi não optar pelo festival de massas, e pedi a lasanha de berinjela, abobrinha e ricota (R$ 32). Por cima das camadas de berinjela e abobrinha há uma camada de massa artesanal da casa. Sabores muito bons, com a colherada bem suculenta e molhada, enchendo a boca. A escolha da ricota é adequada, por ser um queijo mais fraco, que não mascara o sabor dos legumes. Não é nada que mude o mundo, mas é uma excelente opção para vegetarianos ou simplesmente amantes de berinjela, como eu. A porção é bem servida, adequada para uma pessoa.

As berinjelas e seu amante

As opções de sobremesa são bem básicas, então resolvemos escolher a mais básica delas: creme de papaya com cassis (R$ 14,50). Esta é uma sobremesa tipicamente brasileira, e é praticamente onipresente nos cardápios dos restaurantes do país. Apesar disso, nem eu nem a Chris nunca tínhamos provado a danada. Achamos que era uma boa oportunidade. O creme vem servido num pote de sorvete, e o garçom trouxe a garrafa de licor de cassis à mesa, e colocou um pouquinho do líquido sobre o creme. Ambos gostamos, embora não tenhamos medida de comparação. Chris gostou mais do que eu, e até achou que o garçom poderia ter colocado um pouquinho mais de licor.

Chris e o papaya com cassis (sou muito bom de rima)

O serviço é conduzido por dois garçons (e ambos aparecem na foto aí acima), que parecem ser bem antigos de casa. Atendem com naturalidade e segurança, e não parecem engessados, tem liberdade de atuação. Por exemplo, eu e Chris sempre experimentamos os pratos um do outro, mas nesta ocasião ela estava fazendo parte do Festival de Massas, que é uma espécie de rodízio, então perguntei ao garçom se haveria problema de eu provar os pratos que ela receberia. Ele respondeu, bem-humorado: "pode ficar tranquilo, o garçom é cego e mudo". Mas o serviço não ficou livre de problemas. Houve uma confusão no pedido de nossa entrada, que não tinha sido anotado por um dos garçons. E a Chris recebeu o primeiro prato de seu Festival de Massas muito antes de minha lasanha chegar. A justificativa de que os pratos do festival saem mais rápidos não colou muito. Mas a simpatia do atendimento pesa mais do que estes pequenos problemas.

Ao final eu considerei que o custo-benefício da Cantina da Nena é bastante satisfatório. Dá para um casal se alimentar bem por menos de cem reais - sem pedir vinho, claro. Isso para mim significa que o lugar passa no "critério McDonald´s". Explica-se: para um casal comer no McDonald´s vai gastar no mínimo cinquenta reais, então quando um bom restaurante fica um pouco acima disso eu considero que tem bom custo-benefício. Portanto eu concluí que voltaria à cantina. Já a Chris teve muitos problemas com seu Festival de Massas, e acha que não valeria a pena um retorno. Ela se decepcionou com o fato de uma casa especializada em massas não tê-la satisfeito justamente neste quesito. Não posso culpá-la. Quando der vontade de comer massas, melhor chamá-la para um almoço de domingo com minha mãe.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 6,66 e 6,79
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Rua Luís Jacinto, 260 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3943-7296
Site: http://www.cantinadanena.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cantinadanena/?fref=ts