sexta-feira, 31 de março de 2017

Santo Cerrado (Alto Paraíso de Goiás - GO) - 05/03/2017


A Vila de São Jorge, pertencente à cidade de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, tem basicamente duas ruas principais de comércio. Ficar fora dessas duas ruas pode significar uma sentença de morte para um restaurante ou uma loja de artesanato. Mas nada que um pouco de criatividade e muito zelo não possam resolver. Depois de já estarmos na vila por algumas noites, e termos comido em alguns restaurantes medíocres (no sentido de serem comuns), resolvemos seguir as lanternas. É assim que o Santo Cerrado mostra aos turistas sua localização: com um caminho de lanternas em uma pequena rua perpendicular a uma das ruas principais. E com pequenos cartazes espalhados em algumas lojas do centro, dizendo "Siga as lanternas". Pois bem, seguimos.

Uma mulher misteriosa caminha entre as lanternas

Ah não, a mulher misteriosa era a Chris mesmo...

As ruas escuras de São Jorge não permitem apreciar a fachada do restaurante à noite. Dá para ver que há plantas ornamentando a entrada, e lá dentro algumas luzes difusas, que fazem parte da iluminação minimalista da casa, quase toda à base de velas. Por falar em velas, o caminho feito delas prossegue nos levando para dentro do restaurante. São três ambientes disponíveis: um salão mais perto da cozinha (onde ficamos), uma varanda, muito concorrida no pôr-do-sol, e no quintal mesas e almofadas espalhadas ao lado de uma fogueira. Esse terceiro ambiente não fica ativo em dias mais vazios, como no domingo em que visitamos o lugar para fazer esse texto. Mas na noite anterior já tínhamos visitado a casa de maneira mais informal, e foi lá que nos instalamos, por isso a foto que pode ser vista aí abaixo. Comum a todos os ambientes é a decoração criativa, cheia de peças de artesanato, alguns artigos vintage e cristais. Para completar, todos os pratos do restaurante tem pinturas diferentes, e são lindos.

Ambiente número um: o salão!

Ambiente número dois: a varanda!

Ambiente número três: o quintal!

Óia os pratinhos, que bonitinhos

As opções de entrada estão divididas em "Para começar" e "Para beliscar". A primeira tem pães e similares, a segunda porções estilo boteco. Escolhemos a cesta de pães acompanhada de Camponata do Cerrado (berinjela, três tipos de pimentão, uva passa, cebola e castanha de baru, R$ 19,90). Antes de mais nada, deu dó ver tantos ingredientes espremidos em uma tigelinha tão pequena. No final faltou camponata e sobrou pão (que aliás era uma delícia). Falando da camponata, tinha um sabor muito bom, tempero equilibrado, mas a berinjela e pimentão estavam cortados de maneira grosseira, com pedaços muito grandes. Ademais, o serviço pecou ao não nos entregar pratos e nem uma faca para cortar o pão.

Corta o pão com a mão, oras

O Santo Cerrado se apresenta como uma risoteria, e no cardápio os risotos estão divididos em "Clássicos" e "Especiais da casa". Entre os clássicos alguns clássicos (dããããã) como o de açafrão e de camarão. Entre as criações da casa há risotos elaborados por chefs convidados e alguns nomes diferentes, como "Goiano do pé-rachado" (que tem pequi na composição) e "Garimpeiro" (de carne seca com abóbora que, convenhamos, é um clássico). Afora os risotos o cardápio tem algumas saladas e na seção "Se quiser acompanhar", três acompanhamentos possíveis para os risotos, com carne bovina, suína e "peixina" (deveria existir essa palavra, né?).

Escolhemos um risoto entre os "Especiais da casa", o de pera com gorgonzola (que também poderia estar na seção de "clássicos", R$ 63,90). Apresentação muito charmosa, em uma panelinha de ferro. A descrição do prato dizia "pedacinhos de pera que estouram na boca", e de fato a textura da fruta tinha algo de especial, não sei qual é o truque. Mas a descrição também dizia que o gorgonzola era "para deixar a festa ainda mais animada", e o fato é que ambos sentimos falta de uma pegada mais forte do queijo. Mas de maneira geral estava bem agradável. A porção dá e sobra para duas pessoas. Também pedimos, para acompanhar, os medalhões de filé mignon com pesto de manjericão (3 medalhões, R$ 31,90). Medalhões pequenos, mas que vieram no ponto certo, e pesto muito saboroso.

Só o queijinho que tá meio zuado

Ficamos preocupados com a escolha da sobremesa. A lista parecia muito básica, com brigadeiro de colher, Romeu & Julieta, sorvete do dia e creme de papaya com cassis. Acabamos optando pelo Romeu & Julieta (doce caseiro da casca da goiaba em calda com queijo coalho grelhado, creme de capim santo e farofa de doce de baru, R$ 22,90), justamente pela descrição do cardápio que você acabou de ler, que parecia fugir de um básico "goiabada com queijo". Não nos arrependemos. Além da apresentação bonita, provamos uma recriação sutil de um clássico, com o doce de baru trazendo crocância sem interferir tanto no sabor, e o toque ácido do creme (na verdade um molho) de capim santo. Uma delícia, que dividimos tentando não nos atracar pelo último pedaço.

"Tudo que é seu, meu bem, é meu, é meu, é meu!"

Ah, o serviço. Num domingo à noite, restaurante vazio, e os garçons quase o tempo todo de costas pra gente, convesando com os colegas na cozinha. Aí a gente pedia algo e um deles não sabia como servir, em dado momento teve que perguntar na cozinha, "é com garfo ou colher?". Demoravam para perceber que já tínhamos terminado alguma etapa da refeição, e consequentemente não levavam os pratos sujos embora. Em resumo, estavam dispersos. Mas, devemos dizer, quando finalmente percebiam nossa presença, eram atenciosos e simpáticos. Curioso notar que no dia anterior, com o restaurante cheio, o serviço estava muito mais esperto. Acho que os meninos deram uma relaxada por conta da escassez de gente, o que está longe de ser uma desculpa. Também tivemos o problema da falta de pratos e talheres adequados quando nos serviram a entrada. De modo que o serviço acabou sendo o ponto baixo da noite, embora os pratos não tenham demorado para chegar em nenhuma das etapas.

O custo-benefício da casa acaba sendo muito bom, já que os risotos servem duas pessoas. Tivemos entrada, prato principal e sobremesa, mais algumas long neck da Heineken (R$ 7,50), comemos muito bem, num ambiente charmoso, e gastamos menos de duzentos reais. Claro que existem opções mais baratas e fartas na Vila de São Jorge, mas nenhuma parece ter tanto cuidado com os detalhes e com a cozinha como o Santo Cerrado. Foi isso que nos fez ir lá por duas noites seguidas. E o que certamente nos faria voltar novamente caso voltássemos à cidade. "Siga as lanternas!", nos diria nossa saudosa memória.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 10
Serviço(2): 5 e 6
Entrada(2): 5 e 7
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 8 e 8
Custo-benefício(1): 8 e 8
Média: 7,08 e 7,70
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Viela C, Quadra 08, Lote 2, s/n - Vila de São Jorge - Alto Paraíso de Goiás - Goiás
Telefone: (61) 99974-1150
Site: http://santocerradorisoteria.blogspot.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantesantocerrado/?fref=ts

terça-feira, 28 de março de 2017

Mediterranium (Formosa - GO) - 28/02/2017


Não pense mal de nós, adoramos arroz com feijão. Mesmo. Mas quando estamos em alguma cidade e buscamos um restaurante para entrar aqui no blog, tentamos achar algo diferenciado, com uma proposta que saia um pouco do lugar comum. Ninguém iria aguentar ficar lendo aqui só sobre arroz e feijão. Estávamos em Formosa, no estado de Goiás, e esse restaurante diferenciado não parecia existir na cidade, que é bem simples e pacata. Mas pesquisando na internet descobrimos o Mediterranium, que parecia ser o que procurávamos.

"Ei, amor, parece ser o que procuramos!"

De fato, a própria chegada ao restaurante já impressiona pelo contraste com o restante das casas da cidade. Uma entrada para carros, um estacionamento grande, um prédio moderno e alto, com jardins ao redor. Do lado de dentro não é diferente: salão amplo, cozinha envidraçada, cadeiras confortáveis (apesar de pesadas demais) e um bar. Tudo decorado com bom gosto, embora deva confessar que a TV ligada em um canal de esportes destoava um pouco do ambiente. Também achamos estranho, embora ecologicamente correto, que os guardanapos fossem de papel. E, me perdoem, mas não posso deixar de falar do banheiro: em frente à pia uma parede envidraçada com vistas para um jardim. Até foto eu tirei, que nunca tinha visto coisa assim, rapaz.

Nossa cervejinha, as cadeiras que exigem guindaste e o belo salão

Porque se eu tivesse falado que tirei foto e não mostrasse vocês ficariam brabos

Entre brusquetas, bolinhos de bacalhau e pranchas de frios, resolvemos comer carne crua de entrada, e pedimos o Carpaccio Mediterranium (com molho de mostarda de Dijon, coberto com parmesão e rúcula, acompanhado de cesta de pães, R$ 42). Gostamos da apresentação, e gostamos mais ainda das torradas cortadas finamente e bem temperadas. O tempero da carne, com o molho de mostarda Dijon (de gosto bem acentuado), estava equilibrado e agradável, embora a Chris tenha sentido um gosto um pouco mais forte de vinagre. Mas agradou bastante.

Rodelas de carne crua para carnívoros empedernidos

Empedernidos e famintos

Outra coisa que não condiz muito com o ambiente mais sofisticado do restaurante são as fotos dos pratos no cardápio. É fast-food demais da conta, além do incontornável fator "ei, na foto tava mais bonito!". As divisões também são um tanto insólitas. Primeiro, escrito em bom (?) italiano, "Le paste e risotti". Depois em bom português, "Direto do mar" e "Da fazenda". Parece um conflito de personalidade. E, sendo chato pracas, se é "Direto do mar" tinha que ser "Direto da fazenda", e não apenas "Da fazenda". Até porque, sendo mais chato ainda, o mar está a 1.300 quilômetros de Formosa.

Chatices à parte, Chris escolheu um risoto (ou "risotti"?) de limão siciliano, com camarões e lagostim (R$ 58). Infelizmente o ponto do arroz passou bastante. Além de os grãos estarem murchos, o risoto veio envolvido em caldo, parecendo uma canjica. Ou, nas palavras da Chris, uma papa. Para piorar, os camarões e o lagostim não tinham tempero algum. Ela me deu um camarão para provar, e parecia saído, realmente, direto do mar, sem contato com sal, pimenta e coisas assim. Uma pena, porque a apresentação estava boa, e o sabor do risoto aceitável.

Canjiquinha, vai?

Eu achei mais seguro pedir alguma coisa "Da fazenda", que deve ficar pertinho do restaurante. Escolhi o Chorizo Black, um corte de Black Angus com molho chimichurri, acompanhado de risoto de tomate seco (R$ 66). Apresentação sem invencionices, e carne no ponto solicitado. Molho chimichurri um pouco forte. O arroz também passou um pouco, embora bem menos do que o da Chris. Mas o sabor do risoto estava ótimo. A proporção também estava correta, e se eu não comi tudo foi mais para deixar espaço para a sobremesa. Não obstante, é forçoso notar que quando algo está inesquecivelmente gostoso a gente nem pensa nessas coisas. Não era o caso.


Não é inesquecivelmente gostoso, mas é gostoso

A seção de sobremesas do cardápio vem com o título "Dolces & gelatos", em italiano, mostrando mais uma vez uma indecisão linguística que precisa ser resolvida. Talvez num analista. As opções não fogem muito do óbvio, e escolhemos o Red Berry (in english!), que são frutas vermelhas flambadas e servidas com sorvete de creme e castanhas (R$ 16). Embora a taça tenha vindo bonita, basta olhar a foto para saber que, assim que enfiamos a colher, tudo transbordou. A questão da taça também fez com que comêssemos toda a calda antes de o sorvete acabar. As castanhas estavam um pouco murchas. De ponto positivo podemos dizer que a calda tinha muitos pedaços de fruta, e estava saborosa.

Se cair mais uma castanha, transborda

O serviço foi o ponto alto da noite. Garçons jovens e atenciosos, dois adjetivos que nem sempre caminham juntos. Estávamos ao lado da janela, que estava entreaberta, e foi só chuviscar um pouquinho que um deles já se preocupou em verificar se estávamos nos molhando. O tempo de espera entre cada pedido foi perfeito. Tomamos cervejas da marca Schornstein (de Pomerode em Santa Catarina) e elas estava geladinhas, e servidas no copo com o logo da marca. Pequenos detalhes que fazem a diferença. Algo que pode ser considerado uma falha foi o fato de não terem perguntado se havia algo errado com os pratos, já que ambos deixamos sobrar comida. Mas como é muito chato ser sincero, e mais chato ainda mentir, preferimos assim.

Existe potencial no Mediterranium. Ambiente e bom serviço já são grandes passos para um grande restaurante. Faltam alguns acertos na cozinha, e um cardápio mais sóbrio, que converse com o requinte da casa. Em termos estéticos e, principalmente, de proposta. Embora eu tenha gostado de quase tudo (ao contrário da Chris), o fato é que nada no cardápio me fez pensar em voltar. Então ambos concordamos que, caso voltemos à Formosa, vamos ficar mesmo no arroz com feijão e bife acebolado. Direto da fazenda.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 7,5 e 7,5
Prato principal(3): 4 e 7
Sobremesa(2): 5 e 6
Custo-benefício(1): 5 e 7
Média: 6,33 e 7,25
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida Brasília, 1800 - Formosinha - Formosa - Goiás
Telefone: (61) 3718-1700
Site: http://www.mediterranium.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/mediterraniumgastronomia/?fref=ts