segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Quintal do Gui (Atibaia - SP) - 29/11/2024

 

Nossa chegada ao Quintal do Gui foi curiosa. Estávamos hospedados no centro de Atibaia, e colocamos o aplicativo Waze para nos levar ao restaurante. O caminho é pela Alameda Prof. Lucas Nogueira Garcez, uma via bem movimentada, repleta de restaurantes e bares. De repente viramos em uma rua e fomos parar em uma área bem residencial, tranquila, nem parecia estar perto do pedaço mais agitado da cidade. Pois é ali que está o Quintal do Gui, que não tem esse nome à toa: ele fica realmente no quintal de uma residência.
 
Os dois vultos são a Chris e o Fê

Claro que não é qualquer quintal. É um quintal com paisagismo todo caprichado e cuidado em cada detalhe. Tinha até uma romãzeira, o famoso pé de romã, que eu acabei de pesquisar pra saber como escrever. Algumas mesas ficam no gramado, ao lado da piscina. Há também um ambiente interno, climatizado, mas que não fica nada a dever em termos de bom gosto. Mas claro que não tivemos dúvidas em instalarmo-nos em uma das mesas do gramado, que tem muito mais a nossa cara (tá, o fato de a Chris poder fumar ali também ajudou na escolha).

"Instalarmo-nos" foi foda, hein?

Praticamente uma pool party

O cara nasceu pra ser modelo

Percebam o charme, a naturalidade do gesto, tocando na romã

Sem afetação, como que flutuando, postura incrível


O restaurante não possui cardápio físico, apenas virtual, acessado por QR Code. Então não vá até lá sem seu celular (sim, claro, senhor Fê, se você não escrevesse isso todo mundo iria lá sem celular). O cardápio é bem recheado de opções. Entre as entradas, estão alguns clássicos como brusqueta (quatro unidades, R$ 59) e steak tartar (R$71), mas também algumas opções de bolinhos crocantes (cinco unidades, R$ 56). Existem algumas saladas disponíveis, e entre os principais, uma divisão entre "Peixes & Frutos do Mar", "Carnes" e "Massas & Risotos", com preços que vão de R$ 59 (fettuccine alla Norma) a R$ 114 (risotto alla carbonara e gamberi) para os pratos individuais. Existem dois pratos que servem duas pessoas, o Camarão da Roça (R$ 229, camarões flambados na cachaça com arroz de alho e queijo gratinado) e a merluza à belle meuniere (R$ 191, merluza com camarões e alcaparras, com arroz de alho e fritas).

Acho um pouco estranho quando vamos a um restaurante mais chiquetezado como esse e encontramos bolinhos crocantes como opção de entrada (isso já tinha acontecido no Paraguassu, em Mucugê). Nada contra os bolinhos - inclusive os pedimos aqui também - mas sempre acho que isso é algo que combina mais com um bom bar, ou gastrobar, como tá na moda dizer. Ressalva feita, de entrada fomos de Bolinho do Quintal & Relish de Cebola (cinco unidades de bolinho com recheio de purê de batata, calabresa, cenoura e muçarela, com relish de cebola roxa, R$ 56). Apresentação bonita, bolinhos com uma cor linda, e o relish tanto por cima quanto por baixo dos degustes, sem miséria. No sabor o purê entrou mais pra dar consistência, a calabresa pra dar sabor e a cenoura  pra gastar cenoura à toa, tadinha dela, sumiu. O relish (que é um tipo um chutney mais pedaçudo) estava bem saboroso, trazendo um pouco de dulçor e acidez, equilibrando a gordura da fritura. 

Relish parece a Chris falando "reles"

Chris ficou muito, muito, muito tentada a pedir como prato principal o Risotto de Pinhão, Bacon & Café (R$ 65). Seria uma loucura, hein? Mas ela acabou lembrando de outras escolhas malucas que já fez, em que acabou se dando mal, e preferiu ir para o Salmão ao Champagne & Risotto Siciliano (posta de salmão ao molho branco de champagne, finalizado com amêndoas laminadas, servido com risoto de limão siciliano, R$ 97). A Chris tem duas "maldições" em nossas visitas a restaurantes: carne fora do ponto e risoto fora do ponto. Aqui aconteceu uma delas, o risoto tava tipo papinha - mas com bastante sabor e aroma de limão siciliano, bem refrescante. O molho de champagne estava gostoso, mas acabou se espalhando demais pelo arroz, e se tornou dominante. O peixe estava correto, douradinho por fora, bem macio por dentro. Belo toque das lâminas de amêndoas, trazendo crocância. A garfada completa era muito agradável. Infelizemente nas garfadas finais apareceram três espinhas, isso mesmo, uma, duas, três espinhas de salmão, que certamente não deveriam estar ali. Aí azedou a marmita de vez, como diz o outro.
 
Não deveriam, mas estão aí escondidas, as três danadas

Também fiquei com vontade de pedir alguns outros pratos, mas a verdade é que não precisei de muito tempo para me decidir pelo Lombo de Cordeiro À Turca (lombo de cordeiro ao molho de romã servido com purê de berinjela e finalizado com queijo feta de cabra e gergelim, R$ 112). Primeira coisa a elogiar é a proporção perfeita entre a proteína e o acompanhamento (aliás, o elogio vale pro prato da Chris também). Relendo a descrição do cardápio, me pergunto: onde foi parar o queijo feta? Na hora não me dei conta, mas acho que ele não se apresentou à mesa. Talvez eu não tenha me dado conta porque o purê de berinjela estava absolutamente delicioso, com ótima textura, muito saboroso, complementado pelo molho de romã que o deixava sempre molhadinho (ui!), e acrescentava complexidade ao conjunto. Veja que passei a carroça do purê na frente dos bois do cordeiro, porque foi realmente o destaque do prato. O cordeiro estava com uma aparência linda, e muito bem temperado, mas a gordura estava com uma textura incomível, de tal modo que tive que realizar um regurgito, infelizmente (para mim e para você que teve que ler essa palavra horrível). Depois passei a comer apenas a carne, deixando a gordura de lado. 

Prurido. Furúnculo. Sovaco. Estrovenga. Mais palavras feias pra vocês.

Entre as parcas cinco opções de sobremesa, três eram bolos. Bolo, assim tipo bolo mesmo, daqueles que a gente acha nas padarias. Aqui não entra juízo de valor sobre a qualidade do bolo, até porque não comemos, mas é isso, um pedaço de bolo por vinte e oito reais (tinha de cenoura e chocolate, de banana e caramelo e de limão siciliano com calda de blueberry). Sei lá, me parece que dá pra ousar um pouco mais no quesito sobremesa, sabe? As outras opções eram um Romeu & Julieta meio reinventado (com goiabada, cream cheese e sorvete, R$25) e a Panna Cotta Pinacolada (panna cotta com base de coco ralado e leite de coco, com cobertura de abacaxi em pedaços flambados no rum, R$ 28). Foi essa última que escolhemos, e estava muito refrescante, com a panna cotta em ótima textura e bastante sabor de coco, combinando muito bem com o abacaxi flambado, trazendo muito sutilmente o sabor do rum. É possível que o bolo de cenoura com chocolate fosse melhor, mas já comemos quinhentos na vida. A panna cotta fazendo releitura de um drink famoso talvez não seja a maior invenção da humanidade, provavelmente nem foi criada pelo restaurante, mas ao menos é algo menos batido. E, me alongando um pouco mais no fio, nada contra os batidos, às vezes o que a gente quer é só um bom pudim de leite condensado, e pronto. Mas acho legal ter opções menos com cara de deja vu. E vou parar de escrever, senão alguém vai rimar alguma coisa com deja vu pra me xingar - e com sotaque francês ainda por cima.

Va te faire enculer

Quando chegamos ao Quintal do Gui, havia no ar aquela possibilidade de chuva. O jovem garçom nos deixou à vontade para sentarmos do lado de fora, mas fez essa consideração. O restaurante estava bem vazio, e eu e Chris comentamos que parecia que ele queria que a gente sentasse lá dentro, onde seria mais fácil de nos servir, e por isso nos ameaçou com a ira de São Pedro. Mas o rapaz foi tão atencioso a noite inteira, que descartamos essa possibilidade. Simpático, transitou muito bem entre a informalidade, com comentários espirituosos, e o rigor da função. Só em alguns momentos houve alguma demora pra perceber que estávamos precisando dele. Os pedidos podiam ser feitos tanto pelo celular quanto pessoalmente, e os dois funcionaram direitinho. Faltou guardanapo à mesa, algo que só fui perceber quando fiz o meu regurgito (aquela palavra feia de novo) da gordura do cordeiro. Os pratos todos chegaram em um tempo bastante razoável, sem longas demoras.

Já é a segunda vez que comemos em um quintal (ver aqui), e mais uma vez foi uma experiência bem interessante, embora deveras diferente da outra. Aqui a decoração e o paisagismos falam mais alto, e consideramos uma pena que, em uma noite de sexta-feira, apenas nós dois e mais um casal tenha comparecido. Chegamos por volta das sete da noite e fomos embora perto das nove, então pode ser que alguém mais ainda chegasse. De qualquer modo, acho que o restaurante merece mais. Apesar de entender que o cardápio possa ter um pouco mais de coerência, especialmente em relação a entradas e sobremesas, é inegável que a experiência completa no Quintal do Gui é assaz agradável. Eu e Chris voltaríamos a esse quintal., mesmo com espinhas e palavras feias.

AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):

Ambiente(2): 8 e 9
Serviço(2): 9 e 8
Entrada (2): 7 e 6,5
Prato principal(3): 5,5 e 8
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 7 e 7,5
Média: 7,12 e 7,62
Voltaria?: Sim e sim

Serviço:

Alameda Lindóia, 139 - Jardim do Lago - Atibaia - São Paulo
Telefone: (11) 96050-5646
Site: https://www.quintaldogui.com.br/
Instagram: @quintaldogui_atibaia