quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Confraria do Sabor (Campos do Jordão - SP) - 22/08/2015

"Se fosse para me indicar um restaurante em Campos do Jordão, sem ser o seu, qual você indicaria?". Foi isso que perguntei ao Jorge, proprietário do Libertango, quando saíamos de seu restaurante. Ele respondeu sem pestanejar: "Confraria do sabor". Eu já tinha uma boa referência do lugar por conta dos relatos de minha mãe, que já havia estado ali. De modo que fizemos nossa reserva para o sábado à noite, e lá chegamos às oito em ponto.

Chegando às oito em ponto

Do lado de fora o lugar se assemelha a uma residência, com paredes pintadas de amarelo, algumas árvores e um portão. Por dentro, não é que o lugar seja desagradável. Longe disso. Mas o ambiente não tem nenhum charme especial. Há uma lareira, ao lado da qual fomos instalados em uma mesinha redonda, e grandes espelhos nas paredes. Meia luz, mesas de diversos tamanhos, e uma boa distância entre elas, proporcionando privacidade. Tivemos um problema que atrapalhou um pouco nossa apreciação do ambiente: uma confraternização de alguma empresa, com direito a discurso em pé e tudo. Sorte que não tinha microfone. Mas as palmas rolaram, especialmente quando o chefe falou. Em seu discurso, me lembro bem, constavam as expressões "vai vim" e "nova novidade". Atrapalhou um pouco, mas não podemos dizer que é culpa do restaurante.

Chris lê o cardápio antes da galerinha da "nova novidade" chegar

Para a entrada escolhemos o souflet de alcachofra (R$ 34,10). Pedimos um para dividir, e gostei do fato de eles terem trazido em duas porções separadas. Até fiquei com medo de cobrarem duas no final, mas isto não aconteceu. Pena que o cuidado ao servir não se refletiu na qualidade do prato. Em primeiro lugar, elas não estavam padronizadas. A da Chris estava mais "cheinha" e tostadinha por cima, e a minha veio mais murcha e branquela. Ambas grudaram um pouco na forminha. A alcachofra, como bem disse a Chris, ficou passeando por Campos do Jordão, porque seu sabor não foi muito sentido. O souflet até estava saboroso, mas o gosto do queijo prevalecia. Quanto ao molho shoyu, que acompanhava o prato, não era diferente daqueles que compramos em qualquer mercado.

Muchiba

Há cerca de quinze opções de pratos principais, e ficamos com vontade de pedir quase todos eles. Isso é um excelente sinal. A descrição dos pratos era apetitosa e criativa, como por exemplo a costeleta suína com risoto de damasco e gorgonzola e molho de mel (R$ 74,60) ou o filé mignon grelhado com lâmina de foie gras, vinho Marsala, risoto de cogumelo Paris e cebolinha grelhada (R$ 97,10). Este último quase foi pedido pela Chris, que acabou fazendo sorteio para decidir qual prato pediria.

Prontinhos pro cime

Sorteio efetuado, Chris pediu a truta em vinho chardonnay, nhoque de mandioquinha na manteiga com folha de mostarda e molho de gengibre (R$ 72,80). Apresentação bem simples, com o nhoque meio amontoado ao lado do peixe. Ela deu a primeira garfada na truta e achou boa. Depois experimentou o nhoque. Acho que antes mesmo de fazer qualquer comentário ela me ofereceu um pouco deste último. Dizer que não tinha gosto seria mentira, porque tinha sim: era gosto de mandioquinha com farinha. Faltou uma boa dose de sal, e mais capricho no tempero de um modo geral. Comentamos depois que quem precisava brilhar ali era mesmo o nhoque, porque é difícil errar numa truta. Infelizmente o nhoque não brilhou e o peixe ficou sozinho pra carregar o prato. Um mano da quebrada diria "firmeza, truta!".

Faltou. Ah, faltou. Faltou mesmo.

Depois de muito pensar no que pedir, acabei escolhendo o ossobuco de cordeiro no seu molho, com risoto de açafrão, cebola caramelada e anchova (R$ 75,50). Você não leu errado, e eu não escrevi errado: anchova junto com cordeiro. Foi justamente esta ousadia que acabou me fazendo escolher este prato. Nunca tinha visto a combinação em cardápio nenhum. Por anchova entenda-se aliche, aquele peixe que normalmente é feito na salmoura, muito utilizado para pizzas. A apresentação veio bacana, com o ossobuco por sobre o risoto e o molho por baixo. Demorei para encontrar o pedacinho de anchova em cima do cordeiro. O garçom sugeriu que eu comesse os dois juntos para harmonizar. Experimentei, mas achei que não fez muito sentido. Chris achou o mesmo. Comentei com ela que se eles confiassem mesmo na combinação teriam colocado pelo menos dois filezinhos. O pedacinho que veio só deu pra duas garfadas, uma pra mim outra pra Chris. Mas o sabor geral estava bom, e a carne do cordeiro estava soltando do osso, e bastante macia.

Bem mais bonito e gostoso que o da Chris

Na hora de adoçar a boca, o problema de sempre. Quase nunca os restaurantes investem em opções criativas para esta parte do cardápio. Basta notar que aqui no blog é este momento que normalmente derruba a média dos restaurantes. Como aqui a média já não estava muito alta, este risco foi minimizado. No meio dos indefectíveis petit gateau, sorvete e frutas da estação, resolvemos pedir a tarte Tartin de maçã com sorvete de gengibre (R$ 18,80). Tarte Tartin é uma torta famosa na França, criada pelas irmãs Tartin. Dizem que nasceu de um erro, quando uma das irmãs colocou as maçãs no forno sem a massa, e acabou acrescentado-a depois que as maçãs já estavam caramelizadas, invertendo o ritual normal de um torta. Ou seja, é uma torta ao contrário, mas que tem as frutas e a massa em união umbilical. Não era o caso da nossa, que era uma cestinha de massa folhada com as maças caramelizadas dentro. Mas a massa estava leve e crocante, e as maçãs saborosas.

Cestinha de massa folhada com maça caramelizada e sorvete. Este é o nome.

Não há muito o que dizer sobre o serviço. Esteve correto o tempo todo, mas não encantou em momento algum. Um homem, que parecia ser o dono ou gerente, vinha a toda hora perguntar se estava tudo bem (tá, "toda hora" quer dizer umas três vezes), e eu não vejo muito sentido nisso. É o mesmo que cumprimentar alguém na rua, perguntar se está tudo bem e querer que a pessoa seja sincera: "Olha, pra falar a verdade não tá tudo bem não, minha vó tá com a unha encravada, meu gato tá soltando pelo e minha esposa tá de chico". O tempo de espera entre os pratos foi perfeito, e a prontidão para perceber que queríamos algo também foi de se elogiar.

Infelizmente tivemos problemas com a entrada, e o prato principal não agradou totalmente a nenhum dos dois. Foi uma pena, porque ficamos apaixonados pelas sugestões apresentadas no cardápio, conforme já explanei. Por conta dos defeitos encontrados, nós dois concordamos que não voltaríamos ao Confraria do Sabor. A relação custo-benefício também acabou destruída pelas inconsistências nos pratos, já que os preços não são dos mais baratos. Lembrando da reunião da empresa que tivemos que presenciar, eu diria: menos confraria e mais sabor, por favor!


AAVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 6
Serviço(2): 6 e 7
Entrada(2): 5 e 5
Prato principal(3): 5 e 7
Sobremesa(2): 6 e 6,5
Custo-benefício(1): 4 e 6
Média: 5,41 e 6,33
Voltaria?: Não e não



Serviço:
Avenida Doutor Vitor Godinho, 191 - Vila Capivari - Campos do Jordão - SP
Telefone: (12) 3663-6550
Site: http://www.confrariadosabor.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/AmicciDalVino/info






quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Libertango (Campos do Jordão - SP) - 21/08/2015

A escolha não foi por acaso. O Libertango é um dos três únicos restaurantes de Campos do Jordão agraciados com uma estrela no Guia 4 Rodas 2015. Embora não sejamos escravos da publicação, sempre a levamos em conta na hora de escolher um restaurante na cidade que estamos visitando. A especialidade do Libertango é comida argentina, e isto já toca um sininho na mente: carne, carne, carne! Numa sexta-feira agradável (para mim e não para a Chris) na serra paulista, com termômetros em torno de 11 graus, chegamos ao local às 20h20, vinte minutos atrasados em relação à nossa reserva, mas ainda a tempo de fazermos uso dela.

Ói nóis aí antes de entrar no restô

Do lado de fora o Libertango acompanha o charme de onde está instalado, a Vila Capivari, epicentro da badalação em Campos do Jordão. Sua fachada tem flores nas janelas, e é toda pintada de azul e vermelho. No logotipo do restaurante temos, claro, um casal dançando tango. Lá dentro, ambiente acanhado e fervilhante. Quase todas as mesas estavam ocupadas. Ainda assim há uma distância razoável entre elas, dentro do que é possível. Nas paredes, muitos quadros remetendo à Argentina, e alguns orgulhosos certificados de cozinha acima da média do Guia 4 Rodas. Cortinas e teto vermelhos dão "quentura" à decoração, contrastando com o frio jordanense. Para nossa sorte, fomos instalados em uma mesa bem ao lado da parrilla, a grelha em que os argentinos fazem o seu churrasco. Assim pudemos acompanhar toda a habilidade dos parrilleros em administrar tantas carnes ao mesmo tempo, tendo que saber exatamente quando tirá-las para que o ponto esteja do jeito que o cliente pediu. Nem sempre é possível, como restou provado ao longo da noite.

Um pouquinho do fervilhante e quente interior

Entre as opções de entrada, muitas delas envolvem a linguiça argentina. Pedimos o chorizo Piazzola (linguiça argentina com calda de vinho e maçã verde, R$ 19,90), que faz homenagem ao compositor argentino Astor Piazzola. A apresentação não é das mais lindas do mundo, trazendo dois pedaços de linguiça semi mergulhados na calda de vinho, com alguns pedaços de maçã, e ao lado uma cesta com pães e grissinis. As linguiças eram um pouco resistentes ao corte, mas deliciosas. As maçãs fizeram um bom contraste. Já a calda de vinho foi o ponto alto do prato. Chris não conseguia parar de passar o pão no pratinho, mesmo depois que a linguiça já tinha terminado. Pediu até a receita para o garçom que, gentilmente, negou. Gostou tanto que exigiu que a calda permanecesse na mesa mesmo depois que o prato principal já tinha chegado. Por vezes já reclamamos de restaurantes cujos garçons não retiram da mesa os utensílios depois de utilizados, mas neste caso o pedido, ou ultimato, para que isto acontecesse, foi nosso.

Olhando assim ninguém diz, mas tava uma delícia

Ao abrir-se o colorido cardápio, tem-se ao centro, em destaque, o carro-chefe da casa: as carnes de novillo, assim em castelhano mesmo (aliás, todo o cardápio é trilíngue, escrito primeiramente em castelhano e depois traduzido para português e inglês). São seis os tipos de carne listados: bife de chorizo (corte alto de contrafilé), ojo de bife (entrecôte), vacio (fraldinha), tapa de cuadril (picanha), corazon de cuadril (alcatra) e asado de tira (costela). Dentre estas seis opções há duas subopções, hombre e mujer, que são diferentes em tamanho (400g e 300g respectivamente) e, obviamente, em preço. Estes variam entre R$ 69,90 e R$ 85,90. Há também explicações sobre os pontos de carne possíveis, facilitando a vida de quem é leigo no assunto. Uma vez escolhida a carne há várias opções de acompanhamentos que o cliente pode optar, entre alguns tipos de arroz, batatas, purês, legumes, farofa, etc. Estes custam em média 25 reais. A casa sugere que se escolha ao menos dois para servir bem duas pessoas.

Para a escolha da carne tivemos a ajuda do garçom e também de Jorge, que estava comandando as parrillas, e depois descobrimos ser o dono do restaurante. Chris queria uma carne sem gordura e malpassada. Lhe foi sugerido o corazon de cuadril (R$ 69,90, na versão mujer). Eu ouvi de Jorge a frase "por favor, peça o ojo de bife", e não resisti ao seu apelo (R$ 85,90, na versão hombre). Curiosamente, percebo agora que Chris escolheu a carne mais barata da casa, e eu a mais cara. Sou mesmo um perdulário. Para acompanhamento, pedimos o pure de zapallo con gorgonzola (purê de abóbora com gorgonzola, R$ 30,90) e a farofa (R$ 15,90).

Pouco antes das carnes chegarem à mesa, uma surpresa: seis antepastos para acompanhar a refeição. São eles: pimentão sem pele, salsa creole (uma espécie de vinagrete picante), molho barbecue defumado, patê de gorgonzola, chutney de morango e mirtilo e chutney de manga com gengibre. À exceção do pimentão, um pouco sem tempero, todos os outros estavam muito bons, e acompanharam muito bem a refeição. A idéia de não citar este "mimo" no cardápio é genial, porque ficamos agradavelmente surpreendidos. O purê de abóbora com gorgonzola estava delicioso. Bem cremoso, e com sabor equilibrado, o que é complicado em se tratando de um queijo tão forte. A farofa também estava boa, mais pra úmida do que pra crocante, mas com um bom sabor.

Nossa mesa e os parrilleros trabalhando ao fundo


O garçom trouxe a carne da Chris, e imediatamente ela ouviu de Jorge, que comandava a parrilla: "Se sua carne passou um pouquinho, por favor me diga, que eu refaço com o maior carinho". De fato a carne havia passado um pouco do ponto desejado, que era o malpassado. É sempre complicada essa opção de refazer o pedido, até porque meu prato já estava ali, e isto acarretaria em comermos em momentos separados. Por conta disso Chris optou por comer a carne daquele jeito mesmo. Mas faltou um pouco do sangue que ela tanto gosta. Jorge confessou, em conversa que tivemos depois da refeição, que é difícil imaginar que uma mulher queira a carne sangrando. Ele disse, talvez exagerando um pouco, que em cada mil mulheres apenas uma gosta de carne malpassada. Ainda assim, Chris achou o tempero muito bom (é usado apenas sal), e adorou os acompanhamentos, ficando especialmente impressionada com o purê.

"Má...má...má, quidê o sangue?"

Já a minha carne estava excepcional. O corte ojo de bife é bastante comum na Argentina, mas quase desconhecido no Brasil. É muito macio, e tem uma gordurinha deliciosa no meio da peça. Pedi ao ponto, e ele veio correto. Também gostei muito de todos os acompanhamentos, e foi uma delícia ficar brincando de comer um pedaço de carne com cada um dos antepastos, e também com o purê e a farofa. Também experimentei com o molho da entrada, que a Chris insistiu que ficasse na mesa, e deu muito certo. Tanto no meu caso quanto no da Chris, a altura do bife, sua maciez e tamanho são os grandes diferenciais em relação às carnes que comemos no dia a dia. Tanto que a primeira coisa que disse para minha mãe quando lhe contava sobre a experiência foi algo como "mãe, o que a gente come não é carne, aquilo sim é carne!". Nem preciso dizer mais nada: é a primeira nota dez em prato principal desde que começamos o blog. Simplesmente não encontrei do que falar mal.

Se olhar bem a foto capaz de dar pra sentir o gosto...

Para as sobremesas, há os clássicos alfajores argentinos, e mais uma meia dúzia de opções. Um dos garçons, empolgadíssimo, praticamente nos obrigou a pedir a panqueque de dulce de leche (R$ 24,90), que ele achava a melhor da casa. Aceitamos a sugestão. Embora o nome em castelhano seja panqueque, na verdade é uma massa de crepe recheada com doce de leite argentino, com uma bola de sorvete de creme ao lado. Um prato pouco elaborado, na verdade. A massa, quando comida em separado, carecia de um pouco mais de sabor. Mas a mistura era gostosa, embora não fosse de gemer.

Los borrachos e la panqueque

Harmonizamos nossa refeição com três cervejas da marca Campos do Jordão que, descobrimos depois, tem esse nome mas não é fabricada na cidade. Começamos com uma lager (R$ 23,90), depois tomamos uma weizenbock (R$ 24,90) e por fim uma ale feita com pinhão (R$ 24,90), embora o gosto deste não tenha ficado muito evidente na receita. O restaurante também conta com uma carta de cervejas importadas e uma de vinhos.

O serviço foi um caso à parte. É normal em restaurantes você ter alguns funcionários dedicados, prestativos e simpáticos e outros meio preguiçosos e desinteressados. Mas aqui todos que nos atenderam se mostraram atenciosos e, principalmente, conhecedores daquilo com que trabalham. Mesmo com o restaurante cheio, Viniciús, um dos garçons, dedicou um bom tempo a nos explicar o funcionamento do cardápio, e também em dar algumas sugestões, demonstrando saber do que estava falando. Espantados descobrimos depois que ele tinha apenas uma semana de casa. Também descobrimos posteriormente que o simpático rapaz que nos sugeriu a sobremesa tinha apenas dezessete anos. Pois trabalha melhor que muita gente grande por aí. Como também tivemos contato com o proprietário Jorge, pudemos notar que a dedicação e a preocupação com o cliente partem dele, e se irradiam por toda sua equipe. Não há bom time sem um bom capitão. Só no finalzinho da noite, quando precisávamos que as garrafas vazias que levaríamos (eu coleciono rótulos!) fossem embaladas é que o serviço demorou um pouquinho, e acabamos nos levantando com as garrafas na mão. Mas mesmo este vacilo foi compensado quando saíamos, já que o jovem garçom de dezessete anos nos viu saindo e prontamente providenciou uma embalagem.

Normalmente quando chega a hora de responder à pergunta sobre se eu voltaria ou não a um restaurante eu sempre penso se ficou alguma coisa no cardápio que eu gostaria de experimentar. Mas desta vez falei para a Chris que eu voltaria até mesmo para comer exatamente a mesma coisa que comi. Ela também disse que voltaria, mesmo que não tenham acertado o ponto de sua carne. Quem sabe numa próxima vez o sangue venha em quantidades mais generosas, do jeito que ela gosta. Como deu para perceber, não se trata de uma refeição barata, mas em nenhum momento a gente se sentiu enganado, por conta da qualidade da comida apresentada, do serviço e do ambiente.

Em nome da transparência, devo dizer que conversamos por cerca de uma hora com o proprietário Jorge, depois de já terminada nossa refeição, quando ele saboreava um charuto do lado de fora do restaurante. Acrescento que isto não mudou em nada nossa apreciação do lugar, em relação aos pontos positivos e negativos e às notas aí abaixo. No meio da conversa, Jorge disse, sem medo de soar hipócrita, que amava seus clientes. Ele explicou que tinha seis netos, e os clientes representavam o seu ganha pão. Nem precisava explicar tanto. O amor pode ser percebido na primeira garfada.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 9 e 9,5
Entrada(2): 9 e 8,5
Prato principal(3): 8 e 10
Sobremesa(2): 6 e 6
Custo-benefício(1): 7 e 8,5
Média: 7,91 e 8,54
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:
Av.  José  Manoel  Gonçalves,  160 - Vila Capivari -  Campos do Jordão - SP
Telefone: (12) 3663-6218
Site: http://www.libertango.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/libertango.restaurante?fref=ts




domingo, 2 de agosto de 2015

Amicci (São José dos Campos - SP) - 28/07/2015

Embora o nome do restaurante seja apenas Amicci, este vem acompanhado, tanto no próprio restaurante como no site, do slogan "Dal vino al caffè", que em italiano significa "do vinho ao café". Não conhecia o lugar, e foi passeando a pé pela aprazível Avenida Anchieta, onde ele se localiza, que o avistei pela primeira vez. Era fim de tarde, e ele estava aberto, embora sem clientes. Seu cardápio estava exposto, e eu parei para dar uma olhadinha. Gostei do que li, e naquela mesmo noite eu e Chris o visitamos para um jantar.

A fachada, com a varandinha onde nos instalamos

Na parte interna há duas salas separadas. Uma delas estava abrigando um evento de degustação, e tinha uma daquelas mesas gigantes. Não sei se é sempre assim. No outro ambiente, cerca de sete mesas dispostas em um salão bem decorado, com um bar e uma estante com alguns produtos italianos à venda. Gostei da disposição das mesas, bem separadas umas das outras. Mas é claro que eu e Chris não resistimos a nos instalar na agradável varanda, com vista para o banhado. Mesas e cadeiras (não muito confortáveis) de madeira, cada uma com um pequeno toldo. Luz bem baixa, aliás baixa demais, prejudicando inclusive enxergar o que se está comendo. Também ficamos um pouco irritados porque, mesmo sendo totalmente ao ar livre, separado da cozinha, e com uma porta de vidro separando dos outros ambientes, não era permitido fumar ali. Aliás os restaurantes e bares andam muito chatos em relação ao cigarro - e é um não fumante falando -, mas enfim, isto é assunto para discussão em outro fórum.

Esta é a Chris e esta é a vista

O cardápio, como se pode antecipar pelo nome e slogan do lugar, é focado em cozinha italiana. Há algumas opções de entradas clássicas (como carpaccios), mas eu e Chris resolvemos apostar nas bruschettas. São 14 opções de sabores, com preços que começam em sete reais e vão até perto dos vinte.

Chris escolheu a Toscana (pão italiano, azeite, calabresa defumada, cebola confitada no vinho, azeitonas pretas e orégano, R$ 7,60), e não se deu muito bem. Achou a combinação muito seca, parecia que estava comendo um pão com linguiça sem molho nenhum. Ela gostou muito das cebolas confitadas no vinho, mas estas vieram em pouco quantidade.

Eu fui de San Gervasio (pão italiano, azeite, tomate fresco, berinjela e queijo gorgonzola, R$ 7,90), e me dei um pouco melhor. A minha estava bastante cremosa e saborosa. Mesmo o gorgonzola, que é um queijo bem forte, não roubou a cena como se poderia prever, deixando espaço também para a berinjela brilhar. O pão estava bem crocante.

Nós e as bruschettas

Para o prato principal, o cardápio é bem enxuto, o que é um bom sinal. Apesar de poucas opções, são todas bastante apetitosas e instigantes, ao menos no papel. Há massas, carnes, risotos, peixes e frutos do mar, quase sempre com uma pegada italiana. Os pratos são individuais, e ficam entre quarenta e oitenta reais.

Chris escolheu o medalhão de mignon ao molho de espinafre e gorgonzola com risoto malbec (R$ 56,00). O que mais a interessou na descrição foi o risoto malbec. Mal sabia ela que este seria o único item a se salvar no prato. A carne, que ela pediu mal passada, veio no ponto errado. As pontas estavam bem passadas, e o miolo estava cru. Até cogitamos em pedir a substituição, mas desistimos pensando no quanto iria demorar. Boa parte da carne acabou ficando no prato. Chris achou o creme de espinafre sem tempero. Mas adorou o risoto de vinho, que eu também tive a oportunidade de experimentar. De fato, muito interessante.

Podia ser só o risoto!

Eu não resisti ao pato - e isto não tem nada a ver com o atacante homônimo que joga no meu time. No caso aqui eu fui de magret de pato com chutney de frutas vermelhas, com risoto de alho-poró (R$ 64,90). Deixando uma coisa bem clara: não era um chutney. Era um molho, e dos mais ralos. No escuro não dava pra ver direito, mas quando tirei a foto com flash notei que meu prato parecia estar nadando em sangue. Na verdade era o suposto chutney. Dito isto, devo dizer que os sabores estavam bem equilibrados, e o pato estava quase todo no ponto certo. O risoto também estava bom, com a presença do alho-poró na medida certa.



O pato pateta

Embora o vinho esteja presente no slogan do restaurante, acabamos optando por tomar cerveja durante toda a refeição. Escolhemos uma marca joseense, chamada Three Lions. Tomamos uma session ale e uma red ale da marca, ambas por R$ 18. Cervejas muito boas, e que acompanharam bem nossos pratos.

Para as sobremesas o menu dispõe de sete opções, quase todas bem clássicas (papaya com creme de cassis, petit gateau, tiramisù), e todas custando entre quinze e vinte reais.

Chris tinha comido tiramisù apenas uma vez, e foi no Fasano Al Mare, no Rio de Janeiro. Naquela oportunidade ela tinha gostado muito da sobremesa, embora não tenha sentido muito a presença de café. Resolveu experimentar novamente o doce (R$ 18,50). Quando ele chegou - meu Deus! -  que coisa linda. De comer com os olhos, tinha até o desenho do garfo e da faca moldados no cacau em pó, no fundo do prato. Mas era uma torta gelada, basicamente. Sem gosto de café, e pior, sem graça nenhuma, parecia que ela estava comendo gelo.

Bonito e ordinário

Eu fugi do tradicional e escolhi o crepe de Nutella® com purê de banana da terra e sorvete de creme (R$ 15,90). Lindíssimo também. Temos que parabenizar o responsável pela estética das sobremesas, porque em poucos lugares as vi tão bonitas. Meu crepe não decepcionou tanto quanto o tiramisù da Chris. Estava bem interessante, embora eu tenha sentido falta de algum elemento mais líquido. Talvez porque o purê de banana da terra seja muito seco, e precise de algo para balancear esta secura. Havia apenas um pouco de calda de maracujá por cima dele e um pouco de calda de chocolate sobre o crepe.

Bonito e gostoso

O serviço tirou nota dez em simpatia. Mas pecou em alguns outros aspectos. Vamos a eles.

Quando eu disse que queria tomar uma cerveja, um deles me pediu que o acompanhasse até a adega, para que eu mesmo escolhesse. Gostei daquilo. Ele me mostrou a cerveja joseense Three Lions, nos estilos session ale e red ale. Eu perguntei se havia outros estilos, e ele disse que tinha a lager e a IPA, que não estavam ali expostas. Pedi uma lager, mas ele nos serviu a session ale. Só notei quando ele já tinha saído, e acabamos bebendo. Pouco depois, falei com outro garçom sobre o acontecido, e ele falou que não havia a lager daquela marca. Ainda em relação às cervejas, um dos garçons nos ofereceu uma com sabor de chocolate, da marca Baden Baden (da qual somos fãs, fabricada em Campos do Jordão) para acompanhar nossas sobremesas. Pois bem, aceitamos, e ele nos trouxe de fato uma cerveja de chocolate, mas da marca Insana, fabricada no Paraná. A impressão que deu, nos dois casos, é que o garçom achou melhor trazer qualquer coisa do que simplesmente dizer que tinha se enganado na informação prestada.

Outro problema grave foi a demora para retirada dos pratos sujos. Terminamos nossas bruschettas de entrada e saímos até a calçada para a Chris fumar. Ali ficamos por cerca de dez minutos. Voltamos e os pratos sujos permaneciam na mesa. Ainda ficamos conversando um bom tempo, o garçom veio buscar nossa garrafa de cerveja e trazer outra, e nada de tirá-los. Só quando chegaram os pratos principais é que eles, finalmente, perceberam que não daria para serví-los sem retirar os que já estavam lá. E eles se foram, depois de ficarem quase meia hora na mesa, vazios e solitários.

Quanto ao custo benefício, claro que ele depende, principalmente, da qualidade dos pratos. Como a Chris não deu muita sorte nesta noite, para ela esse quesito ficou bem aquém do desejado. Para mim, nem tanto. Achei os preços razoáveis. Como minhas escolhas em prato principal e sobremesa também foram mais felizes, eu cheguei a conclusão que voltaria ao Amicci, já que fiquei interessado em alguns dos outros pratos disponíveis. Chris, obviamente, não voltaria, já que não curte carne crua nem torta de gelo. Em uma noite de experiências tão contrastantes, valeu conhecer a cerveja feita em São José dos Campos, que nunca tínhamos tomado. Pelo menos neste aspecto eu e Chris concordamos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 6 e 6
Entrada(2): 5 e 7
Prato principal(3): 6 e 8
Sobremesa(2): 2 e 7
Custo-benefício(1): 4 e 7
Média: 5,16 e 7,08
Voltaria?: Não e sim



Serviço:
Avenida Anchieta, 225 - Jardim Esplanada - São José dos Campos - SP
Telefone: (12) 3923-9048
Site: http://www.amiccidalvino.com.br/index.html
Facebook: https://www.facebook.com/AmicciDalVino/info