segunda-feira, 4 de maio de 2015

Fasano Al Mare (Rio de Janeiro - RJ) - 05/03/2015

(Este texto foi escrito na volta da nossa viagem de férias, ou seja, depois de um bom tempo da ida ao restaurante, baseado em nossas anotações, fotos e memórias. Alguns detalhes podem ter se perdido no tempo e no espaço)  

Não chegava a ser um sonho, mas era um desejo: visitar um restaurante do grupo Fasano. E em que momento da vida dá pra fazer extravagâncias financeiras? Nas férias, claro. Então fiz a reserva no Fasano Al Mare, em Ipanema, com um bom tempo de antecedência, não sem antes convencer a Chris de que seria legal gastar uma fortuna num restaurante. Não consegui convencer, mas fiz a reserva assim mesmo, prometendo que pagaria a maior parte da conta, deixando para ela os outros quinhentos reais. 

Já estávamos em nosso 12º dia de viagem, tínhamos passado por Florianópolis e Petrópolis, e nos vestimos com o que de melhor havia em nossas já judiadas malas de roupas. Fomos recebidos pela hostess, que com aquele simpatia naturalíssima nos perguntou se tínhamos reserva. Em seguida nos direcionou ao lado de fora do restaurante. Calma, ela não nos enxotou, apenas nos levou a uma gostosa varanda. Antes disso passamos pelo chique, e cheio, salão principal, cujo design é do famoso Philippe Starck, onde as pessoas vão para ver e serem vistas. Não era nosso caso, o que foi sensivelmente percebido pela nossa simpática anfitriã. Ao chegarmos à varanda, Chris observou que não havia cobertura, apenas toldos sobre as mesas, e perguntou se poderia fumar ali. A moça respondeu que infelizmente seria impossível, por conta de "uma nova lei que saiu". "Mas tem um cinzeiro com cigarros naquela mesa", disse a Chris. Tinha mesmo. E aí, minha filha? "Só um minutinho que eu vou verificar". Alguns minutos depois veio a moça até nós, dizendo que havia se enganado, e que ali fora era permitido fumar, sim senhora. Então tá.

Nos instalamos em um confortável sofá, quase uma cama, cheio de almofadas, um grande espelho atrás de nós, alguns vasos com plantas nos separando das outras mesas, um pequeno toldo sob nossas cabeças, e o maravilhoso clima carioca. À nossa frente as paredes de vidro nos permitiam observar a fauna do salão principal. Inclusive assistimos a uma briga de casal (embora sem o áudio) que foi bem, digamos, interessante. Parecia que estávamos a sós, podíamos conversar tranquilamente, já que as mesas do lado de fora são bem espaçadas umas das outras.

O primeiro ato do garçom, depois do "boa noite", foi perguntar se queríamos o couvert. Me aliviei, porque sei que há restaurantes que simplesmente colocam as coisas na mesa, você come feliz, e depois paga por algo que não pediu. Gentilmente recusamos. Em seguida ele nos entregou um cardápio. De comida? De vinho? Não, de drinks. Acho que esse é o procedimento dos abastados: um cocktail pra aquecer a garganta enquanto escolhem seus pratos. Ficamos ali olhando praquilo, até que falei pro garçom que não queríamos drinks, pra ele trazer logo a porra do cardápio com a chepa. Mais ou menos nesses termos. Ou não.

"Vão rindo até eu trazer a conta"

Enquanto olhávamos o menu, nos foi oferecida água. Doze reais a unidade. Mandamos descer, estávamos na chuva, bora beber água. Nos trouxeram a água, e pouco depois duas cumbucas, uma pra cada um. Era um creme de couve-flor com alcaparra frita, servido como cortesia. Uma cumbuquinha "pitica" (como diz minha tia Lúcia) que só ela. E com UMA alcaparra frita. Nem sabia que a palavra "alcaparra" podia ser escrita no singular, já que elas sempre andam em bandos. O creme em si era meio sem graça, mas a alcaparra frita é uma idéia genial, que nunca tínhamos experimentado. Ponto para ela, e também para a gentileza de nos servir sopinha de graça.

Solitária alcaparra, sem "s" no fim

Queríamos pagar por uma entrada, que não somos casal de ficar comendo de graça. Então pedimos o steak tartare clássico (R$ 88,00), que veio acompanhado de torradinhas bem fininhas e salada de folhas verdes. Dividimos o prato entre nós dois, não por economia, mas pra não ficar com a barriga muito cheia, sabe? É deselegante sair de um restaurante todo estufado. O prato - que pra quem não sabe é carne bovina crua, picada e temperada - estava muito gostoso, com tempero equilibrado, com bastante sabor da carne, e uma pimentinha que ficava na boca por um tempinho depois de ingerida.

O tartare e, ao fundo, a fauna, com todo o respeito

Para os pratos principais, o restaurante tem duas características principais: a cozinha italiana e os frutos do mar, explícitos no nome do estabelecimento. Se bem me lembro, não há nenhum prato que tenha menos de três dígitos no preço. É assim que a banda toca, e já sabíamos que não teria como fugir. Na hora do prato principal não dá pra dividir, e a desculpa de não se empanturrar não iria colar.

Chris escolheu o namorado ao forno com azeitona, batata e cenouras (R$ 110,00). Sinceramente, não sei se foram os preços que a fizeram querer comer namorado ao forno, ou se ela estava brava comigo por alguma outra coisa. Enfim, deixando de lado o momento Zorra Total e voltando ao prato, era um filé de peixe bem alto, encimando os outros ingredientes. As batatinhas assadas, cortadas finamente, estavam ótimas, e Chris aprovou o tempero do peixe. E olha que não é fácil acertar o tempero pra esta mulher.

O namorado ao forno. Como vêem, escapei.

Minha escolha foram os raviólis recheados com carne de caranguejo, com creme de aspargos e concassê de tomate (R$ 128,00). Os raviólis vieram em cinco, uma boa turma, suficiente para formar um time de futebol de salão. Massa muito delicada, salientando bastante o gosto do ingrediente principal, que era a carne de caranguejo. No recheio do ravióli também percebi a presença de camarões. Os tomates deram um contraponto adocicado, e o creme de aspargos chegou e foi embora sem dizer nada. Não foi digno de gemer, mas estava bem gostoso e, claro, perfeitamente cozido.

Quatro na linha e um no gol

As sobremesas tem preço único de 46 reais. Na maioria das vezes eu e Chris chegamos nesta etapa já bastante saciados, e pedimos apenas uma sobremesa para dividir. Não foi o caso neste dia. Culpa da alcaparra no singular, do time de futsal dos raviólis, entre outras coisas. Então decidimos pedir uma sobremesa pra cada, até porque nossos pés já estavam enfiados num jaqueiro colossal, não seriam 46 reais que iriam nos quebrar.

Chris, que gosta tanto de café, nunca havia comido um tiramisù, e achou que seria um bom momento para experimentar. Achou um doce bastante delicado, o que significa dizer um doce não muito doce. Não encontrou muito sabor de café, e considerou isto um defeito. Ficou de provar outro em breve, pra ter base de comparação. Ah, a apresentação também não era lá grandes coisas.

Apesar das críticas, Chris não disse "TIRA-ME ISSO da frente". Quáquá.

Para escolher minha sobremesa contei com a ajuda de um dos garçons, que inclusive saiu um pouquinho do protocolo do funcionário formal de restaurante chique para se empolgar ao indicar o tortini de limão siciliano com chocolate branco e amêndoas e calda de frutas vermelhas. Além de ser delicioso, o doce tem um componente visual sensacional: o tal tortini de limão vem "nadando" no molho de frutas vermelhas, e quando é atingido pela colher seu "sangue" de chocolate branco escorre, se juntando ao caldo, formando uma mistura deliciosa.

Bonito e intacto

Lindo e destruído

Durante toda a nossa estadia os copos foram enchidos com água sempre que se esvaziavam. Meio assustador. Lembra que a água custava doze reais? Pois é. Mas para nosso alívio é um sistema de refil, estilo Burger King, e na conta final veio cobrada apenas uma água. Se soubéssemos teríamos tomado um caminhão pipa. Claro que não poderíamos acompanhar essa chiqueza toda só com água, então também pedimos um vinho, mais precisamente um Chardonnay Les Terrasses 2012 (R$ 135,00), um dos mais baratos da carta. Vinho bem ácido, combinou bem com nossos pratos principais. Como sempre faço nesses casos, antes de escrever o texto fui procurar na internet o valor do vinho que tomamos. Descobri que ele só é vendido para restaurantes, e pela quantia de...tcham tcham tcham tcham...35 reais! Sim, imagino a conversa dos donos: "Deixa ver, custou 35 mangos, ah, vamos botar mais cem conto em cima, e tá feito". Pra que ficar complicando, né gente? A título de curiosidade, o vinho mais caro da casa custava algo em torno de 18 mil reais. Ou o meu carro.

O serviço foi bastante atencioso, mas tivemos o problema com a hostess mal-informada logo no começo, e alguma demora para servir o vinho em alguns momentos da refeição. Em uma das vezes nossas taças ficaram vazias, e passaram uns três garçons por nós sem se darem conta do fato. Não é o que se espera em um lugar desses. Para evitar que você pensem coisas como "porque esses folgados não se serviram?", acrescento que o balde com o vinho não ficava ao alcance de nossas mãos. No mais, aquela formalidade típica de restaurantes refinados, com alguns momentos mais "descontraídos".  

Claro que lá no primeiro parágrafo, quando eu disse que pagaria a maior parte da conta e deixaria quinhentos reais pra Chris, eu estava exagerando. A conta chegou, e ficou em R$ 485,00. Fiquei muito feliz. Eu fui fazendo as contas durante a refeição, e tinha passado dos seiscentos. Como alegria de pobre dura pouco, descobri que o vinho não estava constando no valor total. Não sei da parte da Chris, mas eu confesso que tive uma dúvida ética, que durou alguns segundos. Mas acabamos avisando ao maitre. Não temos vocação pra Robin Hood.

Não preciso dizer o valor final. Mas vale acrescentar que a taxa de serviço é de 13%, ao invés dos tradicionais 10%. Deve ser por conta do tipo de perfume que os garçons usam. Obviamente que o custo-benefício de um restaurante desses sempre vai sair prejudicado, por mais que tenhamos dado notas boas ao restante dos quesitos. E este é o motivo principal que fez a Chris dizer que não voltaria ao Fasano Al Mare, mesmo tendo gostado de tudo que comeu. Eu, metido que sou, voltaria, porque fiquei com vontade de experimentar outras coisas do cardápio.

Tivemos uma belíssima refeição, e uma experiência interessantíssima, especialmente por termos podido observar um mundo que certamente não é o nosso. E, sinceramente, nem temos o desejo de que seja. Uma das graças de viajar é essa: contemplar realidades diferentes da nossa. Como curiosos que somos, temos prazer em "saber como é". Se este texto te fez "saber como é" sem precisar ir até lá, agradeça: acabamos de te fazer economizar R$ 638,45.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 9 e 9
Serviço(2): 7,5 e 7,5
Entrada(2): 7,5 e 8
Prato principal(3): 8 e 8
Sobremesa(2): 8 e 9
Custo-benefício(1): 6 e 6
Média: 7,83 e 8,08 
Voltaria?: Não e sim


Serviço:
Avenida Vieira Souto, 80 - Ipanema - Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 3202-4030
Site: http://www.fasano.com.br/gastronomia/restaurante/22
Facebook: https://www.facebook.com/fasanoalmare?fref=ts


2 comentários:

  1. Com certeza valeu saber como é... rssss.O lugar é lindo,né? Fiquei satisfeita. (Y)

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  2. Bela experiência! No entanto, não vou. Muito caro e, acredito, não me deixaria à vontade.
    Adorei o ambiente com almofadas e o espaço que permite fumantes, raríssimo hoje.
    Os pratos sevidos são bonitos e devem ser feitos com ingradientes de primeira. Gostei mais do ravioli.
    Como disse a Lúcia, bom saber como é. Beijo.

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