domingo, 29 de novembro de 2015

Il Vicoletto (São José dos Campos - SP) - 25/11/2015

Ruela ou beco. Esta é a tradução em português para vicoletto, palavra italiana. A tranquila Rua Ipiranga, onde fica o restaurante Il Vicoletto, pode não ser exatamente um beco, mas é calma e pequena o suficiente para compreendermos o nome dado ao estabelecimento. Fica em um dos trechos mais arborizados e serenos do agitado bairro da Vila Ema. É bem escondidinho, como um tesouro bem guardado.

La facciata

Chegamos às 19h30 e já havia bastante gente por lá. Fizemos reserva, que não chega a ser imprescindível, mas é recomendável. No decorrer da noite o lugar ficou bem cheio. A fachada é bem discreta, assim como a decoração no interior. Mesas e cadeiras de madeira, estas últimas estofadas, proporcionando um bom conforto. Chama a atenção o enorme espelho em uma das paredes, dando uma sensação de profundidade. Para dar um ar rústico, a parede tem "falhas" para que os tijolinhos laranjas fiquem à vista. A cozinha fica atrás de uma parede envidraçada, então é possível aos curiosos observar a movimentação lá dentro. Não gostamos muito da aparência física do cardápio, que carecia de um pouquinho mais de charme e beleza. Era mais condizente com uma cantina, e não com alta gastronomia, como era o caso. Há também um certo problema em relação aos banheiros do restaurante. O espaço é exíguo e limitado a uma pessoa por gênero, e o lavatório é de uso comum, e bastante apertado.  

Chris e o espelhão

Fê e os tijolinhos à vista

Para iniciar os trabalhos, pedimos de entrada o carciofi toscana (R$ 34). Não sabe o que é? Explico. Alcachofra italiana, cogumelos frescos e crosta especial gratinada. A tal crosta especial parecia feita de pão de fôrma torrado, bem crocante. Seja lá do que fosse, estava tudo uma delícia. Acho que "matamos" tudo em uns cinco minutos, porque não conseguíamos parar de comer. Tudo era saboroso, mesmo quando experimentado em separado, coisa que fizemos com todos os ingredientes. Além de sabor, muita textura. Se dá para colocar um porém, é o fato de ser muito grande para uma entrada. Mas não nos fizemos de rogado e acabamos com tudo.

Il antipasto

Depois da maravilhosa entrada, já ficamos ressabiados. Já aconteceu algumas vezes a "maldição" da entrada, quando nos refestelamos com ela, e o prato principal fez "fóin fóin fóin fóin". Mas o prenúncio era bom: apenas oito opções de pratos principais. Gosto disso, significa que a cozinha não tenta abraçar o mundo, e se foca no que sabe fazer. Aliás, com bebidas, entradas, principais e sobremesa, todo o cardápio do restaurante se resume a uma página! Ah, se todos fossem assim. Há também uma lousa, dessas mesmo de escola, onde há algumas opções extras de pratos principais, provavelmente cambiáveis de acordo com o dia, onde os chefs se permitem alguns testes. Havia um gnocchi, por exemplo, que segundo o chef Adolfo Pierantoni tinha sido testado na noite anterior pela primeira vez, pelos próprio funcionários.

Agora é só mangiare

Chris escolheu uma das opções fixas do cardápio, o riso venere di mare (risoto de arroz negro com frutos do mar grelhados, R$ 94). Os frutos do mar eram lula, polvo, camarão e robalo, mas Chris pediu para tirar os dois primeiros, que não são de seu agrado. Seu pedido foi gentilmente aceito pelo chef, que para compensar caprichou nos camarões. Mas desconfio que se viesse só o arroz ela já ficaria satisfeita. Assim como na entrada, todos os itens estavam muito saborosos, de comer gemendo desde a primeira garfada (sim, ela fez isso!). Apresentação bem convencional, mas quantidades perfeitas, com os frutos do mar e o arroz "terminando" ao mesmo tempo. Eu sou famoso na família por ser o "encontrador" de espinhas, e não foi diferente mesmo em um restaurante tão chique. Chris me deu uma garfada, e claro que eu achei uma maledeta e pequenina, o que certamente não é o esperado, tampouco o desejado. Mas podemos dizer que eu salvei a Chris, e a experiência dela se manteve próxima à perfeição.

Nada de moluscos para a Chris, só crustáceos e peixe

Eu escolhi uma opção da lousa, estudioso que sou. Foi o cordeiro com cogumelos e risoto de açafrão (R$ 87). Já tinha comido risoto de açafrão em nossa visita ao Confraria do Sabor, em Campos do Jordão. Mas a impressão é que era a primeira vez que eu comia um risoto de açafrão, com todo o respeito ao Confraria - onde coincidentemente a combinação também era com cordeiro. Aqui no Il Vicoletto, muito sabor, além do cozimento perfeito do arroz. A carne de cordeiro também estava ótima em consistência e gosto, combinando muito bem com o risoto. Uma pena que a proporção não era perfeita, e o risoto acabou "sobrando" no prato depois de terminado o cordeiro. Mas as aspas no "sobrando" são merecidas, porque eu comi o risoto todinho, mesmo sem cordeiro para acompanhar. Uma delícia. Meu final de refeição foi até engraçado, porque a Chris tinha deixado um cadinho da comida dela no prato, e eu comecei a misturar os restos dela com os meus, ficando tudo uma zona. Mas uma zona das boas.

Tem um tomatinho querendo fugir

Se para os pratos principais as opções são enxutas, para as sobremesas o conceito é radicalizado: apenas três opções. São elas creme brulée, pannacotta e torre il vicoletto (bolachas crocantes de amêndoas com mousses de chocolate branco e amargo). Duas tradicionais (uma francesa e uma italiana) e uma mais inventiva. Fomos na tradição italiana e escolhemos a pannacotta Il Vicoletto (R$ 26). O cardápio acrescenta "com calda do dia" à descrição do prato. No nosso dia era calda de maracujá com frutas vermelhas. Embora a pannacotta estivesse muito melhor do que a outra que experimentamos lá no Barba Negra em Florianópolis, a calda acabou sobressaindo em demasia. Maracujá é sempre um problema sério para se trabalhar, por ser forte demais. Mas certamente não foi uma experiência desagradável. E serviu para descobrirmos a consistência perfeita de uma pannacotta, que não é a mesma de uma gelatina. É mais firme, e consegue ser macia sem derreter na boca ao primeiro toque.

Não era ruim, mas não acompanhou a excelência 

O restaurante tem uma carta de vinhos, que acabamos nem abrindo, porque resolvemos tomar cerveja mesmo. E foi apenas questão de gosto, não de economia, como será provado. A casa trabalha com a Cervejaria Dortmund, com sede na cidade de Serra Negra (SP). Combinando com a "enxutez" do resto do cardápio, há apenas três opções de estilos: IPA (que no dia de nossa visita estava substituída por uma red ale), pilsen e witbier. Acompanhamos a entrada com a pilsen Pils (R$ 28) e os pratos principais com a witbier Schloss (R$ 26). Ambas muito bem feitas e muito saborosas, com destaque para a deliciosa witbier.

O serviço é conduzido com propriedade (literalmente!) pelo sócio e chef Adolfo Pierantoni. Ele vem à mesa, fala alto e gesticula como bom italiano, e dá um ar genuíno à experiência. Por vezes pode ser que você esteja querendo conversar tranquilamente, e ele estará falando alto ao seu lado. Mas faz parte da imersão italiana. O garçom que nos atendeu também entedia tudo do cardápio, dando informações com segurança e se mostrando presente mesmo com o restaurante bem cheio. Tivemos problema com a entrada, que nos pareceu ter demorado mais do que deveria. E também com a retirada das louças e talheres da mesma entrada, quando saímos para a Chris fumar, voltamos, ainda fomos ao banheiro, voltamos à mesa, e eles permaneciam lá.

Ao final, tudo se resume ao sabor. Nos importamos com estéticas e belezas, com serviços e simpatias, com banheiros e milongas, mas o mais importante é o sabor. E o Il Vicoletto tem sabor de sobra. Ainda mais importante: tudo no Il Vicoletto é muito bem temperado, mas as individualidades de cada ingrediente não se perdem. Sabemos que estamos diante de uma alcachofra bem temperada, de um cordeiro bem temperado, de um arroz bem temperado. Isso é raro de se encontrar, esta perfeita harmonia entre um bom tempero e o gosto de cada elemento.

Por tudo isso, eu e Chris concordamos enfaticamente que voltaríamos ao Il Vicoletto. Eu cheguei até a sugerir que fôssemos uma vez por mês, até esgotarmos todos os pratos principais, e aí começarmos a repetí-los. Mas não temos cacife para tanto. Por enquanto nos contentamos com a memória de uma noite maravilhosa, e com a promessa de voltarmos assim que possível.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 8
Entrada(2): 9 e 9
Prato principal(3): 9 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 7,5 e 7,5
Média: 7,87 e 8,12
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Ipiranga, 143 - Vila Ema - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3913-1408
Facebook: https://www.facebook.com/IlVicolettoBrasil/?fref=ts






terça-feira, 3 de novembro de 2015

Chinese House (São José dos Campos - SP) - 29/10/2015

Lig Lig e China in Box. Estas eram minhas duas referências em culinária chinesa. Para quem não sabe, são duas redes especializadas em comida chinesa para entrega em casa, presentes em quase todo o Brasil. Dias atrás, caminhando com a Chris perto do apê dela, passamos por este belo restaurante, chamado Chinese House, com dois leões de bronze tomando conta de sua entrada. Nada como caminhar para encontrar coisas que não vemos quando passamos correndo dentro de nossas máquinas motorizadas. Na hora já falei para ela que poderíamos visitar o restaurante em breve, nem que fosse só para tirar uma foto com os leões. E foi o que fizemos. Mas é claro que não ficamos só na fotografia.

Chris e os leões protegendo a entrada

Do lado de dentro a decoração também remete à China, a começar pela enorme estátua de Buda nos fundos. Chamam atenção também as belas luminárias (porra, não tiramos foto delas!) e alguns quadros com pinturas chinesas. Até mesmo os pratos e travessas tem desenhos bonitinhos retratanto um sábio chinês rodeado por uma corça, uma criança e uma mulher. Já as toalhas de mesa pareciam mais uma homenagem ao Fluminense, como bem lembrou a Chris.

O careca e o cabeludo, quem é mais barrigudo?

Toalha do Flu

Pedimos uma cerveja Original (R$ 10,00) e rapidamente escolhemos uma entrada. Não havia muitas opções. Entre os já conhecidos rolinhos primavera, pepino azedo à moda chinesa e outros quetais não muito apetitosos, ficamos com os Wang Tung fritos (R$ 30,00, doze unidades). São pastéis de carne suína, bem parecidos com os guiozá japoneses. Estavam saborosos e crocantes, embora um pouco molhados de óleo. Mas acompanharam muito bem nossa cervejinha.

Wang tung mung chung lung

Já para os de pratos principais, a situação é totalmente oposta. O cardápio lista dezenas de opções. Sem eufemismos: o cardápio é uma zona. A começar pela decisão de colocar, nas páginas da esquerda, a descrição do prato em português e inglês (sem preço), e nas páginas da direita a descrição em chinês com o preço. Então para saber o valor de algum prato o cliente tem que olhar o número do prato no lado esquerdo e então procurar este número no lado direito. A não ser que ele saiba ler chinês. Complicado. Ademais, como já dito, são muitas opções, praticamente uma para cada habitante da China. Outro detalhe: para saber se um prato está disponível ou não, é necessário ver se há o preço especificado. Se não tiver o preço é porque não tem o prato. Então você olha do lado esquerdo, acha a descrição legal, aí vai lá pro lado direito e descobre que, como diz o comercial, certas coisas não tem preço. E não estão disponíveis! Chato.

Com a ajuda do garçom, acabamos escolhendo o peixe com legumes (R$ 41,00) e o risoto de camarão (R$ 21,00). Essa combinação serve fartamente duas pessoas. Os tais legumes que acompanham o peixe são: brócolis, couve-flor, pimentão, cebola, cenoura e broto de bambu. O risoto é na verdade o arroz chop suey acrescido de alguns camarões médios. Nada muito saboroso. Para dizer a verdade, faltou uma boa dose de tempero, tanto no arroz quanto no peixe com legumes. É certo que à mesa havia molho shoyu e sal, mas achamos que a comida já poderia vir mais temperada. Chris se ressentiu mais do que eu dessa falta de sabor.

Prontos pro crime

Um close do rango

Na hora das sobremesas mais uma vez o menu é bastante enxuto. Apenas algumas opções de frutas caramelizadas, e coisas parecidas. Acabamos escolhendo abacaxis e maçãs caramelizados (R$ 20,00). Vieram dois pedaços de cada fruta, bonitos, brilhantes e crocantes. O sabor das frutas acaba sumindo um pouco no meio de tanto açúcar, mal dá para saber qual é uma e qual é outra. Mas até que estava razoável, embora pouquíssimo inventivo.

Bonitos, brilhantes, crocantes e...bonzinhos

Durante boa parte de nossa refeição tivemos o restaurante só para nós. Ainda assim demorou um certo tempo para um dos dois garçons perceberem que estávamos com alguma dificuldade com o cardápio. Afora este pequeno deslize, fomos muito bem atendidos, com simpatia, alguma graça e bastante conhecimento sobre as opções da casa. O tempo de espera também foi apropriado entre os pratos, não deixando grandes intervalos e nem servindo tudo muito rapidamente.

Chris ficou bastante incomodada com a falta de "graça" na comida, e disse que não faria uma segunda visita ao Chinese House. Eu, embora também tenha tido minhas restrições, achei que a relação custo-benefício faria valer a pena outra refeição por ali.

Lig Lig, China in Box e Chinese House. Agora são três nossas referências em culinária chinesa. Mas ainda falta muito para ela nos conquistar de vez.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7,5
Serviço(2): 8 e 7,5
Entrada(2): 7 e 7
Prato principal(3): 5 e 6
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,41 e 6,58
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Avenida São João, 171 - Jardim Esplanada II - São José dos Campos - SP
Telefone: (12)3921-8532
Facebook: https://www.facebook.com/RestauranteChineseHouse/?ref=ts&fref=ts