domingo, 29 de março de 2020

Bar do Alemão (Curitiba - PR) - 12/03/2020


Largo da Ordem. Centrão de Curitiba. Local onde se dá todos os domingos uma das feirinhas de artesanato (maneira de dizer, é um monstro de grande) mais legais que eu e Chris já visitamos no Brasil - e não foram poucas, a Chris é obcecada por feirinhas. Ali, numa entrada até modesta, está o Bar do Alemão, orgulhosamente funcionando desde 1979 no mesmo lugar. Seu nome oficialzão mesmo é Schwarzwald, mas acho que nem é necessário explicar porque esse nome não pegou. 

"Xiuarzi" o quê? Ah, o Bar do Alemão!

Eu escrevi que a entrada é até modesta, e ela fica ainda mais diminuta por estar ao lado de dois prédios maiores. Mas não se engane: cabem mais de setecentas pessoas dentro do restaurante. Um canecão gigante de chopp e a estátua de um alemão dão as boas vindas. Uma vez lá dentro, há um corredor com diversas mesas e cadeiras, e ao se aventurar mais pro fundo é possível conhecer os outros salões, enormes, com decoração cheia de motivos alemães, como se estivéssemos em uma taberna germânica. Não é nada muito refinado, mas é possível ver beleza e algo de genuíno. Ajudando na sensação de imersão, as caixas de som só tocam músicas alemãs. Em horário de almoço de uma quinta-feira vadia, somente o corredor de entrada era suficiente para abrigar os clientes, ficando os salões do fundo reservados para os dias mais cheios. 

Esse é um chope que com certeza "weiss" gostar (ai, doeu)

Não se pode comer em paz

Turista paga mico. Alguns perdem o pescoço, até.

Enxeridos xeretando a parte que estava sem atendimento

Apesar de se chamar "bar", o lugar funciona também como restaurante, e estávamos ali para uma refeição completa. Começamos com um clássico curitibano, a carne de onça, em sua versão aperitivo (R$ 39,70 - aliás vários pratos do cardápio tem os centavos assim quebrados). Calma, calma, nenhum felino ameaçado de extinção morreu para nossa alimentação. Trata-se de carne bovina crua, servida sobre um pão escuro. Não há grande presença de temperos, fazendo com que o gosto da carne prevaleça. Por cima muita cebolinha e cebola crua, que ajudam a dar certa crocância - por sorte nós adoramos cebola. Com um chopp weiss bem tirado, desceu que foi uma beleza.

Nenhum felino nesta foto 

Uma felina nesta foto


"Devia ter ouvido minha mulher/homem". Essa sensação nos acomete às vezes, né? Pois é, me acometeu. Os pratos principais do Bar do Alemão servem duas pessoas, por isso tínhamos que entrar em consenso. Chris queria algo com as famosas salsichas alemãs, eu argumentei que isso dava pra comer na esquina de casa, e que deveríamos pedir o marreco recheado. Ela acatou o argumento, e lá fomos nós de marreco recheado com purê de maçã, repolho roxo, batata e spätzle (R$ 98). Primeiro ponto, a proporção: dava pra alimentar nós dois umas quatro vezes. Segundo ponto, a aparência: chega a doer de feiúra. Sem cor, com a pele do marreco parecendo estar crua, a salada murcha, tudo meio amontoado. Coadjuvantes: o spätzle tava gostosinho (é uma massa típica alemã), batata é batata, o repolho roxo eu prefereria que fosse "chucrutado" (pra trazer acidez) e o purê de maçã tava bem gostoso. O marreco: tem um sabor intenso por natureza, mas estava um pouco seco. O molho presente resolvia um pouco esse problema. Seu recheio, feito dos miúdos, também tem sabor forte, e é como se fosse uma farofa úmida. Estava bom, mas não incrível (Chris positivamente não gostou). Fato é que lembrar desse prato não nos dá a menor vontade de repetí-lo, e essa culpa é dividida entre sua monstruosidade estética e seu sabor apenas mediano. 

"Monstruosidade estética" é exagero? 
Colocado no prato, com o purê, "desenfeiou" um pouco


Em 2016 fomos para Blumenau, e comemos marreco recheado no restaurante Abendbrothaus - especializado no prato. Só pra não dizer que somos chatos, dá uma olhada na aparência, também simples, mas anos-luz mais apetitosa, especialmente no que tange ao marreco em si propriamente dito ele mesmo (não tem texto no blog sobre esse dia, mas li minhas impressões no diário de viagem, e são muito boas).

Desse sentimos saudade

Como não há nada tão ruim que não possa permanecer tão ruim, pedimos de sobremesa o apfelstrudel com nata (R$ 12). Mais uma vez, zero de cuidado na apresentação. A torta de maçã veio murcha, como se tivesse sido esquentada no microondas (apostaria meu mindinho que foi). Alguns pedaços estavam quentes, outros frios. A maçã estava meio farinhenta, sem derreter na boca, a massa não tinha crocância, faltou sabor e até um pouco mais de açúcar. A nata, além de pouca, não fez muita diferença em nossas vidas. 

Dá vontade?

Apesar das roupas típicas alemãs vestidas pelos funcionários, não há aquela alegria no serviço. É um pouco frio. Talvez isso combine com o estereótipo que temos do povo alemão, e sei lá, pode fazer parte da imersão. Mas a gente sentiu falta de um cadinho mais de calor humano. O lugar não encheu durante nossa refeição, mas ainda assim em alguns poucos momentos foi um pouco difícil conseguir a atenção da única garçonete presente. Tudo isso posto, o serviço foi razoável, sem grandes problemas nem grandes demoras entre os pedidos.

Chris não está aqui ao meu lado enquanto escrevo esse texto. Mas acho que ela concordaria que poderíamos voltar ao Bar do Alemão para tomar um chopp e comer uma carne de onça. Estamos falando praticamente de uma instituição curitibana, que tem o compromisso assumido de abrir todos os dias do ano das onze da manhã às duas da madruga (tristemente deve estar fechado agora por conta da epidemia do Covid-19). Mas certamente não voltaríamos para uma refeição. Talvez o "bar" no nome não seja apenas um fruto do acaso. Acho, afinal, que essa é a verdadeira vocação do lugar: menos carne de marreco e mais carne de onça. 


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7,5
Serviço(2): 7 e 6,5
Entrada (2): 8 e 7
Prato principal(3): 4 e 5,5
Sobremesa(2): 4 e 4
Custo-benefício(1): 5 e 5
Média: 5,75 e 5,95
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Rua Dr. Claudino dos Santos, 63 – Centro - Curitiba - Paraná
Telefone: (41) - 3223-2585
Site: https://www.bardoalemaocuritiba.com.br/bar-do-alemao/
Facebook: https://www.facebook.com/bardoalemaooficial
Instagram: @bardoalemaooficial

sábado, 21 de março de 2020

Fim da Trilha (Ilha do Mel, Paranaguá - PR) - 02/03/2020


Era nosso primeiro dia de caminhadas pelas trilhas da Ilha do Mel, e de repente nos deparamos com uma entrada bonita. Era o Fim da Trilha, uma pousada e restaurante sobre o qual eu tinha ouvido falar, e no qual queria fazer uma refeição. Ainda era dia, não estávamos com fome, entramos pra dar uma olhada no cardápio e ver se abriria naquela segundona. Fomos muito bem recepcionados, e avisados de que, sim, o restaurante abriria naquela noite. Pra completar o Marcelo (que não sabemos se é dono ou funcionário) nos levou até uma foto gigante da ilha para fazer umas fotos da gente na frente dela, como se estivéssemos pairando sobre a paisagem. O resultado é bem legal, dá um bizu aí:

Poderosos

Evidente que, com tudo isso, voltamos à noite para uma refeição. O restaurante não tava muito cheio. Tinha, deixa eu lembrar...acho que éramos nós dois e quem mais mesmo? Ah, sim, os funcionários. Era isso. Em uma noite chuvosa de segunda-feira (aliás, a essa altura já estávamos enferrujados no Paraná), fizemos a refeição romanticamente sozinhos. Ambiente agradável, todo envidraçado, uma inteligente decisão que permite que a paisagem ao redor faça parte da decoração - não é à beira-mar, mas é à beira-mato. As cadeiras não são muito confortáveis. Até combinam com o clima de praia, mas pelos preços cobrados, não exorbitantes mas acima da média da ilha, deveria haver um cadinho mais de conforto. Só há um banheiro, unissex. 

A mesinha ali atrás provavelmente seria a escolha, chuva não houvesse

Esse cidadão chato reclamou de conforto, o esnobe

Estamos em uma ilha, então por óbvio boa parte do cardápio é focada em frutos do mar. Para começar, escolhemos o siri gratinado (R$ 30). É complicado trabalhar com siri, porque o sabor dele é muito delicado, então não dá pra forçar no tempero. Há que se ter um equilíbrio, que infelizmente o Fim da Trilha não alcançou. Quando voltamos pra casa e tentamos nos lembrar do gosto, só nos veio a palavra "água" à mente. Por sorte havia um limãozinho (só um quarto!), que cai muitíssimo bem com siri. Quanto às casquinhas, não tem jeito, siri sempre vem com elas, faz parte do pacote.

Faltam três quartos de limão pra formar um limão, né?

São seis divisões no menu, para os pratos principais: paellas, moquecas, camarões, peixes, mignons e "risoto e massas", que estão juntos. Chris, como quase não gosta de risoto, e menos ainda de camarão, pediu risoto de camarão (R$ 70). Era mentira que ela não gostava, só pra constar. Então, ela pediu, e veio, mas não veio legal. O arroz tinha passado do ponto, havia galhos de tomilho (ou outra erva natural que não pode te prejudicar, mas às vezes prejudica) aos montes, faltou um pouco de tempero e poderiam ter vindo mais alguns camarõezinhos. Uau, com tudo isso acabo achando que a nota final dela foi bem condescendente. 

Mas quanta condescendência, menina!

De minha parte fui de paella valenciana (R$ 65). Chegou bonita, brilhante, colorida, e com um camarãozão por cima - o que, convenhamos, seria capaz de embelezar qualquer coisa. A paella valenciana traz, além dos frutos do mar, carne de porco e de frango. Servida na panelinha, bonitinha. Com os frutos do mar tava tudo ok, maravilha. Já o porco e o frango ou vieram secos ou vieram com pedaços de cartilagem incomíveis. Sim, vá lá, originalmente a paella era um prato de camponeses, e se colocava no arroz o que se tinha à mão. Mas isso não deve significar que no meu prato no ano da graça de 2020 devem vir pedaços incomíveis de carne. De resto, estava úmida e bem temperada, embora eu aceitasse uma porradinha a mais de picância.

Achei os outros três quartos do limão!

Desconsiderando "sorvete com calda" como sobremesa, são apenas duas opções: brownie e flambê (bananas salteadas na manteiga, canela e açúcar, flambadas na cachaça, servida com sorvete, R$ 25). Escolhemos essa última. No que tem de óbvio e pouco imaginativo, a nota seria zero. Mas como sorvete e banana são duas coisas que combinam muito bem, e como a cachaça estava bem inserida, sem aparecer demais, mas anunciando sua presença, não fomos tão cruéis. Mas é impressionante a incapacidade dos restaurantes - e aqui não é privilégio do Fim da Trilha - de pensarem em sobremesas um pouco mais criativas. 

Não tem erro, mas também não tem muito acerto

Conforme já dito, estávamos só nós dois no restaurante, o que facilitou o serviço. De maneira geral fomos bem atendidos, mas poderia nos ter sido informado que havia uma opção fora do cardápio, que só depois vimos escrita em uma lousa. E olha que haveria a chance de a Chris pedir o prato, já que unia risoto e peixe grelhado. Os tempos de espera para a entrada e sobremesa foram curtos, só demorando um pouco mais na entrega do principal - mas uma demora já prevista no menu, portanto não dá pra reclamar.

Acho que meu texto transparece a decepção que tivemos com o restaurante. Animados com nossa recepção durante a tarde, criamos uma expectativa que a cozinha não foi capaz de corresponder. Pratos com problemas no tempero (o que, vá lá, é gosto pessoal) e ponto (aí não tem muito o que dizer), além de uma falta de criatividade aliada a preços não tão amigáveis nos fizeram concordar que não faríamos uma nova visita ao Fim da Trilha - e parece que o próprio nome do restaurante já estava querendo nos avisar disso. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 7 e 6,5
Entrada (2): 6 e 5,5
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 5,5 e 5
Média: 6,12 e 6,20
Voltaria?: Não e não

Serviço:

Trilha da Gruta (Vila de Encantadas) – Ilha do Mel - Paranaguá - Paraná
Telefone: (41) - 3426-9017/3426-9106
Site: https://fimdatrilha.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/pousadafimdatrilha/
Instagram: @fimdatrilha