Búzios. Brigitte Bardot. Não há como dissociar a primeira da segunda. Embora a própria musa francesa não goste do que a cidade se tornou, com a modernização e sofisticação (ela gostava do caráter "selvagem" da vila de pescadores), há uma estátua em sua homenagem na orla que leva seu nome, e sua miniatura é vendida como souvenir em todas as lojas de artesanato da cidade. Não há mais como fugir. Foi por essa associação que escolhemos jantar no restaurante Cigalon, que está instalado no prédio onde Brigitte se hospedou nos verões da década de 1960 em que esteve na cidade (hoje o local, além de restaurante, funciona como pousada, e é até possível ficar no quarto onde diz-se que ela ficava).
"O Urso e a Boneca" |
Com uma entrada bem discreta, a ponto de quase termos passado batido, o Cigalon fica na Rua das Pedras, o ponto mais badalado do balneário, onde todos se encontram a partir do fim da tarde, quando as lojas e restaurantes começam a abrir. É até curioso que a casa não use de maneira mais ostensiva o fato de ter abrigado a atriz. Na parte interna há fotos de Bardot logo na entrada. O ambiente é formal, à meia luz (talvez escuro demais pro meu gosto), salão amplo e uma varandinha com duas mesas, com vista para a Praia da Armação. Quando chegamos a varanda estava ocupada, mas assim que desocupou nos mudamos para lá.
"E Deus...Criou a Mulher" |
"O Desprezo" |
"O Repouso do Guerreiro" |
O cardápio é quadrilíngue: primeiro vem a descrição do prato em francês e logo abaixo em português, espanhol e inglês. Claro que o foco é na culinária francesa, mas há espaço para ingredientes estranhos àquela culinária, como palmito pupunha, abacate e banana-da-terra. Há cinco opções de entradas, e os pratos principais são dividos entre terra e mar, além de opções de massas. Há bastante variação no preço dos pratos individuais, com alguns podendo chegar aos três dígitos.
Para começar fomos de tartare de salmão com molho de abacate (R$ 39). Sabores bem delicados, tanto que parecia um sashimi, com pouca interferência do tempero. Corte bem feito, tudo do mesmo tamanho, apresentação elegante. O molhinho de abacate veio em "pingos", e tinha gosto de abacate puro. Gostamos, mas achamos que um molhinho que trouxesse um algo diferente cairia bem, talvez com alguma picância.
"Brotinho do Outro Mundo" |
Na hora de pedir os pratos principais, usamos um truque que costuma dar certo: pedir sem falar qual prato é de quem. Só assim pra trazerem a carne da Chris mal-passada como ela gosta. Ela escolheu mignon ao molho de gorgonzola com risoto de cogumelos (R$ 76). De fato a carne veio certinha, com dois bifes mal-passados (tá, um deles passou um cadinho). Molho gorgonzola bem equilibrado, risoto com arroz no ponto certo e bom sabor de cogumelos, e conjunto bastante harmonioso. Ela se divertiu bem.
"Vingança de Mulher" |
Eu escolhi peito de pato no próprio molho, purê de banana-da-terra e abóbora caramelada (R$ 76). Pato veio em fatias, tava bem macio, no ponto certo, só um pedaço tinha um nervinho que não deu pra comer. Molho saboroso, intenso. Na descrição do prato eu já tinha achado que abóbora caramelada e purê de banana-da-terra poderiam ser redundantes na doçura, mas pedi assim mesmo, de teimoso que sou. De fato, um dos dois poderia ser deixado de lado. O purê também poderia ter consistência mais suave, tava meio "massudo". Mas no fim o dulçor da banana e abóbora com a intensidade do molho foi uma junção agradável.
"Mais Forte Que a Morte" |
"A Noite de Núpcias" |
Para finalizar dividimos os profiteroles com sorvete e calda quente de chocolate, em colchão de pralinê e creme de baunilha (R$ 32). Descrição longa, e ainda faltou falar que vem com pedacinhos de morango. Aliás, para mim eles poderiam vir em mais quantidade, para contrastar com a quantidade de chocolate que domina o prato. Não que chocolate seja ruim, longe disso, mas a sobremesa acabou ficando um pouco "monocromática" em sabores. Já em texturas há bastante riqueza, com os profiteroles fofinhos, creme cremoso (dããã) e pralinê crocante - aliás até um pouco duro demais.
"Histórias Extraordinárias" |
Gostamos bastante do serviço, garçom simpático, eficiente mas aberto a algumas brincadeiras (ao ver nosos pratos vazios: "se não esconderam embaixo da mesa, acho que gostaram"), o que é sempre positivo. Foram rápidos em nos transferirem para a varanda assim que uma mesa vagou. O tempo de espera entre os pratos foi perfeito. Só houve alguma demora para limpar a mesa em alguns momentos, mas nada grave.
Claro que é gostoso comer no lugar onde Brigitte Bardot se hospedou, a alguns metros do quarto em que ela (supostamente) dormia. Mas não foi isso que nos fez decidir que voltaríamos ao Cigalon. A junção de bom serviço, ambiente agradável e boa comida é que foram determinantes. Mesmo que La Bardot hoje esteja frustrada com os rumos que a cidade tomou, achamos que ela aprovaria ao menos a discrição e qualidade do Cigalon.
Nota: todas as legendas das fotos são nomes de filmes estrelados por Brigitte Bardot. Tá, em alguns não fez tanto sentido, mas outros ficaram perfeitos, não?
AVALIAÇÕES (Primeira nota da Chris, segunda nota do Fê; ao lado do quesito está o peso dele na média final):
Ambiente(2): 8,5 e 8,5
Serviço(2): 9 e 8
Entrada(2): 6 e 7
Prato principal(3): 8,5 e 7,5
Sobremesa(2): 7 e 6,5
Custo-benefício(1): 7,5 e 7
Média: 7,83 e 7,45
Voltaria?: Sim e sim
Serviço:
Rua das Pedras, 199 - Centro - Armação dos Búzios - Rio de Janeiro
Telefone: (22) 2623-0932
Site: https://www.cigalon.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/cigalonrestaurant/
Sensacional as legendas das fotos com os nomes dos filmes da Brigitte. Louvor para "E Deus...criou a mulher", "Vingança de mulher" e "Brotinho do outro mundo". Texto maravilhoso e restaurante que merece uma visita.
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