segunda-feira, 30 de maio de 2016

Jardim Secreto (Penedo - Distrito de Itatiaia - RJ) - 01/05/2016

Penedo é um distrito de Itatiaia (RJ) fundado por finlandeses nas primeiras décadas do século XX. Hoje já não são tantos os descendentes desses primeiros imigrantes que ainda vivem por ali, mas a região ainda guarda as influências do país, especialmente em seu pequeno circuito turístico, que inclui um lugar chamado Pequena Finlândia, com lojas e até a Casa do Papai Noel. Mas este não é um blog de viagem, e sim de comida, então vamos falar sobre o restaurante Jardim Secreto, onde estivemos para um almoço, e cuja gastronomia não tem nada de finlandesa.

Entrando no Jardim Secreto

Fazendo jus ao nome, a entrada do Jardim Secreto tem um pequeno jardim, e a parede possui algumas trepadeiras, dando a impressão de estarmos adentrando alguma ruína. Uma vez lá dentro a impressão se perde um pouco, já que a decoração interna não tem mais referências a jardins nem a segredos, embora as paredes de pedra dêem um certo ar medieval ao lugar. O lugar é bem arejado, com portas de vidro abertas e, ao lado do salão onde ficamos, uma pequena piscina rodeada por um jardim. Pena que a piscina não estava lá muito limpa, e a água esverdeada não nos trouxe a idéia de um jardim secreto à mente, e sim de sujeira mesmo.

As "ruínas"

Ao fundo nossa mesa, encostada na parede

A água verde

O cardápio é bem convencional esteticamente, não se aproveitando da temática da casa para fazer algo diferenciado. Na seção listada como "Entradas e saladas - Para despertar o paladar...", algumas opções triviais, como casquinha de truta (R$ 18,50) e bruscheta caprese (R$ 23). Acabamos escolhendo a opção mais criativa, o Camaranga (creme de abóbora com camarões, leite de coco, manga e catupity, R$ 23). Apresentação muito legal, com uma panelinha de ferro vermelha bem bonitinha. O cardápio ainda diz que a receita é "levemente apimentada", mas sinceramente não achamos o aviso necessário, já que a pimenta não é suficiente para amedrontar ninguém. Mas falemos dos sabores, que são o que mais importa. Ambos gostamos bastante da mistura, com o leite de coco fazendo lembrar vagamente uma moqueca e a manga dando uma adocicada interessante. O catupiry foi usado com parcimônia e não incomodou a Chris, que não é muito fã do ingrediente. Só achamos que os pedaços de manga poderiam ser menores, já que colocados na boca do tamanho em que estavam acabavam dominando a colherada. Quando a Chris resolveu cortá-los pela metade a combinação ficou mais harmoniosa.

A panelinha vermelha bonitinha do Camaranga

Para os pratos principais, o cardápio é dividido em "Carnes e aves" e "Peixes e crustáceos". Entre os peixes, a grande estrela é a truta, muito comum nos rios da região. Mas há também pirarucu e cherne. Entre as carnes, opções com cordeiro, porco, carne bovina e frango. Todos os pratos principais são para uma pessoa e custam em média R$ 60.

Chris queria um prato que trouxesse a estrela dos rios da região, por isso escolheu a truta ao molho de Champagne com risoto verde e pistaches (R$ 55). O filé de truta veio muito fininho, parecia um filé de lambari, ou de borboleta. Mas o sabor do molho de champagne era bom, e os pistaches deram uma crocância que caiu bem. Pena que o tal risoto verde acabou ficando com muito gosto de parmesão, que deve ter sido usado para finalizar - mas acabaram pesando a mão. A apresentação também não foi das melhores, com os pistaches meio jogados por cima do prato. Ah, e a Chris encontrou uma malfadada espinha, para não perder o costume.

O verdão

Eu estava mais afim de um porco, e adorei o nome do prato que escolhi: leitoa embrigada (R$ 65). O cardápio descreve o prato como leitoa desossada confit, servida com mix de batatas assadas, cogumelo Porto Bello grelhado e molho de cachaça com mel de engenho. Mas o garçom me avisou que eles estavam sem a leitoa desossada, e se eu me importava em substituí-la por um prime rib suíno (corte mais conhecido por sua versão bovina). Aceitei, meio a contragosto. Talvez devesse ter mudado o pedido, já que o corte de prime rib suíno, embora saboroso, estava muito seco por dentro. O mix de batatas estava bom, e o cogumelo Porto Bello grelhado ficou meio perdido, parecia que tinha caído ali de paraquedas. Poderiam vir alguns pedaços a mais. Mas o tal molho de cachaça com mel acabou meio que salvando a pátria. Estava muito bom, e acabou compensando um pouco a secura da carne.

Aquilo à direita é o "um" cogumelo que veio

Como ainda tínhamos que viajar de volta para São José dos Campos, ficamos só na base do suquinho. Ambos escolhemos suco de limão, que não estava lá dos melhores.

Para a sobremesa são apenas cinco opções, e achamos mais atraente a pera cozida em vinho branco com especiarias, acompanhada de creme de mascarpone e pistaches (R$ 23). Descrição bonita, sabor medíocre. Em geral a gente reclama que uma sobremesa é "doce demais", mascarando os elementos do prato. Aqui a crítica é que a sobremesa é "doce de menos". Os pistaches, que poderiam ser interessantes por conta do contraste doce/salgado, acabaram não acrescentando muita coisa, a não ser crocância. Definitivamente, não nos agradou.

Mas até que veio bonitinha

Estivemos no restaurante em um domingo à tarde, e ele estava bem cheio. Apesar disso, o serviço não deixou a desejar, embora também não tenha sido encantador. Entre os garçons, havia um que se destacava mais pela atenção dispensada, sempre prestando atenção a detalhes - como a falta de gelo - ou mesmo para levar um cinzeiro para a Chris quando ela foi fumar perto da piscina. Houve uma certa demora para a entrega dos pratos principais, quando chegamos até a brincar entre nós que iríamos acabar jantando. Quando meu prato chegou descobri que o tempo foi perdido cozinhando demais minha carne. Houve também um pequeno problema quando chegamos, já que escolhemos uma mesa mais próxima à porta, e fomos "expulsos" por um garçom que disse que aquela mesa já estava ocupada. Ele o fez com educação, mas mesmo assim é meio chato, já que não havia nada na mesa que indicasse a tal "ocupação", que acabou de fato ocorrendo pouco depois, por uma família.

Minha mãe já havia estado no Jardim Secreto, e foi ela que nos recomendou a experiência. Mas talvez os segredos que lhe foram contados tenham sido melhores do que os nossos. Não que nossa experiência tenha sido ruim, mas alguns defeitos no prato principal e na sobremesa prejudicaram um pouco a apreciação final. Por conta disso, e dos preços não tão amigáveis, chegamos à conclusão de que não voltaríamos ao Jardim Secreto. Mas isso não significa que tenhamos nos arrependido de ter ido pela primeira vez. Descobrimos alguns segredos, como o Camaranga e o molho de cachaça e mel, que valeram a pena ser descobertos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada(2): 7 e 7,5
Prato principal(3): 6 e 7
Sobremesa(2): 4 e 5
Custo-benefício(1): 6 e 6,5
Média: 6,33 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Avenida das Três Cachoeiras, 3899 - Distrito de Penedo - Itatiaia - RJ
Telefone: (24) 3351-2516
Site: http://www.restaurantejardimsecreto.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/JardimSecretoRestaurante/?fref=ts






sábado, 28 de maio de 2016

Babel (Visconde de Mauá - Distrito de Resende - RJ) - 30/04/2016

A gente sabe que a coisa mais importante em um restaurante é a comida, mas é difícil falar do Babel - nome que vem da mistura de etnias do casal de chefs - sem falar da estradinha de terra que leva até lá. Estivemos ali para um jantar, e em dado momento falei pra Chris, "não é possível que vai ter um restaurante por aqui". Mas tinha. A estrada realmente não é das melhores, e de noite é um breu só, mas dá para chegar de carro de passeio, embora alguns pedaços do trecho de 4 km tragam dificuldades a neófitos na arte de dirigir na terra. O restaurante fica em uma região chamada Vale do Pavão, e pertence ao distrito de Mauá, que por sua vez pertence ao município de Resende (RJ).

No meio da estrada escura tinha um restaurante

Diz-se que a vista da serra que se descortina do restaurante é muito bonita, mas infelizmente à noite não deu para perceber. Fica a dica a quem quiser visitar, para ir de dia. O salão tem formato quadrado, e as paredes são todas de vidro, justamente para que não se perca o visual que perdemos por ser de noite ( eu já disse isso?). A cozinha também tem uma janela de vidro, e dá para ver os cozinheiros trabalhando. Apesar de o salão ser pequeno, há uma boa distância entre as mesas. O que perdemos em visual ganhamos em clima, já que a lareira estava acesa, amenizando um pouco o friozinho da região. Pena que as cadeiras não eram muito confortáveis. É importante fazer reserva, já que o lugar é pequeno, e mais importante ainda é comparecer depois de feita a reserva. Na noite em que lá estivemos havia uma mesa reservada para quatro pessoas, e elas não compareceram, o que, convenhamos, é uma puta sacanagem.

A lareira, a Chris, a cozinha à direita

O caixotinho de vidro

Sempre é gostoso começar a noite gastronômica com um mimo, e isso deveria ser praxe em restaurantes de alta gastronomia. Aí, mesmo que paguemos caro no final, a gente pensa "poxa, mas teve aquela cortesia". Tá, não funciona se o resto da noite for um desastre. No Babel a gente recebeu uma colherzinha cada (meio parecida com a do programa The Taste), com queijo, tomate e manjericão. Delicado e bem gostoso.

O mimo ao estilo The Taste

Para as entradas o cardápio lista opções para comer sozinho e opções para compartilhar. Escolhemos uma para compartilhar, mais precisamente o queijo brie à milanesa com molho picante de goiabada  (R$ 42). Embora não constasse na descrição, também vieram fatias de pão frito. Não gostamos muito da apresentação, pareceu que uma criança tinha montado o prato tentando deixar bonitinho - sem sucesso. O brie e o pão frito estavam bons, mas o tal molho picante de goiabada não picou a gente. Se o cardápio descreve o molho como "picante" e o sujeito pede assim mesmo, porque ter medo de o deixar picante de fato? Acabou ficando sem graça.

Exagerei, ou é meio amontoadinho?

Para os pratos principais o cardápio lista nove opções, todas elas com nomes que remetem a cenários e paisagens da região, como "Alcantilado", "Agulhas Negras" e "Vale do Pavão". Não sabemos se é uma regra, mas na noite em que lá estivemos também havia um prato adicional, que não constava no cardápio. Nenhum prato custa menos de sessenta reais. Há também opção de menu-degustação, por R$ 185 por pessoa.

Chris escolheu o Santa Clara (filé de truta salmonada com arroz negro e pupunha ao molho de limão siciliano e crisp de alho poró, R$ 68). Apresentação trivial, com o crisp de alho poró por cima do filé, este por cima do arroz, e o molho por baixo de tudo. Chris achou o molho de limão muito forte, mas quando dava uma garfada sem ele a comida ficava muito seca. Ela também experimentou o arroz sozinho, e achou meio sem graça. O crisp de alho poró estava bom e deu crocância ao prato, mas foi insuficiente para convencer a Chris.

Uma sombra (de dúvida) sobre o prato

Minha escolha foi o Alcantilado (stinco de cordeiro ao mel e especiarias com polenta trufada e lascas de cebola assadas, R$ 80). Apresentação bem pobrezinha, achei que faltou uma corzinha, para dar uma embelezadinha. As cebolas assadas estavam na descrição do prato, mas achei que houve um problema de proporção, já que vieram poucas, e acabaram muito rapidamente. A polenta e o cordeiro  ficaram sem esta companhia tão agradável em boa parte da refeição. Nunca tinha comido stinco, que vem a ser a canela do cordeiro. A carne estava macia, soltando do osso, e tinha bom sabor, com o molho de mel não o deixando muito adocicado (Chris provou e não concordou com esta afirmação). A polenta também estava gostosa. Mas achei que, além de mais cor e mais cebola, também faltou um pouco de molho, a comida acabou ficando seca. Mas, como dito, os sabores eram bons.

Mais cor e mais cebola, por favor

Para a sobremesa escolhemos o Mix de Sobremesas da Chef Dani Keiko (tiramissu, mousse de maracujá, torta de chocolate e creme brulê, R$ 33). Depois de três pratos com apresentações fracas, gostamos muito dessa aqui, especialmente por conta dos recipientes usados para acomodar os doces. O tiramissu, por exemplo, veio em uma canequinha de café. Quanto aos sabores, eu gostei da torta, do mousse e do brulê, e achei o tiramissu meio sem graça. Chris gostou do brulê, mas não se afeiçoou muito das outras.

Bonitinho demais da conta

Acompanhamos a refeição com cerveja. Tomamos uma Therezópolis Gold (600ml, R$ 19,70) e uma long neck de uma pilsen local, chamada Serra Gelada (R$ 16,50). Ambas vieram geladinhas, e no caso da Therezópolis o copo utilizado tinha a marca da cervejaria.

O serviço foi correto. O salão bem pequeno facilita a vida dos dois garçons, um homem e uma mulher, que se mantiveram atentos. Os pratos chegaram rápido, e até podemos dizer que, no caso do prato principal, chegaram rápido demais. A gente mal havia acabado de degustar a entrada. A retirada das louças e talheres sujos passou pelo "teste do cigarro", que se consiste na equipe retirar os pratos enquanto a gente sai pra Chris fumar. Um detalhe curioso é que não foi oferecido café ao final da refeição, o que é praxe em qualquer restaurante. Por outro lado, o banheiro tinha um sabonete de café. Deve ser pra compensar. Outro detalhe importante é que o restaurante não aceita nenhum cartão para pagamento. O cliente pode pagar com dinheiro, cheque ou fazer uma transferência bancária posterior, cujos dados já são entregues junto com a conta ao final.

Tivemos uma noite agradável, mas que não nos encantou gastronomicamente. Como deu para perceber, os preços também não são o que se pode chamar de amigáveis. O cardápio tem opções interessantes, e muitas delas nos chamaram a atenção antes de fazermos nosso pedido, mas a degustação em si se mostrou um pouco decepcionante. Ambos achamos que poderia ser interessante visitar o restaurante de dia, com a vista da serra, mas nossa experiência noturna nos levou à conclusão de que não voltaríamos ao Babel. E a estrada cheia de buracos é a menos culpada por essa decisão.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 6 e 6,5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 7,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,25 e 6,91
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Estrada do Vale do Pavão, sem número - Distrito de Visconde de Mauá - Resende - Rio de Janeiro
Telefone: (24) 99999-8121/99977-0152
Site: http://www.babelrestaurante.com/
Facebook: https://www.facebook.com/babelviscondedemaua/?fref=ts