terça-feira, 20 de junho de 2017

Villa Velha (São José dos Campos - SP) - 14/06/2017


O que dizer de um restaurante que existe desde 1968? Antes de mais nada, parabéns!!! Exclamações são deselegantes em um texto, reza alguma cartilha, mas são inevitáveis ao falar de um estabelecimento que atinge essa marca. O Villa Velha pode ser considerado uma instituição joseense. É, certamente, o restaurante mais tradicional da cidade. Fica no centro antigo, em uma região que não tem tantos restaurantes afora aqueles destinados aos trabalhadores, que só abrem em horário de almoço. Portanto é ainda mais digna de aplausos sua longevidade, por estar longe do "circuito gourmet" de São José dos Campos.
 
Em 1968 nenhum de nós dois ainda frequentava restaurantes. Mas de minha parte posso dizer que entrar no Villa Velha é como entrar nos lugares em que ia com meus pais e meu irmão na década de 1980. Não me entendam mal, está tudo recém pintado, limpo, bem iluminado, com pé direito alto e salão amplo. Mas é um lugar que entrega sua idade à primeira vista - a começar pela cabecinha branca de sua brigada de garçons. Mas a idade passa também pela própria arquitetura do prédio, pelos armários onde são guardadas as louças, pelos quadros (todos à venda) que enfeitam as paredes e pela grande cozinha aberta. Nada disso é defeito, e acho que até casa muito bem com a comida servida por ali. O ponto negativo fica por conta dos banheiros, antigos, com cara de mal cuidados e com louças quebradas. 

Antiquado? Vintage? Clássico?

Para iniciarmos a noite enquanto tomávamos nossa Serramalte geladinha (600 ml, R$ 13), pedimos o couvert (R$ 18), composto de torradinhas, pão francês, pão de queijo, azeitonas, patê de aliche e patê de ricota. Até entendemos o pão francês não ser fresquinho, mas é imperdoável o pão de queijo vir frio, quase gelado. O patê de aliche estava bom, mas tinha textura de maionese. O patê de ricota estava sem graça como todo bom patê de ricota deve ser. E as azeitonas já nasceram boas, né? Na conta o couvert só veio cobrado uma vez, o que não sei se é praxe ou se foi alguma falha.

Põe no microondas o pão de queijo, catzo!

Aumente essa foto pra ver como tava essa cerveja

Resolvemos pedir também uma entradinha antes de partirmos para o prato principal. Escolhemos o creme de aspargos (R$ 35), que veio servido numa terrina prateada. Boa quantidade, dava para nós dois nos satisfazermos sem precisar pedir outro prato. Mas seguramos nossa vontade de comer todo o creme, que estava uma delícia, com o sabor dos aspargos presente, mas suave, muito bem temperado e com textura agradável. Ficou a dúvida se, caso não tivesse nos sobrado alguns pães e torradas do couvert, eles nos seriam servido com o creme. Esperamos que sim, porque creme com pão é uma pura (pura, viu?) combinação. 

A terrina e a pura combinação

O Villa Velha se apresenta, na placa que ostenta em sua fachada, como um restaurante de "cozinha internacional e churrascaria". Isso se reflete no cardápio, com a seção dedicada à cozinha internacional abarcando uma extensa gama de pratos clássicos de diversas culinárias, desde o strogonoff até o steak poivre, passando pelo espaguete à bolonhesa e pelo filé à cubana. Entre os churrascos há opções com camarão, frango, pintado, lombo e alguns espetos. Todos os pratos servem duas pessoas - ou quase todos.

Apesar de tantas opções, não tem jeito: na primeira vez que se vai ao Villa Velha, é imperativo que se peça o famoso pintado na brasa. Não era nossa primeira vez, mas como agora estávamos fazendo uma "visita oficial", com vistas a publicar a experiência aqui no blog, não poderíamos deixar de comer novamente o mais célebre prato da casa. Prova da deferência que lhe é destinada é o fato de que é o único prato que conta com opção individual no cardápio. Pintado ali é coisa séria, e observar as outras mesas é ver um desfile de pedaços do peixe passando pra cá e pra lá em espetos. Se o Villa Velha é uma instituição joseense, seu pintado na brasa é uma instituição do Villa Velha. Os peixes chegam semanalmente do Mato Grosso do Sul, segundo me informou o garçom. 

A pintadaiada na cozinha, direto do MS

Como já tínhamos comido couvert e entrada, acabamos optando por pedir a porção individual do prato (R$ 80, com molho tártaro e arroz à grega). São três pedaços de peixe, e quantidade de arroz e molho que foram suficientes para a nossa fome. O arroz veio soltinho, com uma coloração levemente amarelada, e saboroso. O tártaro da casa é bem pedaçudo e de sabor forte, equilibrando a doçura das uvas passas presentes no arroz. O peixe chegou à mesa com uma leve crosta, mas macio por dentro. Sua cor amarelada se deve provavelmente a alguma manteiga usada para assá-lo, o que o deixa um pouco gorduroso. Chris apertou o peixe com o garfo e a gordura escorreu pelo prato. O trio, quando experimentado junto, é bastante saboroso e equilibrado, mas o peixe sozinho carecia de um pouco mais de tempero. Ufa, difícil julgar um clássico, mas, como sempre, tentamos ser o mais justo possível. 

Notem que o pão de queijo frio foi ficando na mesa

"Crose" do "crássico"

Entre as sobremesas há algumas opções de doces caseiros e sorvetes, mas nada muito criativo, por isso acabamos optando pelo pudim de leite (R$ 9). Não é algo que possa ficar ruim nem com muito esforço, mas é certo que poderia ter bem mais calda. Eu também particularmente prefiro uma textura mais aerada. Mas podemos dizer que foi um trivial bem feito.

Trivial, mas bem feitinho, esse rapaz

Em uma quarta-feira de véspera de feriado, o restaurante estava bem vazio, com apenas alguns pares de mesas ocupados. Fomos atendidos o tempo todo por um dos cabecinhas brancas citados no começo do texto. Atendimento atencioso, demonstrando um óbvio conhecimento de todo o cardápio e sem evidenciar nenhum enfado com a função, mesmo já exercendo-a há tanto tempo - o que é de se louvar. À parte alguma demora para retirada dos pratos, não há o que reclamar do serviço. Graças à orientação do garçom em relação ao momento certo de fazer os pedidos, os tempos de espera entre as etapas foram sempre perfeitos.

Curioso que, mesmo não dando notas tão altas para os pratos, ambos concordamos que voltaríamos ao Vila Velha em uma outra oportunidade. Chris disse que o faria porque ficou com vontade de experimentar outros pratos do cardápio além do pintado na brasa. De minha parte, acho que é coisa do signo de virgem, respeitoso demais das tradições. Eu jamais poderia dizer não a uma instituição joseense. Ao menos não ao tipo de instituição que faz boa comida há quase cinquenta anos.


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 5 e 7
Serviço(2): 8 e 8
Couvert(2): 5 e 5
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,14 e 6,78
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Praça Cândido Dias Castejon, 27 - Centro - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3923-2200
Site: http://www.restaurantevillavelha.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantevillavelha/