quarta-feira, 20 de maio de 2015

Olympe (Rio de Janeiro - RJ) - 10/03/2015

(Fonte: Site da GNT)

Uma das coisas que mais gosto de fazer junto com minha mãe é assistir a programas de culinária. Entre as várias opções disponíveis hoje em dia, acho que os que mais gostamos são os do chef francês Claude Troisgros. Imagino que todo mundo que tem o canal GNT em casa já deve ter visto a cara dele, que quase sempre está rindo como na foto acima. Por isso, quando minha mãe me deu de presente de Natal um vale-compras da Mastercard® (olha o merchan!) no valor de 350 reais, eu pensei na hora: vou gastar no Claude! Já estávamos com viagem marcada ao Rio de Janeiro, portanto fiz nossa reserva no Olympe, o principal restaurante comandado pelo francês. Fica na esquina de uma rua tranquila no bairro Jardim Botânico. A fachada é bem discreta, com tijolinhos à vista, uma portinha e logo acima uma placa em marrom grafada "Olympe", indicando que você chegou ao lugar certo.

Belezinha de fachada, e com lugarzinho pra belezinha da fumante

Claude não chega a ser um ídolo, título que dedico apenas aos quatro Beatles e alguns poucos outros, mas é um cara que admiro bastante. Portanto, não foi sem emoção que adentrei aquele recinto ao lado da Chris. Fomos acomodados em uma mesa bem pertinho da porta. Ambiente pequeno, à meia-luz. Sem grandes invenções ou arroubos criativos na decoração. Sóbrio e clássico. Quem fica encostado na parede se acomoda em um sofá, e quem fica do lado oposto fica na cadeira, que também é confortável. Pena que havia uma mesa muito próxima da nossa, e quando ela foi ocupada esta proximidade chegou a incomodar um pouco. Também chama a atenção a cozinha envidraçada, possibilitando aos convivas observarem toda a movimentação dos cozinheiros.

Isso é chique demais procê, menino

Assim como no Fasano - o outro "chiquetê" que visitamos no Rio - o Olympe também nos mimou com uma entradinha não solicitada e não cobrada. Assim como no outro caso, era entradinha com ênfase no "inha". E bastante inusitada: sorvete de abóbora com carne seca. E não é que estava gostoso? Quem imaginaria...

Não vá se empanturrar, menina

Para a entrada propriamente dita dividimos um crepaze (R$ 58,00), mousse de agrião recheada com queijo gorgonzola enrolada em panqueca crocante, encimada com folhas de baby rúcula. A tal crosta de panqueca se assemelhou mais a um suflê para mim, e Chris se lembrou de omelete. De qualquer forma, nós dois gostamos muito. Eu adorei o amarguinho que a rúcula deu ao prato, deixando-o bem equilibrado, uma vez que o agrião perdeu seu sabor forte quando transformado em mousse.

Nosso matinho

Para os pratos principais o menu é dividido em duas partes: "A tradição" e "A criação". O primeiro deles traz pratos que fazem sucesso no Olympe há muitos anos, e o outro traz invenções mais recentes de Claude e de seu filho Thomas Troisgrois. "A criação" só está disponível no Menu Degustação, em que a pessoa escolhe 4 pratos e mais uma sobremesa, e paga um valor fixo de 350 reais por pessoa. Existe também a opção chamada de Menu Confiance que, como o nome indica, exige que o visitante confie no chef, que vai usar os melhores produtos do dia para montar uma refeição completa. Esta opção custa 380 reais. Embora eu já soubesse que iríamos exceder o valor do vale-presente dado por minha mãe, não dava pra exceder tanto assim. Por isso ficamos com "A tradição", que traz pratos à la carte, com preços mais acessíveis, embora dos oito disponíveis apenas três apresentassem preços com menos de três dígitos.

Chris pediu o Boeuf (R$ 108,00), filé mignon em crosta de alecrim e pimenta verde, galette de batata Anna e molho bordelaise. A tal galette de batata Anna é algo semelhante a uma pequena torta de batata. Simples assim. A apreciação da Chris passou por momentos diferentes. Quando chegou o prato, ela achou que seria pouco. Quando ela começou a comer e adorou, achou que seria muito pouco. Mas quando o molho bordelaise se tornou enjoativo, ela começou a achar que era muito. Mas isso não a impediu de ter amado a crosta do bife, e de ter elogiado seu ponto mal passado, do jeito que ela gosta. Também gostou das batatinhas com seu nome, embora tenha achado que algumas ficaram um pouco cruas.

"Tira logo a foto que eu quero comer!"

Eu escolhi a Caille (R$ 115,00), codorna recheada com farofa de cebola e passas, acelga confit, acompanhada de molho agridoce. Uma coisa de gemer até o fim dos dias. Três codorninhas, com o crocante da pele contrastando com o cremoso recheio, e o molho agridoce dando um toque...como dizer...agridoce à coisa toda. Um prato perfeitamente equilibrado. Eu estava comendo e já pensando que seria a primeira nota dez em prato principal desde que iniciamos o blog. Até que, na terceira codorna, que eu devorava vorazmente, um ossinho chato deu uma atrapalhada na experiência. Mordi-o com força. Claro que o dez se foi pelo ralo. Ainda assim fiquei bem triste quando terminei de comer. Poderia continuar comendo aquilo por mais alguns dias.

É tão bom que vai com osso e tudo

Quando o garçom veio recolher os pratos, perguntou se estava tudo bem, e se tínhamos gostado. Falei sobre o ossinho, e ele se retirou, voltando pouco depois dizendo ter relatado o caso ao chef. Este disse ser normal encontrar ossos nas patas da codorna. Eu disse que tudo bem, que não tinha atrapalhado a experiência. Não quis criar caso por causa daquilo. Mas é claro que não era pra ter osso nenhum na codorna de 115 reais.

Para a sobremesa existem oito opções, todas pelo preço fixo de 32 reais. Decidimos que cada um de nós iria comer uma, ao invés de dividir como normalmente fazemos.

Chris escolheu o brulée e chocolat, que veio com creme brulée, mousse de chocolate apimentada e palito de doce de leite. Apresentação bem pobrezinha, com uma cumbuca para a mousse, outra para o creme, e o palito no meio. Chris achou o palito bem gostoso. Não sentiu a tal pimenta na mousse, que também veio com muito chantilly. Quanto ao creme brulée, estava com a casca muito dura, e quando a Chris forçava a colher para quebrá-la, esta batia na louça, fazendo um barulho não muito agradável em um ambiente silencioso de um restaurante chique. Mas o sabor, que mais importava, estava bom.

Né? Podia ser melhor.

Eu escolhi o crepe passion, sobremesa que tem o epíteto "Especialidade desde 1982" escrito no cardápio. Ou seja, existe desde que o restaurante foi inaugurado. Trata-se de uma panqueca suflê caramelizada, acompanhada de calda de maracujá. A panqueca estava bem delicada e cremosa, com sabor suave. A calda de maracujá acabou dominando a receita, no fim das contas. Achei que faltou um pouco de equilíbrio.

La passion

Acompanhamos tudo com um vinho da família Troisgros, chamado Sérol, da uva gamay, safra de 2013 (R$ 114,00). O engraçado foi que eu chamei o sommelier pra ele nos dizer se o vinho combinaria com os dois pratos, mas o fiz já decidido a comprar aquela garrafa, já que coleciono rótulos e aquele cairia muito bem na minha coleção. O sommelier disse que o vinho só harmonizaria bem com o meu prato, e não com o da Chris, mas eu pedi assim mesmo! Que grande pateta. Pra que perguntar se já sabia que ia pedir? Chris me perdoou, boazinha que é.

Difícil reclamar de algo sobre o serviço. Sempre atento, solícito, mas sem exagerar nas formalidades. Nos foi explicado como funciona o cardápio antes de fazermos nossos pedidos e houve celeridade (até excessiva) em preencher nossas taças de vinho quando estas se esvaziavam. Os garçons se permitem alguma brincadeira, são simpáticos na medida certa. Tá certo que eles puxam sua cadeira quando você volta do banheiro, o que me deixa um pouco desconfortável, confesso. Mas faz parte do jogo. A água foi reposta o tempo todo, e ao final não veio nada cobrado, ao contrário do Fasano Al Mare, que nos cobrou uma unidade (mesquinhos!).

Além de tudo já dito sobre o serviço, tivemos dois mimos: o já citado sorvete de abóbora na chegada, e uma travessa com quatro pares de pequenos docinhos ao final. É muito chamego. Observamos outras mesas fechando a conta e não notamos a tal travessa, o que nos fez desconfiar que ela veio como um pedido de desculpas por conta do maledeto ossinho na codorna. Se foi por isso, ótimo. Se não foi, melhor ainda. Já estávamos bem satisfeitos, mas comemos todos os docinhos, que eram bem gostosinhos.


Seria um pedido de desculpas? Aceitamos!

O preço é caro. Não precisa de calculadora para saber que tivemos que desembolsar uma parte da conta, já que o presente de mamãe não cobriu o valor total. Sem o vale-presente certamente teríamos que escolher entre o Fasano ou o Olympe para irmos, já que nosso orçamento não comportaria as duas refeições. Apesar disso, tivemos momentos de intensa alegria e prazer durante a refeição, o que fez ambos pensarem que valeria a pena uma segunda visita ao restaurante do chef Claude. Embora ele não estivesse no restaurante na noite de nossa visita, na próxima vez que o virmos na TV podemos dizer que já provamos de sua comida. E, olhando pra tela, dizer bem metidos: "Claude, presta atenção no ossinho!".

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 9 e 10
Entrada(2): 9 e 8
Prato principal(3): 8 e 9
Sobremesa(2): 7 e 7,5
Custo-benefício(1): 7 e 7
Média: 7,75 e 8,25
Voltaria?: Sim e sim


Serviço:
Rua Custódio Serrão, 62 - Jardim Botânico - Rio de Janeiro - RJ
Telefone: (21) 2539-4542
Site: http://olympe.com.br/


sábado, 16 de maio de 2015

Al Badah (São José dos Campos - SP) - 12/05/2015

Confesso, ela foi tirada na saída, não na chegada

Me mudei para São José dos Campos em 1990, mesmo ano em que foi fundado o Al Badah, restaurante especializado em comida árabe. Durante estes vinte e cinco anos em que eu e o restaurante "moramos" na mesma cidade, eu sempre pensei em nós dois como forasteiros. Achava que o Al Badah era uma rede estilo Habib´s, que não nasceu na cidade, assim como eu. Talvez eu pensasse isso pelo fato de haver um Al Badah em cada shopping de São José, o que normalmente caracteriza uma rede dessas com centenas de estabelecimentos pelo país. Só recentemente descobri que, ao contrário de mim, o Al Badah é joseense da gema.

Foi também por conta desta descoberta que eu e Chris nos dirigimos à matriz da rede, na Vila Ema, para um jantar. Eu já tinha comido as esfihas da casa em algum momento da minha juventude, e Chris também já tinha estado por ali para almoço com colegas de trabalho. Mas era a primeira vez que estávamos ali para um jantar, podendo apreciar mais "seriamente" a cozinha do lugar.

Essa sim foi na chegada

O ambiente é bem simples, mas agradável. Todo aberto nas laterais, embora em uma noite razoavelmente fria quase todos os toldos estivessem abaixados. No sentamos ao lado do único que estava levantado, para pouco depois um mala reclamar do frio (porque não sentou em outro lugar, cara pálida?) e fazer o garçom abaixar o toldo. Na decoração, alguns lustres meio arabescos, quadros com recortes de jornal sobre o lugar (um chavão irresistível, aparentemente) além de outros quadros com castelos árabes e coisas do tipo. Móveis de madeira, com a cadeira estofada, e muita luz. A entrada da cozinha fica aberta, e acima da porta há um convite para entrar e conhecê-la. Banheiro limpíssimo, com um Listerine® tamanho família (que se mostraria útil mais tarde) e copinhos de plástico para o bochecho, além de luminária em estilo árabe.

Chris das arábias, e um pouco do ambiente do lugar

Iniciamos os trabalhos com uma porção de seis falaféis, que são bolinhos à base de grão de bico com semente de gergelim (R$ 23,50). Vem acompanhado de vinagrete e molho tahine. O vinagrete não tinha absolutamente tempero nenhum, era apenas um monte de cebola e tomate picadinhos. Tudo bem que adoramos cebola e tomate, mas cadê o vinagre do vinagrete? Um salzinho também não faria mal. Os bolinhos são um pouco secos, mas estavam saborosos. O molho tahine estava muito "molhado", precisava de mais consistência. Quando colocado por cima dos bolinhos ele simplesmente escorria, fazendo os bolinhos continuarem secos.

Falaféis, cebolas e eu

O cardápio conta com muitas opções de enchimento de barriga. Esfihas, kibes, kebabs e sanduíches feitos no pão sírio, entre outros, pra quem só está afim de um lanchinho. Pra quem quer mais sustância, há os grelhados e os kebabs no prato como opções. O menu é bem ilustrado, muito colorido, com fotos de quase todos os pratos. Isso ajuda bastante a escolher, para quem não está familiarizado com os nomes dos degustes. Pena que nossos falaféis não estavam tão bonitos quanto na foto, como pode ser comprovado abaixo.

"Efeito Big Mac": a foto é mais bonita do que a realidade

Todos os grelhados vem acompanhados de arroz sírio, salada Al Badah (alface, cenoura, beterraba, muçarela, molho rosé e nozes) e vinagrete, que servem duas pessoas, com opção de meia porção, para uma pessoa. Chris pediu a meia porção da kafta (R$ 24,90). O prato chegou sem a salada, e o garçom nos informou que a meia porção não possuía este acompanhamento. Isto não está claro no cardápio. Chris pediu a salada à parte. Achou a comida com gosto muito forte de limão. O arroz sírio (que é preparado com macarrão "cabelo de anjo") não disse muito a que veio. O vinagrete veio tão sem tempero quanto o que acompanhava os falaféis. Mas a kafta estava gostosa, e a porção era bem generosa. Apresentação simples, embora a salada tenha vindo numa bonita taça.

A kafta não é boa de feição, né?

Eu pedi o kebab de cordeiro no prato (R$ 33,50). Muitíssimo bem servido, com as tiras de cordeiro, salada de alface, tomate e abobrinha frita, além de homus (pasta de grão de bico) e coalhada. À parte, em outro pratinho, um pedaço de pão sírio e 3 molhos: tahine, de hortelã e de limão. Ufa! A carne estava bem temperada, adorei as abobrinhas fritas, finamente cortadas, e também gostei do homus. Não comi tudo porque era muito coisa, não porque estivesse ruim ou enjoativo. Talvez se não tivéssemos comido os falaféis...

Dá até pra dividir em dois em tempos de vacas magras

Embora os docinhos sírios sejam famosos, pedimos uma sobremesa chamada malabie (R$ 9,90), uma manjar árabe feito com leite condensado, com calda de caramelo, castanhas de caju e uma ameixa seca. Bonita e saborosa no início, mas depois ficou um sabor amargo, provavelmente por conta das castanhas que não deviam estar muito boas. Melhor mudar o fornecedor, porque atrapalhou totalmente a experiência. Lembra do Listerine®? Pois é...

Peninha, viu?

Durante toda a refeição tomamos três sucos Al Badah (R$ 6,40 cada), feitos com uva e acerola, uma combinação que nunca tínhamos visto. Inusitada, mas gostosa.

Os funcionários se mostraram solícitos e presentes durante todo o tempo. Nenhum dos pratos pedidos demorou muito a sair, mas também não vieram rápidos a ponto de acharmos que já estivessem previamente prontos. O ponto negativo principal foi a demora em limpar as mesas, mesmo bem depois de já termos terminado de comer. Isto aconteceu especialmente com a entrada. Outro problema foi o fato de o cardápio não informar que somente a porção inteira dos grelhados traz o acompanhamento da salada.

Não se trata de alta grastronomia. É um lugar para se fazer uma refeição honesta com um preço honesto. Em um dia de calor, com todos os toldos levantados, deve ser ainda mais agradável o ambiente, bem pertinho de uma das avenidas mais bonitas de São José, a 9 de Julho. Talvez por conta disso eu tenha chegado à conclusão de que voltaria ao Al Badah. Já a Chris acha que não valeria a pena um retorno. Mas uma coisa nenhum de nós dois discute: o Al Badah é um clássico joseense, e um grande exemplo de que um empreendimento sério e bem cuidado pode durar mais de vinte anos mantendo a qualidade, mesmo em uma mundo volátil como o dos restaurantes, em que isso é cada vez mais raro.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 6,5 e 7
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 6 e 7,5
Média: 5,95 e 6,45
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Rua Serimbura, 15 - Vila Ema - São José dos Campos - São Paulo
Telefone: (12) 3923-2454
Site: http://www.albadah.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Al-Badah/179521248760275?fref=ts




sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sawasdee (Rio de Janeiro - RJ) - 09/03/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de um bom tempo da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

Em todas as cidades que possuem algum restaurante que faz parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança eu e Chris sempre fazemos questão de procurar um deles pra fazer uma visita. Não poderia ser diferente no Rio de Janeiro. Há várias opções, portanto escolhemos um que fosse mais perto de onde estávamos hospedados. Decidimos pelo Sawasdee, especializado em comida tailandesa, que fica no Leblon, na badalada Rua Dias Ferreira.

Estávamos hospedados em Ipanema, e fomos de táxi até lá. Corridinha rápida, de uns dez minutos, no máximo. Mesmo com o endereço, foi um pouco difícil achar, já que não há na fachada nehuma sinalização muito clara com o nome do restaurante. Do lado de dentro, ambiente pequeno, luz indireta e alguns elementos de decoração lembrando a Tailândia. Do lado de fora algumas mesinhas como opção em uma agradável varanda. Acabamos optando por ficar do lado de dentro. Chris se incomodou com o ar-condicionado, que segundo ela estava muito frio. Também não gostou do fato de as mesas serem muito próximas umas das outras. Já eu me incomodei com o fato de o banheiro masculino não possuir nem sabão e nem papel toalha. Faltou uma checada antes de abrir a casa.

Uma geral do restaurante

Pedimos nossa Bohemia long neck (R$ 9,00) e recebemos de brinde uma inusitada porção de...Mandiopã! Sensacional. Quem tem menos de 30 anos não deve saber o que é, muito embora a marca tenha voltado a vender há pouco tempo, sem o mesmo sucesso de outrora. Trata-se de salgadinhos a base de mandioca, que depois de fritos aumentam de tamanho, ficando crocantes, mais ou menos parecido com um Baconzitos em aspecto e consistência. Quem leu Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva, deve se lembrar do enfermeiro dele que toda hora dizia "não esquenta a cabeça senão caspa vira Mandiopã". Também ficou conhecido como Fritopan depois que foi adquirido por uma grande empresa. Não chega a ser uma entrada refinada, mas combinou bem com nossa cervejinha.

Embora tenhamos achado interessante o Mandiopã, claro que pedimos uma outra entrada. E com nome tailandês: Satay Kung, espetos de camarão com paçoca spicy e salada de acelga (R$ 28,00). Estiveram deliciosos, comemos dois espetinhos cada um, muito bem acompanhados da saladinha, que tinha um molho algo doce que contrastava bem com o picante da farofa.

Sim, eu sei, ficou uma merda a foto

Para os pratos principais, o cardápio é recheado de nomes em tailandês, alguns engraçados para nós, como o Tom Kha Gai, que vem a ser uma singela sopa de gengibre e outros ingredientes. Há opções para todos os gostos, entre carnes, peixes, frutos do mar, caldos e massas. Os pratos são individuais, e a maioria fica entre cinquenta e cem reais. Também há indicações sobre o grau de picância de cada um, para que nenhum ocidental seja surpreendido pelas pimentas orientais.

Chris foi de Chu Chi Salmon, que não tem nada a ver com sushi, e sim com salmão ao curry vermelho com farofa de manjericão e amendoim (R$ 66,00). Ela começou a comer e a manifestar contentamento genuíno. Mas não durou muito. O contentamento se transformou em enjôo (desculpe-me a reforma ortográfica, mas "enjoo" é muito feio). Não conseguiu ir até o fim. Achou que talvez tenha sido excesso do molho curry, que obliterou todo o resto do prato. Uma pena, porque a farofa estava bem gostosa, e a apresentação era bem bonita.

Veio mesmo muito curry, né?

Eu pedi o prato da boa lembrança, que era o Pla Saladeng (ah, esses nomes), que se consistia em cherne crocante com fios de pupunha na manteiga de capim limão (R$ 90,00). Os fios de pupunha vieram por baixo, parecendo um macarrão, com o cherne por cima e uma pimenta dedo-de-moça sobre ele. Apresentação interessante, embora não seja possível, ao menos para mim, comer uma pimenta dedo-de-moça inteira. E se está no prato, é pra comer, certo? Afora isso, meu prato padeceu do mesmo problema que o da Chris: ficou enjoativo depois de um tempo. Talvez fosse a manteiga de capim limão. Fato é que também não consegui comer tudo.

Pensando bem, parece mesmo um hamburgão, isso sim

Para a sobremesa pedimos ganache de chocolate com castanha do pará e morangos flambados no sakê, acompanhado de sorvete de creme (R$ 22,00). Com esse monte de coisa dava pra fazer uma apresentação mais caprichada, mas era simplesmente um ingrediente ao lado do outro. Faltou inspiração. Chris já estava meio enjoada por causa do prato principal, e achou a ganache enjoativa. Eu gostei da mistura, com o levíssimo sabor de álcool da calda quente junto aos ingredientes gelados.

Mas assim até eu montaria, pô...

Também tomamos uma caipirinha de lichia, fruta muito popular na Tailândia. Bonita, mas o gosto não estava lá essas coisas, tanto que o pingaiada aqui nem tomou tudo.

Bonitona, mas sobrou na mesa. A caipirinha.


Havia muitos funcionários para atender as mesas, que não são tantas assim, resultando portanto numa atendimento sempre rápido. Além disso todos foram solícitos, simpáticos e educados o tempo todo. Houve apenas um pouco de demora na entrega das cervejas, mas que não chegou a comprometer muito.

Como nada do que comemos nos embasbacou, e a conta ficou um pouco salgada, claro que o custo-benefício caiu bastante, muito embora seja evidente o cuidado no preparo e na apresentação dos pratos. Por conta dessa relação entre o que comemos e o que pagamos, ambos concordamos que não faríamos uma segunda visita ao Sawasdee. A palavra, por sinal, é usada para cumprimentar alguém em tailandês, como se fosse um "oi". Infelizmente, baseado em nossas experiências neste noite, temos que dizer "tchau".


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7,5
Serviço(2): 8 e 8
Entrada(2): 9 e 8
Prato principal(3): 5 e 6
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 6,5 e 7,08
Voltaria?: Não e não


Serviço:
Rua Dias Ferreira, 571 - Leblon - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2511-0057
Site: http://www.sawasdee.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Sawasdee-Bistr%C3%B4/167049110014031?fref=ts

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Fasano Al Mare (Rio de Janeiro - RJ) - 05/03/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de um bom tempo da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

Não chegava a ser um sonho, mas era um desejo: visitar um restaurante do grupo Fasano. E em que momento da vida dá pra fazer extravagâncias financeiras? Nas férias, claro. Então fiz a reserva no Fasano Al Mare, em Ipanema, com um bom tempo de antecedência, não sem antes convencer a Chris de que seria legal gastar uma fortuna num restaurante. Não consegui convencer, mas fiz a reserva assim mesmo, prometendo que pagaria a maior parte da conta, deixando para ela os outros quinhentos reais. 

Já estávamos em nosso 12º dia de viagem, tínhamos passado por Florianópolis e Petrópolis, e nos vestimos com o que de melhor havia em nossas já judiadas malas de roupas. Fomos recebidos pela hostess, que com aquele simpatia naturalíssima nos perguntou se tínhamos reserva. Em seguida nos direcionou ao lado de fora do restaurante. Calma, ela não nos enxotou, apenas nos levou a uma gostosa varanda. Antes disso passamos pelo chique, e cheio, salão principal, cujo design é do famoso Philippe Starck, onde as pessoas vão para ver e serem vistas. Não era nosso caso, o que foi sensivelmente percebido pela nossa simpática anfitriã. Ao chegarmos à varanda, Chris observou que não havia cobertura, apenas toldos sobre as mesas, e perguntou se poderia fumar ali. A moça respondeu que infelizmente seria impossível, por conta de "uma nova lei que saiu". "Mas tem um cinzeiro com cigarros naquela mesa", disse a Chris. Tinha mesmo. E aí, minha filha? "Só um minutinho que eu vou verificar". Alguns minutos depois veio a moça até nós, dizendo que havia se enganado, e que ali fora era permitido fumar, sim senhora. Então tá.

Nos instalamos em um confortável sofá, quase uma cama, cheio de almofadas, um grande espelho atrás de nós, alguns vasos com plantas nos separando das outras mesas, um pequeno toldo sob nossas cabeças, e o maravilhoso clima carioca. À nossa frente as paredes de vidro nos permitiam observar a fauna do salão principal. Inclusive assistimos a uma briga de casal (embora sem o áudio) que foi bem, digamos, interessante. Parecia que estávamos a sós, podíamos conversar tranquilamente, já que as mesas do lado de fora são bem espaçadas umas das outras.

O primeiro ato do garçom, depois do "boa noite", foi perguntar se queríamos o couvert. Me aliviei, porque sei que há restaurantes que simplesmente colocam as coisas na mesa, você come feliz, e depois paga por algo que não pediu. Gentilmente recusamos. Em seguida ele nos entregou um cardápio. De comida? De vinho? Não, de drinks. Acho que esse é o procedimento dos abastados: um cocktail pra aquecer a garganta enquanto escolhem seus pratos. Ficamos ali olhando praquilo, até que falei pro garçom que não queríamos drinks, pra ele trazer logo a porra do cardápio com a chepa. Mais ou menos nesses termos. Ou não.

"Vão rindo até eu trazer a conta"

Enquanto olhávamos o menu, nos foi oferecida água. Doze reais a unidade. Mandamos descer, estávamos na chuva, bora beber água. Nos trouxeram a água, e pouco depois duas cumbucas, uma pra cada um. Era um creme de couve-flor com alcaparra frita, servido como cortesia. Uma cumbuquinha "pitica" (como diz minha tia Lúcia) que só ela. E com UMA alcaparra frita. Nem sabia que a palavra "alcaparra" podia ser escrita no singular, já que elas sempre andam em bandos. O creme em si era meio sem graça, mas a alcaparra frita é uma idéia genial, que nunca tínhamos experimentado. Ponto para ela, e também para a gentileza de nos servir sopinha de graça.

Solitária alcaparra, sem "s" no fim

Queríamos pagar por uma entrada, que não somos casal de ficar comendo de graça. Então pedimos o steak tartare clássico (R$ 88,00), que veio acompanhado de torradinhas bem fininhas e salada de folhas verdes. Dividimos o prato entre nós dois, não por economia, mas pra não ficar com a barriga muito cheia, sabe? É deselegante sair de um restaurante todo estufado. O prato - que pra quem não sabe é carne bovina crua, picada e temperada - estava muito gostoso, com tempero equilibrado, com bastante sabor da carne, e uma pimentinha que ficava na boca por um tempinho depois de ingerida.

O tartare e, ao fundo, a fauna, com todo o respeito

Para os pratos principais, o restaurante tem duas características principais: a cozinha italiana e os frutos do mar, explícitos no nome do estabelecimento. Se bem me lembro, não há nenhum prato que tenha menos de três dígitos no preço. É assim que a banda toca, e já sabíamos que não teria como fugir. Na hora do prato principal não dá pra dividir, e a desculpa de não se empanturrar não iria colar.

Chris escolheu o namorado ao forno com azeitona, batata e cenouras (R$ 110,00). Sinceramente, não sei se foram os preços que a fizeram querer comer namorado ao forno, ou se ela estava brava comigo por alguma outra coisa. Enfim, deixando de lado o momento Zorra Total e voltando ao prato, era um filé de peixe bem alto, encimando os outros ingredientes. As batatinhas assadas, cortadas finamente, estavam ótimas, e Chris aprovou o tempero do peixe. E olha que não é fácil acertar o tempero pra esta mulher.

O namorado ao forno. Como vêem, escapei.

Minha escolha foram os raviólis recheados com carne de caranguejo, com creme de aspargos e concassê de tomate (R$ 128,00). Os raviólis vieram em cinco, uma boa turma, suficiente para formar um time de futebol de salão. Massa muito delicada, salientando bastante o gosto do ingrediente principal, que era a carne de caranguejo. No recheio do ravióli também percebi a presença de camarões. Os tomates deram um contraponto adocicado, e o creme de aspargos chegou e foi embora sem dizer nada. Não foi digno de gemer, mas estava bem gostoso e, claro, perfeitamente cozido.

Quatro na linha e um no gol

As sobremesas tem preço único de 46 reais. Na maioria das vezes eu e Chris chegamos nesta etapa já bastante saciados, e pedimos apenas uma sobremesa para dividir. Não foi o caso neste dia. Culpa da alcaparra no singular, do time de futsal dos raviólis, entre outras coisas. Então decidimos pedir uma sobremesa pra cada, até porque nossos pés já estavam enfiados num jaqueiro colossal, não seriam 46 reais que iriam nos quebrar.

Chris, que gosta tanto de café, nunca havia comido um tiramisù, e achou que seria um bom momento para experimentar. Achou um doce bastante delicado, o que significa dizer um doce não muito doce. Não encontrou muito sabor de café, e considerou isto um defeito. Ficou de provar outro em breve, pra ter base de comparação. Ah, a apresentação também não era lá grandes coisas.

Apesar das críticas, Chris não disse "TIRA-ME ISSO da frente". Quáquá.

Para escolher minha sobremesa contei com a ajuda de um dos garçons, que inclusive saiu um pouquinho do protocolo do funcionário formal de restaurante chique para se empolgar ao indicar o tortini de limão siciliano com chocolate branco e amêndoas e calda de frutas vermelhas. Além de ser delicioso, o doce tem um componente visual sensacional: o tal tortini de limão vem "nadando" no molho de frutas vermelhas, e quando é atingido pela colher seu "sangue" de chocolate branco escorre, se juntando ao caldo, formando uma mistura deliciosa.

Bonito e intacto

Lindo e destruído

Durante toda a nossa estadia os copos foram enchidos com água sempre que se esvaziavam. Meio assustador. Lembra que a água custava doze reais? Pois é. Mas para nosso alívio é um sistema de refil, estilo Burger King, e na conta final veio cobrada apenas uma água. Se soubéssemos teríamos tomado um caminhão pipa. Claro que não poderíamos acompanhar essa chiqueza toda só com água, então também pedimos um vinho, mais precisamente um Chardonnay Les Terrasses 2012 (R$ 135,00), um dos mais baratos da carta. Vinho bem ácido, combinou bem com nossos pratos principais. Como sempre faço nesses casos, antes de escrever o texto fui procurar na internet o valor do vinho que tomamos. Descobri que ele só é vendido para restaurantes, e pela quantia de...tcham tcham tcham tcham...35 reais! Sim, imagino a conversa dos donos: "Deixa ver, custou 35 mangos, ah, vamos botar mais cem conto em cima, e tá feito". Pra que ficar complicando, né gente? A título de curiosidade, o vinho mais caro da casa custava algo em torno de 18 mil reais. Ou o meu carro.

O serviço foi bastante atencioso, mas tivemos o problema com a hostess mal-informada logo no começo, e alguma demora para servir o vinho em alguns momentos da refeição. Em uma das vezes nossas taças ficaram vazias, e passaram uns três garçons por nós sem se darem conta do fato. Não é o que se espera em um lugar desses. Para evitar que você pensem coisas como "porque esses folgados não se serviram?", acrescento que o balde com o vinho não ficava ao alcance de nossas mãos. No mais, aquela formalidade típica de restaurantes refinados, com alguns momentos mais "descontraídos".  

Claro que lá no primeiro parágrafo, quando eu disse que pagaria a maior parte da conta e deixaria quinhentos reais pra Chris, eu estava exagerando. A conta chegou, e ficou em R$ 485,00. Fiquei muito feliz. Eu fui fazendo as contas durante a refeição, e tinha passado dos seiscentos. Como alegria de pobre dura pouco, descobri que o vinho não estava constando no valor total. Não sei da parte da Chris, mas eu confesso que tive uma dúvida ética, que durou alguns segundos. Mas acabamos avisando ao maitre. Não temos vocação pra Robin Hood.

Não preciso dizer o valor final. Mas vale acrescentar que a taxa de serviço é de 13%, ao invés dos tradicionais 10%. Deve ser por conta do tipo de perfume que os garçons usam. Obviamente que o custo-benefício de um restaurante desses sempre vai sair prejudicado, por mais que tenhamos dado notas boas ao restante dos quesitos. E este é o motivo principal que fez a Chris dizer que não voltaria ao Fasano Al Mare, mesmo tendo gostado de tudo que comeu. Eu, metido que sou, voltaria, porque fiquei com vontade de experimentar outras coisas do cardápio.

Tivemos uma belíssima refeição, e uma experiência interessantíssima, especialmente por termos podido observar um mundo que certamente não é o nosso. E, sinceramente, nem temos o desejo de que seja. Uma das graças de viajar é essa: contemplar realidades diferentes da nossa. Como curiosos que somos, temos prazer em "saber como é". Se este texto te fez "saber como é" sem precisar ir até lá, agradeça: acabamos de te fazer economizar R$ 638,45.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7,5
Entrada(2): 7,5 e 8
Prato principal(3): 8 e 8
Sobremesa(2): 8 e 9
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 7,83 e 8,08 
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Avenida Vieira Souto, 80 - Ipanema - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3202-4030
Site: http://www.fasano.com.br/gastronomia/restaurante/22
Facebook: https://www.facebook.com/fasanoalmare?fref=ts