sábado, 15 de dezembro de 2018

Osteria Itália (São José dos Campos - SP) - 04/12/2018



É escondidinha. É pequenina. Parece a casa de alguém. É tão discreta que já passei pela rua algumas vezes e nunca tinha prestado atenção. Assim devem ser as osterias, estabelecimentos comerciais tipicamente italianos, e assim é a Osteria Itália, que visitamos em uma quente noite de terça feira. Outra característica das osterias é que normalmente são tocadas por famílias. No cardápio da Osteria Itália esse componente "familiar" é destacado, citando o nome da cozinheira e do sommelier que atende o salão, que são marido e mulher. 

Um salto no tempo, escureceu, uma casa, uma Chris

A impressão caseira que se tem do lado de fora é replicada do lado de dentro. Ali a gente tem a certeza de realmente se tratar de uma casa antiga, pela disposição dos cômodos. As mesas com toalhas tricolores se espalham pelos ambientes, que são todos bem pequenos. Inclusive há um aviso logo na entrada da casa, dizendo que pelo tamanho da cozinha e do lugar não é possível atender grandes grupos de uma só vez. O ambiente é intimista, mais voltado para casais. Um dos cômodos é climatizado, e se eu passei calor a culpa é exclusivamente de minha consagrada companheira, que não levou blusa e não queria ficar no ar-condicionado. Nós dois achamos a parte de fora uma "graxinha", mas infelizmente só havia uma mesa, que já estava ocupada. 

A toalha é mais pro tricolor dela do que dele
Uma casinha em que é proibido fumar, se fosse a dela tinha é placa nenhuma


O cardápio tem três opções de entrada e pouco mais de dez opções de prato principal. Sem frescura, apenas pratos clássicos da cozinha italiana. Há massas de fabricação caseira e outras importadas da Itália, que aparecem em seções diferentes do menu. Há também as opções diárias da chamada cucina del mercato, que aproveita o que há de mais fresco naquele dia. Todos os pratos são individuais e custam por volta de R$ 40.

Para a entrada escolhemos uma das opções sazonais, o crostini com dois queijos, presunto de parma e aspargo (4 unidades, R$ 25). O crostini, para quem não sabe, é bem parecido com a famosa bruschetta, só que cortado mais fino e feito normalmente no pão ciabatta. Apesar de contar com ingredientes de personalidade, a receita estava bem equilibrada, e o pão estava crocante. Gostamos, embora não fosse nada de gemer.

Nóis num gemeu, mas nóis curtiu

Chris escolheu um prato principal do cardápio fixo. Foi de agnolotti del plin (recheado de carne desfiada e salteado na manteiga de sálvia, R$ 47). O agnolotti, pra quem nunca viu, é essa massa que tá na foto aí embaixo, tipo uma trouxinha recheada. Chris achou que a massa podia ser um pouco mais fina, mas o ponto estava bom. E embora a manteiga de sálvia estivesse gostosa, ela gostaria de um pouco mais de tempero no recheio. A porção, como se pode ver, é bem farta, e Chris comeu quase tudo, devem ter sobrado umas duas ou três trouxinhas.

Transbordando de massa, meu!

Eu escolhi o prato da cucina del mercato, fora do cardápio fixo. Foi o caserecce con ragu de maiale (massa importada com ragu de pernil suíno com guanciale, alcaparras e azeitona siciliana, R$ 43). Caserecce é uma massa que eu nunca tinha visto, que parece um canudinho duplicado. Guanciale é um bacon artesanal, não defumado. Estava tudo bem gostoso, a massa bem cozida, a porção farta mas assim como a Chris senti falta daquele detalhezinho que transforma um prato bom em algo inesquecível. Faltou, por exemplo, mais frescor, talvez um manjericão cumprisse essa função. E o ragu era carne moída, quando o ideal seria que estivesse mais pedaçuda, desfiada depois de longo cozimento.

Mas azeitonas sicilianas frescas são o que há de bom, viu?

O menu fixo tem como opções de sobremesa dois sabores de panna cottas e um sorvete de avelã e chocolate de produção própria. No dia de nossa visita também estava disponível o tiramisù. Mas resolvemos optar pelas "natas cozidas". Chris escolheu a panna cotta al caffe (aromatizada com café e coberta por ganache de chocolate, R$ 17) e eu fui de panna cotta di vaniglia (aromatizada com baunilha em fava e coberta por ganache de chocolate, R$ 17). Ambas com consistência bem agradável, com aquela coisa meio "tremulante" quando tocada, mas com textura firme na boca. Ambos achamos que a frase "coberta por ganache de chocolate" deveria ser seguida mais ao pé da letra. Chris gostou do fato de o café estar presente, mas sem dominar completamente os sabores. Já a minha acabou ficando um pouco enjoativa.

Foto de apenas uma delas pra não redundar, a outra era um pouco mais escura e só

A Osteria Itália faz uma boa comida caseira, como é sua proposta. Se formos ver por esse lado, ela cumpre completamente o que promete. O lugar é aconchegante, o atendimento é atencioso e informal, os preços são justos e a comida é farta, como deve ser um bom almoço de domingo na casa da nona. Apesar dessas qualidades, faltou algo de especial que fizesse com que eu e Chris considerássemos um retorno ao lugar. Talvez se a área externa, charmosa e bem cuidada, fosse mais aproveitada, com mais mesas, e a gente passasse novamente por aquela tranquila rua, quem sabe assim ficaríamos tentados a nos sentar e tentar mais uma vez. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 6 e 6,5
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 7 e 6,5
Média: 6,75 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Gen. Osório, 63 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3308-0633
Facebook (não oficial): https://www.facebook.com/pages/Restaurante-Osteria-Italia/128494284009342

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Donna Pinha (Santo Antônio do Pinhal - SP) - 02/11/2018


O fim do Guia Quatro Rodas foi uma grande tristeza para mim, mas ainda guardo a edição de 2015 (a última que saiu) e a utilizo para muitas coisas. Uma delas é ajudar a escolher um restaurante quando viajamos. Em Santo Antônio do Pinhal me interessei pelo Santa Truta. Tristeza: descobri que ele fechou. Alegria: descobri que ele se juntou ao restaurante Donna Pinha, e eles agora são um só! Minha modesta opinião é que o nome a prevalecer deveria ter sido Santa Truta, mas quem sou eu pra opinar, né? Fato é que na sexta-feira, Dia de Finados, eu e Chris fomos ver o que essa Donna Pinha tinha para nos dar.

"Bora donnapinhar?"

A primeira coisa que ela nos deu foi um ambiente bem iluminado, com luminárias bonitas e uma luz agradável e aconchegante, sem ser aquela coisa cegante nem aquela coisa de não saber nem quem está na sua frente. Ponto positivo também para as cadeiras confortáveis e para o salão espaçoso, contando até com uma árvore na parte de baixo. Na noite de nossa visita havia um músico com violão, que fez um bom trabalho, não incomodou. Não gostamos do fato de o banheiro ficar do lado de fora, "quase em outra cidade", como eu brinquei com a Chris. Também achamos um pouco cafona encher a parede com matérias de jornal falando do próprio restaurante. E pra variar não há do lado de fora nenhum banquinho ou cinzeiro para os fumantes, coisa que a Chris sempre observa. 

Ali atrás a árvore, ao lado o bom músico, e aqui a Chris

O Fê observando o nada, e ao fundo os cabotinos recortes de jornal

O menu das entradas inclui várias receitas com truta (casquinha, linguiça, isca) além de algumas outras opções. Durante nossa visita tava rolando também um festival de alcachofra, que trazia algumas receitas com esse ingrediente. Nossa curiosidade nos levou às casquinhas de alcachofra (R$ 16,80 a unidade). Três opções de recheio disponíveis: truta, queijo de cabra e cogumelos. 

Chris escolheu o recheio de queijo de cabra. Quando o garçom foi anotar o pedido, perguntou "de cogumelos, né?". Então a gente corrigiu dizendo que era de queijo de cabra. Mas não adiantou muito, porque acabou vindo o de cogumelos mesmo. Eles queriam que a Chris comesse esse, e pronto. Daí ela comeu, né? Não que tenha desgostado, mas achou que faltou mais tempero nos cogumelos. E apesar de inicialmente querer o queijo de cabra, ela acabou foi não gostando da crosta de queijo parmesão que veio em cima dos cogumelos e atrapalhou o sabor delicado dos fungos. 

Eu escolhi o recheio de truta. Veio de truta mesmo, legal, menos mal. Gostei, consistência cremosa, bastante sabor do peixe, sem tanta ênfase em temperos - mas considerei isso um ponto positivo. Tive o mesmo problema com a crosta, virou uma massa única, não partia de jeito nenhum. A presença do queijo em cima do recheio deixou nossas casquinhas idênticas, por isso vou colocar apenas uma foto aí abaixo. Apresentação bem bonitinha por sinal, com uma physalis, um limãozinho cravo e uma erva que parecia tomilho. Muito bacana a ideia de servir dentro da alcachofra, pudemos comer a "carninha" das pétalas e o coração da flor ao final.  

"E ao final te arrancarei o coração"

No cardápio de pratos principais, uma página inteira é dedicada às trutas (ah, se eu soubesse então o que sei agora, certamente teria escolhido uma delas). Há também massas, risotos, carnes bovina, suína e ovina, além de opções com frango e avestruz. Muita coisa, o que não costuma ser bom sinal. Quase todos os pratos são individuais, e custam em torno de R$ 60.

Eu sou muito folgado e pedi pra Chris escolher alguma coisa com truta, especialidade do lugar. Chris é muito independente e mandou meu pedido às favas. Mas escolheu um prato com outro ingrediente típico da região: o pinhão. Foi de Medalhão Donna Pinha (mignon grelhado, molho de pinhão, com arroz negro e batata sautée, R$ 68,80). Ela pediu a carne mal passada, e o ponto veio perfeito. Além disso estava muito bem temperada. Pena que o molho veio por cima dela, então toda aquela crosta do grelhado desapareceu. O molho, aliás, estava bom, mas bastante neutro, sem muita personalidade. Chris ficou fula mesmo foi com o arroz negro, que ela adora. Além de ter passado demais do ponto, estava com pouco sabor e veio com a mesma infame crosta de queijo, que nesse caso virou um "massaroco" duro que não deu pra comer. 

O arroz negro ainda não se juntou pra atrapalhar
Agora ele chegou, trazendo seu amigo queijo pra zuar o bagulho


Eu resolvi inovar e escolher uma proteína que não é muito comum encontrar em restaurantes: carne de avestruz. Escolhi o avestruz ao parfum de framboesa (grelhado e flambado, com molho de amora, R$ 69,80). A tristeza começou na chegada: o molho encharcava tudo, inclusive a carne, como aconteceu no prato da Chris. Por cima da carne um pedaço de queijo, nem gratinado nem derretido, como uma massa amorfa. A descrição do prato dizia molho de amora, mas vieram outras frutas vermelhas (framboesa e morango) além de, pasmem, o que parecia ser cereja artificial, aquela mesma feita de chuchu (é sério). Os legumes estavam ligeiramente duros, e não tinham muito tempero. A carne estava seca. E o sabor do molho, que poderia salvar tudo, era terrível. Acidez extrema e até um pouco de amargor deixaram o prato difícil de digerir. Chris experimentou e disse "algo deu muito errado aqui". Para não dizer que nada se salvou, o arroz branco que acompanhava estava bom. Triste este parágrafo. Não colho nenhum prazer em falar mal dos lugares que visitamos. Mas devo dizer que nos 55 restaurantes que estão nesse blog até hoje, e nos tantos que visitamos antes de começarmos a escrever, esse foi o pior prato principal que já comi. Indubitavelmente.  

É...bem...então...como tá o tempo?

Essa cara é de quem não comeu e não gostou

Escolhemos uma das sobremesas do festival de alcachofra (embora não contivesse alcachofra). Foi o bolo de lavanda e limão siciliano com calda de papoula e sorvete de creme, R$ 22,80). A calda me pareceu ser de hibisco, que também é chamado de papoula em alguns lugares. Apresentação bem bacana, com uma colherzinha charmosa contendo a calda. Bolo macio, bem aromático, com um pouco de acidez do limão. Um pouco seco sozinho, mas combinado com o sorvete e com o molho ganhava novas texturas. O molho trazia um certo dulçor frutado interessante. O bolo poderia estar um pouco mais quentinho, pra trazer aquele contraste de temperatura de um petit gateau, inspiração óbvia para a sobremesa. 

Essa foto meio oblíqua, cês gostaram?

Uma das coisas mais positivas sobre o serviço certamente foi a grande quantidade de garçons sempre à vista com suas roupas vermelhas. Apesar disso, em alguns momentos era um pouco complicado conseguir a atenção de um deles. Houve o erro já citado em relação à entrada da Chris, que certamente pesou contra. Também estranhamos o fato de terminarmos nossa cerveja e não nos terem oferecido outra (não queríamos mesmo, tá?). Mas de maneira geral os jovens funcionários demonstraram atenção e cuidado. 

É possível alegar que não fizemos as melhores escolhas diante da quantidade de opções do cardápio. Mas ao mesmo tempo é difícil ser condescendente com isso, já que tudo que está disponível tem que ser bem feito. Por isso sempre preferimos menus mais enxutos - embora isso não seja uma garantia de qualidade, é um bom indicativo de que há critério para se colocar algo à disposição dos clientes. E o fato é que meu prato principal foi o principal responsável por ambos termos decidido que não retornaríamos ao Donna Pinha. Apesar de alguns acertos tanto nas entradas quanto no prato da Chris e na sobremesa, não é razoável que um restaurante sirva aquilo que me foi servido. Com o perdão pelo excesso de morbidez, no Dia de Finados esse prato representou a morte das expectativas que nós nutríamos com o restaurante indicado pelo falecido Guia Quatro Rodas.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 8
Serviço(2): 7,5 e 7
Entrada(2): 6 e 7,5
Prato principal(3): 6,5 e 2
Sobremesa(2): 8 e 7
Custo-benefício(1): 6,5 e 5
Média: 6,75 e 5,83
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida Antônio Joaquim de Oliveira, 647 – Centro - Santo Antônio do Pinhal - São Paulo
Telefone: (12) 3666-2669
Site: http://donnapinha.com.br/
Facebook: https://pt-br.facebook.com/DonnaPinha/

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Seu Maxixe (São José dos Campos - SP) - 04/10/2018


O Seu Maxixe fechou antes que a gente pudesse ir. Aí ficamos tristes. "Pô, fechou". Mas Chris descobriu que ele reabriu em outro lugar! E não temam, porque tudo que renasce, renasce mais forte. Antes instalado em uma avenida larga, e com uma fachada sem identidade, agora ele está num lugar muito mais aconchegante e já chamando a atenção do lado de fora pela personalidade nordestina, com alguns cactos adornando a fachada. Abaixo do nome, os dizeres "Sabor do Nordeste", para não deixar dúvidas sobre a especialidade da casa.

Chegando no seu, no nosso Maxixe!

Lampião e Maria Bonita deitados na rede e duas estátuas desconhecidas

Antes mesmo de adentrar o restaurante, uma rede instalada ao lado das figuras de Lampião e Maria Bonita dão o tom do imenso cuidado tomado com a decoração. Claro que estamos falando de clichês largamente utilizados pelo turismo do Nordeste, mas é preciso chamar a atenção de alguma forma, e é inegável que são figuras indissociáveis do imaginário nordestino. Passar pela porta de entrada do Seu Maxixe é um deleite para os olhos. A começar pelo fato de ele estar instalado em um enorme galpão sem laje, bem ao estilo das casas de forró nordestinas - aliás, rola forrobodó ao vivo às sextas-feiras. Muitas cores enchem os olhos, nas cadeiras cuidadosamente pintadas, nos porta-guardanapos e nos quadros nas paredes. E está tudo tinindo de novo. Há também um espaço para crianças, com alguns brinquedos, e uma lojinha com alguns produtos típicos do Nordeste para levar pra casa.

Camiseta amarela na cadeira amarela


Tudo azul na cadeira azul

Visualmente já estávamos conquistados. Faltava conquistar nossos buchos. Como se trata de um bar-restaurante, há muitas opções que o cardápio aponta como "Para beliscar". Várias delas tem nomes espirituosos, como "De lamber os beiços" (bolinho de macaxeira recheado com carne de sol na nata, R$ 27,90) ou "Lá de nóis" (contra-filé de sol acebolado e macaxeira cozida, R$ 42,90). Não fugimos dos nomes engraçadinhos e escolhemos o "Dadinho amostrado" (dadinhos de tapioca servidos com carne de sol cremosa, pimenta biquinho e geléia de pimenta, R$ 22,90). A Chris pirou. Achou uma delícia a mistura dos dadinhos bem crocantes, carne de sol cremosa, pimenta biquinho dando frescor e geléia de pimenta trazendo o calor do Nordeste. O único senão é que, experimentada em separado, faltava um pouco mais de tempero na carne de sol. A apresentação é bem simples, sem grandes invenções.

Conquistando nossos buchos

Depois de beliscar, são dezessete opções "Para encher o bucho", como adequadamente se pode ler no cardápio. Há carneiro, buchada de bode, carne de sol de diversas maneiras, baião de dois, e muito camarão. Claro que este último não poderia faltar, já que o restaurante se apresenta no menu como "uma mostra da culinária potiguar", palavra que além de ser o gentílico de quem nasce no Rio Grande do Norte, também significa "comedor de camarão" em tupi. Para quem estiver por ali na hora do almoço, há bufê de comida nordestina das 11h30 às 15h30.  

Como todos os pratos são para dois, não demorou muito para chegarmos a um consenso bem "potiguar": escolhemos o Camarão Mar e Sertão (camarão refogado com cebola roxa e carne de sol desfiada, acompanhado de arroz de leite gratinado e macaxeira frita, R$ 129,90). A apresentação em uma panelinha, sem muita sofisticação e frescura, é condizente com a proposta da casa. Nunca tinha comido o arroz de leite, e achei a consistência um pouco desagradável, lembrando uma papinha. Mas é assim mesmo que deve ser, mais ou menos como um arroz doce, só que salgado. Os camarões estavam no ponto certo, eram grandões, muito bem temperados e vieram em grande quantidade - não, não sobrou nenhum pra contar história. Já a carne e a cebola estavam boas de sabor, mas poderiam vir em maior quantidade. A macaxeira estava correta, crocante e sequinha. Tudo bem temperado, embora ambos tenhamos concordado que poderia haver uma porradinha a mais de intensidade, principalmente da pimenta. 

Não tá porreta, mas tá bom

Desconstruído

Na hora da sobremesa estávamos doidinhos para comer o bolo de rolo, um rocambole doce típico de Pernambuco. Mas estava em falta, para nossa tristeza. Não choramos por muito tempo e pedimos uma Cartola (banana frita na manteiga de garrafa, queijo de manteiga e farofa de açúcar, canela e chocolate, R$ 14,90). Também servida na panelinha de ferro característica da casa, nesse caso o suporte prejudicou um pouco o corte, principalmente do queijo. Mas conseguimos nos virar e acabamos comendo uma bela sobremesa, com sabores muito equilibrados e contraste perfeito entre o salgado do queijo e o dulçor da banana e da farofinha. 

Tá contrastando direitinho, visse?

O serviço ganhou nota dez em simpatia - mas simpatia não é tudo no serviço. Por exemplo, eles não passaram no teste do cigarro: aquele momento em que a gente sai pra Chris fumar, deixa os pratos sujos à mesa, e quando voltamos eles ainda estão lá. E não dá pra culpar a quantidade de gente porque, embora houvesse uma mesa com umas 537 pessoas, fora isso não tinha mais quase ninguém além de nós. Mas o tempo de espera foi dentro do normal, a cerveja foi servida em boa temperatura e os garçons trabalharam com eficiência na maior parte do tempo. 

Uma preocupação quando se vai a um restaurante nordestino fora do Nordeste é que ele traga uma coisa pasteurizada, aquele popular "engana-trouxa". Ficamos muito felizes por não encontrar isso no Seu Maxixe. O fato de termos visto um jovem rapaz, que aparentava ser o dono do lugar, falando com um delicioso sotaque nordestino talvez explique o porquê. Há coerência em tudo, desde a decoração até o atendimento jovial e simpático, passando pelo cardápio recheado de opções, desde as mais palatáveis aos paladares do Sudeste até as mais "difíceis", como sarapatel e buchada de bode. Tudo isso aliado aos preços nada extorsivos nos fizeram concluir que voltaríamos para mais uma visita ao Seu Maxixe. O Nordeste, mesmo que recriado, pode ser um excelente refúgio em tempos difíceis.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9,5 e 10
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 9 e 7,5
Prato principal(3): 8 e 7
Sobremesa(2): 7 e 7,5
Custo-benefício(1): 8 e 7
Média: 8,08 e 7,66
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua José Mattar, 128 – Jardim São Dimas - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3341-4100
Facebook: https://pt-br.facebook.com/seumaxixerest/

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Auá Gastronomia (São José dos Campos - SP) - 04/09/2018


Auá significa "gente" em tupi-guarani. Eu não precisei pesquisar essa informação, porque ela está lá, na primeira página do cardápio do restaurante, em um texto assinado pelo chef Gabriel Spaziani. No texto ele também conta um pouco de seu currículo, com passagem por restaurantes importantes, e fala da proposta da casa: mesclar os alimentos de nossa terra com aqueles trazidos pelas outras "tribos" (leia-se imigrantes) que vieram ao Brasil. A proposta parecia bem promissora.

Proposta aceita!

Antes de sermos apresentados ao conceito da cozinha, fomos apresentados à beleza do salão do Auá. Espaçoso, com um bar charmoso na entrada, pé direito alto, muitas plantas, lustres, sofás nos cantos e belos móveis de madeira. Ficamos positivamente impressionados com o cuidado em cada detalhe da decoração. Há até uma salinha de espera para os dias cheios, uma espécie de mezanino, com algumas mesas e itens retrô. Chris só não gostou das cabeças de boi penduradas na parede ("será que não há outra maneira de representar o Nordeste?", ela me disse) e do fato de não haver do lado de fora algum cantinho para os fumantes, nem que seja só com uma cadeirinha e um cinzeiro, como existe em alguns lugares. De minha parte só achei um pecado que, com toda brasilidade citada no cardápio e refletida no nome e na decoração, só tenha tocado música estrangeira no alto falante. Falha de conceito.

"Faz um ar blasé enquanto eu tiro a foto"

Aconchego total

Meu, super hiper mega transada retrozada vintage e hypster essa sala de espera!

O cardápio é uma belezinha, cheio de desenhos, pequenos gracejos ("Engorda? Engorda sim e é bom demais!") e dicas do chef. Para a entrada são oito opções, como dadinho de tapioca (R$ 27) e linguiça recheada com queijo coalho (R$ 61). Escolhemos o Palmito do Norte (palmito pupunha gratinado, com queijo coalho e servido com melado de cana, R$ 27). A descrição já tinha nos interessado, mas o adendo "Único no Vale do Paraíba. Quer apostar ou experimentar logo?", um desafio até meio petulante, foi o que nos conquistou de vez. Mas marketing não é tudo. Faltava comer. E a verdade é uma só: o troço é muito bom. Primeiramente é bastante original, apesar de relativamente simples. E depois, todo o medo de o coalho ser muito forte, ou de o melado ser enjoativo se desfez à primeira garfada. Conjunto muito harmonioso, com todos os ingredientes se conversando sem ninguém se estressar com ninguém. Uma delícia. Nem precisa dizer mais nada: foi a primeira nota 10 da Chris para uma entrada.

"Mocidade Independente do Palmito do Norte, nota...dez!!"

Há muita variedade de opções no menu de pratos principais (humildemente até achamos que poderiam ser reduzidas). Os grelhados (bife ancho, bife chorizo, salmão, entre outros) tem preços variados (em torno de R$50) e quatro opções de acompanhamentos. Também é possível escolher um grelhado e um risoto ou massa da casa (nesses casos acrescenta-se mais R$ 7 ao valor). Também é possível escolher um grelhado e se servir no bufê de saladas e acepipes diversos que toma conta do centro do salão (nesse caso acrescenta-se R$ 19,90 ao valor). Fora isso há diversas opções de pratos com carnes, aves e peixes, além dos risotos e massas já citados. Para completar ainda é possível escolher o bufê de caldinhos, por R$ 32. Ufa! Uma coisa interessante é que quase todos os pratos podem ser para uma, duas ou três pessoas, com preços diferentes. Bom pra quem vai com família e quer gastar um pouco menos.

Chris fez uma opção esperta: comer um dos grelhados e ainda experimentar um risoto da casa. Por isso ela escolheu o filé mignon e como acompanhamento o risoto de alho poró (R$ 64 os dois). Ela não teve nada a reclamar da carne, que chegou no ponto solicitado (mal passado paca!) e muito bem temperada. Quanto ao risoto, infelizmente o arroz passou um pouco do ponto, não estava firme, e o sabor era apenas razoável. Quanto à telha de parmesão que acompanhava o prato, ela achou que tinha muito sabor de óleo, não curtiu. 

A Chris deixaria essa casa sem telha mesmo

Meu pedido foi um tanto arriscado. Escolhi a picanha mineira (picanha suína servida ao molho barbecue de goiaba, acompanhada de mandioca frita e arroz com castanha, R$ 54). O risco a que me referi é o uso de uma fruta tão marcante em um prato salgado. Mas pode relaxar porque deu tudo certo: o molho estava bem suave, com a dose exata de dulçor contrastando bem com o saborosa carne (que estava seca nas pontas, onde não há gordura), e o delicado arroz com castanhas trouxe frescor e crocância. Não citei as mandiocas, apesar de estarem boas e sequinhas, porque achei que elas não precisavam estar no prato. Também não vejo muito sentido em colocar um alecrim só pra enfeite (o da Chris também tinha).

O Fê deixaria essa casa sem mandioca mesmo

Embora a lista de sobremesas não exclua o quase onipresente petit gateau, é possível encontrar opções um pouco mais inusitadas, como o pudim de tapioca e o creme de manga com licor de menta (que a Chris ficou tentada a escolher). Mas não teve como não escolhermos o bolo cremoso de goiabada com sorvete romeu e julieta (R$ 24), que no cardápio vinha com uma caixa de diálogo, como numa história em quadrinhos, dizendo "o famoso petit gateau...só que brasileiro, claro!". Imaginamos um bolinho doce e cremoso, com uma calda de goiaba que escorreria ao primeiro corte, e um sorvete de queijo saboroso ao lado. Mas nossa imaginação, nesse caso, ganhou da realidade: o bolo estava com muito gosto de farinha, a calda não escorreu porque já estava no prato, e o sorvete não tinha muito gosto de queijo. Mas é preciso dizer que a calda "não escorrida" estava muito gostosa e acabou sendo a melhor coisa da sobremesa.

Faltou a calda escorrer, faltou sabor de queijo, sobrou farinha

Fomos muito bem atendidos por um rapaz e uma moça, que se alternavam e estava sempre atentos. Ela, muito simpática, nos explicou todo o funcionamento da casa, com as opções de bufê e caldinhos. Ele, sempre solícito, não parava de passar entre as mesas em vistoria, para saber se estava tudo certo. Sem falar nada nem invadir, apenas para mostrar que estava presente. Quando terminamos nossa entrada ele veio recolher os pratos e perguntou se queríamos outra cerveja (tínhamos tomado uma Cauim da Colorado). Eu disse que queria uma Indica, também da Colorado, mas só quando viessem os pratos principais. Honestamente não imaginei que ele fosse lembrar nem de trazer a cerveja, muito menos de qual exatamente queríamos, mas me surpreendi quando, cerca de vinte minutos depois, nossos pratos chegaram junto com a cerveja solicitada. Falando em tempo, também não há do que reclamar nem de demora nem de pressa na entrega dos pedidos.

Damos notas para vários quesitos mas o que nos faz decidir se voltaríamos ou não para um restaurante é, quase sempre, a qualidade da cozinha. Sendo assim, por mais que o espaço seja lindo e que o atendimento tenha sido ótimo, foi a maravilhosa entrada que fez com que ambos concordássemos que poderíamos voltar ao Auá - mesmo com os pratos principais tendo alguns problemas e a sobremesa tendo sido decepcionante. Nada mais justo, já que de certa maneira a entrada que escolhemos simboliza a proposta do Auá: palmito pupunha diretamente dos índios da Amazônia e gratinado à moda dos franceses, servido sobre queijo coalho dos sertanejos nordestinos, com melado de cana-de-açúcar, planta originária da Ásia. Nada mais "auá" do que isso.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8,5
Serviço(2): 9 e 9
Entrada(2): 10 e 8
Prato principal(3): 7 e 8
Sobremesa(2): 5 e 6
Custo-benefício(1): 7 e 8
Média: 7,66 e 7,91
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua Madre Paula de São José, 318 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3942-1197
Facebook: https://www.facebook.com/AuaGastronomia

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Deli Joy (São José dos Campos - SP) - 07/08/2018


A Avenida 9 de Julho, caminho da roça pra casa da Chris, é um dos lugares por onde mais passo em São José. Em dado ponto da avenida meu olhar à direita, sempre que o trânsito permite, me deixa com vontade de conhecer aquele lugar com paredes de vidro e visual descolado. Deli Joy, um nome que não dá muita informação sobre o tipo de comida servida, embora a frase "great food", escrita logo abaixo do nome, denuncie coisa boa - e alguma bem vinda arrogância. Finalmente decidimos conhecer o lugar, em uma fria terça feira de agosto.

A bandeira brasileira fazendo contraponto ao inglês do nome

Passando com o carro não é possível perceber a riqueza de detalhes da decoração interna. Há um cuidado com cada cantinho, inclusive o banheiro, cheio de frases espirituosas e com objetos reaproveitados, como o dispensador de sabão feito com uma garrafa de Fanta. A atmosfera geral é meio retrô, com máquinas de escrever, telefones e televisores antigos compondo o visual. Há sofás e cadeiras para casais e grupos maiores, e um mezanino onde não fomos, mas que parece bem espaçoso e com o décor seguindo o resto da casa. Meu único porém é que as músicas tocadas, embora boas, não refletiam o clima passadista da decoração. O único porém da Chris foi não haver um espaço para fumantes do lado de fora, com uma cadeira ou mesmo um cinzeiro.

A camisa do AC/DC compôs bem com o ambiente

Uma geral do ambiente, com as velharias à esquerda

Pense em alguém fanático por telefones antigos. É a Chris.

Espirituosidades

Nos acomodamos e recebemos nossos cardápios, ainda sem fazer ideia do que encontraríamos. Uma das coisas que encontramos foram muitas fotos dos pratos, o que acho meio cafona em restaurantes mais formais, mas que combina bem em uma casa como essa. Passamos os olhos pelas seis opções de porções e, virando a página, chegamos aos hambúrgueres. "Hmmm, é uma hamburgueria". Também poderíamos chamar de "sanduicheria", já que das onze opções de lanches, três não levam hamburguer. Mas continuando a folhear o menu encontramos o retumbante número de 29 opções de sobremesa! Ficou claro então que estávamos em uma "sobremeseria".

Piadas bestas à parte, as seis opções de porções já nos indicaram que a influência do local é fortemente americana, a começar pelos nomes, como "chilli fries", "meat balls" e "batata queijo bacon", que é escrita em português mas tem DNA estadunidense na veia. Nada contra a gloriosa América, diga-se (ok, algumas coisinhas contra, mas nada que se deva dizer aqui). Fomos de "Stick de frango crocante", que são tiras de frango empanadas com parmesão (R$ 36). Chegaram à mesa bastante oleosas, não só na aparência como no sabor. Dizer que tava ruim é mentira, porque era frango empanado com parmesão, né? Bem temperado, crocante, mas um pouco seco por dentro. Servido com a maionese da casa, que poderia ter um pouco mais de personalidade. 

Nós tão saudáveis, tomando suco, e esse frango cheio de óleo

Na hora do lanche, Chris optou pelo Gorg Burger (R$ 28,90, burger de 180g, queijo prato, bacon, cebola grelhada, alface, tomate, molho de gorgonzola no pão de brioche). Assim que ela escolheu eu fiz a ressalva: "cuidado, gorgonzola é muito forte, pode dominar tudo". Mas mulheres ouvem? Nem sempre, e não deveriam mesmo. Fato é que o que faltou mesmo foi gorgonzola. O molho era demasiado aguado, escorria pra todo lado, e não trazia muito o sabor do forte queijo. Talvez na intenção de não deixá-lo dominar, acabaram deixado-o ser dominado. O hambúrger, provado sozinho, carecia de um pouco de tempero, embora estivesse no ponto solicitado. As cebolas estavam boas, mas essa é a natureza delas. Nos chamou atenção a maneira como foram fatiadas, bem grossas.

Ali ó, como o molho é muito molhado

Claro que ela meteu o garfo e faca no bicho

Para mim eu pedi o Zucchini Burger (R$ 31,90, burger de 180g, abobrinha defumada, catupiry, rúcula e tomate no pão de brioche). Não resisto a abobrinhas, ainda mais defumadas, é juntar coisa boa com coisa boa pacas. E lá fui eu dar uma mordida no lanche, depois outra, mais outra, e nada de achar as abobrinhas. Não as acharia mesmo, posto que não vieram. Chamei a garçonete, que levou o lanche à cozinha, depois veio me perguntar se eu queria outro lanche ou se bastaria colocar as abobrinhas naqueles dois terços que restavam. Escolhi a segunda opção. A presença das "zucchinis" deu outro astral ao lanche, que antes delas estava bem xoxo. As notas defumadas trouxeram complexidade e um sabor fora do óbvio. Apesar disso, o hambúrger provado sozinho tinha o mesmo problema de falta de tempero apontado pela Chris.

O Estranho Caso do Hambúrguer de Abobrinha Sem Abobrinha, by Raymond Chandler

Eu meti a boca, garfo e faca que nada

Ambos os lanches vieram acompanhados de batatinhas rústicas (boas, sequinhas) e a mesma maionese da entrada - além de catchup e mostarda da Heinz que também já tinham sido trazidos à mesa durante a entrada.

Como recém formado sommelier de cervejas pelo Senac (pô, eu tinha que meter essa marra em algum lugar do texto!) senti muita falta de cervejas especiais para acompanhar os hambúrgueres. Até existe um cardápio só com cervejas da Dama Bier, mas elas estavam em falta. O famoso "tem, mas acabou". Meio difícil entender, já que há um distribuidor da Dama Bier em São José, não muito longe do Deli Joy. Uma pena.

Era chegada a hora de escolher entre as nababescas 29 opções de sobremesa. Bem, na verdade nossas escolhas ficaram reduzidas, já que boa parte das sobremesas levava sorvete, e a Chris não estava nem um pouco afim de sorvete naquele frio ártico (botei a culpa nela mas também não tava muito querendo sorvete não). Acabamos ficando entre duas opções de cheesecake, um de frutas vermelhas (R$ 10,90) e um de ovomaltine (R$ 16,90). Seguindo sugestão da simpática garçonete, optamos pelo último (só agora vi a diferença de preço entre os dois, mas sou um crédulo e acho que ela foi sincera). Apresentação bonita, em um prato com as mesmas cores da sobremesa. A descrição do cardápio indicava creme crocante de ovomaltine e morango, mas veio também uma ganache de chocolate branco por cima, que atrapalhou um pouco a experiência da Chris, que não gosta de chocolate branco. Afora isso, o conjunto estava harmonioso, embora sem a acidez do morango o resultado fosse um pouco enjoativo.

Prato feito sob encomenda pra sobremesa

O atendimento é feito por jovens meninas, e é bastante informal, dentro do esperado pela concepção da casa. Em dado momento o lugar chegou a encher um pouquinho, mas não houve demora significativa na entrega dos pratos nem para termos atenção de alguma delas, exceto em momentos pontuais. O problema maior relacionado ao serviço foi o meu sanduíche ter vindo sem as abobrinhas. Mesmo com a correção posterior, claro que foi uma falha grave. Também pesou um pouco a falta de aviso no cardápio sobre a ganache de chocolate branco no cheesecake. Basicamente foram esses dois problemas que fizeram nossas notas de serviço darem uma despencada. 

Antes de se chamar Deli Joy o restaurante tinha o nome de Delícias do Vale e ficava em outra localidade. Eu, que gosto das coisas em português, acho que o atual nome combina mais com a proposta da casa - embora dê a falsa impressão de se tratar de uma delicatessen, que de maneira geral é mais focada em produtos finos, diferenciados e exóticos. Mas o restaurante tem conceito, uma bela decoração e é muito agradável. Chris, por não ter gostado de seu sanduíche e não ter se apaixonado perdidamente por nada do que comemos, disse que não voltaria. Eu, que gostei do meu lanche, voltaria no verão para experimentar uma das lindas sobremesas com sorvete. E até comeria um lanche - desde que tivesse uma boa cerveja IPA para acompanhar.

Até pra trazer a dolorosa rola um conceito, vês?

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8,5 e 9,5
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 5 e 6
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6 e 7
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Avenida Nove de Julho, 747 – Vila Adyana - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3346-1002
Facebook: https://www.facebook.com/delijoybr
Instagram: https://www.instagram.com/delijoybr/?hl=pt-br

terça-feira, 10 de julho de 2018

Bendito Bistrô (São José dos Campos - SP) - 03/07/2018


Bendito Bistrô. Nome legal. Mas carrega consigo um estereótipo que no Brasil é difícil de apagar: o de restaurante caro. Culpa do "bistrô" que vem junto ao nome. Antes, no mesmo local, funcionava o "Il Tartufo", restaurante em que fomos certa vez para um evento, e que era bastante sofisticado. Pela bonita fachada que foi mantida, esperávamos o mesmo do Bendito Bistrô.

A dona com seu cachorro acrescentou casualidade ao registro

Do lado de fora, à esquerda, já é possível entrever pelas janelas a grande e bela cozinha aberta. Perto dela há um espaço que pode ser reservado para eventos. À direita fica o salão principal, com cerca de dez mesas, onde os comensais são recebidos. De cara o que mais nos chamou a atenção foram as bolas. Sim, aproveitando o clima de Copa do Mundo as mesas são decoradas com bolas de futebol. Chris foi um pouco mais condescendente, mas eu não achei nada bonito. Combinaria mais com um ambiente de cantina, ou mais informal. Aliás, de maneira geral a decoração do ambiente carece de personalidade. A impressão que me deu foi uma coisa meio "olha, esse quadro é bonitinho, vamos colocar lá no restaurante?". Falta um foco, talvez uma ajuda profissional mesmo, não um conselho de alguém que escreve um bloguezinho mequetrefe sobre suas experiências gastronômicas com a namorada (auto-depreciação é uma das minhas maiores virtudes).

Contrariando a lógica dominante, o garçom só tirou uma, e ficou tremida

Apresento-lhes a bola

Eu sou um pouco chato, confesso. Gosto de padrões. De coerência. Mas vê se eu tô muito errado. Chega o cardápio, com diversas divisões por tipo de comida. Escrito do jeito mais trivial possível: "Entradas e saladas", "Veganos", "Risotos", "Massas", "Peixes", "Frutos do mar" e "Carnes". Aí, na sessão das sobremesas, vem escrito "Ah!! A sobremesa...". Ou faz graça em tudo ou faz tudo certinho, não é? Tá, talvez eu seja muito chato mesmo. Enfim. Afora isso, visualmente o cardápio deixa a desejar. Um pouco mais de requinte, acompanhando o "requinte" dos preços na casa dos 70 reais para pratos individuais, seria bem-vindo. 

O couvert parecia bem interessante, cheio de pães, com terrine de salmão, diversos queijos, entre outras coisas (R$ 58 para duas pessoas). Pela quantidade de coisas, teríamos que optar entre ele ou uma entrada, e esta última acabou vencendo (eu venci a Chris, no caso). Pedimos os frutos do mar cozidos no vapor com folhas de peixinho a milanês, servido com molho de maracujá e sorbet de limão (R$ 65). Apresentação meio amontoada, mas não tava feia. Entre os frutos do mar vieram lulas, camarões, mexilhões e polvo. Peixinho é uma PANC (plantas alimentícias não convencionais), e foi ela que me fez bater o pé pra pedirmos a entrada ao invés do couvert, já que nunca tínhamos comido e eu tinha curiosidade de experimentar. Provavelmente foi a melhor coisa do prato, que de resto estava bem sem tempero. O tal molho de maracujá veio em pouco quantidade, e os frutos do mar, embora bem cozidos, estavam sem gosto. O sorbet de limão foi bem interessante, trazendo uma acidez e frescor que o molho de maracujá escasso não proporcionou.

Os frutos do mar, o peixinho que é folha e as folhas que são folhas mesmo

Entre os pratos principais o menu soma 23 opções - o que considero um exagero para um restaurante pequeno. Chris optou pela truta recheada com salmão assado, servido com molho de uvas verdes e arroz de amêndoas (R$ 69). Apresentação bem normalzinha, mas correta, embora ela preferisse que a pele viesse virada para baixo. Ela achou bem saborosa a junção dos dois peixes, com um recheando o outro. Estava bem temperado e com bom ponto. O arroz estava saboros e soltinho. Mas o molho de uvas verdes se resumia a uvas verdes cortadas pela metade e colocadas sobre o peixe. Detalhe: a ideia é ótima, já que as uvas trazem uma acidez diferente daquela que estamos acostumados com molhos de limão ou laranja. Mas como não era um molho, o peixe acabou ficando seco, e consequentemente difícil de comer. Uma pena, já que a ideia poderia ter rendido um ótimo prato se bem executada.

"Cadê meu molho?"

O peixe foi "uvacionado" ao final do espetáculo (ai, essa doeu)

Eu ainda não estava contente com os polvos ingeridos na entrada, e resolvi pedir polvos grelhados com alcaparras, azeitonas pretas, tomates cereja e salsão, puxados no azeite e aromatizados com páprica picante, com tortilhas de batata e camarão (R$ 70). Antes de mais nada é bom dizer que isso que escrevi é a descrição do prato no cardápio, por isso escrevi a palavra "camarão", embora os camarões não tenham vindo à mesa. Mais uma vez apresentação apenas correta, sem grandes invenções. O polvo estava bem macio, agradável, mas o refogadinho tinha um problema de amargor detectado logo na primeira mordida. Depois de experimentar os ingredientes em separado, descobri que a culpada era a azeitona. Provavelmente foi comprada fresca, e não foi tirado o amargor, que ficou excessivo. A tortilha de batata estava boa, e até acho que poderia vir um pouquinho a mais, já que tinha bastante polvo.

"Pô, vô comê um polvo meu povo!"

Octopus´s Garden

Ah!! A sobremesa...a única sessão do cardápio com um diferencial no título trazia algumas opções interessantes, como o bolo torta de milho ao creme de queijo e mousse de capim limão (R$ 25). Quase pedimos esse, mas fomos convencidos pelo garçom a pedir a taça "UAU!!! Premium", especial de Dia dos Namorados, que não está no cardápio, mas se manteve como opção após a passagem da data comemorativa dos apaixonados. Para duas pessoas, é uma taça envolta em brigadeiro, com bolinhas de chocolate, frutas vermelhas, raspas de chocolate branco e mais brigadeiro por dentro (R$ 49). Pode-se acusar a apresentação de ser cafona, mas é bem bonita, e né, o amor é cafona mesmo. Claro que misturar brigadeiro com frutas vermelhas é covardia, então é óbvio que estava gostoso, com o brigadeiro da parte interna bem quentinho e cremoso, e o da parte de fora mais firme e em temperatura ambiente. Vieram morangos, mirtilos e framboesas, além de duas belíssimas phisalys por cima, uma pra cada.

Cafona como o amor

A demora para servir alguns pratos foi abissal, com o perdão do adjetivo exagerado. A entrada, por exemplo, deve ter levado uns 40 minutos para chegar. Isso com o restaurante bem vazio em uma terça à noite. Depois, observando a enorme cozinha aberta, notamos haver lá dentro um solitário ser. Provavelmente o motivo da demora era a solidão do homem (filosófico isso). Nosso atendimento foi feito pelo jovem e prestativo Eric. Bastante esforçado, ele conseguiu ser educado sem perder a espontaneidade, o que para nós é sempre o melhor dos mundos. É novo, mas interessado em aprender. Por exemplo, quando nos explicava quais frutos do mar faziam parte da entrada, se esqueceu do nome de um deles e nos perguntou "como é mesmo aquele bichinho que vem na concha?". Esse atendimento que não é engessado é o que mais gostamos de encontrar em nossas saídas. Além disso ele sabia se manter à distância, sem ser invaviso, mas estando sempre atento. Portanto nossas notas de serviço foram diminuídas por conta da demora na entrega dos pratos, e não do atendimento pessoal.

De maneira geral, me ficou a impressão de que o Bendito Bistrô precisa se decidir. Ou ele quer ser um restaurante que cobra quase cem reais em cada prato, e aí ele tem que melhorar muito em diversos aspectos tangenciais à comida, ou ele vai ser um lugar de comida bem feita, mas mais informal, e nesse caso ele tem que baixar os preços. Em ambos os casos, é preciso também, e isso é essencial, atentar para o sabor e tempero dos alimentos e para inconsistências entre o que está descrito no menu e o que aparece à mesa. Por tudo isso, eu e Chris decidimos que não faríamos uma segunda visita ao Bendito Bistrô - embora também não tenhamos chegado ao extremo de lhe mudar o nome para Maldito Bistrô.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 6,5
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada(2): 5,5 e 6
Prato principal(3): 6,5 e 6,5
Sobremesa(2): 7,5 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 6,62 e 6,62
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Serimbura, 264 – Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3911-1460
Site: https://www.benditobistro.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/benditobistrovilaema/