quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Clemenza (São José dos Campos - SP) - 29/11/2022

 

    Clemenza. Para mim, é impossível ouvir esse nome e não lembrar de cinema. Afinal, Clemenza é o nome de um dos funcionários mais antigos, e fiéis, da família Corleone, do filme "O Poderoso Chefão". Ao saber que São José dos Campos tinha um restaurante com esse nome, me perguntei se teria alguma coisa a ver com o filme. Para tirar essa dúvida, visitamos o restaurante em uma terça-feira meio chuvosa e sombria, torcendo para que o próprio Clemenza não estivesse nos esperando em alguma esquina do caminho. O restaurante fica em um dos trechos mais tranquilos da Avenida Rio Branco, no chiquetê bairro Jardim Esplanada II. A fachada é discreta, se assemelhando a uma residência. São vários ambientes, começando por um pequeno salão, com vista para a rua, depois um corredor com sofás e samambaias na parede, e ao final uma varanda espaçosa, com um bar. 
 
O Coringa também foi, caso Clemenza aparecesse

Eita corredorzão sem fim, sô

"Amor, vai ali e finge que é gente"
 
    Mas e aí, tem a ver com cinema ou não? Bem, eu diria que tem e não tem. No pequeno salão em que ficamos, há fotos de Michael Corleone (Al Pacino), Don Vito Corleone (Marlon Brando) e Clemenza (em sua versão jovem, vivido por Bruno Kirby). As fotos que simbolizam os banheiros masculino e feminino são de Clemenza (Bruno Kirby) e Connie Corleone (Talia Shire). Mas o restaurante não aposta muito no storytelling, não contextualiza, e fica uma coisa assim meio largada no ar. Quem não sabe quem é Clemenza, continuará sem saber. E não adianta perguntar aos funcionários. Para exemplificar: quando recebi a conta, vi que a razão social da empresa é "Santino Gastronomia LTDA". Santino é o nome de um dos filhos de Don Vito Corleone (aquele que morre fuzilado no pedágio, vivido por James Caan). Achei divertidíssimo, e comentei isso com a pessoa que nos atendia. Ela disse que não sabia disso, e que nem viu ao filme inteiro. Nem dá para colocar a culpa nela. O dono, ao fazer a seleção de funcionários, deveria exigir ao menos um conhecimento básico do filme que o restaurante homenageia. Convenhamos, não seria um sacrifício assim tão grande assistir a uma das maiores obras de arte que a humanidade já produziu.

Tome cuidado com esses quatro elementos perigosos

Pipi com a Connie ou com o Clemenza, eis a questão

    Chega de cinema, vamos falar de comida. O cardápio do Clemenza é bem enxuto, e chega às nossas mãos em apenas uma página com frente e verso. Na parte da frente, as opções de antipasto, primo piatto e secondo piatto (entrada, primeiro prato e segundo prato). No verso, as opções de dolce (sobremesas). Cabe aqui uma crítica ao fato de o cardápio exibido no site do restaurante ser completamente diferente daquele que é oferecido "ao vivo". Bora atualizar isso aí, senhor Clemenza? Com todo respeito, claro, por favor, não me enforque em um carro fechado me fazendo chutar o para-brisa enquanto morro sem ar.
 
    Para a entrada, ou antipasto, escolhemos o carpaccio rústico (angus selado, molho do Harry´s Bar Veneza, R$ 42). Já que ao restaurante falta contextualização, contextualizamos nós: Harry´s Bar é o nome do bar em Veneza onde foi criado o carpaccio (carne crua servida em fatias finíssimas). Nunca comemos o molho original, lá em Veneza, mas este aqui nos pareceu um molho de maionese com mostarda, gostosinho, mas nada de mais. A carne estava apenas selada, com uma crostinha agradável. Não achamos que a apresentação tenha sido das melhores. A carne é servida com um pãozinho torrado, levemente amanteigado, que estava uma delícia, e fez nossas notas aumentarem (especialmente a da Chris, que adorou).

Carne quase crua e o molho do bar do Réri

    Seguindo a sugestão da funcionária, resolvemos dividir entre nós um primo piatto, e depois um secondo piatto. Sempre que isso acontece, claro que o nobre casal tem que entrar em um consenso, o que nem sempre é fácil. Mas dessa vez, até que foi. Não precisamos tirar no par ou ímpar, nem nos engalfinharmos no meio do restaurante.

    Para o primo piatto, fomos de penne ala vodka (molho pomodoro, panna e vodka, R$ 72). Essa foi uma escolha da Chris, que ficou muito curiosa com o uso da vodka com o macarrão (eu ia chamá-la de pingaiada, mas creio que vodkaiada seja mais preciso). O "panna", que está na descrição do prato, é creme de leite, ou nata, que é usado no molho do macarrão. Falando no molho, é um dos mais gostosos que já provamos. Simples e altamente efetivo, levemente adocicado, levemente apimentado, consistência agradável. Eu raspei essa panelinha que vocês verão aí abaixo, e se estivesse em casa, provavelmente a teria lambiscado. O penne estava um pouquinho duro, talvez mais alguns segundos de cozimento caíssem bem. 
 
Assim, olhando, ninguém diz que tem vójica
 
    O secondo piatto escolhido foi a bistecca (300g de bife Angus, purê de abóbora cabotiá e crocante de castanhas, R$ 105). Além dos elementos que constam na descrição do prato, também acompanha uma salsa, tipo um chimichurri, por cima dos pedaços de carne. Eu gosto da carne ao ponto, Chris prefere mal passada. Como eu sou um ser magnânimo, aceitei que a carne viesse mal passada (e veio mesmo!). Estava boa, bem temperada (embora um pouco fria), com o chimichurri dando aquela acidez, contrastando com o adocicado do purê. As castanhas não fizeram muita diferença no sabor, apenas acrescentaram um pouco de crocância. A carne tinha alguns nervos bem nervosos, incomíveis.

Assim, olhando, ninguém diz que tem nervos incomíveis

Olha, mas que veio mal passada, isso veio. Muuuu....

    São quatro opções de sobremesa. Em uma casa com pegada italiana, é estranho não encontrar panna cotta e tiramisù. Por outra lado, o francês crème brûlée estava presente - mas não foi escolhido por nós. Resolvemos escolher duas sobremesas, e dividir novamente.

    Uma delas foi o pazzo di ciocolatto (bolacha de amêndoas da casa com creme de chocolates, R$ 38). Apresentação bem da bonitinha. Bolachinha crocante, cremes de chocolate gostosos, com boa consistência. Um dos cremes é de chocolate branco, que a Chris não gosta (diz até que não é chocolate). As mordidas que vinham com uma folhinha de hortelã ganhavam mais complexidade. 

Todo trabalhado no rabisco

    A outra foi a leave the gun, take the cannoli (massa crocante, creme de ricota, frutas cristalizadas e chocolate, R$ 34). Para quem não sabe, a frase que dá nome a essa sobremesa ("deixa a arma, pegue o cannoli") é uma das mais famosas do filme "O Poderoso Chefão", e é dita pelo personagem Clemenza, pouco depois de um assassinato (um dia de trabalho normal para ele). Mais uma apresentação belezinha de fofura. O creme de ricota estava bem suave, não muito doce, a massa estava crocante, e as frutas cristalizadas trouxeram frutado e acidez. Não deu pra detectar exatamente quais eram as frutas, mas uma delas parecia ser laranja, o que é um péssimo sinal no filme "O Poderoso Chefão" (pesquise aí no Google "laranja poderoso chefão" pra ver).

Ainda bem que Clemenza deixou a arma e nos trouxe o cannoli

    Em relação ao serviço, o começo foi bem promissor. Assim que chegamos já fomos tirar aquela selfie da fachada, pra entrar aqui no blog. Eis que vem lá de dentro um simpático rapaz, funcionário da casa, se oferecendo para bater a foto. Depois fomos atendidos, por uma moça, bastante simpática, embora não soubesse algumas coisas que perguntamos sobre o cardápio. Ela também cometeu o pecado de parar de ver "O Poderoso Chefão" no meio, o que me parece algo inexplicável - exceto tenha havido um tsunami em São José dos Campos e eu não fiquei sabendo. Não houve grandes demoras na entrega dos pratos, nem para retirar a louça suja da mesa.

    Embora eu compreenda as questões financeiras de se manter um restaurante em um bairro caro, ainda mais com o preço dos alimentos hoje em dia, entendo que há um pequeno problema com a relação custo-benefício do Clemenza. Por exemplo, embora nosso penne ao molho pomodoro estivesse delicioso, era macarrão com molho de tomate, e custou setenta e duas patacas. Não é barato. Chris foi mais condescendente nesse aspecto do que eu. Como não somos de família mafiosa, claro que não dá para ir sempre. Mas é uma ótima opção para levar a mama em um jantar especial. Por isso eu concluí que faria uma segunda visita ao Clemenza, enquanto a Chris achou que não valeria a pena. Ainda assim, acho que seria interessante explorar um pouco mais a relação com o filme, seja no treinamento dos funcionários, seja nos pratos servidos. Don Vito Corleone, onde quer que esteja, agradeceria - e não é bom contrariar esta família.

(para nossas notas de prato principal e sobremesa, fizemos um mix, um bem bolado, um blend, uma mistura, enfim, das nossas apreciações dos dois pratos e das duas sobremesas)

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada (2): 7 e 6
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 8 e 6,5
Média: 7,25 e 7,29
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Av. Barão do Rio Branco, 140 - Jardim Esplanada II, São José dos Campos - São Paulo
Telefone:  (12) 99603-7247 (Whatsapp)
Site: https://clemenza.com.br/
Facebook: @clemenzarestaurante
Instagram: @clemenzarestaurante