quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Cascudo (São Roque - SP) - 23/03/2019


Como se pode ver aí acima, o símbolo do Cascudo é um jabuti. Mas a verdadeira inspiração para o nome é o grande estudioso da cultura brasileira, Câmara Cascudo. A busca, expressa no cardápio e no site do restaurante, é por uma gastronomia artesanal brasileira, por isso a inspiração no escritor potiguar. Se o objetivo foi alcançado é coisa que fica para o resto do texto.

Estávamos hospedados no centro de São Roque, e em cerca de quinze minutos chegamos ao Cascudo, alcançado por uma estrada de asfalto em boas condições, mas um tanto quanto "morta" num sábado à noite. Chegamos a imaginar que o caminho estava errado. Mas, de repente, lá estava ele, a placa na fachada não deixava dúvidas. No entanto, algo estava errado. Silêncio e portão fechado não pareciam condizer com um restaurante num sábado à noite. Eram 19h40. Lá dentro dava pra ver alguma movimentação de funcionários. "Ué, será que tá fechado?". Após alguns instantes por ali, começou a chover. "Dá umas buzinadas", me disse a Chris. Obedeci. Pouco depois surge o simpático manobrista. Sim, a casa abriria somente às 20h, ou seja, dali a vinte minutos. Quem mandou não pesquisar antes? Para nossa sorte o rapaz disse que poderíamos entrar antes da hora, e não havia nenhuma réstia de má vontade em seu convite.

"Boa noite, tudo bem? Xô fala, precisa caprichar mais nas fotos, viu?"

Felizmente há muito para ver no Cascudo antes mesmo de se adentrar o salão de serviço. Uma enorme ante-sala, ou ante-salão, serve de boas vindas, repleta de obras de arte, muitas delas de autoria da proprietária do lugar. Essa parte é bem iluminada, tem sofás e mesinhas, que devem ser muito úteis em dias em que o restaurante está cheio. Logo depois está o salão, este já com meia-luz - confesso que "meia" demais pro meu gosto. Mas é um ambiente também bastante agradável, com algumas esculturas, mesas de vários tamanhos e cadeiras estofadas muito confortáveis. O salão é todo envidraçado, e tal escolha não é à toa: a casa está localizada em um ponto privilegiado, com bela vista para as montanhas da região. Estar ali durante o dia deve ser uma bela experiência. Há uma mesa do lado de fora, sob um gazebo, que deve ser disputada a tapa. Foi ali que a Chris deu suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição.

A Chris e aquele bocado de coisas pra ver 
Meia-luz demais pro gosto desse chato aí que escreve. Hmpf...

"Puta que pariu, cadê essa mulher?"

Disputada à tapa de dia, mas de noite é só da Chris

O cardápio é repleto de explanações poéticas sobre o conceito e a proposta da casa, além de explicar sobre técnicas de cozimento usadas (como a brasa de lenha no buraco). Todos os pratos tem nomes de artistas, pensadores e personalidades brasileiras (exceto as sobremesas e as opções do menu "Sugestão Sabor Brasil", que veio separado do cardápio principal). Apenas faço uma pequena crítica ao fato de a propalada ideia de uma cozinha artesanal brasileira não se refletir tanto nos ingredientes e pratos. Acabei de reler todo o cardápio e, de maneira geral, não há uma brasilidade escancarada, a não ser alguns elementos aqui e ali. Mas a variedade é grande, entre carnes, peixes, aves e massas, além de pratos infantis.

Escolhemos como entrada a salada de alcachofra com bacalhau (R$ 34), que não tem nome de artista porque estava no cardápio separado. Escolhemos esse prato porque a alcachofra é bastante cultivada na região de São Roque, e queríamos comer algo com ela. Ficamos com medo do bacalhau engolir a alcachofra (figurativamente, claro), mas estava bem equilibrado, suave e muito refrescante. Um molhinho pesto que se escondeu pelas fendas do prato poderia vir em mais quantidade. Mas foi bem satisfatório o começo da comilança.

O bacalhau que não engoliu a alcachofra

Chris escolheu para prato principal a Carolina Maria de Jesus (Escritora 1914-1977, escalope de filé mignon com talharim ao molho de tomate, R$ 64 - assim aparecem todas as descrições do cardápio, com o ofício do homenageado e suas datas de nascimento e morte). A carne da Chris só deu uma relada na frigideira e já veio pro prato - ou seja, do jeito que ela pediu e gosta. Tava bem temperada e macia. O talharim estava no ponto certo, mas o molho que o acompanhava poderia ter um pouco mais de força no tempero. Mas não dá pra dizer que a Chris ficou com "Pedaços de Fome"*.  

Não é lindo, mas satisfaz

Minha escolha foi Machado de Assis (Escritor 1839-1908, pernil de cordeiro ao molho de vinho, arroz, brócolis, batata sautê, banana dorê, R$ 86). Esta é uma das quatro opções do menu com a carne feita na técnica da brasa de lenha no buraco - que segundo a descrição é uma prática que se origina do povo Tupi. Se o objetivo era alcançar maciez, nota dez com louvor: a carne estava desmanchando, literalmente. Textura agradável, molho saboroso, mas que deixava a carne brilhar. Em relação aos acompanhamentos, talvez um certo excesso de elementos, mas estava tudo muito bem feito. Até o brócolis, que costuma vir com gosto de água em restaurantes, estava saboroso e firme. Confesso que estava satisfeitíssimo, mas ainda não era hora de pegar "O Caminho da Porta"*.

A partir de agora, carne só na brasa de lenha no buraco. Se vira.

Comemos nossos pratos todinhos, mas ainda havia espaço para os doces. E nada de compartilhar um só, como fazemos normalmente. Estávamos igual ao Joey de "Friends", sem nenhuma vontade de dividir comida. Eram dez opções de sobremesas, mais três no menu à parte.

Chris estava numa pegada meio Eva, e escolheu a Maçã do Pecado (cozida na calda de laranja e vinho do porto, com calda de chocolate, nozes e sorvete de creme, R$ 25). Chris pecou com gosto: adorou desde a primeira colherada. Curtiu a textura da maçã, a perfeita sintonia entre o chocolate, o vinho e as nozes, e o fato de o nível de açúcar estar perfeito. 

Chris comeu a maçã e não foi expulsa do paraíso

Eu escolhi o pequeno bolo de laranja e chocolate branco com calda de chocolate branco e sorvete de limão (R$ 25). Deveria ter escolhido a Cobra do Adão (mentira, não tinha esse prato). Achei monocromático demais, pra começar, depois achei que faltou acidez (me diz, com educação, o que fazer com as três fatias de laranja que vieram no prato?), e por fim achei que a calda que veio no meio do bolinho tava muito mixa. Nada explodiu na boca, e acabei achando bem mais ou menos.

Afinal, o que fazer com as laranjas?

Desde o simpático manobrista, que nos abriu os portões antes da hora, passando pelos garçons atenciosos e chegando ao músico que tocou boas canções (teve até Beatles!), não há o que reclamar do serviço. Em relação ao tempo de espera entre os pratos, foi tudo bem rápido, mesmo o cardápio dizendo que o restaurante adota a filosofia do Slow Food. Não chegou a ser fast food, mas não teve aquela coisa de acabar o assunto do casal e nada de virem os pratos. Claro, é bom dizer que tivemos atendimento VIP, já que chegamos antes de todo mundo. Mas só podemos julgar nossa experiência, e como não pegamos o restaurante cheio, a impressão foi boa.

Apreciamos quem tenta fazer coisas diferentes. Além de tudo que o cardápio descreve em termos de filosofia, o Cascudo também participa de um projeto social que busca, segundo o site, "dar oportunidade para quem não tem", através de oficinas culturais, artísticas, esportivas e profissionalizantes. Ou seja, não ficam só na palavra, partem para a ação. E além de tudo isso, fazem excelente comida. Ao final da refeição recebemos um folheto para colocarmos nossas sugestões. Escrevi que o principal eles já tem, que é uma cozinha muito bem feita, com bom tempero e técnica. Falta um pouco mais de ousadia e de usar ainda mais ingredientes e técnicas brasileiras. Mas mesmo com o que falta, tudo o que sobra nos fez concordar que voltaríamos ao Cascudo para mais uma experiência. 

* "Pedaços de Fome" e "O Caminho da Porta" são nomes de livros de Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis, respectivamente.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 10 e 9
Serviço(2): 9 e 9
Entrada (2): 7 e 7
Prato principal(3): 7 e 8 
Sobremesa(2): 9 e 6,5
Custo-benefício(1): 8,5 e 8
Média: 8,29 e 7,91
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

Estrada Municipal Darcy Penteado, 3301 – Vila Darcy Penteado - São Roque - São Paulo
Telefone: (11) - 4713-5582
Site: https://restaurantecascudo.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/RestauranteCascudo/
Instagram: @restaurantecascudo

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Lilu (São Paulo - SP) - 14/09/2019

O chef André Mifano em frente ao Lilu (fonte: Facebook Restaurante Lilu)

Já é praxe: no aniversário de minha mãe eu a levo pra jantar em algum restaurante aqui de São José dos Campos (eu que pago, juro, o presente não é só a carona). Mas nesse ano resolvi fazer diferente, e levá-la ao restaurante de um chef que ela conhece dos programas de culinária que assistimos juntos. Escolhi o restaurante Lilu, do chef André Mifano, jurado do The Taste Brasil, do canal GNT. Além de mim, da Chris e de minha mãe, ainda tivemos a companhia de nossa amiga Edna além de meu irmão Carlos e sua esposa Tauana. Dia de festa, afinal de contas!

Localizado no charmoso bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Lilu tem uma fachada singela, mas com alguma criatividade podendo ser notada nos desenhos geométricos formados pelo vidro e pela madeira. Tal simplicidade aliada à certa invencionice, aliás, também se refletem no cardápio da casa. A dona do aniversário e a Chris adoraram os banquinhos e as mesinhas do lado de fora, um excelente lugar para elas darem suas pitadas entre uma etapa e outra da refeição. 

"Cê pita? Elas pita, uai"

Água para cães. Não é fofo?

Na parte interna são cerca de dez mesas do lado direito do salão, dispostas uma em seguida da outra, com pouca distância entre elas. Ao final do corredor há uma área um pouco mais reservada, separada por um vidro. Do lado esquerdo fica o bar e logo depois a cozinha, totalmente aberta, com o trabalho dos cozinheiros podendo ser conferido pelos comensais em detalhes. Os aromas preenchem todo o salão. Claro que não é um ambiente silencioso, e esta é a proposta do lugar: fazer com que as pessoas se sintam em casa (uma casa barulhenta, no caso). Funciona. Um dos participantes de nossa mesa (que não fui eu, nem Chris, nem minha mãe, nem Edna e nem Tauana) chegou a lamber o prato, literalmente. Ponto negativo: há apenas um banheiro unissex para atender a todos.  

Era uma casa barulhenta, com certeza!

"Qual de vossas senhorias lambeu o prato?"

"Lilu: cozinha para partilhar". É assim que o restaurante se apresenta em seu site oficial. E o conceito é realmente levado a sério. Não há divisão entre entradas e pratos principais no cardápio. Todas as quatorze opções disponíveis são servidas da mesma maneira, expressa textualmente no menu: no centro da mesa, para que todos possam compartilhar. Isso aliado ao tipo de ambiente e ao fato de que há diversas opções de coquetéis originais levam a casa mais para um gastrobar do que para um restaurante. Nomenclaturas à parte, as opções de pratos trazem alguns petiscos típicos de boteco junto a opções mais robustas, com descrições que lembram pratos principais convencionais. Por falar em descrição, outra característica do menu é que os pratos não tem nome, apenas trazem a lista de ingredientes e algumas técnicas de preparo ("no vapor", "defumado", etc). Os preços variam de R$ 22 a R$ 67.

Nosso simpaticíssimo garçom sugeriu que pedíssemos algo em torno de dez a doze pratos no total. Segundo ele a média é de dois pratos por pessoa. Como o cardápio listava um total de quatorze opções, chegamos até a cogitar pedir todos eles, já que, né, iam acabar faltando só dois. Mas no final ficamos em doze mesmo. Pedimos uma primeira sequência de cinco pratos, depois mais cinco, e ao final mais dois só pra finalizar. Falarei brevemente sobre cada um dos pratos, iniciando pela sua descrição no cardápio, e me focando mais nas apreciações minhas e da Chris sobre eles - afinal somos os donos dessa bagaça aqui.

Pão de queijo frito e goiabada cremosa (R$ 24) - não seria uma de nossas escolhas, mas foi "contrabandeado" pelo Silas, nosso garçom, que meio que exigiu que pedíssemos. Surpreendeu a todos, agradável, pão de queijo cremoso por dentro e crocante por fora, contrastando agradavelmente com a goiabada.

Um produto de contrabando que agradou

Manjubinha frita e tártato de avocado (R$ 29) - de maneira geral um dos que menos agradou. As manjubinhas que eu peguei estavam um pouco murchas. O tártaro de avocado precisava de mais sabor, especialmente acidez, pra ser um tártaro.

Faltou avocado no fim, o rapaz não disse isso aí no texto

Dois tacos de feijoada refrita, couve, pururuca e pico de gallo (R$ 22) - uma delicinha de feijoada descontruída servida num taco, com o tal pico de gallo, uma espécie de vinagrete, trazendo acidez. Comidinha de boteco das boas.

É gostoso. Não é incrível. Mas é gostoso.

Língua, tomate agridoce e salada de ervas (R$ 53) - certamente um dos meus preferidos da noite. Língua macia, saborosa, combinando perfeitamente com as várias ervas e o tomate. Na foto as ervas podem parecer opressivas, mas trouxeram um frescor essencial ao prato.

Ah, essa língua macia, esse tomate agridoce, essas ervas opressivas...

Barriga de porco no vapor, caldo de shoyu e sake e espinafre na manteiga (R$ 51) - foi o preferido de alguns, e de fato estava gostoso. Mas o tempero oriental, embora muito bom, escondeu um pouco os prazeres que uma barriga de porco pode proporcionar sem nenhum subterfúgio. Me ressenti. Chris comeu só um pedacinho, que gordura não é com ela (por isso ela namora um cara com quase zero de gordura corporal).

Vou contratar meu irmão como fotógrafo oficial. Ficou bonito.

Arenque defumado, ovas, coalhada e panqueca de baunilha (R$ 37) - eu e Chris tínhamos comido arenque uma vez, e ficamos traumatizados com a ruindade. "Destraumatizamos" com essa "pizzinha" absolutamente adorável, de sabores delicados e agridoces.

Escorreu uma lágrima de lembrar. Adorável!

Tartar de wagyu (R$ 44) - os pedaços de carne vieram acompanhados de um tipo de "sucrilho" de milho, obviamente sem o açúcar. Em termos de proporção, poderia ter mais carne e menos milho. Em termos de sabor, poderia estar mais temperado. Não à toa o garçom sugeriu que fosse combinado com o prato seguinte, mais forte.

"Desperta o tigre em você! E em você também!"

Batata frita com ovo e botarga defumada (R$ 31) - simplão que só, não fosse a adição das ovas de peixe por cima. Como é impossível batata frita e ovo ficarem ruins, não é ruim. Mas é isso, batata frita e ovo. A botarga meio que desaparece no paladar.

E pronto, é isso

Baião de dois, arroz basmati, feijão fradinho, chistorra e provolone (R$ 57) - o nome "baião de dois" traz uma carga que o prato não foi capaz de entregar. Os temperos estavam muito neutros, a consistência estava muito úmida e a cor estava muito, como direi...verde. Para mim o pior da noite.

Se o cara disse que é o pior da noite as discussões se encerram e tá decidido. Oras.

Bife de angus, gratin de mandioquinha, repolho fermentado e chimichurri (R$ 67) - chegou vermelhão de sangue, do jeito que a Chris gosta. Carne macia, chimichurri agradável, repolho interessante, gratin de mandioquinha muito bom. Sei que angus é caro, mas achei o preço desse um pouco demais para a quantidade que vem.

É que o gratin de mandioquinha é banhado a ouro

Lula e morcilla (R$ 42) - a descrição não diz, mas vem um matagal por cima. Quase não pedimos esse prato, e seria uma pena se isso tivesse acontecido. A briga entre o sangue da morcilla e a força da lula só traz um vencedor: quem come. Baita combinação, e a salada agrega um bem vindo amargor.

Por baixo desse matagal mil delícias te esperam

Frango e "Ueifel" (R$ 46) - esse nome esquisito esconde um prato esquisito, mas delicioso: um waffle de baunilha por baixo, um frango bem crocante por cima, com um ovo mais por cima ainda. O caldo é mel. E ainda tem ovas de peixe. Loucura. Das boas.

Que coisa esquisita. Que coisa gostosa.

Como podem notar, comemos, e não foi pouco. Portanto para a sobremesa escolhemos "apenas" três opções (entre quatro disponíveis) para dividir entre todos. No caso das sobremesas o preço é único, R$ 29 cada. 

A primeira escolhida, e a única que a Chris experimentou, foi o crème brûlée de cachaça e sorbet de caju. Boa textura do brûlée, sabor de cachaça em equilíbrio, com o sorbet trazendo frescor.

Parece um ovo em cima do brûlée, não parece?

Também escolhemos a musse de chocolate branco, bolo de cacau e amarena. O bolo de cacau e a amarena (uma frutinha bem ácida, também conhecida como ginja) acabaram eclipsando a coitadinha da musse de chocolate branco. No entanto o bolo e a fruta fizeram uma bela dupla, amarga e ácida.

Não, não parece com nada disso que você tá pensando, seu escatológico

Nossa outra escolha foi o flan de doce de leite e chantily de café. Muito louco o chantily branquinho com sabor de café, porque o olho diz pro estômago que ali não vai ter gosto de café, mas ele vem. Não sou fã de café, mas a sobremesa esteve agradável, com o flan não muito doce fazendo um bom contraponto ao chantily cafezado.

Parece um flan com chantily

Não costumo citar nomes de funcionários que nos atendem, mas abrirei uma exceção hoje, por uma boa razão: o Silas é um dos melhores garçons que eu já vi em ação. Estabeleceu desde o princípio uma relação de intimidade natural, se mostrou disponível, esperto, conhecedor do cardápio e um excelente vendedor. Suas descrições dos pratos eram, não raras vezes, melhores do que os pratos em si. Silas à parte, com o salão lotado houve alguns problemas de demora pra limpar a mesa, e ocasiões em que solicitações demoravam a vir, como o momento em que pedimos cardápios para três garçons diferentes até que eles finalmente nos fossem trazidos. Já os pratos, esses chegavam com agilidade impressionante. Mesmo sabendo que o menu foi concebido para ser rápido, a eficiência é prodígiosa se considerarmos a quantidade de mesas e de pedidos simultâneos. Uma curiosidade é que os pratos são servidos pelos próprios cozinheiros, que os deixam no centro da mesa "cantando" sua descrição. 

O restaurante conta com uma carta de vinhos, que sequer foi olhada por nenhum de nós. Há cinco opções de coquetéis exclusivos (com preço único de R$ 33), além de drinks clássicos. Entre as cervejas, a decepção: apenas Heineken e uma opção de witbier (estilo que normalmente leva semente de coentro e raspas de laranja) da Cervejaria Praya. Uma boa carta de cervejas cairia como uma luva no clima descontraído da casa, mais afeito a breja do que a vinho (oi André Mifano, e aí, chique? Se você quiser eu posso elaborar uma carta pra você, baratinho!).

Como era dia de comemoração, não olhamos em nenhum momento para o lado direito do cardápio. Tomamos coquetéis, cervejas, sucos, comemos tudo que quisemos e mais um pouco. Por isso a conta acabou ficando um pouco salgada. Mas é possível duas pessoas escolherem três ou quatro pratos, tomarem um coquetel, beberem a água da casa (de graça!) e ainda racharem uma sobremesa gastando algo em torno de R$ 200, o que não é barato mas também não chega a ser um absurdo. Foi essa conta que fizemos para decidir a nota de custo-benefício aí abaixo. Ainda assim, Chris entendeu que a experiência, comemoração de aniversário da sogra à parte, não valeria um repeteco. Já eu acho que voltaria ao Lilu, especialmente se houvessem novidades no cardápio. Independente de um retorno, o Lilu cumpriu com sua parte: cozinha para partilhar. Não só boa comida, mas bons momentos. Para esses a nossa nota é sempre dez.  


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 7 e 7,5
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 7,5
Média: 7,2 e 7,6
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Francisco Leitão, 269 – Pinheiros - São Paulo - São Paulo
Telefone: (11) 99746-0269
Site: http://www.restaurantelilu.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/restaurantelilu/
Instagram: https://www.instagram.com/restaurantelilu/

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Garagem Gastrobar (Juiz de Fora - MG) - 21/06/2019


Temos algumas queixas sobre o turismo em Juiz de Fora, especialmente o fato de praticamente todos os museus da cidade estarem fechados nos dias de nossa visita. Mas não podemos negar que há muitas opções de restaurantes e bares para visitar, e ficamos com vontade de conhecer vários. Mas como tínhamos apenas uma noite, acabamos optamos pelo Garagem Gastrobar. Seu dono é Pablo Oazen, vencedor da edição 2017 do Masterchef Profissionais, programa do qual sou telespectador assíduo. Hoje ele não participa tanto do dia a dia do lugar, mas é claro que sua marca aparece na criação dos pratos.

Chris estaciona na garagem (pegou? pegou?)

A casa está localizada em uma região agitada, com várias outras opções gastronômicas. Instalada em uma esquina, a primeira coisa que chama a atenção é a cozinha envidraçada que pode ser avistada da calçada (como dá pra ver na foto acima). Mais ou menos como um reality show de culinária ao vivo. Do lado de dentro uma das paredes faz as vezes de uma enorme lousa, com desenhos e alguns itens do cardápio escritos em giz, além da inscrição "Cozinha Mineiroca". Muito bonito - especialmente para alguém como eu que não consegue nem escrever o nome com giz. Ambiente à meia luz, mas com as mesas bem iluminadas, e nas paredes algumas matérias de jornais e revistas sobre o proprietário e uma dólmã usada por ele. 

Chris com o menu, e ao fundo a lousa enfeitada (não pelo Fê)
Acima de nós as matérias sobre o Pablo, e a dólmã ficou sem foto
Quando chegamos ao Garagem ainda não sabíamos se a visita resultaria em um texto aqui do blog. Com a proposta de ser um gastrobar, achávamos que talvez houvesse apenas petiscos e acepipes para comer acompanhado de uma cerveja ou um drink. Mas quando vimos que o cardápio oferecia opções de pratos principais e sobremesas, resolvemos fazer a refeição completa. O decorrer da noite nos mostrou que talvez essa não tenha sido a melhor opção.

A primeira página do menu é toda dedicada às comidinhas típicas de bar/boteco, com os dizeres "Comer com as mãos...nunca foi tão elegante" na parte de cima da página. Para nós elas fariam o papel de entrada. Entre algumas pelas quais nos interessamos, como o jiló à oriental, optamos pelo quiabinho tostado a la fleur de sal (quiabos salteados com azeite, limão e flor de sal, R$18). Apresentação simples, com os quiabinhos envoltos em uma farofinha. Eu segui a dica da casa e comi os quiabinhos com as mãos (juro que não fiz o mesmo com a farofa!). Independente do método de jogar pra boca, o quiabinho tinha um cítrico delicioso, contrabalanceado por uma moderada picância da farofinha, resultando em algo que eu comeria a noite inteira. Chris também gostou, mas nem tanto quanto eu.

Falar que é lindo, assim, não é não, mas é bão demais da conta!

Os pratos principais aparecem no menu precedidos da frase "Nossos pratos para quem não gosta de historinhas". Como não é a especialidade da casa, há poucas opções. Antes de detalhar nossas escolhas, vale relatar algo curioso (para usar uma palavra boazinha) que aconteceu. Assim que escolhemos, a garçonete levou nosso pedido e pouco depois voltou, dizendo que os pratos podiam demorar um pouco, já que o chef havia faltado, e quem estava no lugar dele era muito novo e não estava tão a par dos processos de cada prato. Falamos que tudo bem, e ela saiu. Um pouco depois ela voltou, dizendo que o acompanhamento do prato da Chris não poderia ser servido, porque o chef não "ia dar conta de fazer". Aí você deve estar pensando que fosse algo muito elaborado, cheio de processos, difícil de fazer. Que nada: era um simples arroz. Difícil de entender.

Pois bem, a escolha original da Chris era o "medalhão de filé com bacon mesmo, uai...e arroz canastrinha" (era desse jeito que estava escrito! R$62). Mas ela teve que trocar o arroz por uma frigideira de batata e cogumelo acompanhados de ovo frito. Embora fosse bem longe de seu pedido original, a combinação era promissora. Apresentação legal, numa panelinha de ferro. Ela pediu a carne mal passada e a extremidade que estava à vista parecia bem vermelha, mas por dentro a maior parte estava ao ponto. Ela gostou medianamente dos acompanhamentos, estavam bem temperados e no ponto certo, mas nada extraordinários. E realmente não deu pra entender como esse acompanhamento é mais fácil de fazer do que um arroz.

Cortar essas rúculas deve ser mais difícil que fazer arroz...

Minha escolha foi o peito de pato laqueado, cebolinha com especiarias e purê de cenoura com laranja (R$ 72). O pato estava incrivelmente bom, com um pouco de crocância mas ao mesmo tempo bem macio, e muito bem temperado. Mas em termos de sabor é como se ele estivesse sozinho no prato. O purê não tinha nada do cítrico que a laranja poderia sugerir, e também não tinha sal nem pimenta. O mesmo defeito atingiu o molho que acompanhava. As cebolinhas com especiarias até estavam boas, mas vieram em pouca quantidade. No fim o purê serviu pra encher a barriga, enquanto o pato serviu pra dar prazer - que é, obviamente, o objetivo principal quando se come fora, não é?

O prazer está no meio

"Pequenas doçuras e travessuras". É assim que o cardápio apresenta suas opções de doces. São apenas três, e escolhemos a "Terra de Chocolate" (mousse de chocolate, café e menta, R$ 23). Apresentação coisa linda: um vaso, com uma espécie de biscoito de chocolate fazendo o papel da terra e as folhas de menta como se plantadas. Por baixo a mousse de chocolate, e no fundo uma massa tipo de torta doce. Consistência agradável, com o biscoito dando crocância e mousse bem suave. Sabor não muito doce, café sutil até demais. A massa acabou ficando seca no final, porque não sabíamos de sua existência e ela acabou ficando sozinha. No fim, de maneira geral, o conceito ganhou do sabor.

Mas vá, é um baita conceito!

Sob o ponto de vista do atendimento pessoal, gostamos bastante do serviço. Muitos garçons, todos muito solícitos e simpáticos, embora não tenham passado no "Teste do Cigarro" (quando a gente sai pra Chris fumar e esperamos que na volta os pratos estejam recolhidos). Mas é claro que a nota de serviço despencou mesmo por conta dos problemas da cozinha, já citados no texto. Embora tenhamos sido avisados de que os pratos principais poderiam demorar, não nos pareceu razoável esperar cerca de uma hora por eles - e muito menos nos pareceu razoável o motivo da demora, especialmente com a casa não tão cheia.

Tomamos duas cervejas juiz-foranas durante nossa visita (servidas geladas demais, mas aí é chatice de sommelier). Também existem várias opções de drinks, alguns clássicos, outros criações da casa. São as bebidas alcoólicas e os petiscos que traduzem melhor a vocação e a proposta do Garagem. Mas é claro que isso não serve como desculpa para os erros e problemas nos nossos pratos principais, que, afinal, estão no cardápio. Apesar disso eu fui condescedente, e concluí que voltaria ao Garagem, para beber e comer uns "trem com a mão". Já a Chris não foi tão amigável, e conluiu que não retornaria. Talvez, quem sabe, se ela tivesse comido o tal do arroz canastrinha...      


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 6 e 6
Entrada(2): 7 e 8,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6,5 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,41 e 7,83  
Voltaria?: Não e sim

Serviço:

Rua Luís de Camões, 74 – São Mateus - Juiz de Fora - Minas Gerais
Telefone: (32) 3231-3476
Facebook: https://www.facebook.com/garagemgastrobarjf/
Instagram: https://www.instagram.com/garagemgastrobar/?hl=pt-br

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Pasq Cucina (São José dos Campos - SP) - 05/06/2019


São José dos Campos é infestada de restaurantes japoneses, mas quando falamos em comida italiana não são tantas as opções. Por isso recebemos com alegria a notícia de que uma nova casa especializada no assunto havia sido aberta no chiquetê bairro Aquarius. Não perdemos muito tempo e fomos visitar o local numa quarta-feira fria, antecipando em uma semana o Dia dos Namorados, já que é quase impossível comer fora na data comemorativa sem gastar uma fortuna com "jantares fechados" caríssimos. Fica a dica.

O Pasq visto de fora, com a Chris iluminada pelas chamas

O Pasq Cucina fica em uma avenida tranquila e bem arborizada. Há algumas vagas para carros em frente, e também uma rua lateral onde é possível estacionar com segurança. Nos instalamos primeiro do lado de fora, já que o acanhado salão estava lotado. Mesmo com os aquecedores, a noite estava muito fria, e pedimos para sermos realocados para a parte interna assim que possível - o que não demorou muito. Nesse pouco tempo do lado de fora deu pra perceber que a iluminação deixa um pouco a desejar. Já do lado de dentro há luz de sobra e muito conforto térmico. Ufa! Além da pequenez do salão interno, com apenas sete mesas, chama a atenção a cozinha aberta e a decoração moderna, em nada lembrando as cantinas italianas. 

O Fê bebe uma água (junto com outros ingredientes)
Chris faz pose feliz, cheia de conforto térmico

Eu certamente já falei aqui que adoro cardápios enxutos, mas pode ser que você não tenha lido, então repito: eu adoro cardápios enxutos. Em apenas uma página o Pasq entrega tudo o que tem a oferecer. Aliás, nem tudo: as pizzas, que constam no menu, ainda não estão disponíveis. São seis opções de antipasti (entradas), seis opções de primi piatti (massas e risotos), seis opções de secondi piatti (carnes, aves e peixes) e mais cinco opções de dolce (sobremesa). Os pratos principais ficam quase todos na casinha dos cinquenta reais. 

Para a entrada escolhemos dividir o Crudo di Manzo Pasq (filé mignon fresco picado na ponta da faca com especiarias, R$ 34,90). Para quem não conhece, é uma espécie de versão italiana do francês steak tartare, e normalmente é feita com peixe (ao dizer "versão" não estou dizendo que é uma cópia, ok?). Na interpretação do Pasq o filé mignon vem com tempero bem delicado, ressaltando o sabor da carne, que estava macia e bem cortada. As fatias de pão combinaram bem, e a saladinha ao lado trouxe uma acidez vinda do tempero que em conjunto com a carne a deixou mais parecida com o prato francês, que tem mais acidez. Bem agradável.

"Crudo" é "cru", "manzo" é "vaca" e "di" é "de" mesmo

Antipasti, primi piatti, secondi piatti e dolce. Essa é a sequência tradicional das refeições à italiana. Mas diga-me, como mandar pra dentro uma paleta de cordeiro com polenta depois de comer um rigatoni à bolonhesa? Só se você tiver dois estômagos - ou o dia inteiro pra ficar comendo. Por isso resolvemos escolher apenas uma opção pra cada entre os primeiros e segundos pratos.

Chris escolheu o Risotto (tomates assados, cebolas caramelizadas e crostinis, R$ 48,90). O arroz estava no ponto, e ela adorou a presença crocante dos crostinis, que no entanto só estavam no meio do prato. Ela queria mais. Outra coisa que ela queria mais era a cebola caramelizada, que na verdade ela não conseguiu detectar. Ao experimentar o prato dela eu disse "os temperos estão bem delicados". Ela achou que isso era um eufemismo para "cadê o sal e a pimenta?". De fato, faltou um punch a mais no tempero. 

"Cebola caramelizada, cadê você, eu vim aqui pra te comer"

Eu escolhi o Carbonara (spaghetti, guanciale, ovo caipira e queijo pecorino romano, R$ 52,90), um prato tradicionalíssimo que eu nunca havia comido. O guanciale é um baconzinho feito com as bochechas do porco, que eu já tinha experimentado na Osteria Itália, mas que aqui estava muito mais saboroso, com uma consistência suave ainda que com leve crocância. Cada encontro com eles era de gemer. Mas mesmo sem eles havia muito sabor e equilíbrio nos temperos, sem nada muito agressivo. Talvez a mistura de queijo e ovo pudesse ser um pouco menos líquida e, por conseguinte, mais cremosa. Mas é um pormenor diante do prazer proporcionado.

"Pormenor diante do prazer proporcionado". Bonito isso.

As opções de sobremesa são bem tradicionais da Itália, e claro que minha cafezeira companheira não deixaria de escolher o Tiramissu (biscoito, café, zabaglione e cacau, R$ 25,90), que comemos juntos. Creme zabaglione agradável, nada enjoativo, sabor sutil de café e apresentação bonitinha. Chris disse que foi o melhor que ela já comeu - e olha que já comemos lá no Fasano do Rio. Adicionando ainda mais prazer ao dolce, tomamos um carajillo, drink espanhol feito com Licor 43® e café, seguindo sugestão do garçom.

Café com café é tipo lé com cré, não tem erro

O fechamento do Pasq provavelmente aumentaria o índice de desempregados de São José em um ponto percentual. Há funcionários de sobra, não houve economia nesse quesito. É difícil olhar pra algum lugar sem ver um deles, impecavelmente vestidos com suspensórios e gravatas borboletas. O palco da cozinha aberta também está repleto de artistas cozinheiros, acho que uns quatro ou cinco. Uma característica básica é que são todos muito novos, quase nenhum aparenta ter mais de 25 anos. Em consequência, o que lhes falta em traquejo sobra em boa vontade. Traquejo se aprende, boa vontade é mais difícil. Fomos muito bem atendidos, com simpatia e eficiência, apenas com uma leve demora na entrega dos pratos principais. 
  
Quem nos falou da existência do Pasq foi uma amiga, que acrescentou: "vocês precisam ir pra eu saber se eu vou também!". Com tanta fé depositada em nossas humildes pessoas, fazemos questão de dizer em uníssono: sim, nós recomendamos a ida ao Pasq, e ambos concordamos que faríamos uma nova visita à casa. Apesar de pequenos deslizes, especialmente no prato principal da Chris, o saldo foi bem positivo. Esperamos que o restaurante permaneça cheio como estava no dia de nossa visita. Afinal, haja cliente para manter a folha de pagamento de tanta gente...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 8
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 8 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 8,5
Sobremesa(2): 9 e 8
Custo-benefício(1): 7,5 e 8
Média: 7,58 e 8,04
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

Av. Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 355 – Jardim Aquarius - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3341-6537
Facebook: https://www.facebook.com/pasqcucina/

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Cozinha do Parador (Lumiar, distrito de Nova Friburgo - RJ) - 28/03/2019

Perrengue pra chegar a um restaurante. Já tínhamos passado por isso na visita ao Babel, em Visconde de Mauá, que tinha uma estradinha de terra dura de passar. No caso da Cozinha do Parador a estradinha de terra até era boa, mas chovia e a falta de iluminação artificial e de indicações nos deixou às vezes sem saber pra onde ir. Mas chegamos sãos e salvos ao restaurante, que fica dentro da Pousada Parador Lumiar.

Fachada da pousada, e Chris como um vulto na escuridão

Um aparte: a gente sempre leva nossa câmera fotográfica (lembra, um artefato usado pra tirar fotos antes do celular?) quando vamos a algum restaurante que vai entrar aqui no blog, porque ela traz uma qualidade melhor, especialmente em ambientes com pouca luz. Mas nesse dia a máquina não estava querendo funcionar, de modo que as fotos foram feitas com celular, um pouco fora do padrão que gostamos.

Um silêncio absoluto reinava na pousada quando chegamos. Apenas uma pessoa na recepção, que nos indicou o restaurante, também tranquilo, com música ambiente bem baixinha. Éramos os únicos habitantes daquele reino, que se assemelhava a uma cozinha de fazenda. Ambiente escuro demais para o meu gosto, mas com um charme rústico. De dia deve ser mais bonito, com a mata e as montanhas ao redor, e o paisagismo da pousada. 

Fê e seu reino visto de dentro
Fê e seu reino visto de fora


A primeira alegria da noite foram os biscoitos de polvilho com ervas frescas que a casa oferece como cortesia. A água também fica disponível sem qualquer custo. A princípio foi uma alegria meio nervosa, porque sabendo que a pousada tem diárias que chegam a quatro dígitos, imaginamos que os valores dos pratos compensariam os "mimos" oferecidos.

"Sei sei, me dão isso pra depois me enfiar a adaga"

Para as entradas a Cozinha Parador apresenta seis opções de saladas, todas nomeadas em homenagem à PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) como "Capuchinha", "Beldroega" e "Vinagreira". Ponto negativo: as tais plantas não fazem parte dos ingredientes das saladas. Uma pena. Escolhemos a "Dente-de-leão" (mix de folhas com abobrinha crocante, muçarela de búfala e palmito grelhado, R$ 28). Tempero bem ácido, mas agradável, especialmente porque havia o contraponto do palmito e da muçarela, mais suaves. O palmito, que se prometia grelhado, veio quase cru. Adoramos as abobrinhas, fatiadas finamente, e bem crocantes. 

"É, se tá escuro tira a foto com flash, né cara?"

Nosso temor em relação aos preços dos pratos principais foi infundado. Foi reconfortante notar que quase todos custavam perto de cinquenta reais. Há opções para todos os gostos, desde mignon e carne seca até galeto, nhoque de beterraba, cremes e fondues. Nenhum deles chega aos três dígitos, sendo o mais perto disso o fondue de carne bovina, por R$ 98. O cardápio infantil, com pratos a partir de R$ 18, tem mais opções do que costumamos ver por aí.

Chris foi de medalhão de mignon com queijo gruyère ao molho de vitela ao vinho com mousseline de cará-moela e fricassê de funghi fresco (R$ 58). Um monte de coisa, então vamos por partes. A carne veio mal passada como ela queria, mas como era uma peça alta, alguns pedaços estavam crus. A mousseline tinha textura agradável, mas faltou tempero. Molho saboroso, que misturado ao fricassê de cogumelos foi a melhor coisa do prato.

"Mas flash é deselegante, fica uma coisa cafona, sem sutileza, olha isso"

Eu não resisti à menção à cerveja e escolhi a costela suína e crisp de tomilho com feijão azuki e bacon ao molho de cerveja black IPA (R$ 43). Embora eu tenha achado interessante o crisp de tomilho, a sensação de comer os galhinhos crocantes é um pouco estranha. O porco estava macio e saboroso, mas não consegui pegar uma característica da cerveja, nem mesmo no aroma. O feijão azuki estava com um defeito que achei que nunca fosse apontar: excesso de bacon. Roubou o sabor e deixou tudo muito untuoso.  

Desculpe, Senhor Bacon, prometo nunca mais reclamar de ti

Para adoçar a vida escolhemos a roulade de biscoff (enrolado com café, cacau, biscoito, creme inglês acompanhado de coulis de frutas vermelhas com capim limão, R$ 26). Apresentação simples e elegante. Achei bem agradável, com o café bem sutil (Chris queria menos sutileza) e alguma crocância em algumas mordidas, quando vinha o biscoito. O coulis complementava bem os sabores, mas achei que veio pouco. E hortelã, um chavão pra trazer frescor a doces, é chavão porque funciona. Eu gostei bastante, e achei até que poderia vir mais. Chris não se empolgou tanto.

Roulade de biscoff, puta nome chique

O garçom foi praticamente nosso mordomo durante toda a noite. Outro casal só apareceu quando já estávamos pagando a conta. Claro que o serviço acabou sendo quase perfeito. Não obstante, já aconteceu outras vezes de estarmos sozinhos e mesmo assim sermos mal atendidos, portanto ponto para a casa. O rapaz era bem novo, um pouco travado, com alguma formalidade excessiva, mas eficiente. Os pratos chegaram rápido, e a cerveja estava em boa temperatura. Não há muito do que reclamar.

Perceba que não fomos muito enfáticos nos elogios aos pratos principais, que são normalmente o que nos faz voltar a um restaurante. Mas mesmo assim ambos concordamos que o Cozinha Parador mereceria um retorno. Talvez tenha sido um dos melhores custo-benefícios desde que começamos o blog. Um prato com um medalhão de mignon como o da Chris dificilmente fica abaixo de oitenta reais em nossas experiências prévias. E o meu, com ingredientes mais baratos porém diferenciados, não sai por menos de sessenta reais em geral. Os preços, aliado à vontade que ficamos de provar outros pratos (como o risoto de papada suína ou a tortelline de urtiga) foram os fatores decisivos dessa decisão - e que esse retorno, se vier, seja num dia ensolarado para podermos apreciar o ambiente e enxergar melhor o que comemos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 6
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 7 e 8
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 8
Custo-benefício(1): 7 e 8
Média: 6,75 e 7,29
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Estrada do Amargoso, s/n – Boa Esperança - Lumiar (Distrito de Nova Friburgo) - Rio de Janeiro
Telefone: (22) 2542 4777 / 2542 4774
Whatsapp: (22) 99279 8282
Site: http://paradorlumiar.com/gastronomia
Facebook (da pousada): https://pt-br.facebook.com/ParadorLumiar/