quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Minha Louca Paixão (Morro de São Paulo - BA) - 04/10/2023

 

    Morro de São Paulo virou um mastodonte turístico. Eu e Chris já tínhamos visitado a cidade, há mais de vinte anos, em separado. Agora fomos juntos, e é impressionante como o povoado mudou. São dezenas de pousadas, hotéis, lojinhas de artesanato, e, claro, restaurantes. O problema é que a maioria deles tem um cardápio muito parecido, oferecendo moqueca/bobó/peixe assado/pizza, enfim, tudo aquilo que faz sucesso entre os turistas. Adoramos essas comidas, mas para o blog buscamos algum lugar que fizesse algo diferente, já que não tem graça ficarmos aqui escrevendo sobre moqueca, que todo mundo já conhece. Então descobrimos o Minha Louca Paixão.

Chegando onde o vento faz a curva

    Minha Louca Paixão parece um nome estranho para um restaurante, mas na verdade se trata de uma pousada com restaurante. É, acho que também é um nome estranho para uma pousada. Ocorre que, segundo o texto no site da pousada, ela foi "pensada e desenhada para celebrar e enaltecer o amor". Aí fez sentido, olha só que bonito. Cafona, mas bonito. A pousada/restaurante fica na Terceira Praia, um trecho bem mais tranquilo de Morro, um pouco afastado do centrinho e da badalada Segunda Praia. Existe apenas um ambiente, um salão bem amplo e aberto, com mesas e cadeiras de madeira, luminárias balançantes e...abacaxis. Abacaxis dourados, um em cada mesa, e três bem grandões em um aparador. Não descobrimos qual é a dos abacaxis. Há também um belo palco, mas na noite em que lá estivemos não rolou nenhum show. Chris curtiu bastante o espaço para fumantes, coberto, e perto do belo jardim da pousada. 

Um salão para abrandar o calor do sol (embora fosse noite)

Prontos para sermos levados sem destino

Chris solta na vida

Chris mandando seus beijos, e fumaças, pelo ar

    As divisões do cardápio tem títulos interessantes. As entradas são "Para beliscar com vontade". Entre os principais, há "Da horta para a mesa", "De Portugal para a Bahia", "Do mar para o prato", "Da panela de barro", entre outros. E as sobremesas são "Para fechar com chave de ouro". Entre os principais, apenas as saladas tem valores abaixo dos três dígitos, e são quase todos individuais.

    "Para beliscar com vontade" nós escolhemos os Camarões VG Crocantes (em crosta de coco fresco com chutney de manga caseiro, R$ 99). Olha, nós até preferimos os camarões médios aos grandes. Mas o nome do prato indicava que seriam camarões VG, ou Verdadeiramente Grandes, e acho que não eram não. Você pode ver a foto aí embaixo, pra não dizer que estamos sendo chatos. O chutney de manga estava bem picante, e talvez isso devesse ficar mais claro na descrição. O outro molho que se vê no prato, avermelhado e espesso, parecia de cacau, e também estava picante. Também havia uns respingos de um molho que parecia de ervas, mas não era suficiente para contrastar a picância. O camarão estava crocante, saboroso e no ponto correto.
 
Picante de puxar as barbas de Deus

    Chris escolheu uma opção "Do mar para o prato", a Cumbuca Gratinada de Peixe & Camarão VG (num aveludado com alho poró e vinho branco, acompanha arroz branco e salada verde, R$ 125). Veio uma travessa com o gratinado de peixe e camarões (que, mais uma vez, não parecia VG), uma cumbuca com arroz e outra com salada. Chris entendeu que o arroz era desnecessário. Ela adorou o tempero da salada, com parmesão. A paradinha com peixe e camarão parecia um suflê, estava gostosa, com sabor delicado, e o peixe aparecendo mais do que o camarão. O alho poró também poderia aparecer um pouco mais no conjunto. A descrição do prato estava mais apetitosa do que o prato em si. 

Chris cavalgou nesses desatinos, mas não se apaixonou

    Eu fui em um prato "De Portugal para a Bahia", o Polvo à Lagareiro (confitado em azeite de oliva, com batatas ao murro e legumes grelhados, R$ 132). Começar falando sobre a proporção: vieram dois polvos e duas batatas, e acho que um polvo e uma batata (e uns 40 reais a menos no valor) estariam de bom tamanho. Inclusive casaria melhor com a quantidade de legumes grelhados - que estavam queimadinhos e saborosos. Os polvos estavam bem macios, um deles tinha mais alho (o que ficou por cima), e o outro tinha um ponto de sal a mais. As batatas estavam bem temperadas e crocantes. Terminei de comer bem depois da Chris, mas dei conta do recado.
 
Fê e a comida que leva para os quatro cantos do mundo

    "Para fechar com chave de ouro" escolhemos a Bem Bolada (mousse de caramelo salgado, canoa de tapioca, sorvete de amendoim e explosão de paçoca, R$ 45). Gostamos da junção de todos os elementos , com diversas texturas e gostos. O caramelo salgado faz uma festinha na boca, inclusive com um toque de acidez interessante. A "explosão de paçoca" citada na descrição era a paçoca esfarelada por cima da sobremesa, mais doce e com mais sabor de amendoim do que o sorvete, que estava delicado. A tapioca trazia crocância e uma benvinda nordestinidade. 

Não nos levou às bordas do céu, mas esteve bom

    Quem gosta de música, especialmente do rock brasileiro dos anos 80/90, deve ter percebido que as legendas das fotos acima fazem referência à música "Vento Ventania", da banda Biquini (ex-Biquini Cavadão). A escolha não foi à toa. Ventava muito no restaurante na noite de nossa visita. Mas muito mesmo. Latinhas foram ao chão, guardanapos foram parar em cima do meu polvo, cabelos esvoaçaram mais do que seria charmoso. A desculpa "está na praia, venta mesmo" não se aplica a um restaurante que não tem pratos individuais por menos de cem contos. Atrapalhou bastante a experiência, e o quesito "ambiente", que deveria ter nota alta por estar à beira mar e pelo belo salão, caiu bastante em nossa nota final.

O vento emaranhando o cabelo do menino

    O serviço foi bastante correto, quase invisível, sem grandes simpatias mas também sem ser invasivo. Os pratos demoraram um pouco além do razoável para chegar. Outro ponto que achamos estranho, para um restaurante desse nível "financeiro", foi o fato de só ter guardanapos de papel.

    O que nos parece é que o Minha Louca Paixão precisa se decidir entre ser um restaurante típico de praia - e aí ele precisa baixar muito os preços - ou ser um restaurante diferenciado que está instalado na praia - e aí ele precisa melhorar em vários pontos, notadamente o controle do ar-condicionado natural. Da maneira que está, embora tenhamos tido bons momentos e experimentado bons sabores, o custo-benefício fica bastante prejudicado. De modo que ambos concordamos que não faríamos uma segunda visita ao restaurante. Completando com mais um verso do Biquini, "me leve, mas não me faça voltar".


AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 7 e 7
Serviço(2): 7 e 7
Entrada (2): 6 e 6
Prato principal (3): 6 e 7
Sobremesa(2): 7 e 7
Custo-benefício(1): 5 e 5,5
Média: 6,41 e 6,70
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Terceira Praia, s/n - Cairu - Povoado de Morro de São Paulo - Bahia
Telefone:  (75) 3652-1098
Site: https://www.minhaloucapaixao.com.br/#BaryRestaurantes
Instagram: @pousadaminhaloucapaixao

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Jiló (Itacaré - BA) - 25/09/2023


 
    O poder da má fama do jiló é tão grande que eu só fui experimentá-lo já adulto. Sempre associada a algo ruim e amargo, a fruta (sim, fruta!) ficou fora do meu radar, até que a peguei sem querer em um restaurante a quilo qualquer. Depois comi em casa, empanadinho. E, se não posso dizer que sou um apaixonado, aprendi a apreciar o sabor intenso do alimento. Chris já gosta desde sempre. Então não poderíamos deixar de visitar um restaurante que teve a coragem de usá-lo como nome. O fato de ter mesinhas na calçada em frente à Praia da Coroa em Itacaré também ajudou bastante na escolha, não podemos negar.
 
O blog precisa contratar um fotógrafo melhor

    Claro que nos instalamos nas tais mesinhas na calçada, onde é permitido fumar. Mas o restaurante tem outros ambientes. Na parte de dentro, a cozinha é aberta, e existe um lounge bem em frente, com um sofá cheio de almofadas, uma rede e até uma bananeira. Subindo uma pequena escada temos mais dois ambientes, um deles com vista para a Praia da Coroa. Tudo muito caprichado e cuidadoso na decoração. As mesas e cadeiras são de madeira, mas bem confortáveis, e condizentes com o ambiente da casa e com um restaurante de frente pro mar.

Condizente, muito condizente

Dá até pra tirar um cochilo no lounge

A parte de cima

A parte de cima, com o adendo da vista pra praia

Onde a magia acontece

    Ficamos um pouco decepcionados com as opções do cardápio. Não que não houvesse descrições apetitosas - sim, havia. Mas, dentre todas as entradas, principais e sobremesas, apenas uma opção trazia jiló. Ou seja, a coragem exibida no nome do restaurante não se replica no menu. Uma pena. Isso à parte, gostamos do fato de o menu ser curto, resolvido em apenas uma página: quatro entradas, oito principais e duas sobremesas.

    Não poderíamos deixar de escolher como entrada o tal único prato que tinha jiló: chips de aipim crocantes e viciantes com vinagrete de jiló (R$ 30). Não sei se os chips chegam a ser viciantes como indica a descrição do restaurante, mas ambos adoramos, estavam sequinhos, bem salgadinhos e crocantes - embora um ou outro estivesse mais durinho. O vinagrete de jiló tava uma delícia, mas veio em proporção bem errada. Depois até nos foi dito que mandam pouco porque tem gente que não gosta e acaba sobrando, e que se tivéssemos falado poderia ser reposto. Mas já era tarde, tínhamos devorado todo o aipim, mesmo sem vinagrete. Só se mandarem aqui pra São José, será que rola?

É ou não é pitico por demais o vinagrete jilozado?

    Depois de comer muito aipim, Chris escolheu como prato principal o peixe na brasa com creme à baiana, banana da terra assada e molho lambão (R$ 89). O tal creme baiano eram bem parecido com um bobó, com o dendê bem presente. Chris achou que a banana deu uma sumida com a força do creme. O matagal de salsinha que encima o prato poderia muito bem ser coentro, que combinaria bem com o peixe. Falando nele, estava em um bom ponto, e bem temperado. A farofinha que não estava na descrição trouxe um pouco de crocância, e o molho lambão (que é tipo um vinagrete) nem aparece na foto, e também não fez muita diferença no paladar. Chris gostou, no geral, mas achou que talvez pudesse vir um pouco menos de creme.
 
Se o matagal fosse de coentro ganharia um ponto extra na nota final

    Depois de também comer muito aipim, mas não tanto quanto a Chris, escolhi o polvo grelhado com creme de espinafre, tropeirinho de feijão verde, batata corada e farofinha de pão (R$ 115). Minha única oportunidade de comer polvo é quando os pratos são individuais, porque a Chris não gosta, então quase sempre aproveito as oportunidades. O polvo estava em ótimo ponto, e muito bem temperado. O creme de espinafre estava bem delicado, e tinha a importante função de umedecer o prato. A batata também estava boa, bem salgadinha e com pedaços crocantes. A farofinha, com pedaços de bacon, combinou muito bem com o polvo. Achei que o feijãozinho foi desnecessário no conjunto.
 
Maluco, a batata parece uma cabeça de tartaruga!
 
    A sobremesa quase sempre é a parte do cardápio que os restaurantes dão menos atenção. No Jiló são apenas duas opções, e resolvemos dividir a banana na brasa com caramelo salgado, sorvete de creme e telha de cacau (R$ 34). Telhas ultra-finas, muito crocantes e saborosas. A banana tinha um leve toque da brasa, bem interessante. O caramelo salgado trazia, além do sal, uma acidez muito instigante ao prato. Sorvete agradável, acrescentando mais uma textura a um prato cheio delas. Bem legal.

Cadê o sorvete?

Achôôô!
 
    O serviço foi bem correto. Fomos atendidos quase o tempo todo por uma garçonete, que nos apresentou o cardápio, e falou também sobre algumas opções que não estavam descritas por não fazerem parte do menu fixo. Ela foi bem detalhista, e talvez até tenha falado um pouco demais, a gente ameaçava baixar a cabeça pra olhar o cardápio e ela falava mais um pouquinho. Mas é melhor pecar pelo excesso do que pela omissão. Os pratos chegaram bem rápido, o que mais demorou foi a sobremesa. Trouxeram um cinzeiro de coco pra Chris, e ela gostou tanto que depois comprou um em uma loja de artesanato. Outro ponto a se destacar é que nos foi dito que, caso quiséssemos, poderíamos acrescentar arroz aos pratos. Não aceitamos, mas achamos simpático.

    Talvez haja uma explicação para o restaurante se chamar Jiló e usar tão pouco jiló nas receitas. Não chegamos a questionar. É possível que antes houvesse mais opções, mas o dia a dia tenha mostrado que elas não faziam sucesso, e aos poucos o jiló foi desaparecendo do Jiló. Se for algo nesse sentido, é compreensível, já que conceito não paga as contas de ninguém. Independentemente disso, a boa comida, o bom atendimento e o maravilhoso ambiente me fizeram concluir que eu faria uma nova visita ao Jiló. Já a Chris entendeu que o menu não trazia outras opções que ela tenha ficado com vontade, e concluiu que não retornaria. Ficaram faltando algumas praias para conhecermos em Itacaré. Quem sabe um dia, caso voltemos, eu a convença a dar mais uma chance ao Jiló. Mesmo sem muito jiló.
 
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 8
Serviço(2): 7 e 8
Entrada (2): 7,5 e 6,5
Prato principal (3): 7,5 e 8,5
Sobremesa(2): 7,5 e 7,5
Custo-benefício(1): 6,5 e 7
Média: 7,41 e 7,70
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Av. Antonio Athanásio dos Santos, 25 - Centro - Itacaré - Bahia
Telefone:  (73) 99955-7273
Instagram: @jilorestaurante
Facebook: @JiloRestaurante

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Paraguassu (Mucugê - BA) - 17/09/2023

 

    A decisão de ir ao Paragaussu foi tomada ainda em casa, quando fazia as pesquisas da viagem, e me deparei com o cardápio que o restaurante disponibiliza em seu site. Havia muitas coisas apetitosas por ali. Fomos visitar o local em nossa primeira noite em Mucugê. A cidade é uma base de visitação à Chapada Diamantina, mas é muito mais tranquila do que sua vizinha Lençóis, de onde tínhamos acabado de vir. Em Mucugê o que reina é a paz e a tranquilidade, o que foi constatado em nossa caminhada até lá em uma noite de domingo, com a cidade bem vazia.

Um anjo caminha pelas ruas vazias de Mucugê

Fachada do Hotel Refúgio na Serra, onde fica o Paraguassu

    O Paraguassu fica dentro de um hotel chamado Refúgio na Serra, com diárias de quatro dígitos. Chegamos à recepção, eu de chinelo, bermuda e minha camiseta de Cabaceiras (PB), e Chris, linda como sempre, com um vestido bonito, mas simples, e de sandália. Me refiro à vestimenta, porque não sei se foi ela o motivo de a moça ter falado pra gente esperar na recepção, porque alguém do restaurante viria nos buscar. Recepção bonita, com sofás confortáveis, belos quadros na parede. Legal, daria pra ficar ali por um ou dois minutos. Mas ficamos por uns dez. E o mais curioso é que a gente via o restaurante ali ao lado, coisa de dez metros da gente. Passados os dez minutos ou coisa que o valha, veio o maitre nos levar pela mão (ok, exagero, mas foi quase isso) até o restaurante, que estava vazio. São coisas do mundo dos ricos que a gente tem dificuldade de compreender.

Todo achando que pertence ao mundo dos ricos

    O restaurante tem um ambiente interno, mais formal e bem iluminado, e uma área externa, em que, segundo o maitre, a proposta é um contato maior com a natureza. Há uma grande árvore, e belas luminárias baloiçando ao vento. Foi ali que nos instalamos, mesmo com a ressalva de que não seria permitido fumar. Para isso a Chris teria que sair do hotel, já que todo ele é restrito para a prática do "eu pito, cê não pita não?". Mas é preciso dizer que o hotel disponibiliza um banquinho charmoso com cinzeiro bem na entrada.   

Chris e as luminárias baloiçantes. Baita palavra essa, hein?

Ele realmente tá se achando o próprio João Dória

Pelo menos não mandam os fumantes pra sarjeta

    O cardápio é bem variado, com diversas opções de proteínas. As entradas vão de R$ 49 (queijo coalho do Mucugê) até R$ 94 (vinagrete de polvo). Aliás, achei as entradas pouco criativas, pra um restaurante desse nível, com opções de pastéis, brusquetas e croquetas, nada muito inventivo. Nos pratos principais a divisão fica em carnes, peixes & mariscos, risotos e massas, além das opções vegetarianas e veganas. Os valores partem de R$ 64 (ravioli aos cinco queijos) e podem chegar até R$ 220 (bacalhau confit), sempre para pratos individuais. Já nas sobremesas estão os onipresentes petit gateau (R$ 37) e tiramissu (R$ 42), com poucas opções mais criativas.

    Nossa escolha de entrada foi a croqueta de carne de panela (bolinho recheado com carne de panela e gorgonzola, acompanhada de molho lambão e maionese artesanal, R$ 56). A croqueta estava uma delícia, muito crocante por fora, e bem cremosa por dentro (embora a Chris tenha insistido que a croqueta feita pelo meu irmão é melhor). O gorgonzola aparece pouco, e quando reli a descrição do prato para a Chris ela disse "ué, tem gorgonzola?". Maionese bem delicada e com boa textura. Veio também um molhinho de pimenta, que não constava na descrição, mas combinou muito bem. Aliás, as duas Heineken que pedimos (R$ 15 cada, long neck) também combinaram muito bem. Comida de boteco das boas - com a ressalva de que não estávamos em um boteco.

Gostoso, sim, mas combina mais com um boteco bão de BH

    Depois de muita confabulação, inclusive com o maitre, Chris acabou decidindo escolher, como prato principal, o Bife Ancho (bife angus grelhado, acompanhado de nhoque frito de mandioca ao molho de gorgonzola e geleia de pimenta biquinho, R$ 116). A Chris gosta do bife mal passado. Depois de muitas experiências em que, mesmo pedindo mal passado, ela recebeu o bife ao ponto ou bem passado, nós começamos a enfatizar ao garçom que "é mal passado mesmo, viu?". Mas acho que precisamos mudar novamente nossa tática. O bife chegou bem próximo ao cru, bastante frio por dentro. E não tava nem bonito por fora, não havia aquela crostinha, tava branquelo. Uma tristezinha. Sim, provavelmente eles teriam feito de novo se tivéssemos falado, mas aí a experiência iria ficar ainda mais prejudicada, com os dois comendo sozinhos. Aí deixamos assim mesmo. Ela gostou bastante do nhoque, saboroso e crocante, com o molho também gostoso, e dessa vez com sabor de gorgonzola. Proporção errada, o bife era muito grande para a quantidade de nhoque. Mas como ela não comeu todo o bife, deu certinho.😡
 
O bife era tão grande que não coube na foto

    Eu também demorei um pouco para fazer minha escolha, e optei pelo Cordeiro do Garimpo (preparado em cocção lenta, acompanhado de baião de dois cremoso de arroz vermelho e feijão regional, finalizado com molho demi-glace, farofa de castanha, crisp de cebola e geleia de pimenta artesanal, R$ 92). A carne veio literalmente derretendo, com o demi-glace aprofundando ainda mais o sabor do cordeiro. O baião de dois estava bem cremoso, até demais, deixando de lado qualquer impressão de um baião de dois - ficou difícil detectar os sabores do arroz vermelho e do tal feijão regional. Mas trazia um adocicado que contrastava bem com o cordeiro. O crisp de cebola estava bem crocante, e saboroso, claro, méritos à cebola. Eu aceitaria um pouco mais da geleia picante, que trazia outra dimensão às garfadas.


Veja como o baião de dois parece uma maionese

    A sobremesa talvez tenha sido a melhor parte da refeição. Escolhemos a Experiência Diamantina (massa crocante, recheada com doce de leite artesanal, zabaione italiano de queijo, finalizado com geleia de frutas vermelhas, R$ 44). Massa bem crocante, e conjunto muito equilibrado. Zabaione delicado, com o toque de limão bem presente. Doce de leite era o elemento mais doce, mas veio na quantidade certa. Geleia de frutas vermelhas (na verdade parecia ser só de amora) nas bordas, muito agradável, sem estar muito doce, e trazendo acidez. E para coroar, uma framboesa, uma amora e um mirtilo sobre o zabaione, junto a uma telha que parecia uma colmeia. Bonitinho.

Finalizou bem, não podemos negar

    O serviço é formal demais para nosso gosto. Dá para ver que o maitre é bem experiente, sabe o jeito que as pessoas que frequentam esses restaurantes gostam de ser atendidas. Mas não é muito nosso jeito. Inclusive ele enxotou um gato do local, e a Chris ficou bem braba. Afinal, cadê o tal "maior contato com a natureza?". Havia um garçom um pouco mais novo, e também um pouco mais espontâneo. Outra coisa inescapável nesse tipo de restaurante é a quantidade de vezes em que os funcionários vem perguntar se está tudo bem. Mais uma formalidade inócua, porque nós não vamos responder "não, meu amigo, tô com uma unha encravada terrível, além do mais, o bife está cru". Sei lá. Daí a gente acaba mentindo. Mas é preciso dizer que o maitre foi bem atencioso e flexível quando a Chris estava em dúvida sobre o que pedir, e até disse que seria possível alterar algum acompanhamento dos pratos, caso ela quisesse. E também devemos dizer que o tempo de espera entre os pratos foi perfeito.

    Pelo que pudemos apurar, os mesmos donos do hotel e do restaurante também são donos de uma vinícola, a UVVA, a primeira a fazer vinhos finos na Chapada Diamantina. Finos e caros. Mas férias são o momento de enfiar o pé na jaca, ou na uva, então pedimos o Microlote Syrah UVVA (R$ 228). Não somos especialistas em vinhos, mas foi certamente um dos melhores que já tomamos. A vinícola fica a 25km do centro de Mucugê, mas não fizemos visitação, porque a mais simples custava R$ 160 por pessoa, com valor revertido em compras. Pelo preço do vinho, não ia dar pra reverter muita coisa.

    Tivemos alguns bons momentos em nossa experiência no Paraguassu. A entrada estava boa - embora combinasse mais com um boteco dos bons -, meu principal tinha boas ideias, a sobremesa estava muito bem feita e o vinho era delicioso. Mas o preço alto aliado ao erro feio no elemento principal do prato da Chris nos fizeram decidir que não faríamos uma segunda visita ao restaurante. Mesmo que nessa segunda visita a gente não precisasse esperar por dez minutos para sermos levados pelas mãos por um longo caminho de vinte passos.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 7,5
Serviço(2): 6 e 6,5
Entrada (2): 6 e 7,5
Prato principal (3): 5,5 e 7
Sobremesa(2): 7 e 8
Custo-benefício(1): 5 e 6
Média: 5,83 e 7,16
Voltaria?: Não e não

Serviço:
Rua Caetité, 40A - Centro Histórico - Mucugê - Bahia
Telefone: (71) 98136-5626
Site: https://www.refugionaserra.com.br/restaurante-paraguassu/
Instagram: @restaurante_paraguassu

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Cozinha Aberta Slow Food (Lençóis - BA) - 15/09/2023

 

    A cidade de Lençóis, na Bahia, é uma das principais bases para se conhecer a Chapada Diamantina, um dos mais importantes destinos de ecoturismo do Brasil. Lençóis tem ótima infraestrutura turística, e conta com diversos restaurantes. Não foi fácil, portanto, escolhermos um deles para fazer nossa visita oficial para este blog. O Cozinha Aberta Slow Food não tem uma fachada que chame tanto a atenção - mesmo com a tal cozinha aberta para a rua. Nossa escolha se deu realmente por conta do cardápio. Explica-se: no dia de nossa visita, passamos à tarde pelo restaurante, e entramos para sapear o menu. Várias coisas nos chamaram a atenção, e ficamos "nossa, quero comer isso, virge, quero comer aquilo". Talvez as frases não tenham sido exatamente essas, mas o fato é que foi o suficiente para tomarmos nossa decisão.
 
Qual falou "virge, quero comer aquilo?"

    Conforme escrito acima, a parte de fora do restaurante não chama muito a atenção. Um prédio verde, com detalhes em branco, a placa com o nome do restaurante bem discreta, e uma portinha onde é possível ver o trabalho da cozinha pelo lado de fora. Há algumas mesinhas na rua. Na parte interna, um primeiro salão, de frente para a cozinha aberta, uma outra parte já do lado de fora, ao fundo, mas ainda coberta e com luz artificial, e no quintal várias mesinhas à luz de velas. Foi nessa última parte que escolhemos ficar. Pensando em retrospecto, talvez não tenha sido a melhor escolha. Apesar de charmoso, um jantar à luz de velas às vezes carece de...luz! Além disso, a mesa ficava ao lado do local onde eram feitos os drinks e sucos, o que ocasionava barulhos altos de tempos em tempos. Para finalizar, embora fosse aberto, não era permitido fumar, o que fazia com que a Chris tivesse que ir lá para fora nos momentos de pitar (acho que foi uma vez só, na verdade). 

Pitando e tirando foto, a multidisciplinar Chris

O quintal à (pouca) luz de velas

A cozinha aberta, defronte à qual deveríamos ter ficado

    O cardápio traz quatro opções de entrada, mais sete de pratos principais, além de três sobremesas. Os preços dos pratos principais individuais variam de R$ 57 a R$ 82. Apesar de haver poucas opções, demoramos bastante para escolher os nossos, já que muitas descrições são salivantes. Também há uma boa carta de drinks e coquetéis, além de algumas opções de cervejas locais.

    A experiência culinária começou com o Camarão com Purê de Godó (camarão flambado na cachaça com purê de godó e geléia de umbu com pimenta de passarinho, R$ 55). Explicando primeiro: purê de godó é um prato bem típico dessa região da Bahia, feito com banana verde. Umbu é uma frutinha levemente ácida, também comum na Bahia. E pimenta de passarinho é a pimenta cumari vermelha, que, apesar do nome bonitinho, é bem picante. Sobre o prato: apresentação simples, com os camarões sobre o purê, e a geléia de ladinho. O godó sozinho é um tanto adocicado, mas com o camarão e a geléia dava uma equilibrada. No entanto, veio pouca geléia, no fim tivemos que dar uma raspada. 

Pensando bem, poderiam vir mais uns camarões também, né?

    Continuando a comilança, Chris escolheu a Roupa Velha de Carne de Sol (carne de sol desfiada, bem fritinha, com arroz vermelho, purê de banana-da-terra com gengibre, farofa de castanha-do-pará e quiabo, R$ 69). Chris achou a quantidade de comida excessiva, um prataço de garimpeiro. O prato trouxe um elemento extra, que não estava na descrição, uma saladinha de tomate e cebola picados, parecendo um vinagrete (ou molho lambão, como eles chamam aqui), mas sem acidez nenhuma. Estranho. Conceitualmente, a Roupa Velha é um prato que se faz com sobras. Talvez tenha sobrado tomate e cebola na cozinha, vai saber. A carne estava gostosa e crocante, a farofa muito boa, delicada e com pedaços de castanha. O purê de banana-da-terra com gengibre trazia o frescor do gengibre, e também alguma umidade ao prato. O arroz estava "gostosinho", na palavra da Chris. Veio um molhinho, que parecia de menta, que a Chris achou que poderia ter vindo em mais quantidade, talvez até servido à parte.

A Roupa Velha, quase um nome de banda

    Eu escolhi a Galinha Caipira com Tortelloni (temperada com alecrim e vinho branco, massa verde recheada com ricota artesanal e óleo essencial de limão siciliano, finalizado na manteiga de avelã, parmesão e um toque de mel de Uruçú, R$ 78). Lembra que eu disse que fomos conquistados pela descrição dos pratos no menu? Pois é. Eu não imaginava que ricota combinasse tanto com limão siciliano. Pois combina: o recheio do tortelloni estava delicioso. A manteiga de avelã trazia umidade, e tinha também a função de unir os elementos. O franguinho estava macio, com alguns pedaços um pouco mais crocantes. O mel de uruçú veio separado em uma colherzinha, e trazia dulçor, obviamente, mas sem ficar enjoativo. De qualquer maneira, foi uma ótima decisão do chef colocá-lo separado, deixando ao comensal a decisão de usá-lo ou não em cada garfada.

"Saliva doce, doce mel, mel de uruçú"

    Para a sobremesa escolhemos o Sanduíche de Sorvete de Cardamomo (entre bolachinhas macias de chocolate, calda de chocolate com óleo essencial de limão siciliano e calda de maracujá, R$ 33). O sabor do cardamomo estava presente, mas talvez até pudesse aparecer um pouco mais. O biscoito estava crocante, com bastante sabor de chocolate. A calda estava boa, poderia até vir mais, embora houvesse certa briga entre o maracujá e o limão. 

Terceira vez que reclamamos que faltou molho/calda/geleia nessa noite

    Fomos atendidos por três jovens garçons. Quando chegamos, demorou um pouco para algum deles nos trazer o cardápio. Depois houve certa demora pra retirar a garrafa de cerveja da mesa (por "certa demora" eu quero dizer que ela não foi retirada). Atendimento bem espontâneo, um deles nos falou que tinha medo de abrir cerveja artesanal, porque já estourou uma vez na cara dele. É sempre bacana quando o serviço não é engessado. Apesar do nome "slow food", um termo que indica certa demora para servir os pratos, foi bastante razoável o tempo de espera entre as etapas. E a água era cortesia, algo raro, mas que poderia ser mais comum.

    A Chapada Diamantina tem algumas atrações que nos deixaram de cara no chão de tão incríveis. Chris não achou que o Cozinha Aberta tenha causado nada parecido, por isso entendeu que não voltaria. Eu tive ótimas sensações com meu prato principal, e fiquei com vontade de experimentar vários outros, por isso concluí que faria uma nova visita. Claro que é muito difícil chegar perto da sensação de chegar à Cachoeira do Mosquito, ou da primeira vez que se vislumbra o Poço Encantado. Mas um tortelloni recheado com ricota e óleo essencial de limão siciliano também não é algo de se jogar fora.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 6 e 7
Serviço(2): 7 e 7,5
Entrada (2): 6,5 e 6,5
Prato principal (3): 7 e 8
Sobremesa(2): 6 e 7
Custo-benefício(1): 6 e 7
Média: 6,5 e 7,25
Voltaria?: Não e sim

Serviço:
Av. Rui Barbosa, 42 - Centro - Lençóis - BA
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