quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Edo Zushi (São José dos Campos - SP) - 02/12/2014

Eu já tinha ido a um restaurante japonês. Uma vez. Há mais de dez anos. Chris também já tinha ido há tempos. Nenhum dos dois tinha lembranças muito positivas. Pra ser mais preciso: nenhum dos dois gostava de comida japonesa. E mais: ambos éramos completamente leigos no assunto. Começamos a conversar recentemente sobre a necessidade de darmos uma segunda chance à culinária do arquipélago. São José dos Campos talvez seja uma das melhores cidades para isso. Não sei a média das outras cidades, mas aqui deve ter um restaurante japonês para cada duas pessoas. Mas precisávamos ir ao melhor. Não adiantaria ir em um "mais ou menos" e depois ficar pensando que não gostamos por culpa do estabelecimento. Então descobri a existência do Edo Zushi, considerado pela "Veja Comer & Beber" como o melhor restaurante japonês do Vale do Paraíba. E referendado também por nossos amigos de ascendência oriental.

Casal chegando, e sol ainda presente às 19h30

Em uma noite de terça-feira, chegamos ao Edo por volta das 19h30. Fachada bonita, mas sem chamar muito a atenção. Um senhor elegante na porta, responsável por dizer "boa noite" e abrir a dita cuja. Ao adentrar, um ambiente muito agradável, com um pequeno lago de carpas já na entrada. Sem tatames, sem mesas no chão. O restaurante opta por mesas de madeira, sofás e decoração fora do tradicional japonês. Fomos atendidos por outro senhor, calvo e simpático, que nos indicou uma mesa. O restaurante tem vários ambientes. Neste que ficamos há um sofá único percorrendo toda a parede, e mesas colocadas em frente a ele, além do balcão de self-service. Ficamos numa quina, o que talvez não seja muito bom segundo o Feng Shui. Mas, sendo o Feng Shui chinês, talvez os japoneses não liguem muito para ele. Há também um enorme, e lindo, aquário de água salgada, cheio de Nemos e outros peixes tão bonitos quanto. O ponto negativo é que estávamos bem pertinho do tal aquário, e alguns clientes, especialmente com filhos pequenos, às vezes se amontoavam perto de nossa mesa para olhar os nadantes.


Chris observa o belo aquário

O mesmo senhor calvo nos perguntou se conhecíamos o funcionamento do lugar. Após nossa negativa ele explicou que era sistema self-service, pelo preço de R$ 74,90 por pessoa, podendo se servir quantas vezes quisesse (só faltava não poder, né?), também com direito a um temaki e uma sobremesa para cada. Embora eu já tivesse visto, ao adentrar o ambiente, que havia o sistema self-service, certamente não era o que eu esperava. Mas ele foi bem enfático ao dizer que esse era o sistema da casa, sem nos dar opções, portanto acabei nem perguntando se havia também serviço à la carte.

Fomos nos servir, e percebemos que não havia nem uma plaquinha indicando o que era cada uma daquelas coisinhas estranhas. Sem ofensa, mas são mesmo coisinhas estranhas, oras. Ao menos para ocidentais leigos. Quando vamos a um self-service no dia a dia, tem placa até dizendo "Picadinho de carne". Custa fazer isso em um restaurante japonês? O restaurante parece pensar que quem vai ali sabe de tudo, e isso faz com que ele se pareça com um clube exclusivo. Chato isso. Nos servimos, timidamente, daquilo que conhecíamos, ou do que parecia gostoso, e fomos para a mesa. Na hora de nos servirmos pela segunda vez, pedi a um garçom, de nome Adriano, que nos explicasse o que havia no balcão. Ele foi muito solícito, falou sobre todas as opções, uma por uma (e olha que são bem umas 30), de forma clara e rápida. Então eu perguntei a ele se não tinha ouriço-do-mar entre as opções. Ele disse que tinha, mas só no serviço à la carte. Oi? Então tem à la carte? "Claro, todos os dias", foi a resposta. Ah, carequinha maledeto! Só era calvo e simpático enquanto não tinha feito merda. Falei a Adriano que não tínhamos sido informados disso quando chegamos, e ele disse que sentia muito. De fato, era o que ele poderia fazer, uma vez que já tínhamos comido do self-service.

Antes de entrar no assunto da comida em si, vale falar mais um pouco sobre o serviço do restaurante. Fato é que um self-service de R$ 74,90 por cabeça continua sendo um self-service. Ou seja, se o restaurante estiver cheio, vai ter tumulto em frente ao balcão. E estava cheio. E teve tumulto. E teve problema com o atendimento dos garçons, mesmo que eles estivessem ali só para servir bebidas. Com vários ambientes, Chris acha que precisaria haver mais garçons. De fato, em muitos momentos ficamos moscando, com pratos e copos vazios na mesa, e sem conseguir a atenção de algum deles. Em dado momento parecíamos estar numa churrascaria, tal a barulheira nas mesas próximas, sendo inevitável ouvir a conversa dos que estavam ao nosso lado. Nada da atmosfera zen que esperávamos. Para piorar, tanto o sem-cabelo quanto uma outra moça não serviam, apenas observavam e arrumavam as mesas quando alguém ia embora. Certamente não era a função deles servir mesa, mas é desagradável ver alguns sem fazer nada e outros trabalhando sem parar. Devemos fazer justiça ao garçom Adriano, já citado, certamente o melhor funcionário da casa. Para se ter idéia de seu cuidado, quando já estávamos indo embora ele perguntou se já tínhamos visto o aquário de águas-vivas, que ficava em outro ambiente. Nota dez pro menino. Ah, outro probleminha: temperatura agradável em todos os ambientes, menos no banheiro, que bem poderia ter também um ar-condicionado. Saí de lá suando, mesmo sem ter feito grandes esforços.

Fê e uma visão mais ampla do restô, já começando a encher

 Hora de falar da razão de ser de um restaurante: a comida. Sim, porque lá se foram cinco parágrafos só metendo o pau em todos os aspectos que não a envolvem. A primeira coisa a dizer é que as opções são vastas. Muitas variedades de sushis com peixe cru (salmão, anchova, saint-peter, entre outros), e com outros acompanhamentos diversos. Sushi  é o arroz japonês, em geral temperado com vinagre, sal e açucar, misturado a algum fruto do mar, legume ou ovo. E aqui ele surge em dezenas de maneiras diferentes. Há até uma opção que vem com ovas de peixe-voador! Ainda na parte dos alimentos crus ou frios, há camarão, ostra e polvo. Também há uma folhinha verde, chamada shiso, de gosto parecido com hortelã. Na parte de comida quente há opções mais palatáveis a paladares não acostumados à comida oriental, como salmão grelhado, camarão empanado, anéis de ostra empanados, yakisoba (aquele macarrão que a gente come nos disk comida chinesa), harumaki (o popular rolinho primavera), entre outras coisas. Há também alguns molhos disponíveis, como o agridoce, e também o famigerado wasabi, um tempero em pasta, de cor verde, feito com a raiz forte oriental. Eu e Chris não nos aventuramos neste.


Chris e as muitas opções do self-service metido à besta


Claro que não experimentamos todas as opções existentes. Mas fizemos um bom apanhado, e posso dizer que comemos muito bem. Mesmo os peixes crus, minha principal lembrança ruim da cozinha oriental, agora me caíram bem, embora eu continue preferindo uma picanha. Toda a parte crua do cardápio ganha muito em sabor quando misturada a um dos molhos oferecidos. Chris continua sem gostar do arroz enrolado com algas e recheado com pepino, um dos tipos de sushis mais famosos, ao menos aqui no Brasil. Depois de já termos comido no self-service, pedimos nossos temakis, que são enrolados de folha de alga em forma de cone, recheadas com arroz de sushi e mais algum ingrediente. No nosso caso, pedimos um de salmão e um de atum. Ambos crus, claro. Chris não gostou, o que nos deu a convicção de que ele não gosta mesmo das algas. Eu comi o meu quase inteiro, embora já estivesse bem satisfeito. É de se comer com as mãos mesmo, porque é muito grande pra comer com os hashis, os famosos "pauzinhos" japoneses (sem duplo sentido nenhum). Aliás, nesse momento já deve ter ficado claro que eu e Chris fizemos toda a refeição com os populares e ocidentais "garfo e faca" mesmo.


Nossos primeiros pratos, feitos meio "às cegas"

Chris feliz, e no prato o shiso com polvo e pepino, e ao lado o sushi com ovas de peixe-voador
Casal e seus temakis


Para acompanhar esse banquete tomamos duas cervejas Stella Artois (long neck, R$ 8,00 cada) e uma Sakerinha (caipirinha de saquê) de morango (R$ 20,00). Cerveja gelada e Sakerinha gostosa e bem apresentada.


Chris e a Sakerinha

Para a sobremesa, apenas uma opção: banana caramelizada quente com sorvete de creme. Vem em uma tigela, e claro que quando chega à mesa o sorvete já está quase todo derretido pelo calor da banana. Gostoso, mas convenhamos, sem grande participação criativa do chef. Um sorvete com banana quente e açucar, e pronto. Chris comeu o dela todinho, e eu deixei boa parte no prato, talvez porque nos temakis tenha acontecido o inverso.

Fê e sua banana em calda de sorvete

 Não dá pra negar que tudo no restaurante é feito com muito cuidado, e que os ingredientes são de primeira qualidade. Embora não tenhamos parâmetro para comparação, isto fica bem claro tanto no aspecto visual quanto no paladar. Mas todos os problemas de atendimento, mais a "muvuca" que se formou, mais o fator "preço" nos levam à conclusão de que não voltaríamos ao Edo Zushi. Mas provavelmente se você nos perguntasse hoje se nós gostamos de comida japonesa, nossa resposta seria, de maneira geral, que sim. Mas se você emendasse perguntando se gostaríamos de ir comer um sushi, possivelmente diríamos "não dá pra ser uma picanhinha?"

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8 (perde pontos pela zona que estava, vazio talvez fosse 10)
Serviço(2): 6 e 6 (graças ao Adriano)
Prato principal (self-service + temakis)(3): 8 e 8
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 6,2 e 6,8
Voltaria?: Não e não (a não ser que o Richard vá com a gente!)

Serviço:
Rua Santa Elza, 250 - Vila Adyana - São José dos Campos - São Paulo 
Obs: fica na rua do Gogó da Ema, virando à direita na Av. Adhemar de Barros
Telefone: (12) - 3911-5772
Facebook: Edo Zushi