segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mar del Plata (Santos - SP) - 25/08/2017



Estávamos hospedados na praia de José Menino, e rodamos oito quilômetros pela bela orla santista para chegar ao Mar del Plata, que fica na Ponta da Praia. Instalado em meio a prédios residenciais, o restaurante se destaca na paisagem com suas janelas de vidro que deixam entrever seu salão. Em frente, cargueiros gigantes passam pra lá e pra cá no movimentado Porto de Santos. A casa está no mesmo lugar desde 1992, e esses 25 anos serviram para torná-la uma das mais tradicionais mesas da cidade.

Eu adorei o salão, bem iluminado, com os móveis e objetos em tons claros, espelhos em todas as paredes, fazendo o lugar parecer maior do que é, mas sem perder a sensação de intimidade. Para realçar ainda mais essa característica, confortáveis sofás encostados às paredes - onde, claro, nos acomodamos. Chris também gostou, mas não tanto quanto eu. Acho que é tão raro encontrar um salão bem iluminado que me deixei levar pela empolgação. Segundo o site, houve uma grande reforma em 2010, e sete anos depois é incrível como tudo parece novo.

Incrível como parece novo (o lugar, não o rapaz)

Ói nóis lá no espelho lá lonjão, ó lá!

Quase todas as opções de entrada são aquelas porções típicas que se encontra em bons quiosques de praia: isca de peixe, camarão à paulista, marisco ao vinagrete, lula ao alho e óleo, entre outras. Como não tínhamos areia sob nossos pés nem sol sobre nossas cabeças, optamos por algo mais singelo: casquinhas.

Chris escolheu a casquinha de siri especial (R$ 19). Não sabemos o porquê do adjetivo "especial", já que não havia a casquinha "não-especial". Fato é que a Chris achou a casquinha gostosa, com bastante gosto de siri. Outro ponto positivo é que não foram encontrados aqueles pedacinhos da casca do siri, que são bem desagradáveis. Mas ela achou que faltou uma porradinha a mais no tempero.

Uma porradinha cairia bem

Para mim a pedida foi o coquilles del mar (R$ 21), assim meio afrancesado, meio espanholado, mas que nada mais era do que a casquinha com vários frutos do mar (polvo, lula e camarão). Estava bonita, cremosa, saborosa e com todos os ingredientes no ponto certo. Não há muito mais o que pedir de uma casquinha.

Não posso pedir nada mais de você, coquille del mar
  
Sempre critico cardápios muito extensos, porque acho muito difícil que um restaurante possa manter a qualidade e a excelência em uma quantidade muito grande de pratos. No Mar del Plata as opções passam de oitenta, sendo que a maioria, claro, é focada em frutos do mar. Ainda bem que não tivemos que escolher, pois já fomos ao lugar sabendo o que escolheríamos: a meca santista, o prato típico da cidade.

No ano de 2005 um concurso promovido pela prefeitura, em conjunto com a Unisantos (Universidade Católica de Santos), escolheu os ingredientes que mais representam Santos. Deu meca, banana e palmito pupunha na cabeça. A partir dessa eleição o chef Rodrigo Anunciato criou o prato, que traz dois filés de meca, risoto de palmito com cenoura ralada e farofa de banana com bacon. Claro que é mais legal quando um prato espontaneamente se torna a cara de uma cidade ou região, mas acho válida a iniciativa da prefeitura, que certamente é boa para o turismo. Hoje a meca de fato se tornou uma tradição da cidade, e é servida em vários restaurantes.

No restaurante Mar del Plata a versão "inteira" custa R$ 189. Segundo o garçom ela serve até três pessoas, por isso escolhemos a versão "meia" (R$ 158, numa matemática que não faz muito sentido, mesmo se levarmos em conta que restaurantes costumam cobrar 70% do valor nas versões "meia", o que daria R$ 132,30). A refeição vem em uma travessa, que é servida pelo garçom nos pratos dos clientes. Como pedimos a versão reduzida, ganhamos apenas uma camarãozão, que foi dividido em dois. Mesquinharia, né? O peixe estava gostoso, embora pudesse se valer de um pouco mais de sal. Tem consistência bem firme, e quando é cortado chega a parecer um peito de frango. O arroz estava soltinho e saboroso, com o palmito pupunha bem macio. A farofa estava agradável, molhadinha pela presença da banana e também pela gordura do bacon. Mas é inegável que o prato é seco. Falta umidade, que a farofa não é capaz de proporcionar - aliás, muito ao contrário. Talvez se o risoto fosse feito com arroz arbóreo o resultado seria melhor. Mas ao final eu gostei, achei que houve mais qualidades do que defeitos, ao contrário da Chris. 

Tudo tão farto e um camarãozão só, poxa

Dois ícones de Santos: a meca santista e ao fundo as muretas brancas

O ideal seria pularmos esse parágrafo referente às sobremesas, mas não podemos, em nome do bom jornalismo. Dentre as opções disponíveis, perguntamos ao garçom quais eram efetivamente feitas no restaurante. Apenas duas, ele nos disse: o manjar e o pudim de leite (esquecemos de anotar o preço, mas custam em torno de R$ 10 cada). Chris ficou com o manjar, que foi feito com cravo, o que a desagradou bastante. Embora seja até comum o manjar ser feito com cravo, ela achou que a calda estava com gosto excessivo da iguaria, o que atrapalhou a apreciação. Eu fiquei com o pudim de leite que estava, para ser direto, medíocre. Até que veio com bastante calda, mas o pudim em si carecia de doçura.

Não chegou a ser um manjar dos deuses

Como direi? Medíocre

Os garçons, aparentemente, tem bastante tempo de casa. Isso às vezes se reflete em conhecimento do cardápio, jogo de cintura e agilidade. Noutras em um certo relaxamento, como se o jogo já estivesse ganho, ou tivesse perdido a graça. Tanto as qualidades quanto os defeitos de uma brigada antiga estão presentes no serviço do Mar del Plata. O garçom que esteve conosco na maior parte do tempo parecia tão à vontade na sua função que chegava a parecer desinteressado em alguns momentos. Mas não tivemos problemas maiores em relação ao tempo de espera entre os pratos nem demora para sermos atendidos - até porque éramos os únicos comilões durante boa parte da noite.

Imagine pedir um prato unitário, composto de arroz com palmito e cenoura, farofa de banana e bacon, dois filés de peixe e meio camarão por R$ 78. Caro, né? Pois dividindo o valor do prato pra dois, esse é o preço que se paga pela meca santista no Mar del Plata. A relação custo-benefício sai bastante machucada, mesmo sendo a meca um peixe relativamente caro. Talvez estando em três, ou até quatro, e pedindo o prato completo por R$ 189, essa relação pode melhorar. Mas não foi nosso caso. Esse foi o principal motivo de ambos concordarmos que não voltaríamos ao Mar del Plata. Como bons turistas que somos, realizamos nossa "obrigação" de comer o prato símbolo da cidade, e não nos arrependemos. Foi bom enquanto durou, meca santista. Um dia, quem sabe, voltamos a nos encontrar. 

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6,5 e 8
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada(2): 6,5 e 8
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 4 e 4
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,33 e 6,66
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Av. Alm. Saldanha da Gama, 137 - Ponta da Praia - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3261-4253
Site: http://restaurantemardelplata.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/restaurantemardelplata/

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Catalina (Santos - SP) - 24/08/2017



Era caso de ter perguntado pra algum funcionário. Agora estou aqui a começar a escrever o texto sobre o restaurante Catalina, sem saber porque ele tem esse nome. Descobri que é uma região do estado americano do Arizona. Também é o nome de um conjunto habitacional em Belém do Pará. E também pode ser nome de gente, como uma variação de Catarina. Como a chef e proprietária se chama Vera Corrêa de Castro, só se for homenagem pra alguém. Mas o fato importante para começar esse texto é que adoramos a fachada cheia de verde e as mesinhas dispostas na varanda. Localizado no gostoso bairro do Gonzaga, nada melhor do que ficar do lado de fora para ver a vida passando.


"Viver é afinar um instrumento/ De dentro pra fora...

...de fora pra dentro"

Antes mesmo de recebermos o cardápio já fomos mimados com duas taças de espumante - uma excelente maneira de dizer boa noite. Claro que nos instalamos nas mesas externas, mas fomos dar uma sapeada na parte de dentro, que embora pequena tem as mesas dispostas com boa distância entre elas. Paredes de tijolos à vista e na decoração algumas obras de arte amealhadas pela proprietária em suas viagens. Chama a atenção uma colombina em papel machê decorando uma das mesas internas, comprada de um artista em Ilhabela. A casa também conta com um salão no primeiro andar, com música ao vivo aos finais de semana. E as torneiras do banheiro são demais!

Mima qui nóis gama!

Parece uma casa, não é?

A torneira legal pacaceta

Há bastante tempo decidimos não pedir salada como entrada. Em geral elas são pouco inventivas e acabam não demonstrando nenhum predicado da cozinha do lugar. Nos sobraram, então, quatro opções de entrada: carpaccio de carne; tartar de salmão e abobrinhas; casquinha de abadejo;  polenta com shitake e gorgonzola ao gratin. Chris deixou a escolha nas minhas mãos e optei pela polenta (R$ 38), fã de gorgonzola que sou. Apresentação bonita, em um prato fundo, com o amarelo brilhante e os cogumelos queimadinhos contrastando. Gostamos do conjunto, mas sem a presença do queijo e do shitake a polenta estava sem sal. Já os cogumelos estavam deliciosos, dava pra sentir o gostinho de queimado da panela.

A polenta e seus amiguinhos

Para os pratos principais o cardápio se divide entre "Massas", "Cozinha do mar" e "Cozinha da terra". Havia também pratos extras, presos com um clip ao menu, com a alcunha de "Sugestão da chefa". Os pratos são individuais, e os preços variam dos 42 reais do mezza luna (massa recheada de gorgonzola e pera) até os 97 reais do carré Casablanca (carré de cordeiro com risoto de brie e damasco). As opções são fartas e variadas, abarcando boa parte da riqueza da cozinha mediterrânea.

Antes de nossos pratos principais recebemos mais um pequeno mimo da cozinha, uma salada de folhas verdes com um molhinho de mostarda. A mostarda do molho poderia ser mais sutil um bocadinho, mas gostamos do mimo.

"Mais mimo? Qui ceis tão querendo cum nóis, meu?"

Chris resolveu enfiar o pé na Itália (já que o país é uma bota...desculpe, foi inevitável!), e escolheu o risoto di zucca e gamberi (R$ 68). Se seu italiano não está em dia, este blog traduz pra você: risoto de abóbora e camarão. Não sabemos o que mais chamou a atenção de cara: a quantidade absurda de comida ou a beleza da apresentação. Acho que as duas coisas ao mesmo tempo. Uma boa quantidade de risoto, mais as duas metades de uma mini-moranga encimadas por mais risoto e mais camarão, apresentados sobre uma belíssima, e gigante, travessa azul. Aquela louça, estamos certos, não tinha uma etiqueta escrito "prato" quando foi comprada. A abóbora tinha um queimadinho gostoso por baixo, e uma textura agradável. Cada ingrediente, em separado, estava muito saboroso, e o conjunto harmonioso. Os camarões estavam no ponto certo, e o risoto cozinhou um pouco a mais. Mas o excesso acabou sendo um defeito, e Chris não conseguiu comer tudo. 

É pouco, qualquer coisa como as flores ali que são da mesma cor

Num dianta fazer charme que não vai dar conta

Eu escolhi o prato de que mais tinha tido referências em sites e blogs, enquanto pesquisava sobre o Catalina: o Cordeiro Imperial (cordeiro ao forno com grão de bico, feijão branco, ervilha torta e shitake, R$ 68 - a harmonia do casal é tanta que só agora percebi que escolhemos pratos com o mesmo preço). Quanto à apresentação e quantidade de comida, replique-se tudo que foi dito sobre o prato da Chris. Quanto às qualidades gastronômicas, o cordeiro estava macio, com a parte de fora trazendo um queimadinho delicioso (é o terceiro elogio que faço aos "queimadinhos", o que leva a crer que seja uma característica da chef). O molho tinha boa textura e sabor, e até poderia vir em mais quantidade. As ervilhas tortas estavam amargas, não me agradaram - embora tenham papel importante na apresentação. O grão de bico e o feijão eram saborizados pelo molho, e ajudavam a dar crocância ao prato. A junção de sabores me causou estranheza a princípio, mas depois me acostumei e me esbaldei. Até comi quase inteiro o gigantesco pedaço da perna do cordeiro.

Cordeirinho gordo esse!

"Vou fazer o possível"

Aí chegamos ao grande problema dos restaurantes brasileiros (como se conhecêssemos os de fora): as sobremesas. É quase sempre a mesma ladainha, sem inventividade alguma. Tentamos sempre escolher o que de mais diferente há, e no caso escolhemos o salaminho de chocolate à Catalina (com amêndoas e sorvete de creme, R$ 18). Acabo de ver a foto do cardápio, e notei que bobeamos em não reclamar do fato de que a descrição do prato trazia "calda de frutas vermelhas", mas o que recebemos foi cobertura de chocolate mesmo. Caldas à parte, a sobremesa não estava ruim, o salaminho é como se fosse um biscoito de chocolate recheado com amêndoas, e o sorvete de creme era um sorvete de creme, sabe? Então era bom, mas nada de mais.

"Cadê nossa calda de frutas vermelhas?"

O serviço talvez tenha sido o ponto alto da noite, juntamente com o ambiente - a começar pelo efusivo boa noite representado pelas duas tacinhas de espumante. Tentamos não nos deixar levar pelo afago, e manter a seriedade de nossa avaliação. Mas o fato é que o garçom que nos atendeu era simpático, prestativo e sabia aguardar nossas demoradas indefinições sem pressionar, mas também sem nos abandonar. Adoramos quando esse equilíbrio acontece. O tempo da cozinha para a entrega dos pratos também foi sempre perfeito, ajudado pelo fato de o restaurante estar bem tranquilo.

Ao fim da experiência, ambos concordamos que a mistura de bom atendimento, ambiente agradável e comida farta nos faria retornar ao Catalina. Provavelmente em uma segunda oportunidade nem pediríamos entrada, para dar conta de comer todo o prato principal. Também dispensaríamos a sobremesa. É isso: se aconchegar em uma mesinha na varanda, com um prato principal pra cada um. Se possível com uma garrafa inteira daquele espumante de cortesia...

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7,5
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 6 e 6
Prato principal(3): 7,5 e 7
Sobremesa(2): 5 e 5
Custo-benefício(1): 7 e 6,5
Média: 7,12 e 6,70
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Rua José Caballero, 36 - Gonzaga - Santos - São Paulo
Telefone: (13) 3284-3626
Site: http://www.restaurantecatalina.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/RestauranteCatalina/