sábado, 14 de fevereiro de 2015

Le Palmier (São José dos Campos - SP) - 12/02/2015

A Palmeira. Bonito nome para um restaurante. Em francês fica ainda mais bonito: Le Palmier. Talvez combinasse mais com um restaurante na praia, mas este aqui fica no epicentro da Vila Ema, bairro central de São José dos Campos, mais precisamente dentro do Boulevard Vila Ema, um shopping que se autointitula o "mais chique de São José dos Campos" em sua página oficial. E de fato é chique: chegamos ao estacionamento e fomos recepcionados pelo serviço de vallet. Sempre bom não ter que manobrar o carro.


Entradinha do restaurante, na saída do elevador

Pegamos o elevador e nos dirigimos ao mezanino, como eles chamam o andar mais alto do prédio, onde fica o restaurante. Ambiente sofisticado, com mesas quadradas, cadeiras estofadas, piso de madeira, grandes janelas de vidro. Todo mundo muito chique, de garços a clientes. A Chris também. Eu, de bermuda jeans e camiseta de Roraima. Mas ao menos estava de tênis, pra não me sentir mal. O ambiente principal tem formato de "U", com a cozinha ficando no meio. Achei interessante. Bastante espaçoso também. Já estávamos preocupados com a pitadinha no cigarro da Chris, com medo de termos que descer o elevador pra ela poder fumar. Mas há uma varanda com acesso fácil, e com uma vista bacana para o bairro.

Chris e uma geral do ambiente

A vista bonita da varanda

Começamos os trabalhos com uma Heineken long neck (R$ 8,50), pra poder pensar melhor. Veio bem gelada. Dispensamos o "Couvert do chef", que pela descrição do garçom nos pareceu uma mixórdia louca. O cardápio é bem enxuto, o que me agrada. Para entradas, apenas 7 opções, mas bem variadas entre si. Ficamos com o origami de queijo de cabra com castanhas do pará e melaço de cana (R$ 36,00). Apresentação muito legal: uma cestinha feita com massa japonesa de arroz, e dentro dela as bolinhas de queijo de cabra, as castanhas quebradas e um pouco de melaço por cima. Ah, e sentimos um pouco de pimenta também. Pimenta esta que aparecerá mais à frente neste relato, e não de forma muito feliz. Mas nós adoramos a entrada. Não sabíamos direito como comer, mas a Chris com sua praticidade pegou com a mão e "nhac". Fiz o mesmo. Acho que é o melhor jeito, de fato. Talvez o único. Sabor bem delicado, e o toque do melaço caiu muito bem. Pena que vieram cinco. Sacanagem. Cinco não é número divisível, né? Quer dizer, só vai dar certo se tiver cinco pessoas à mesa. Dois casais e uma vela. Sei lá. Porra, põe número par, caceta! Nem vou dizer quem comeu uma a mais...


O bonitinho origami

Embora o nome do restaurante seja em francês, as opções de pratos principais são bem variadas. As divisões no cardápio são: massas; risotos; peixes e carnes. Entre os típicos franceses, há os onipresentes confit de canard e carré de cordeiro. Pequenas incongruências, ou deslizes: em risotos havia uma opção "arroz com açafrão e frutos do mar", o que me parece a descrição de uma paella, que não é bem um risoto. E nos "peixes" há muitos pratos sem a presença de nenhum peixe, já que polvos, lulas e camarões, na última vez em que chequei, eram crustáceos e moluscos. Custava colocar "frutos do mar"? Mas nada disso importa muito, porque eu e Chris partimos mesmo é pras carnes!

Este é o oitavo texto de restaurantes no blog, e acho que a terceira vez que a Chris pede filé mignon. Vai gostar de um sanguinho assim lá na Transilvânia. Desta vez ela pediu um medalhão de filé ao molho poivre acompanhado de risoto de favas (R$ 72,00). Quando eu disse a ela "mas medalhão de novo, meu anjo?", ela respondeu "é por causa do risoto de favas". Sei, sei. Apresentação bem simples, sem muita imaginação. Como de praxe, ela pediu mal-passado. E como não é de praxe, acertaram! Veio mesmo beeem vermelhinho, do jeito que tem que ser. E o risoto também estava bem interessante. Com tudo isso, Chris começou a refeição felicíssima. Sua alegria começou a se transformar em pimenta, com o passar do tempo. Os grãos de pimenta estavam inteiros, e eram muitos. Dominaram e contaminaram todo o prato, segundo seu relato. De fato acho que era muito pimenta pra um só ser ingerir. Tirem a prova aí abaixo. Por conta disso, a partir de um certo ponto ela deixou de sentir o gosto das outras coisas.

Chris ainda feliz com seu prato

As pimentas que ela julgou exageradas. Isso porque várias já tinham sido ingeridas!

Eu apostei em um ossobuco de vitela com polenta de sêmola de trigo ao molho de vinho do porto (R$ 68,00). Fiz ossobuco duas vezes em casa, e achei muito bom. Mas nunca havia comido em um restaurante, feito por um chef profissional. Quando os pratos chegaram, eu e Chris demos uma garfada no prato um do outro, como de costume. Primeiro comentário dela: "o ossobuco que você fez em casa é melhor". Um doce, né? Não posso concordar totalmente com ela, por pura modéstia. Mas notei alguns problemas. Em primeiro lugar alguns pedaços da carne não estavam muito macios. Ossobuco tem que cozinhar bastante, porque a carne é bem dura. Em um restaurante, como não há muito tempo pra isso, talvez ele esteja pré-cozido, ou talvez seja feito na panela de pressão. De qualquer dos modos, faltou um pouco de tempo de cozimento. E o tutano? Judiação. Pra quem não sabe, é uma substância, bem gordurosa, que fica no meio dos ossos. É uma das coisas mais saborosas que já pus na boca. Mas não encontrei a tal em nenhum dos meus dois pedaços de carne. Talvez tenham se esvaído no cozimento, mas o chef poderia ter o cuidado de deixá-lo ali. Uma pena. A apresentação também era simples, com a polenta por baixo, os ossobucos com o molho por cima, junto com um pouco de alho-poró frito. Apesar das reticências, o molho estava bem saboroso, o que ajudou a salvá-lo.

Fê e seu prato bem servido

Antes de falar da sobremesa, vale dizer que os pratos vieram bem fartos. Tanto que eu e Chris acabamos não conseguindo comer tudo. Dá muito bem pra ficar satisfeito comendo só o prato principal, sem entrada nem sobremesa. Faltou dizer que acompanhamos tudo com um vinho Alamos Malbec 2013 (R$ 66,00), que harmonizou bem com ambas as refeições. Vale dizer que o preço é bem honesto, porque acabo de vê-lo na internet por R$ 50,00.  

Na hora de adoçar a boca depois da refeição, apenas seis opções, o que me parece perfeito. Mas não teve nem conversa: Chris arbitrariamente decidiu pelo crème anglaise com whisky e farofa de macadâmia (R$ 26,00). Tudo por causa da macadâmia, que ela adora. Apresentação bonita, com o belo toque da physalis, uma frutinha que eu nunca tinha visto na vida, que veio acompanhada de sua flor. Parecia só um enfeite, mas quando eu peguei a flor, descobri a frutinha grudada nela. Redondinha, amarelinha, do tamanho de uma uva, e com sabor azedinho, que lembra acerola. Quando ao crème anglaise, achamos que era apenas um sorvete de creme com nome afrescalhado. A farofinha de macadâmia combinou muito bem, e o whisky estava bem sutil.


Chris e a sobremesa, com a florzinha de physalis

O serviço teve uma nota bastante interessante. Ele foi melhor quando o restaurante encheu. Explica-se: com o lugar vazio, o homem não saía do nosso lado. Tínhamos que conversar baixinho, se não quiséssemos que ele ouvisse tudo. Como bem pontuou a Chris, o serviço tem que ser atencioso a ponto de ver quando o cliente quer algo, mas não a ponto de ser notado o tempo todo. Mas o garçom que nos atendeu foi solícito quando eu perguntei de que era feita a cestinha que acompanhava a entrada, e com o restaurante cheio se manteve atento, com apenas alguns momentos de demora, como na hora de servir o vinho.

Quanto ao custo-benefício da casa, concordamos que deixou um pouco a desejar. Trata-se de uma refeição cara, mesmo se desconsiderarmos o vinho, que sempre encarece o preço final. E não oferece prazeres que façam valer o que cobra. Ao menos para nós não foi assim. Para comparação, podemos lembrar que na Casa do Azeite eu comi um filé au poivre por R$ 39,90, que não fazia feio frente ao que a Chris comeu aqui, e custou 33 pilas a menos. De qualquer forma trata-se de um lugar bonito, tranquilo, bom para um jantar romântico. Eu e Chris já tivemos o nosso. E aquele serviço de vallet que me economizou uma manobra custou R$ 5,00 bem cobradinhos no final das contas...



AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 8 e 8
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7,5 e 7,5
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 6,75 e 7,16
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida Heitor Villa Lobos, 821 - Vila Ema - São José dos Campos - SP (mezanino do Shopping Boulevard Vila Ema)
Telefone: (12) 3911-2778 (reservas) - 3923-6805 (eventos)
Site: http://www.lepalmier.com.br/pt 
Facebook: Le Palmier